A Batalha de Ourique desenrolou-se nos campos de Ourique, no atual Baixo Alentejo em 25 de Julho de 1139 — no dia de São Tiago, patrono da luta contra os mouros.[2] Foi a vitória mais celebrada de Afonso Henriques.[3]
Batalha de Ourique | |||
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Reconquista | |||
"O Milagre de Ourique" por Domingos Sequeira (1793) | |||
Data | 25 de Julho de 1139 | ||
Local | Ourique, Portugal | ||
Desfecho | Vitória decisiva dos portugueses | ||
Beligerantes | |||
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Comandantes | |||
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Forças | |||
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A vitória cristã foi tão grande que D. Afonso Henriques foi aclamado pelas suas tropas Rei de Portugal, tendo a sua chancelaria começado a usar a intitulação Rex Portugallensis (Rei dos Portucalenses ou Rei dos Portugueses) a partir de 1140 — tornando-o rei de facto, sendo o título de jure reconhecido pelo rei de Leão Afonso VII em 1143 mediante o Tratado de Zamora e, posteriormente o reconhecimento formal pela Santa Sé em Maio de 1179, através da bula Manifestis probatum, do Papa Alexandre III.
Este acontecimento marcou de forma profunda a história de Portugal e está retratado no brasão de armas da nação portuguesa: cinco escudetes representando os cinco reis mouros vencidos na batalha.[4]
Contexto
Portugal encontrava-se envolvido na reconquista de território aos mouros praticamente desde a sua fundação em 868. Após a Batalha de São Mamede, travada contra as forças da própria mãe, Afonso Henriques assumiu o poder no condado portucalense.
Desde o grande cerco de Coimbra em 1117 que a fronteira sul do condado era frequentemente violada por forças muçulmanas à procura de saque. O espírito de guerra contra os mouros mantinha-se e, em 1135, Afonso Henriques passou à ofensiva com a fundação do Castelo de Leiria, o seu primeiro acto de hostilidade dirigido aos mouros.[5] O alcaide de Leiria, Paio Guterres tinha por obrigação não só defender a estrada que dava acesso a Coimbra como levar a cabo razias contra o território de Santarém.[5] Tão eficaz foi que, quando Afonso Henriques se deslocou à Galiza com as suas tropas a combater o rei Afonso VII de Leão, o castelo foi atacado e arrasado em 1137 pelas tropas do alcaide de Santarém, Auzecri, um dos mais valorosos comandantes muçulmanos do Andaluz.[6]
Firmadas as Pazes de Tui e cessadas as hostilidades entre Portugal e Leão, em 1138 o rei Afonso VII de Leão lançou um profundo fossado em terras muçulmanas que logrou alcançar Jaén e durante quatro semanas os leoneses devastaram a região de Baeza, Úbeda e Andújar.[1] Em Abril de 1139, Afonso VII lançou um novo ataque, desta vez contra o castelo de Oreja e, de forma a reunir um exército suficientemente poderoso para socorrer a praça forte sitiada, os governadores almorávidas de Córdova e de Sevilha desguarneceram os castelos do ocidente peninsular.[1] O momento para levar a cabo um fossado contra os mouros afigurava-se propício.
A Batalha
Reunida a hoste em Coimbra, os portugueses devem ter atravessado o rio Tejo nos vaus de Paio de Pele ou de Constância, a leste de Santarém, de forma a eludir a vigilância muçulmana.[1]
Estando a maior parte dos efectivos almorávidas empenhados no socorro ao castelo de Oreja, pouca resistência terá sido oposta à passagem da hoste portuguesa.[1] No entanto, os estragos causados no Gharb levaram o governador de Córdova Abu Muhammad Az-Zubayr Ibn Umar, ou Esmar, a chamar a si as tropas disponíveis em Badajoz, Évora, Elvas, Sevilha e Beja, entre outros castelos mais pequenos e partir no encalço dos portugueses, quando estes já se encontravam no caminho de regresso a Portugal, carregados de despojos.[1]
Devido ao saque e cativos de guerra, a hoste portuguesa marchava lentamente.[1] A meio do dia de 24 de Julho o exército muçulmano foi avistado por batedores portugueses e, não sendo possível escapar a um confronto, sob o tórrido sol de Verão Afonso Henriques dirigiu a sua hoste para um outeiro, no qual foi montado um acampamento de guerra.[1] O recinto foi fortificado com fossos escavados em redor e passada ali a noite.[1]
Pouco antes da alvorada de 25 de Julho, dia de Santiago, D. Afonso Henriques mandou soar os instrumentos de guerra como aviso de que partiriam para a batalha em breve.[1] Antes do combate, Afonso Henriques foi aclamado rei pelos seus guerreiros à antiga moda germânica, erguido de pé sobre o seu escudo.[1][3]
A iniciativa do ataque partiu dos muçulmanos, que procuraram invadir o acampamento português.[1] Os portugueses saíram a campo organizados em vanguarda, duas alas, rectaguarda e, no confronto que se seguiu, o primeiro dos azes em que se dividia a hoste muçulmana foi rasgado por uma carga da cavalaria pesada portuguesa.[1] Afonso Henriques matou pessoalmente um guerreiro adversário com um golpe de lança.[1] Os portugueses avançaram até ao segundo az muçulmano mas, já sem o ímpeto da investida, generalizou-se o combate corpo-a-corpo.[1] Aqui, porém, valeram aos portugueses as suas armaduras, mais pesadas que as dos seus inimigos.[1]
A batalha durou até meio do dia ou até à tarde.[1] Incapazes de suster o avanço cristãos, os muçulmanos retiraram-se do campo de batalha, tendo até Esmar abandonado o combate com os seus homens. Muitos foram mortos na debandada.[1]
Rescaldo
Muitos portugueses morreram na batalha.[1] Entre eles contaram-se dois dos principais comandantes da hoste, um dos quais era Diogo Gonçalves de Cete ou de Urrô, filho de Gonçalo Oveques.[1] Regressados ao acampamento, Afonso Henriques mandou degolar alguns dos prisioneiros feitos na batalha. Passados três dias no campo de batalha, forma normal de afirmar a vitória, a hoste portuguesa regressou a Coimbra.
