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Jeanne Bécu ou Jeanne Gomard de Vaubernier, [n 1] também referida, raramente, como Mademoiselle Lange e, após o casamento, por seu título Madame la Comtesse du Barry (Vaucouleurs, 19 de agosto de 1743 – Paris, 8 de dezembro de 1793), foi uma cortesã francesa. De origem humilde, foi "uma prostituta de luxo no círculo do poder real" [1] e, depois da morte da rainha Maria Leszczyńska, tornou-se amante do rei Luís XV, de 1768 a 1774, sucedendo à maîtresse-en-titre Madame de Pompadour,[1] o que a alçou à nobreza e lhe proporcionou os meios para se tornar uma das principais mecenas de sua época.
Madame du Barry | |
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Retrato por Élisabeth Vigée-Le Brun, 1782 | |
Marie-Jeanne Bécu Mademoiselle de Vaubernier Mademoiselle Lange | |
Nascimento | Jeanne Bécu 19 de agosto de 1743 Vaucouleurs, Meuse, França |
Morte | 8 de dezembro de 1793 (50 anos) Paris, França |
Sepultamento | Cimetière de la Madeleine |
Cidadania | Reino da França, Primeira República Francesa |
Progenitores |
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Cônjuge | Guillaume Dubarry |
Ocupação | amante real, cortesã, colecionador de arte, modiste, vendedora |
Título | Condessa du Barry |
Causa da morte | decapitação |
Assinatura | |
Morreu na guilhotina durante o período do Terror da Revolução Francesa, aos cinquenta anos de idade.[2]
Jeanne Bécu nasceu em Vaucouleurs, na Lorena, filha ilegítima de Anne Bécu — cozinheira ou costureira e de pai desconhecido, provavelmente um frade do convento de Picpus, em Paris, de nome Jean-Baptiste Gomard de Vaubernier.
Graças a um amante de sua mãe, Nicolas Rançon, a pequena Jeanne pôde ser educada num convento, onde recebeu uma educação muito superior à que poderia esperar, em função de sua condição social humilde.
Aos 15 anos de idade abandona o convento, e usando o nome de Jeanne Rançon, ganha a vida em diversas actividades, desde aprendiz de cabeleireira a camareira de uma família de posses, passando por empregada de balcão de uma conhecida e elegante loja, La Toilette. Pôde assim observar — e absorver — o mundo das mais altas esferas da sociedade parisiense.
Em 1763, a sua notória beleza chama a atenção de Jean-Baptiste du Barry, libertino confesso. Torna-se sua amante e instala-se na casa deste em Paris, onde acorriam muitas personagens ligadas à música e às artes. De facto, o conde era um grande apreciador de música e, sobretudo, de pintura, tendo Jeanne obtido muitos dos seus conhecimentos.
Luís, que era conhecido como "O Bem Amado" (le Bien-aimé), teve uma infância bastante triste, marcada por ter assumido o trono aos cinco anos de idade e pela morte da mãe; o rei teria, então, ao longo de sua vida uma índole triste e uma relação complicada com as mulheres, carente sempre da presença feminina e vindo a erigir a infidelidade num sistema público e privado.[1]
Casou-se aos quinze anos com a polonesa Maria Leszczyńska, com quem viveu feliz por uma década; entre 1727 e 1737 tiveram juntos nove filhos. Como o corpo da rainha se deforma em virtude das sucessivas gravidezes, o rei se distancia dela. Por isso, ela adota uma vida mais reclusa, deixando ao marido o caminho livre para aventuras.[1]
Na sociedade do século XVIII "o corpo e a sexualidade são colocados a serviço do poder, com acúmulo de privilégios, pensões, títulos e riquezas", e o maior exemplo disso são as cinco irmãs de Nesle, das quais quatro foram amantes do rei, com destaque a Pauline Félicité: oriundas da chamada "nobreza de espada", eram de uma das famílias mais antigas da nobreza do país, entretanto empobrecida; elas consideram que o papel de amante real é privilégio de nobreza e, assim, desenvolvem as estratégias para se sucederem na predileção do monarca.[1]
Entretanto, o papel de primeira-amante será, por vinte anos, ocupado por Madame de Pompadour; ela e o rei formarão, na visão de Cécile Berly, o "primeiro casal verdadeiramente político da história" e ela influenciará muitas das decisões politicas, recebendo em troca todas as críticas e descontentamento numa época em que era inconcebível criticar o soberano. Pompadour também controla a vida sexual do rei, escolhendo as "pequenas amantes" com quem ele se diverte — jovens treinadas e educadas, levadas ao entretenimento real. Com sua morte em 1764 esse sistema de favoritas e pequenas amantes tem fim e Luís passa a ter apenas aventuras noturnas.[1]
Foi somente após a morte da rainha Maria Leszczyńska que surge na Corte a figura de Madame du Barry; ela permanecerá por cinco anos alheia aos fatos políticos, deles desinteressada, até finalmente mudar essa situação e vir a um dia terminar de forma trágica sua trajetória.[1]
"...Vós cuidais bem dos meus negócios, estou feliz convosco; mas cuidado com aqueles que estão ao vosso redor e aqueles que vos dão conselhos; isso é o que sempre odiei e o que odeio mais do que nunca.
