primeira moeda brasileira Da Wikipédia, a enciclopédia livre
Nota: Este artigo é sobre o Real como moeda antiga brasileira.Para a moeda vigente no Brasil, veja Real (moeda brasileira).Para a moeda antiga portuguesa, veja Real (moeda portuguesa).
Real (plural réis) foi a unidade monetária utilizada no Brasil[3] desde sua colonização[4] até 5 de outubro de 1942, quando foi substituída pelo cruzeiro na razão de 1 cruzeiro por 1 mil-réis.[5]
Como essa unidade monetária não era fracionável (diferente do Real adotado em 1994, que se fraciona em centavos) o uso do termo réis, no plural, era predominante. Um real na realidade seria equivalente a um centavo, 100 réis é que seria equivalente a 1 real (a moeda atual, lembrando que esta comparação não é no sentido de conversão de moeda). O réis funcionava de maneira similar ao iene, moeda moderna que não é fracionária. Além disso, como essa unidade monetária circulou por um longo período de tempo em cédulas múltiplas de 1000, à época, tornou-se comum o uso do termo "mil-réis" (comumente pronunciado "mirréis" ou até "merréis") como se fosse uma única palavra ou uma nova unidade monetária. "Mil-réis" seria o equivalente hoje de forma genérica a "dez reais".
Conto de réis foi uma expressão adotada no Brasil e em Portugal para indicar um milhão de réis (Rs 1:000$000). Por se tratar de uma moeda não fracionária, de forma genérica e simplista um conto de réis equivaleria a "dez mil reais" numa comparação com a moeda moderna (e se ignorarmos a conversão de moeda)[6] "Conto" deriva do latim computus, a conta dez vezes cem mil.[7] Um conto de réis correspondia a mil vezes a importância de um mil-réis (Rs 1$000), sendo assim o real 1/1 000.000 de um conto de réis em representação matemática decimal atual.
Um conto de réis era uma quantia de grande valor intrínseco: em 1833, 2$500 era representado por uma oitava (equivalente a aproximadamente 3,59 gramas) de ouro de vinte e dois quilates,[8] sendo que um conto de réis corresponderia a 1,4 quilogramas do mesmo material.
O Real, cujo plural é "réis", foi a primeira moeda oficial do Brasil, utilizada desde o período colonial até 5 de outubro de 1942. Sua história está profundamente entrelaçada com a evolução econômica e política do país.[9][10][11]
Origens e Primeiros Anos
A moeda Real foi introduzida no Brasil durante o período colonial, logo após a chegada dos portugueses. Originalmente, o Real foi trazido de Portugal, onde já era utilizado como unidade monetária. A primeira moeda cunhada no Brasil foi o Real Português, ainda no século XVI. No entanto, durante grande parte do período colonial, o Brasil utilizava uma mistura de moedas, incluindo a moeda espanhola (o peso), e até mesmo o ouro em pó, como meio de troca.[9][10][11]
Adoção e Consolidação
Com a independência do Brasil em 1822, o país continuou a utilizar o Real como sua unidade monetária oficial. Durante o século XIX, o governo brasileiro começou a cunhar suas próprias moedas em reais, consolidando a moeda como símbolo da soberania nacional. A moeda de mil-réis, que equivalia a 1 000 réis, tornou-se uma denominação comum e amplamente utilizada no comércio e nas transações diárias.[9][10][11]
Desvalorização e Reforma Monetária
No início do século XX, o Real passou por diversas crises inflacionárias, resultando em uma contínua desvalorização da moeda. O processo inflacionário foi exacerbado por fatores econômicos e políticos, incluindo as crises econômicas globais, como a Grande Depressão. Essa desvalorização levou à necessidade de uma reforma monetária.[9][10][11]
Em 5 de outubro de 1942, o Real foi finalmente substituído pelo Cruzeiro, na razão de 1 Cruzeiro para cada 1 000 mil-réis. Esta mudança marcou o fim da longa história do Real como moeda oficial do Brasil.[9][10][11]
Legado
O Real permaneceu como a moeda do Brasil por mais de quatro séculos, sendo testemunha de diversos períodos históricos importantes, desde o Brasil colonial, passando pela independência, o Império, e as várias fases da República. Apesar de ter sido substituído pelo Cruzeiro em 1942, o nome "Real" foi resgatado em 1994, quando uma nova moeda foi introduzida como parte do Plano Real, um programa de estabilização econômica que ajudou a controlar a hiperinflação no Brasil.[9][10][11]
200 réis (1889 e 1900)
