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Maomé Xaibani ou Muhammad Shaybani Khan (em usbeque: Muhammad Shayboniy), também conhecido ou grafado como Muhammad Shibani, Abul-Fath Shaybani Khan, Shayabak Khan, Shahi Beg Khan ou Shibägh (c. 1451 — Merve, 2 de dezembro de 1510) foi um líder usbeque que deu continuidade ao empreendimento do seu avô Abul Cair Cã (r. 1428–1468) de reunir várias tribos usbeques e lançou as fundações para a sua ascendência na Transoxiana e a criação do Canato de Bucara. Era um membro do clã mongol dos xaibânidas, descendente de Xaibã, filho de Jochi, o filho mais velho de Gêngis Cã. O seu pai era Xeique Haidar (ou Budaque Sultão), filho de Abu Cair Cã.
Maomé Xaibani Muhammad Shaybani Khan • Muhammad Shayboniy • Muhammad Shibani • Abul-Fath Shaybani Khan | |
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Cã de Bucara | |
Retrato de Maomé Xaibani por Camaludim Bezade (1455–1536) | |
Antecessor como cã usbeque |
Xeique Haidar |
Sucessor como cã de Bucara |
Cochecunju |
Reinado | 1500–1510 |
Nascimento | c. 1451 |
Morte | 2 de dezembro de 1510 (59 anos) |
Merve | |
Nome completo | Abu Alfate Maomé Cã Xaibani |
Esposas | Mir Nigar Canum
Canzada Begum Aixa Sultana Canum Zura Begui Aga |
Descendência |
|
Dinastia | Xaibânida |
Pai | Xeique Haidar |
Mãe | Aque Cuzi Begum |
Religião | islão sunita |
O líder do ulus usbeque Abul Cair Cã teve onze filhos, um deles Budaque Sultão, o pai de Maomé Xaibani. O nome da mãe deste era Aque Cuzi Begum.[1] Segundo o historiador Camaladim Binai, Budaque Sultão deu ao seu filho o nome de Sultão Maomé Xaibani e uma alcunha — Xibaguete (Shibagt).[2] O pai de Xaibani era uma pessoa culta, sob cujas ordens foram feitas traduções para turco de muitas obras em persa.[3] O nome completo de Maomé Xaibani era, segundo algumas fontes, Abu Alfate Maomé Cã Xaibani (Abu'l-Fath Muhammad Khan Shaybani), e também foi conhecido como Xaquibeque Cã (Shakhibek Khan). Era descendente direto de Xaibã, filho de Jochi, que por sua vez era filho de Gêngis Cã.[4]
Na obra Tevarikh-i guzida-yi nusrat-nameh (em chagatai: تواریخ گزیده نصرتنامه,; "Histórias selecionadas do Livro das Vitórias") há um detalhe curioso na genealogia de Maomé Xaibani: a esposa dum dos seus antepassados, Munque Timur, era filha de Jandibeque, uma descendente de Ismail Samani, o primeiro grande emir samânida (r. 892–907).[5]
Xaibani começou por ser um oficial do exército do governante timúrida de Samarcanda, Sultão Amade Mirza, onde comandou um contigente de 3 000 homens e teve como superior o amir Abedal Ali Tarcã. Porém, quando Amade Mirza entrou em guerra com Mamude (m. 1508), o cã do Mogulistão ocidental, filho de Iunus Cã, para reclamar Tasquente, Xaibani encontrou-se com Mamude e acordou com ele trair Amade e saquear o exército deste. Isso concretizou-se em 1488, na Batalha do rio Chirchique, que se saldou numa vitória decisiva do Mogulistão. Como recompensa, Mamude Cã deu a Xaibani o Turquestão (não é claro a que se refere este Turquestão, mas provavelmente é à cidade com esse nome, atualmente no Cazaquistão). Ali, devido à opressão que exerceu nos cazaques locais, Xaibani acabou por provocar uma guerra entre o Mogulistão e o Canato Cazaque. O Mogulistão foi derrotado nesta guerra, mas Xaibani ganhou poder entre os usbeques e decidiu conquistar Samarcanda e Bucara a Amade Mirza. Os emires subordinados de Mamude convenceram-no a ajudar Xaibani nessa campanha e marcharam juntos para Samarcanda.[6]
Dando continuidade à políticas do seu avô Abul Cair Cã (r. 1428–1468), Maomé Xaibani expulsou os timúridas da sua capital Samarcanda em 1500 e envolveu-se em várias campanhas contra o líder timúrida Babur, que depois fundaria o Império Mogol.[7] Em 1505 recapturou Samarcanda em 1507 tomou Herate aos timúridas. Bucara foi conquistada por Xaibani em 1506, onde estabeleceu o Canato de Bucara. Em 1508–1509 levou a cabo vários raides a norte, saqueando territórios do Canato Cazaque. No entanto, em 1510 sofreu uma pesada derrota frente aos cazaques comandados por Casim Cã.
