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escritora, tradutora e jornalista portuguesa Da Wikipédia, a enciclopédia livre
Maria da Conceição Vassalo e Silva da Cunha Lamas OSE • GOL (São Pedro, Torres Novas, 6 de Outubro de 1893 — Alcântara, Lisboa, 6 de Dezembro de 1983) foi uma escritora, tradutora, jornalista e conhecida ativista política feminista portuguesa[1].
Maria Lamas | |
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Maria Lamas | |
Nome completo | Maria da Conceição Vassalo e Silva da Cunha Lamas |
Pseudónimo(s) | Serrana d'Ayre, Rosa Silvestre, Armia |
Nascimento | 6 de outubro de 1893 São Pedro, Torres Novas, Portugal |
Morte | 6 de dezembro de 1983 (90 anos) Alcântara, Lisboa, Portugal |
Nacionalidade | portuguesa |
Cônjuge | Teófilo José Pignolet Ribeiro da Fonseca (1911-1920, 2 filhas) Alfredo da Cunha Lamas (1921-1953, 1 filha) |
Ocupação | Escritora, tradutora, jornalista e activista política. |
Magnum opus | "As Mulheres do Meu País" (1947-1950) |
Maria da Conceição Vassalo e Silva nasceu a 6 de Outubro de 1893 na freguesia de São Pedro, em Torres Novas, distrito de Santarém, e foi batizada nessa freguesia a 22 de outubro de 1893, como filha de Maria da Encarnação Vassalo e Silva, natural de Alcanena (então ainda pertencente ao concelho de Torres Novas), e de Manuel Caetano da Silva, lojista, natural de Mação.[2]
Os pais eram ambos oriundos de famílias burguesas — católicos e devotos do lado materno, republicanos e maçónicos do lado paterno. Era irmã mais velha de Manuel António Vassalo e Silva, que viria a ser o último governador da Índia Portuguesa, e prima das escritoras Maria Lúcia Vassalo Namorado e Alice Vieira.
Frequentou a escola primária do Conde Ferreira e completou os seus estudos no Colégio das Teresianas de Jesus Maria José, em Torres Novas, em regime de internato, a pedido de sua mãe.
Poucos anos depois, a 10 de março de 1911, com 17 anos de idade, casou-se com Teófilo José Pignolet Ribeiro da Fonseca, então com 24 anos, natural de Macau, republicano e oficial da Escola Prática de Cavalaria de Torres Novas, filho de António Marciano Ribeiro da Fonseca, general reformado, natural do Porto, e de Antoinette Émilie Pignolet, doméstica, natural de Paris.[3] Este foi o primeiro casamento civil celebrado na localidade. Ainda em 1911, já grávida, Maria não hesitou em acompanhar o marido em missão num presídio militar em Capelango, Angola. Alguns meses depois, nasceu a sua primeira filha, de nome Maria Emília.
Pouco tempo depois, a relação tornou-se atribulada e, em 1913, apesar de se encontrar novamente grávida, Maria decidiu deixar o marido e regressar a Portugal. Disposta a conseguir o divórcio e a lutar pela tutela das filhas, Maria Emília e Maria Manuela (que nasceria ainda nesse mesmo ano), a sua imagem popular foi gravemente abalada, não só por à época o divórcio e a emancipação da mulher serem ainda tema tabu na tradicionalista e conservadora sociedade portuguesa, mas também por Maria ter dirigido, em público, vários ataques verbais insultuosos contra o marido.
Com o avançar da Primeira Guerra Mundial e a partida do marido para a frente de combate na Flandres e depois em França, Maria Lamas foi obrigada a procurar uma forma de sustento para si e as filhas. Começou a trabalhar na Agência Americana de Notícias pela mão da jornalista e amiga Virgínia Quaresma e a escrever para os jornais Correio da Manhã e A Época. Tornou-se assim uma das primeiras mulheres jornalistas profissionais em Portugal.
