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Maurício Tragtenberg (Getúlio Vargas, 4 de novembro de 1929 – São Paulo, 17 de novembro de 1998) foi um sociólogo, historiador, escritor, ensaísta e professor brasileiro.[1][2]
Maurício Tragtenberg | |
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Nascimento | 4 de novembro de 1929 Getúlio Vargas, RS |
Morte | 17 de novembro de 1998 (69 anos) São Paulo, SP |
Ocupação | sociólogo, educador e teórico libertário |
Escola/tradição | anarquismo, comunismo de conselhos |
Principais interesses | Sociologia, História, Filosofia, Educação, Política, Anarquismo. |
Filho de uma família judaica e camponesa, seus avós emigraram para o Brasil e instalaram-se no interior do Rio Grande do Sul através de um projeto de colonização que tinha o financiamento da Companhia Judaica de Colonização.[3] Cultivavam uma agricultura de subsistência e vendiam o excedente para o mercado.[4]
Maurício começou a "ler, escrever e contar" em uma escola pública de Erebango (depois Erechim), que funcionava em um galpão.[5][6] Sua família muda-se para Porto Alegre - capital do estado do Rio Grande do Sul - e ele passa a frequentar o Grupo Escolar Luciana de Abreu (em plena época do Estado Novo), mas logo a família transfere-se para São Paulo, instalando-se no bairro do Bom Retiro.[5][7][8]
Maurício passa a frequentar uma escola ortodoxa judaica e além das matérias comuns do primário, estudava o hebraico[4] e o iídiche ("que é uma mistura de várias línguas, incluindo o hebraico, mas surgiu do alemão medieval como forma de comunicação entre os judeus que não pudessem ser compreendidos pelos cristãos").[9]
Ainda muito jovem começou a trabalhar, após a morte do pai.[4] Filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), mas foi expulso com base em um artigo que proibia ao militante contato direto ou indireto com trotskistas ou com a obra de Leon Trotsky, autor por ele lido e relido.[10][11][12] Torna-se dirigente do recém-fundado Partido Socialista Revolucionário (PSR), então seção brasileira da IV Internacional (fundada por Leon Trotsky) junto com inúmeros partidário da esquerda como Herminio Sacchetta, Febus Gikovate, Alberto da Rocha Barros, Vítor Azevedo, Patricia Galvão (Pagu), Florestan Fernandes, entre outros.[13][14][15][16]
Trabalhou no Departamento das Águas de São Paulo, onde teve toda a sua experiência prática com a burocracia, posteriormente criticada em seu livro Burocracia e Ideologia.[17][18][19] Neste período frequentava a Biblioteca Municipal Mário de Andrade, onde lhe foi possível ler o que lhe interessasse e discutir assuntos diversos com um grupo de intelectuais que também frequentavam a biblioteca, entre eles Antônio Cândido, que o convenceu a prestar vestibular na Universidade de São Paulo (USP).[20][21]
Escreveu o ensaio Planificação - Desafio do século XX, que seria posteriormente transformado em livro.[22] Com a aceitação desse texto pela Universidade, habilita-se a prestar o vestibular.[23] Aprovado, começa a frequentar o curso de Ciências Sociais na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH).[5][23] Um ano depois prestou novamente vestibular - desta vez para o curso de História, que concluiu.[23] Durante a ditadura militar escreveu sua tese de doutorado em Política, também pela USP.[24] Começou então a se dedicar à carreira de professor, lecionando na graduação e pós-graduação das principais universidades dos país como a da própria USP, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (EAESP-FGV).[25][26]
No meio acadêmico, Tragtenberg ficou conhecido como um autodidata (o que era apenas parcialmente verdadeiro, embora ele próprio costumasse alardear, provocativamente, o seu "primário incompleto").[27] Preferia definir-se como um socialista libertário, ao contrário de "anarquista", e radical.[28] Irreverente com relação aos símbolos e às artimanhas do poder autoritário, foi um intelectual independente e crítico em relação à burocracia acadêmica, que desprezava.[24][23]