Família de moedas em cuproníquel composta por moedas de 100 e 200 réis com desenho aproveitado das moedas do final do II Reinado. O anverso passou a ter a legenda "15 de novembro de 1889" - data da Proclamação da República e o reverso teve o Brasão Imperial trocado pelas Armas Nacionais da República do Brasil. Como o réis não era fracionável, pode ser comparado a "2 reais" de hoje.[12][13][14]
400 réis (1901)
Moeda de maior valor da série batida em cuproníquel em 1901, encomendada à firma Basse & Selve, da Alemanha, que contratou serviços de diferentes Casas da Moeda estrangeiras. Foi cunhado um total de 161 250 000 peças, a maior produção de moedas do mundo, na época (única moeda brasileira em que a data está em algarismo romano - MCMI). A série é composta de moedas de 100, 200 e 400 Réis, com a figura da Abundância no anverso e efígie Representando a República no Reverso. Como o réis não era fracionável, pode ser comparado a "4 reais" de hoje.[12][13][14]
40 e 20 réis (até 1912)
A cunhagem das moedas de bronze, iniciada no final do Império, recomeçou no período republicano. As peças inovavam com a apresentação de legendas e temas diferentes, de acordo com o valor. Deixaram de ser cunhadas em 1912. A moeda de 20 Réis trazia o lema "Vintém Poupado, Vintém Ganho". A moeda de 40 Réis tem como lema "A Economia Faz a Prosperidade". Como o réis não era fracionável, pode ser comparado a "20 centavos" e a "40 centavos" de hoje.[12][13][14]
Prata da República
Assim como as moedas de ouro, as de prata começaram a cair em desuso no meio circulante no período republicano, uma vez que o valor de face era depreciado pela inflação. A república abandonou as moedas de ouro em 1921 (moedas de 20$000 Réis). Já as moedas de prata continuaram em circulação até o fim do padrão Mil-réis (em 1942), sendo a última emissão em 1936, em uma moeda de 5$000 Réis homenageando Santos Dumont. No entanto o teor de prata era cada vez menor em sua composição (variando entre 50% e 60% de acordo com a moeda). É curioso observar que as moedas de prata de 1906 traziam marcado seu peso em apenas uma das faces.[12][13][14]
30 000 réis
O Governo Provisório republicano também permitiu que alguns bancos emitissem cédulas. Este período ficou conhecido como período da "Pluralidade Bancária". As emissões multiplicaram-se desordenadamente, gerando inflação, o que resultou no retorno à ideia de um único emissor que, de 1892 a 1896, foi o Banco da República do Brasil. Como o réis não era fracionável, pode ser comparado a "300 reais" de hoje.[12][13][14]
Após a crise causada pela "Pluralidade Bancária", as emissões foram centralizadas no Tesouro Nacional. Como o mil-réis já estava bastante desgastado pela inflação, surgiu a ideia de se adotar uma moeda lastreada no Ouro, que se chamaria Cruzeiro. Para preparar o país para esta mudança foram emitidas cédulas de Mil-réis em nome da "Caixa de Conversão" e em nome da "Caixa de Estabilização".[12][13][14]
O projeto do Cruzeiro-Ouro foi abandonado e as Cédulas da Caixa de Conversão e Estabilização foram incorporadas às demais cédulas do Tesouro Nacional. Também houve uma tentativa, na década de 1920, de se padronizar as cédulas em emissões assinadas pelo Banco do Brasil.[12][13][14]
Tostão - 80 réis (período Colonial e Imperial); 100 réis (em cuproníquel emitida entre 1917 a 1932). Equivalente a "80 centavos" ou "1 real" de hoje.
Pataca - 320 réis (equivalente hoje a "3 reais e 20 centavos)
Cruzado - 400 / 480 réis (equivalente a "4 reais/4 reais e 80 centavos")
Patacão - 960 réis (equivalente a "9 reais e 60 centavos")
Dobra - 12 800 réis (12$800) (equivalente a "128 reais" de hoje)
Dobrão - 20 000 réis (20$000) (equivalente a "200 reais")
O réis não era fracionável, comparações acima ignoram a conversão de moeda e foram feitas para a melhor abstração de um público-alvo que cresceu num ambiente com moeda fracionável.[12][13][14]
500 réis - 1ª estampa (1874), 4ª estampa (1901). Equivalente a "5 reais" de hoje.
1$000 réis - 1ª estampa (1835), 13ª estampa (1923). Equivalente a "10 reais" de hoje.
2$000 réis - 1ª estampa (1835), 15ª estampa (1923). Equivalente a "20 reais" de hoje
5$000 réis - 1ª estampa (1835), 19ª estampa (1925). Equivalente a "50 reais " de hoje.
10$000 réis - 1ª estampa (1835), 17ª estampa (1925). Equivalente a "100 reais" de hoje.