Conheceis Madame du Barry (...) Ela é bonita, fico feliz com isso, e recomendo-lhe todos os dias que tenha cuidado também com quem está ao seu redor e com quem lhe dá conselhos: e vós podeis acreditar que ela tem muitos assim.
Ela não vos tem ódio; ela conhece vossa mente e não vos representa um mal.
A explosão contra ela foi terrível, na maior parte errônea.
Estaríamos aos pés dela se...
Assim vai o mundo..."[nota 1]– Luís XV, 1769, carta ao Duque de Choiseul[1]
Entretanto, Jean du Barry alimentava outros projectos para Jeanne: instado pelo marechal Richelieu, irá usar os bons ofícios da encantadora jovem para que Luís XV demita o Duque de Choiseul, ministro dos Negócios Estrangeiros. É assim que, aos 19 anos, Jeanne Bécu é apresentada ao rei, então com 58 anos, que de imediato se apaixonou. Porém, para fazer dela sua amante oficial, era indispensável conceder-lhe um título nobiliárquico. O casamento de conveniência com o irmão de Jean du Barry, o conde Guillaume du Barry, permitiu-lhe usar com toda a licitude o título de Madame du Barry, o qual já antes indevidamente usava. Assim, em 1769, a Condessa du Barry, amante oficial do rei, foi apresentada à corte com a devida pompa e o incontestável escândalo.
Este episódio foi evocado por Madame Campan, camareira-mor de Maria Antonieta, nas suas memórias: «Mesdames [as irmãs] faziam uma vida muito distante do rei, que vivia sozinho desde a morte de Madame de Pompadour. Os inimigos do Duque de Choiseul não sabiam [...] como preparar e precipitar a queda do homem que se lhes atravessava no caminho. As mulheres com quem o rei se relacionava eram de tão baixa extracção que nenhuma seria capaz de urdir intrigas que exigissem grande subtileza. [...] Havia que arranjar ao rei uma amante capaz de criar um círculo à sua volta e de, na intimidade da alcova, minar a sólida e duradoura relação entre o rei e o seu ministro. De facto, a Condessa do Barry provinha de uma classe social inferior. A sua origem e educação, o seu estilo de vida, tudo nela transpirava vulgaridade e despudor. Ao casá-la com um homem cuja linhagem recuava até 1400, julgaram que poderiam evitar o escândalo».[3]
Sem ter a influência política tão notória quanto a de sua antecessora, Madame de Pompadour, a Condessa du Barry acabou por conseguir a demissão de Choiseul, o qual, através do casamento do futuro Luís XVI com Maria Antonieta, firmara a união dos Bourbons com os Habsburgos da Casa da Áustria. Tal não fez mais que exacerbar o ódio que lhe votava a arquiduquesa austríaca, já à partida indisposta contra "a du Barry" e todo o seu passado.
A situação torna-se insustentável quando Maria Antonieta se recusa dirigir a palavra à maîtresse do rei, pois, de acordo com a inelutável etiqueta da corte de Versalhes esta não podia ser a primeira a entabular conversação com a Delfina. Pressionada por um agastado Luís XV, Maria Antonieta acaba por condescender em pronunciar uma memorável frase, de tão vazia de conteúdo e tão plena de significado: "Hoje está tanta gente em Versalhes".[4] Quanto bastou, porém, para deixar todos satisfeitos.
Durante os anos em que desfrutou do favor real, protegeu muitos intelectuais e artistas, entre os quais François-Hubert Drouais (cujos retratos de Madame du Barry são bem conhecidos), Augustin Pajou, Van Loo, Etienne Falconet e Lemoyne. Grande amiga de Voltaire, incumbe-o de concluir o restauro do castelo de Louveciennes, oferta com que Luís XV a agracia em 1769. Para a decoração do palácio, encomenda a Fragonard quatro painéis dedicados ao Amor, uma obra estilo rococó: O Encontro, A Perseguição, A Recordação e A Coroação, que, de resto, pouco tempo aí ficaram, tendo sido retirados por não se enquadrarem no estilo do palácio.