“ | Um dia Xaiabani visitou o Xeque Mansur e este disse-lhe: "olho para ti, usbeque, e vejo que desejas tornar-te um soberano!". E depois mandou que fosse servida comida. Quando tudo tinha sido comido e a toalha da mesa foi tirada, o Xeque Mansur disse: "como uma toalha de mesa é tirada pelas pontas, assim tu deves começar pela periferia do estado (reino)." Xaibani teve em conta este conselho nada ambíguo deste seu novo mentor e acabou por conquistar o estado timúrida. | ” |
— Sultanov, T. I. (2006), Gêngis Cã e os seus descendentes, Moscovo, p. 139. |
Xaibani manteve relações com o Império Otomano e a China. Em 1503 chegou uma embaixada sua à corte do imperador Mingue Hongzhi[8] e aliou-se ao sultão otomano Bajazeto II (r. 1481–1512) contra o xá safávida Ismail I (r. 1501–1524).[9]
Xaibani não fez qualquer distinção entre iranianos e turcos com base na etnia, seguindo o hádice de Maomé «Todos os muçulmanos são irmãos».[10] No estado por ele governado, os xiitas coexistiram pacificamente com a maioria sunita e inclusivamente alguns deles tiveram cargos elevados na corte xaibânida.[11] Uma das figuras religiosas com mais autoridade, um nativo do Iémen, Emir Saíde Xameçadim Abedalá Alárabi Aliamani Alhadramauti, conhecido como Miriárabe (Mir-i Arab), foi patrocinado por Xaibani Cã e foi uma presença muito frequente nas reuniões no divã (corte), além de ter acompanhado o cã nas sua campanhas militares.[12]
Os últimos anos de Xaibani Cã foram difíceis. Na primavera de 1509 a sua mãe morreu. Depois do seu funeral em Samarcanda, Xaibani foi para Carxi, onde se reuniu com os seus familiares e os autorizou a dispersarem para os seus ulus (ou beilhiques ou principados). O sobrinho Ubaidalá foi para Bucara, Maomé Temur para Samarcanda, Hâmeza Sultão para Gissar, etc. Xaibani foi para Merve (atual Mary, no Turquemenistão) com um pequeno destacamento.[13]
Entretanto a guerra com os safávidas, iniciada em 1502 por Ismail I devido ao crescente poderio de Xaibani, prosseguia. Em 1510, quando este se encontrava em Herate, ao saber das derrotas de Xaibani frente aos hazaras, Ismail invadiu a parte ocidental de Coração avançou rapidamente em direção a Herate. Xaibani Cã tinha perdido grande parte da sua cavalaria nos combates com os hazaras e não tinha muitas tropas à sua disposição.[14] O seu exército principal estava estacionado em Mauaranar (Transoxiana, mais a norte), pelo que, após consultar os seus emires, apressou-se a procurar refúgio atrás das muralhas de Merve. As tropas safávidas tomaram Astrabade, Mexede e Sarakhs. Todos os emires de Xaibani que estavam em Coração, incluindo Jã Uafa, fugiram do exército safávida-quizilbache e foram para Merve. Xaibani enviou um mensageiro a Ubaidalá Cã e a Maomé Temur Sultão com um pedido de ajuda. Entretanto, Ismail chegou a Merve e levantou um cerco que durou um mês, mas não teve sucesso. Recorreu por isso a um estratagema para fazer sair Xaibani da cidade, fingindo uma retirada.[15]
Segundo algumas fontes, uma das esposas de Maomé Xaibani, Aixa Sultana Canum, mais conhecida como Mogul Canum, tinha uma grande influência sobre o marido e a sua corte. Quando no Kengesh (conselho do cã) foi debatido se se deviam fazer tropas da cidade para perseguir o exército de Ismail em retirada, os emires sugeriram que se esperasse dois ou três dias até que chegassem reforços vindos de Mauaranar, mas a esposa amada de Maomé Xaibani, que também estava presente no conselho militar, disse ao marido: «E tu temes os quizilbaches! Se estás com medo, eu própria levarei as tropas e as comandarei. Agora é o momento certo, não haverá outra ocasião como esta outra vez.» Depois destas palavras de Mogul Canum, todos pareceram ficar envergonhados e as tropas do cã saíram para combater os persas e quizilbaches.[16]
Os dois inimigos enfrentaram-se na Batalha de Merve, na qual o exército de Ismail, constituído por 17 000 homens, cercaram as tropas xaibânidas, que foram derrotadas após combates renhidos. Xaibani Cã foi morto quando tentava pôr-se em fuga e o que restava do seu exército foi morto pelas flechas do inimigo.[17][18] Ismail mandou decapitar Xaibani e fazer da caveira uma taça coberta a ouro e cravejada de joias, que enviou ao seu outro inimigo, o sultão otomano Bajazeto.[19] Citando o Baburnama (as memórias de Babur), Edward Singleton Holden apresenta uma versão diferente e incoerente da história da cabeça de Xaibani: a cabeça foi empalhada e enviada a Bajazeto mas ao mesmo tempo foi usada para fazer uma taça pela qual bebia. As restantes partes do cadáver de Xaibani foram expostas publicamente em vários lugares do império[7] ou, segundo outros autores, espetadas num poste na porta principal de Samarcanda.[20]
Além de político e comandante militar, Maomé Xaibani foi também poeta e erudito em árabe, persa e turco, que patrocinou intelectuais e construiu várias mesquitas e estabelecimentos de ensino.[21] Na juventude foi um profundo amante de história. Em 1475 foi-lhe oferecido um livro sobre a vida de Alexandre, o Grande — uma cópia do Iskandarnamah escrito em turco otomano.[22] O autor medieval Nisari reconheceu Xaibani como um académico do Alcorão.[23]
Em Londres encontra-se um manuscrito do seu trabalho filosófico e religioso Bahru’l-huda, escrito 1508 em chagatai, a língua literária turca centro-asiática. Contém a sua própria perspetiva de vários temas religiosos e apresenta a sua ideia das bases do islão: arrependimento dos pecados, misericórdia e outros. Xaibani mostra que tinha excelentes conhecimentos dos rituais muçulmanos e dos deveres diários do devoto muçulmano.[24]
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