20$000 réis - 1ª estampa (1835), 16ª estampa (1931). Equivalente a "200 reais" de hoje.
50$000 réis - 1ª estampa (1835), 17ª estampa (1936). Equivalente a "500 reais" de hoje.
100$000 réis - 1ª estampa (1835), 17ª estampa (1936). Equivalente a "mil reais" de hoje.
200$000 réis - 1ª estampa (1835), 17ª estampa (1936). Equivalente a "dois mil reais" de hoje.
500$000 réis - 1ª estampa (1836), 15ª estampa (1931). Equivalente a "cinco mil reais" de hoje.
1:000$000 réis (um conto de réis), única estampa (1921). Equivalente a "dez mil reais" de hoje.
O réis não era fracionável, comparações acima ignoram a conversão de moeda e foram feitas para a melhor abstração de um público-alvo que cresceu num ambiente com moeda fracionável.[12][13][14]
Seleção de cédulas com valores em réis
Cédula do período imperial de 500 réis (1880) com a efígie de Dom Pedro II.
Cédula de mil réis, emitida pela Casa da Moeda no Período Imperial.
Cédula de mil réis (antigo) com a efígie do presidente Campos Sales.
Verso da nota de mil réis (antigo)
Cédula de 5 mil réis emitida pelo Tesouro do Estado de São Paulo devido a escassez monetária durante a revolução de 1932. Com a efígie do bandeirante Domingos Jorge Velho.
Cédula de 10 mil réis (1925) com a efígie do presidente Campos Sales.
Cédula de 20 mil réis (1925) com a efígie do marechal Deodoro da Fonseca. A nota contém dois carimbos retificando o valor de face para 20 cruzeiros após a reforma monetária de 1942.
Cédula de 200 mil réis, emitida pela Casa da Moeda entre 1835-1936.
Nota de 500 mil réis (1931) com a efígie do marechal Floriano Peixoto.
Cédula de um conto de réis (1923) com a efígie de Dom Pedro I.
Mais informação Valor, Cara ...
Valor
Cara
Coroa
Cara
Coroa
Cara
Coroa
100
1871/Fundo Liso
1936/Brasileiros Ilustres 1
1940/Getúlio Vargas
200
1937/Brasileiros Ilustres 1
300
1938/Brasileiros Ilustres 1
1942/Getúlio Vargas
400
1918/República
1936/Brasileiros Ilustres 1
1000
1922/Centenário da Independência
1931/Fortuna
1938/Brasileiros Ilustres 1
2000
1938/Brasileiros Ilustres 1
1939/Brasileiros Ilustres 2
4000
1812
Fechar
No livro 1808, Laurentino Gomes faz uma conversão de réis em Real, baseando-se em outros autores que se empenharam para torná-la a mais próxima do valor atual, levando em consideração os valores da inflação.[15] Cabe lembrar que a conversão, mesmo próxima, não é exata. O valor aproximado é o seguinte:[12][13][14]
1 Real (Réis) - R$ 0,123
1 Mirréis (Mil Réis) - R$ 123,00
1 Conto de Réis (Mil mirréis) - R$ 123.000,00
900 Contos de Réis - R$ 110 700 000,00
Em 1846, o Império conseguiu o 1º orçamento superavitário graças às novas rendas da Alfândega. Nessa época 1 saca de café era comprada por 12$000 réis e um escravo valia 350$000 réis, os escravos com habilidades (carpinteiro, fundidor¸ maquinista, etc.) valiam 715$000 réis.
Em 1854, a receita total do Império foi de 35.000 contos de réis.
Entre 1856 e 1862, em Vassouras, 1 conto de réis (1:000$000=1 milhão de réis) comprava 1 escravo.
Em 1860,1 conto de réis (1:000$000= 1 milhão de réis) comprava 1kg. de ouro.
Considerando que, em 15 de novembro de 1889, o menor salário mensal (de uma pessoa sem nenhum conhecimento) do Brasil Imperial era 25$000 Réis ou 22,5 gramas de ouro, ou para o caso do ouro cotado em R$ 130,00 o grama (2017) o salário mínimo seria de R$ 2 925,00 (2017), o salário de uma professora primária era 45$000 Réis (aproximadamente R$ 5 269,00), o salário mensal de um Reitor/Professor Secundário 167$000 Réis (R$ 19 555,00), o maior salário mensal do País em 300$000 Réis (R$ 35 125,00) e para fins de referência e cálculos toma-se aqui o ouro puro, ou seja, 9 (nove) gramas de ouro 24 quilates, em 15 de novembro de 1889 valiam 10$000 réis. Vale recordar que os valores expostos são meramente simbólicos e a conversão se baseia somente na cotação do ouro.
Gomes, Laurentino, 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil, São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2007.