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escritor e professor queniano Da Wikipédia, a enciclopédia livre
Ngũgĩ wa Thiong'o (pronunciado [ŋɡoɣe wa ðiɔŋɔ]; nascido James Ngugi; Kamiriithu, 5 de janeiro de 1938[1]) é um escritor, professor universitário e dramaturgo queniano, que escreveu obras em língua inglesa e que posteriormente tem escrito em língua gĩkũyũ. A sua obra inclui novelas, peças teatrais, contos e ensaios, da crítica social à literatura infantil. É o fundador e editor da revista gĩkũyũ Mutiiri.
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Ngũgĩ wa Thiong'o | |
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Nascimento | James Ngugi 5 de janeiro de 1938 (86 anos) Kamiriithu, Quénia |
Nacionalidade | queniano |
Ocupação | escritor, professor universitário e dramaturgo |
Gênero literário | ficção e |
Magnum opus | Um grão de trigo (1967) |
Página oficial | |
http://www.ngugiwathiongo.com |
O escritor, uma das grandes referências da África em literatura, tem também uma história de luta pela libertação de seu país. Na década de 60, quando a colonização do continente africano estava em cheque, terminando na queda de vários governos, ele lutou pela emancipação do Quênia das mãos dos britânicos ao lado de jovens intelectuais que, como ele, eram recém-saídos da universidade[2].
Em 1977, Ngũgĩ wa Thiong'o escreveu uma peça de teatro no seu Quénia natal que procurava libertar o processo teatral do que ele dizia ser "o sistema geral de educação burguês", ao encorajar a espontaneidade e a participação da audiência na execução da peça.[3] A peça não foi bem acolhida pelo autoritário regime queniano e o autor passou mais de um ano na cadeia. A esse respeito, diz que:
"Escrevi em inglês meus primeiros quatro romances, inclusive Um grão de trigo. Quando fui preso, em 1977, foi porque escrevi uma peça de teatro em gikuyu. Por isso, tomei a decisão política, de resistência, de escrever sempre no meu idioma original."[2]
A Amnistia Internacional tomou-o como prisioneiro de consciência, e o artista foi libertado da cadeia, saindo do país. Nos Estados Unidos, ensinou na Universidade de Yale durante alguns anos, e também na Universidade de Nova Iorque, nas áreas de "Literatura Comparada" e "Performance Studies". Ngũgĩ vê muitas vezes o seu nome nas listas de candidatos ao prémio Nobel da Literatura.[4][5][6][2] Para o crítico literário Jonatan Silva, Thiong'o retrata como poucos a luta pela independência do Quénia. Em sua crítica para Um Grão de trigo, livro que lhe deu reconhecimento mundial, Silva ressaltou a habilidade do escritor em criar um "jogo de espelhos" entre realidade e ficção.[7]
Ngũgĩ wa Thiong'o é o quinto filho de Wanjikũ wa Ngũgĩ, terceira de quatro esposas do seu pai, Thiong'o wa Ndũcũ, que teve 24 filhos com suas esposas[8]. Sobre a oportunidade que teve, por idealização da sua mãe, de realizar o sonho de frequentar a escola pela primeira vez, anotou em sua autobiografia:
"Certa noite, minha mãe me perguntou: Você gostaria de ir para a escola? Foi em 1947. (...) Era o oferecimento do impossível o que me destituía de palavras. Minha mãe teve que fazer a pergunta de novo.
- Sim, sim - disse eu rapidamente, no caso de ela ter mudado de ideia.
- Você sabe que somos pobres.
- Sim.
- E por isso talvez você nem sempre leve uma refeição de meio-dia.
- Sim, Mãe.
- Me promete que não vai me envergonhar se recusando algum dia a ir à escola por causa da fome ou de outras dificuldades?
- Sim, sim!
- E que sempre vai dar o seu melhor?
Eu teria prometido qualquer coisa naquele momento. Mas quando olhie para ela e disse 'Sim', lá no fundo sabia que ela e eu havíamos feito um pacto: eu sempre tentaria dar o meu melhor, fosse qual fosse a dificuldade, fosse qual fosse o obstáculo."[9]
E assim frequentou uma escola presbiteriana da igreja escocesa antes de entrar em 1949 numa escola religiosa e nacionalista Karing'a; devido às pressões políticas no seu país, estudou no Uganda, na Universidade Makerere.
A sua primeira novela Weep not Child, escrita em 1962 pouco antes da independência queniana aborda, através dos olhos de um jovem chamado Njoroge, as tensões entre brancos e negros, entre a cultura africana e a europeia, numa época (1952-1956) em que os revoltosos kikuyus, mais conhecidos como Mau Mau, se levantaram contra a autoridade britânica.
De volta ao Quénia, trabalhou como jornalista para The Nation, antes de investigar sobre Joseph Conrad para a Universidade de Leeds e a partir de 1967, foi dividindo atividade entre Quénia e Uganda, seguindo a carreira literária.
O ano que passou preso fê-lo radicalizar as ideias contra o governo do seu país, e exilar-se em Londres e na Califórnia.
Regressou ao Quénia em 31 de julho de 2004, após 22 anos de ausência (tinha jurado não regressar enquanto Daniel Arap Moi estivesse no poder). Uns dias depois, o escritor e a sua mulher foram atacados de noite no seu apartamento das Norfolk Towers. Quatro agressores com revólveres, machetes e uma tesoura de podar violaram a mulher de Ngũgĩ à sua frente. O escritor tentou defender-se e foi golpeado e queimado na face. Os atacantes foram posteriormente presos e colocados à disposição dos tribunais.[10]
Em sua vinda ao Brasil em 2015 na ocasião da Festa Literária Internacional de Paraty - Flip, declarou em entrevista que:
"Um escritor não é um historiador, nem um cientista político, nem um economista. É um artista. Dito isso, as condições econômicas e políticas e também as práticas sociais impactam no trabalho do artista. Ninguém pode escapar disso. Como escritor, estou interessado na qualidade da vida humana, em como acontece a distribuição da riqueza e também no impacto das relações. Como africano, me interessam também as questões de raça, a condição da raça negra, como ela é afetada, sua visibilidade. Na África e especialmente no Quênia, há uma distância cada vez maior entre ricos e pobres – cresce a concentração de renda à medida que o continente vai se desenvolvendo. Olho para o mundo, como escritor, e vejo um grupo bem pequeno, em geral de países do Ocidente, que são ricos, e uma enorme maioria de países pobres. Mas esses ricos dependem muito dos recursos dos pobres, especialmente da África. Quando visito um país, sempre presto atenção em quantos mendigos e sem-tetos há na rua e também na população carcerária. É aí que você mede o nível de desenvolvimento de um lugar. Nos Estados Unidos, por exemplo, você tem dois milhões de pessoas encarceradas. São quatro Islândias na prisão! A riqueza não se mede pela quantidade de milionários de um país."[2]
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