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político brasileiro Da Wikipédia, a enciclopédia livre
Octávio Brandão Rego (Viçosa, 12 de setembro de 1896 — Rio de Janeiro, 15 de março de 1980) foi um farmacêutico, político e ativista brasileiro, militante e teórico do Partido Comunista Brasileiro (PCB) que influenciou uma geração de militantes de esquerda e foi responsável pela difusão dos conceitos marxistas no Brasil.
Octávio Brandão | |
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Octávio Brandão Rego | |
Nome completo | Octávio Brandão Rego |
Nascimento | 12 de setembro de 1896 Viçosa, AL |
Morte | 15 de março de 1980 (83 anos) Rio de Janeiro, RJ |
Nacionalidade | brasileiro |
Ocupação | político |
Religião | Ateu |
Octávio Brandão nasceu na cidade de Viçosa, no interior do estado de Alagoas no ano de 1896.[1][2]
No início do século XX, Brandão, numa época em que a oligarquia latifundiária e o poder político interferiam com muito mais virulência no cotidiano do Estado, chocou a sociedade alagoana com seus conceitos e atitudes libertárias.[3] Filho de uma tradicional família católica, aos 16 anos rompeu com o catolicismo, para o desespero de seus familiares.[4][5] Precursor da reforma agrária no Brasil, se aventurou em peregrinações pelo interior de Alagoas e pregou a divisão da terra.[6]
Com menos de 20 anos, Octávio Brandão iniciou na luta pela jornada de trabalho de oito horas, causando incômodo na burguesia local sendo ameaçado de morte e teve de deixar sua terra natal.[7]
Fez parte do movimento anarquista brasileiro das primeiras décadas do século XX.[8] Seu primeiro trabalho intelectual, Aspectos Pernambucanos nos Fins do Século XVI, foi publicado em 1914 no Diário de Pernambuco.[9]
Graduou-se pela Universidade do Recife, atual Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) na graduação de Farmácia.[1][10] No ano de 1919, Astrojildo Pereira o visitava na farmácia em que trabalhava e emprestava alguns livros marxistas.[11] E, assim, começou a ler as traduções francesas de livros de Karl Marx, Friedrich Engels e Lênin.[12]
No ano de 1920, ligou-se ao Grupo Clarté de Paris e através do Grupo Comunista Brasileiro Zumbi filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), no segundo semestre de 1922, tornando-se dirigente nacional.[5][13]
No ano de 1923, Octávio Brandão realiza a primeira tradução brasileira do Manifesto Comunista de Marx e Engels, a partir da edição francesa de Laura Lafargue, que foi publicada no jornal sindical Voz Cosmopolita.[14][15]
Em 1924 inicia o Agrarismo e industrialismo: ensaio marxista-leninista sobre a revolta de São Paulo e a guerra de classes no Brasil no qual tenta aplicar as bases do Imperialismo: Fase Superior do Capitalismo de Lenin à realidade brasileira, mas acaba colocando o Industrialismo como um polo que se deveria apoiar contra o Agrarismo conservador.[16][17] Concluiu a parte fundamental do livro menos de um mês depois. O texto, em forma de esboço, circulou em cópias datilografadas, servindo de subsídio para as teses que Astrojildo Pereira apresentou ao II Congresso do Partido Comunista do Brasil (16 a 18 de maio de 1925).[18] O livro só foi publicado em abril de 1926, sob o pseudônimo de Fritz Mayer e com indicação falsa do lugar de edição (Buenos Aires) para despistar a polícia política de Artur Bernardes.[19][20]
A dialética de Brandão se reduzia à tríade “tese-antítese-síntese”, uma fórmula simplificadora muito difícil de ser encontrada em Hegel, mas que Brandão aplicava, avidamente, a tudo.[21] O esquema triádico era aplicado, por exemplo, à interpretação do levante de 1924 e resultava no seguinte: Artur Bernardes, presidente da república, representante do agrarismo feudal, era a tese; Isidoro Dias Lopes, o general sublevado, representante da pequena-burguesia e do capital industrial, era a antítese; e a síntese, ainda por vir, era a revolução proletária, comunista.[21]
Empolgado com sua dialética, Brandão submetia a trajetória do movimento operário no Brasil ao mesmo esquema triádico; e concluía: a tese era o período inicial, da hegemonia anarquista; a antítese era o período das perseguições desencadeadas por Epitácio Pessoa; e a síntese, mais uma vez, era o período da revolução proletária, inaugurado pela fundação do PCB.[22]
Também à época desta reviravolta ideológica, Octávio Brandão deu informações consideradas dúbias pelos movimentos sindicais da época ao pesquisador John W.F. Dulles.[20] Em 1925 esteve à frente da criação de A Classe Operária, o primeiro jornal de massas do Partido Comunista, da qual foi o primeiro editor.[23] Dois anos depois foi editor-chefe do diário A Nação.[24] As ideias comunistas passaram a ser difundidas mais amplamente entre os trabalhadores.[25]