Apesar do seu apoio às artes e de um sincero esforço para se tornar agradável a todos, acabou contudo por tornar-se impopular, devido aos dons e benesses com que o rei a cumulava: uma renda principesca, joias sem preço e propriedades suntuosas. Para isto também não foram alheias certas atitudes levianas e inconvenientes, desrespeitosas para a dignidade do soberano. Veja-se um episódio relatado por Madame Campan: Um belo dia Madame du Barry teve o capricho de assistir a uma sessão do Conselho de Estado. Luís XV, cuja fraqueza de carácter se acentuara com a idade, acede. Durante a reunião, «ficou ridiculamente pendurada nos braços da cadeira do rei, fazendo todo o tipo de criancices e macacadas.
Ao ver aproximar-se a morte, em 1774, Luís XV bane Madame du Barry da corte, pois a sua ligação pecaminosa aos olhos da Igreja impedi-lo-ia de conseguir a absolvição. Confinada durante alguns meses à abadia de Pont-aux-Dames, instala-se depois na sua propriedade favorita, o magnífico Château de Louveciennes. Aí, rodeia-se de uma corte íntima de amigos e admiradores, entre os quais Henry Seymour e o Duque de Brissac, que viriam a ser seus amantes.
Em 1789, eclodiu a Revolução Francesa e, durante as convulsões que agitaram o país, Madame du Barry não hesitou em cuidar igualmente de republicanos e monárquicos, pelo que recebeu uma carta de gratidão da sua velha inimiga Maria Antonieta. Suspeita aos olhos dos republicanos pelo seu passado, manifesta-se partidária das mudanças políticas. Sincera ou não, o facto é que ninguém a incomodou.
Em 1791, parte de sua valiosíssima coleção de joias, guardada em Louveciennes, foi roubada. Talvez sem se aperceber do perigo em que incorre, move mundos e fundos para as recuperar, ordena a abertura de um inquérito, promete generosas recompensas, fazendo assim alarde da sua imensa fortuna. Finalmente, as joias aparecem em Londres, para onde empreende diversas viagens.[5] Ora esta cidade era um dos locais de refúgio dos “contra-revolucionários” e, na sua busca de informações, entra em contacto com alguns dos expatriados. Em Janeiro de 1793, encontrando-se um Londres, ao receber a notícia da execução de Luís XVI, veste-se de luto, o que não passa despercebido aos espiões franceses. Todas as suas acções, todas as suas relações são agora consideradas suspeitas, e a sua fortuna, a sua antiga condição de maîtresse du roi, o facto de o seu amante, o Duque de Brissac, ter sido brutalmente assassinado nos Massacres de Setembro de 1792, enfim, tudo joga em seu desfavor tornando-a um alvo de eleição para os revolucionários.
Estando na segurança em Londres, onde fora bem recebida pela aristocracia local, por motivos ignorados decide retornar à França a despeito dos muitos avisos sobre o perigo de tal empresa; ao voltar em 1793, é levada ao cárcere ficando na mesma cela em que fora aprisionada antes Grace Elliott.[5]
Acusada de conspirar contra o novo regime e, após um longo processo — cuja sentença estava decidida à partida — foi declarada inimiga da revolução e condenada à pena de morte.
No dia 8 de dezembro de 1793, aos 50 anos de idade, Madame du Barry foi guilhotinada. Do episódio conta-se que, já sendo praticamente desconhecida, fora levada ao cadafalso, junto a outros condenados, com a turba a gritar atrás "morte a Du Barry"; ao ver passar o cortejo uma criança perguntara à mãe quem seria essa "Du Barry" da qual nunca ouvira falar e a mãe, ignorando o passado devasso da condenada, respondera-lhe: "É uma religiosa, é uma abadessa...".[2]
O seu comportamento no cadafalso indiciou um carácter fraco e pusilânime. Chegou ao ponto de denunciar várias pessoas, condenando-as assim a uma sorte igual à sua, e tentou comprar o carrasco revelando-lhe os locais onde estavam escondidas as joias que ainda lhe restavam. As suas últimas e pouco dignas palavras foram: "Encore un moment, monsieur le bourreau, un petit moment!" — Espere um momento, senhor carrasco, só mais um momentinho!, em livre tradução.[5]
Nesse texto o autor, Paulo Zingg, afirma ter Du Barry "oitenta anos de idade", o que é inverídico.
Nesse estudo o autor errou o rei francês que fora amante de Du Barry, colocando Luís XIV ao invés de Luís XV.
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