A 27 de fevereiro de 1920, foi finalmente decretado o divórcio, por mútuo consentimento, de Teófilo José Ribeiro da Fonseca [4].[3][2], o que permitiu a Maria casar-se em segundas núpcias, a 25 de abril de 1921, em Lisboa, com o jornalista e apoiante monárquico Alfredo da Cunha Lamas, que havia conhecido ao trabalhar no jornal A Época. Alfredo da Cunha Lamas, então com 42 anos e também já divorciado de Albertina Pereira da Silva, era natural de Lisboa e filho de António da Cunha Lamas e de Cândida Rita de Carvalho, também naturais de Lisboa.[5] Deste segundo casamento, nasceu uma filha, Maria Cândida. Contudo, devido às diferenças ideológicas e à incompatibilidade de temperamentos, Maria e Alfredo separaram-se pouco depois do nascimento da filha. Na realidade, nunca se divorciaram, o que explica que Maria tenha conservado o apelido Lamas. Alfredo da Cunha Lamas faleceu a 4 de outubro de 1953, na freguesia de Camões (Coração de Jesus), em Lisboa, e Maria Lamas passou ao estado de viúva, com que viria a falecer, porquanto não voltou a casar-se.[5]
Em 1920, Maria Lamas começou a trabalhar para a Agência Americana (brasileira) de Notícias (AAN).
Começou também a escrever para os jornais O Século, O Almonda, A Joaninha, A Voz, A Capital e o Diário de Lisboa e a publicar poemas ("Os Humildes", 1923), crónicas, novelas, folhetins, romances (Diferença de raças, 1923; "Caminho Luminoso", 1927; "Para Além do Amor", 1935; "Ilha Verde", 1938), textos para crianças, adolescentes e mulheres, estes últimos com um cariz mais interventivo e político sobre a reivindicação dos direitos das mulheres [6].
Em 1928, passou a dirigir o suplemento Modas & Bordados do jornal O Século, a convite do escritor e redator Ferreira de Castro, invertendo o prejuízo da revista em lucro logo nas suas primeiras edições, através da adoção de um discurso «de mulher para mulher» em que se debatiam temas que questionavam os padrões tradicionais e conservadores das mulheres na sociedade. Maria Lamas assumiu a direção deste suplemento em 1930.[7]
Também por esta altura, começou a falar sobre o direito à felicidade, a luta pela dignificação e a emancipação da mulher, associando-se ao Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas (CNMP), presidido pela ativista feminista Adelaide Cabete.
Dois anos depois, começou uma «amitié amoureuse» (amizade amorosa) com o escritor Ferreira de Castro, com o qual trabalhava no periódico O Século. Esta relação ficou intensamente registada em inúmeras cartas, postais e telegramas dando conta do seu quotidiano, viagens, pensamentos, tristezas, sonhos e elogios sobre os seus trabalhos literários e terminando apenas em 1973, data da última carta registada recebida por Maria Lamas. Estes registos encontram-se no espólio organizado pela filha Maria Cândida e pelo neto José Gabriel Pereira Bastos. Contudo, a correspondência amorosa trocada entre 1930 e 1938, que havia sido depositada na Biblioteca Nacional ou na Imprensa Nacional, encontra-se desaparecida até à data.[8]
Por sua iniciativa, também em 1930, criou, em coligação com o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas e o jornal O Século, a “Exposição da Obra Feminina, antiga e moderna de carácter literário, artístico e científico", a qual pretendia dar visibilidade ao trabalho das mulheres de norte a sul do país, «desde o trabalho das artesãs até aos trabalhos das intelectuais, desde um tear de Trás-os-Montes até à mesa de trabalho de Carolina Michaelis de Vasconcelos» [9]. Esta iniciativa, que durou dois meses, gerou forte afluência e atenção mediática, possibilitando, não só o abrir de portas dentro da organização feminista, que a elegeu presidente das secções de Educação, em 1937, e de Literatura, em 1939, como também colocando-a sob o olhar atento da esfera política e social da época. A 7 de fevereiro de 1934, foi agraciada com o grau de Oficial da Ordem de Santiago da Espada, pelo seu trabalho em prol dos direitos das mulheres. Com esta organização, realizou vários comícios feministas, muitos deles com percalços e falhanços por não conseguirem agregar muito público. Em 1935, num desses comícios, registou-se um momento caricato, quando um integrante se envolveu em troca acesa de insultos com uma mulher do público, a qual discordava do enfoque dos temas abordados. A notícia saiu nos jornais da região e enfraqueceu a popularidade dos comícios.[10] Algumas mulheres presentes nas reuniões viriam mesmo a considerá-las «nefastas para o movimento feminista político português»[11] e criaram associações feministas separadas, enchendo Maria Lamas de críticas, muito por conta da alta politização do seu discurso, que não favorecia opiniões contrárias às suas.[10]
Em 1937 organizou, nos salões de O Século, a exposição «Tapetes de Arraiolos» executados pelas mulheres presas na Cadeia das Mónicas.