Em 1928 foi eleito como um dos intendentes para o Conselho de Intendência do então Distrito Federal pelo Bloco Operário e Camponês, frente eleitoral criada pelo PCB que então estava na clandestinidade.[26] Logo após a guinada esquerdista da III Internacional, as ideias originais de Brandão sobre a revolução brasileira foram condenadas e acusadas de direitistas e mencheviques.[25] Teve que fazer uma autocrítica e foi destituído dos cargos da direção partidária.[25]
Perseguido e deportado pelo governo Vargas, em 1931 foi deportado para a Alemanha em consequência de suas atividades políticas.[27] No entanto, conseguiu rumar para a União Soviética, onde permaneceu exilado por 15 anos.[1] De lá, criticou a deflagração dos levantes militares de novembro de 1935, sob o comando de Luís Carlos Prestes, já então membro do PCB.[28] Durante a Segunda Guerra Mundial trabalhou na Rádio de Moscou, produzindo programas em língua portuguesa.[29] Também trabalhou na organização da Internacional Comunista, regressando somente em 1946.[26]
Em 1947, de volta ao Brasil, foi eleito como um dos vereadores para a Câmara do Rio de Janeiro pelo PCB.[11] Em 1948, porém, foi cassado juntamente com todos os parlamentares do PCB, após o cancelamento do registro do partido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em maio do ano anterior.[11] Em seguida, passou a viver na clandestinidade, assim permanecendo até 1958.[1][30]
Apenas em 1958, durante o Governo Juscelino Kubitschek, pôde voltar à vida legal.[1] Aqueles, no entanto, foram dias dramáticos para os comunistas. Dois anos antes, Khrushchov havia denunciado os crimes de Stalin e aberto uma crise sem precedente no movimento comunista internacional.[31][32] Brandão foi atingido por essa crise e acabou, lentamente, se afastando da militância partidária. O descaso da direção do Partido pelos seus antigos militantes também contribuiu para sua atitude.
Voltou mais uma vez à clandestinidade com o golpe de 1964, só vindo a reaparecer publicamente em 1979.[33]
Morreu na cidade do Rio de Janeiro, em 1980, aos 83 anos.[1] Todo o seu acervo está presente no Arquivo Edgard Leuenroth (AEL), vinculado a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), incluindo livros, documentos, cartas, bilhetes, dentre outros documentais.[34]
Figura essencial para a compreensão da história sociocultural de Alagoas, somente nos últimos anos seu nome vem sendo lembrado.[33] Estudioso e pesquisador que foi, deixou um acervo monumental, o qual é utilizado até hoje como fonte para vários estudos acadêmicos desenvolvidos no Brasil.[35][36][37]
Escrito nos idos de 1916-1917, o livro Canais e Lagoas representa um dos poucos registros da natureza que circundava o complexo lagunar Mundaú-Manguaba, quando a intervenção humana ainda não havia provocado mudanças significativas nesse notável ecossistema.[38]
O livro traça um roteiro preciso do quão exuberante era a mata atlântica e seus recursos hídricos à época em que foi escrito e, por isso mesmo, serve de precioso contraponto ao absurdo representado pelo processo de irresponsável ocupação do solo que caracteriza, principalmente, a zona costeira do Brasil e, particularmente, o litoral de Alagoas.[39]
Octavio Brandão, na verdade, foi nosso primeiro ecologista. Era dono de um idealismo sem limites e de grande coragem cívica, ainda que sofresse a frustração de não encontrar entre grande parte dos intelectuais da época `calor e simpatia, apoio e estímulo, justiça e compreensão´.[40]
O livro Agrarismo e Industrialismo, de Octávio Brandão, é pioneiro na reflexão dos comunistas sobre a sociedade brasileira.[16]
Em 1958, Octávio Brandão publicou O niilista Machado de Assis, primeira obra dedicada ao tema.[41] O livro apresenta uma análise biográfica impressionista por meio da qual, ao atribuir o niilismo como um defeito tanto do autor quanto da obra, tenta desqualificar o escritor. Embora claramente secundário dentro da fortuna crítica machadiana, o livro de Brandão teve o mérito de levantar a discussão sobre o tema do niilismo na obra de Machado de Assis.[42] No entanto, o pressentimento da importância do conceito de niilismo para a compreensão da obra machadiana é desproporcional à capacidade analítica para esclarecê-lo.[43]
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