Fumante inveterado, suas classes eram frequentadas não só por alunos regulares mas também por numerosos ouvintes não matriculados, por seu espírito rebelde e senso de humor frequentemente sarcástico, mas sobretudo por sua profunda generosidade intelectual.[22]
A compulsão pela palavra escrita somada à facilidade de guardar nomes e citações, fizeram-no ser lembrado por um saber enciclopédico. Para a Profª. Drª. Dóris Accioly e Silva, da Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Marília, e co-organizadora da biografia de Maurício Tragtenberg, o vasto conhecimento do filósofo era presenciado em sala de aula. "Ele não era popular entre os alunos. Falava muito, citava bastante gente e não seguia ordem cronológica nas explicações".[29]
Foi casado com a atriz Beatriz Tragtenberg, com quem teve três filhos: o físico Marcelo Henrique Romano Tragtenberg, o músico Livio Tragtenberg e a cantora lírica Lucila Romano Tragtenberg.[30][31][32]
Apesar de sua origem judaica, Tragtenberg definia-se como ateu e com sua irreverência dizia “ateu, graças a Deus!” e que era um “judeu ateu”.[33][34]
Maurício morreu em 17 de novembro de 1998, após sofrer uma parada cardiorrespiratória.[35] Tragtenberg estava internado na Unidade de terapia intensiva (UTI) do hospital privado Sírio-Libanês, pois estava sofrendo com um câncer e diabetes.[35][36]
Deixou publicados pelo menos oito livros e inúmeros artigos em jornais e revistas de grande circulação no país, abrangendo diversos assuntos como educação, política, sociologia, história e administração.[37]
Escreveu por vários anos a coluna No Batente para o jornal Notícias Populares, um tabloide popular de São Paulo.[38][39][40]
Sua obra completa que inclui livros, artigos, apresentações, prefácios e textos esparsos está sendo editada pela Editora UNESP, tendo sido publicados quatro volumes da coleção Maurício Tragtenberg - dirigida por Evaldo Amaro Vieira: Administração, Poder e Ideologia, Sobre educação, política e sindicalismo, "Burocracia e Ideologia" e o mais recente A Revolução Russa.[1][41]
Através de uma crítica incisiva ao modelo pedagógico burocrático, Tragtenberg chega à teoria da pedagogia libertária,[42] que se expressa pelo questionamento de toda e qualquer relação de poder estabelecida no processo educativo e das estruturas que proporcionam as condições para que essas relações se reproduzam no cotidiano das instituições escolares.[43]
Em sua visão, a própria prática de ensino pedagógica-burocrática permite a dominação na medida em que reduz o aluno ao papel de mero receptáculo de conhecimento e fixa uma hierarquia rígida e burocrática na qual o principal interessado encontra-se numa posição submissa. E nessa ordem o professor é o ‘símbolo vivo’ da dominação.[44][45]
Tragtenberg critica duramente a realidade das universidades, "a delinquência acadêmica", que a seu ver, acabam exprimindo uma ‘concepção capitalista do saber’ através da busca desenfreada por titulações, publicações, pontos.[37][24] Paga-se para apresentar trabalhos a si mesmo ou aos poucos amigos que se revezam entre falantes e ouvintes, não interessando o conteúdo e a qualidade do que se publica, mas sim quantos pontos vale; também não importa se alguém lerá o artigo; que seja de preferência uma publicação em algum país vizinho, pois as publicações internacionais valem mais pontos.[46][47]
Em resposta a tudo isso, a pedagogia libertária propõe uma série de mudanças nas instituições de ensino, fundadas na:[5][48][49]
Essa proposta pedagógica pressupõe ainda: educação gratuita para todos, superação da divisão dos professores em categorias; liberdade de organização para os trabalhadores da educação.[44]
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