Depois inscreveu-se na Associação Feminina para a Paz, recém-constituída no Porto, e passou a assinar as suas obras como Maria Lamas. Até então, utilizava diversos pseudónimos, como «Serrana d'Ayre», «Rosa Silvestre», «Vagna Ina» e «Armia», este último essencialmente nos textos da revista Alma Feminina, o meio oficial de comunicação e divulgação do CNMP (Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas).[12]
Entre 1941 e 1942, traduziu O General Dourakine, da Condessa de Ségur, e O Pequeno Lord, de Frances H. Burnett, e adaptou David Copperfield, de Charles Dickens. Publicou a novela infantil O Vale dos Encantos.
Em julho de 1945, tornou-se presidente da Direcção do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, com a promessa de promover campanhas de alfabetização por todo o país. Contudo, não teve tempo para executar o mandato. Alguns meses após a sua eleição, devido ao clima político em que o país se encontrava, já em pleno Estado Novo, foi obrigada pelo diretor do jornal O Século, João Pereira da Rosa, a escolher entre continuar na direção da revista Modas & Bordados ou à frente da organização feminista. Maria Lamas não hesitou e demitiu-se do cargo da revista, dando início a uma das suas mais importantes obras literárias: As Mulheres do Meu País (1947-1950), a primeira reportagem sobre as condições de vida das mulheres portuguesas. À época, a obra foi, no entanto, considerada sensacionalista. Muitas mulheres declaravam não se rever na sua leitura.
Ainda em 1947, após a realização da exposição «Livros Escritos por Mulheres», na Sociedade Nacional de Belas Artes, a atividade do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas foi proibida pelo governo e cessou de imediato.
Nos anos seguintes continuou a desenvolver uma intensa ação propagandística e ativista contra o Estado Novo, integrando o Conselho Mundial da Paz e a Oposição Democrática, manifestando o apoio à candidatura de José Norton de Matos e integrando a Comissão Central do Movimento Nacional Democrático. Essas ações, por sua vez, originariam várias perseguições pela PIDE e encarceramentos na prisão de Caxias (1949, 1950-1951, 1953).[13] Participou em congressos, seminários e conferências pelos direitos das mulheres e pela paz mundial, apelando a que os outros países não fechassem os olhos à situação de ditadura que se vivia em Portugal.
Em 1955, autoexilou-se na Madeira, onde permaneceu cerca de ano e meio escrevendo o livro Arquipélago da Madeira - Maravilha Atlântica, publicado no ano seguinte.
Anos mais tarde, em 1962, cansada de viver perseguida pela polícia, viajou para Paris, onde passou a residir como exilada política. Viveu no Grand Hotel Saint-Michel, na rua Cujas, nº 19, do Quartier Latin. Aí, conheceu a escritora Marguerite Yourcenar e começou a desenvolver uma intensa atividade política de apoio aos portugueses refugiados que se opunham ao regime do Estado Novo[14]. Só regressou a Portugal a 3 de dezembro de 1969, com a garantia de não haver nas fronteiras nenhum mandato de captura contra si.
Finalmente, com a chegada da Revolução dos Cravos, a 25 de abril de 1974, Maria Lamas, com 80 anos de idade, foi agraciada e homenageada diversas vezes: tornou-se dirigente do Comité Português para a Paz e Cooperação; diretora honorária da revista Modas & Bordados (1974); presidente de honra do Movimento Democrático de Mulheres (1975); diretora da publicação Mulheres (1978) [15]; filiou-se oficialmente no Partido Comunista Português; recebeu do Presidente Ramalho Eanes a Ordem da Liberdade (1980); foi homenageada pela Assembleia da República (1982); e recebeu a Medalha Eugénie Cotton, da Fédération démocratique internationale des Femmes (FDIM) (1983).
Faleceu a 6 de dezembro de 1983, com 90 anos de idade, vítima de acidente vascular cerebral, na freguesia de Alcântara, em Lisboa. Deixou preparada uma nota para a família: «Com o coração cheio de amor eu queria apenas dizer que vos amo muito e agradecer-vos tudo quanto vos devo» [16].[17] Encontra-se sepultada no Cemitério de Benfica, em Lisboa.[18]
Em Torres Novas, em Outubro de 1987, Maria Lamas foi homenageada com a atribuição do seu nome a uma praceta na localidade, e em 1989, foi dado o nome da escritora à Escola Industrial de Torres Novas, na comemoração dos 50 anos da sua existência, passando a designar-se por "Escola Secundária Maria Lamas".
O espólio documental de Maria Lamas encontra-se na Biblioteca Nacional de Portugal[21].
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