Após a Batalha de Ourique, Esmar reagrupou as suas tropas em Santarém em preparação para um ataque de desforra. No ano seguinte à batalha, quando Afonso Henriques se deslocara novamente à Galiza para combater o rei Afonso VII de Leão, Leiria foi uma vez mais destruída.[7] Embrenharam-se então os muçulmanos em território português até Trancoso, que saquearam.[8] Assinada a paz com o rei D. Afonso VII de Leão após a Batalha de Arcos de Valdevez, D. Afonso Henriques partiu para sul, atravessou o Douro perto de Lamego e novamente desbaratou Esmar em dois recontros na Batalha de Trancoso.[9] De regresso desta jornada, fundou o Mosteiro de Tarouca.[9]
A lenda de Ourique
A primeira referência conhecida a um suposto milagre ligado a esta batalha é do século XV, muito depois da batalha. Ourique serve, a partir daí, de argumento político para justificar a independência do Reino de Portugal: a intervenção pessoal de Deus era a prova da existência de um Portugal independente por vontade divina e, portanto, eterna.[2] A tradição narra que, naquele dia, consagrado a S. Tiago, o soberano português teve uma visão de Jesus Cristo rodeado de anjos na figura do Anjo Custódio de Portugal, garantindo-lhe a vitória em combate. Este ponto da narrativa é similar à narrativa cristã tradicional da Batalha da Ponte Mílvio, opondo Magêncio a Constantino, segundo a qual Deus teria aparecido a este último dizendo IN HOC SIGNO VINCES (em latim, «Mediante este sinal vencerás!»).
História posterior
Nos séculos XIX e XX o local da peleja foi discutido por vários autores devido à distância a que foi travada das fronteiras portuguesas, porém, na Reconquista eram frequentes os profundos fossados em território muçulmano como o que resultou na Batalha de Ourique.[1] Em 1144, o rei Afonso VII Leão realizou um ataque que devastou o vale do Guadalquivir e alcançou a região de Granada.[1] Em 1178, o príncipe-herdeiro D. Sancho levaria a cabo um profundo fossado que lograria alcançar Sevilha.[1]
No outeiro de São Pedro das Cabeças foram encontrados vários esqueletos sem caveira, dos prisioneiros que Afonso Henriques mandara executar no rescaldo da batalha.[10]
Ver também
Referências
- Miguel Gomes Martins: De Ourique a Aljubarrota. A Guerra na Idade Média, Esfera dos Livros, 2011, pp. 39-57.
- Infopédia, Enciclopédia de Língua Portuguesa da Porto Editora. «Batalha de Ourique». Consultado em 7 de julho de 2014
- Anthony R. Disney (2019). Clube do Autor, ed. A História de Portugal e do Império Português - das origens da nação até ao fim do Antigo Regime. I. [S.l.: s.n.] p. 75. ISBN 9789897244995
- José Mattoso: D. Afonso Henriques, Círculo de Leitores, 2006, pp. 106-111.
- Livermore, H. V. (1947). A History of Portugal. Cambridge: Cambridge University Press, p. 63.
- Alexandre Herculano: História de Portugal, Volume 1, 1846, p. 334.
- Alexandre Herculano: História de Portugal, Volume 1, 1846, p. 335.
- Alexandre Herculano: História de Portugal, I, p. 266.
- Porto Editora – Castro Verde na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-11-10 16:00:53]. Disponível em https://www.infopedia.pt/$castro-verde
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