Lúcio Licínio Sura (em latim: Lucius Licinius Sura; 40–108 (68 anos)) foi um importante senador romano eleito cônsul em 102 com Lúcio Júlio Urso Serviano e novamente em 107 com Quinto Sósio Senécio. Nascido em Tarraco, na Hispânia Tarraconense, foi um dos homens mais ricos e influentes durante os reinados de Domiciano e Trajano[2], de quem era amigo pessoal[3][4]. Além disto, Sura foi cônsul sufecto antes de 102, mas, assim como quase toda a sua carreira, a data é desconhecida[5][6].
Lúcio Licínio Sura | |
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Cônsul do Império Romano | |
Detalhe da Coluna de Trajano (cena IX): no centro, Trajano; à direita, Sura; à esquerda, ou o prefeito pretoriano Tibério Cláudio Liviano ou o jovem Adriano[1] | |
Consulado | 102 d.C. 107 d.C. |
Nascimento | 40 d.C. |
Morte | 108 d.C. |
Primeiros anos
Sua família era originalmente do vale do Ebro e recebeu a cidadania romana no século I quando a colônia de Celsa foi fundada[5]. Ela emigrou para Tarraco no começo da era augustana depois que um de seus ancestrais mandou construir ou reformar o Arco de Berà, onde ainda está uma inscrição[5]: "Ex testamento L(uci) Licini L(uci) f(ilii) Serg(ia tribu) Surae consa[...]".
É possível que Sura tenha nascido ali em 5 de abril de 40[6], membro da tribo Sérgia[5][7].
Um homem novo, Sura foi admitido no Senado (adlectio) por Vespasiano depois de ter sido questor[8].
Carreira sob Domiciano e Nerva
Sura já detinha uma posição proeminente em Roma desde o início da década de 80, quando trabalhou como advogado[9], e foi considerado um grande orador pelo poeta Marcial por volta de 90[10][5]. A data de seu primeiro consulado, sufecto, é incerta: pode ter sido tão cedo quanto o início da década de 80, provavelmente 85 ou 86[11][5], o que explicaria porque seu nome é tão citado por Marcial, como ele teria conseguido assumir várias posições importantes e o motivo de sua proeminência; mas também pode ter sido tão tarde quanto 93 ou 97[a][5].
É possível que ele tenha sido governador da Germânia Superior (legado imperial) ou da Gália Bélgica[7] entre 89 e 92, o que indicaria que ele já era um consular[13][14]. Antes disto ele provavelmente foi legado da Legio I Minervia[7]. Além disto, Sura foi admitido entre os sodais augustais e no Colégio dos Pontífices, provavelmente no reinado de Domiciano (r. 81-96)[15][16].
Em 92, Marcial, que provavelmente era seu protegido, elogiou a erudição de Sura e agradeceu sua recuperação depois de uma grave e duradoura enfermidade[17][5]. Durante o reinado de Nerva (r. 96-98), Sura foi um dos mais influentes senadores romanos e provavelmente teve um papel importante na escolha do sucessor de Nerva, seu amigo Trajano[18][19]. De fato, é provável que a decisão de adotar Trajano tenha sido de Nerva, que se aconselhou com Sura; este, por sua vez, encorajou Trajano a assumir o poder depois que ele morreu para evitar uma crise[20].
Conselheiro de Trajano e consulados
No começo do reinado de Trajano, Sura era um dos mais próximos conselheiros do imperador e também o mais moderado em assuntos militares[3][4]. Logo começo de seu reinado (97-98), Trajano possivelmente o encarregou do governado da Germânia Inferior e deixou a Germânia Superior aos cuidados de seu futuro colega de consulado, Lúcio Júlio Urso Serviano. Em seguida, Sura pode ter sido procônsul da Ásia entre 100 e 102[21][6]. Sura esteve presente nas guerras dácias (101-102 e 105-106)[22], servindo como embaixador ao rei Decébalo, juntamente com o prefeito pretoriano Tibério Cláudio Liviano, no final da primeira guerra[23] e como conselheiro na segunda[3].
Sua contribuição para a guerra, apesar de pouco conhecida, aparentemente foi considerada essencial pelo imperador, pois Sura ocupou o posto de cônsul ordinário nos anos seguintes à cada uma das campanhas (101 e 107)[24] numa época na qual era muito raro que um indivíduo fora da família imperial conseguisse seu terceiro consulado. No primeiro, seu colega foi Urso Serviano e no seguindo, Quinto Sósio Senécio, dois parentes de Trajano. Sura provavelmente foi um dos arquitetos da política geral de Trajano e compunha suas mensagens e discursos[24][25].
Dião Cássio também menciona uma possível conspiração contra Trajano. O imperador, evidentemente desdenhoso do perigo, segue para almoçar com Sura, come tudo o que lhe foi servido e oferece o seu pescoço para a navalha do barbeador pessoal do amigo para ser barbeado[23].
Sura mandou construir um ginásio público em Roma com seus próprios meios[2][23], prova de sua grande riqueza[26][23]. Além disto, ele continuou muito influente na Tarraconense[27] e tornou-se patrono da cidade de Barcino[28][7]. Sura possuía uma villa perto do Templo de Diana, a partir da qual ele podia assistir os jogos no Circo Máximo do alto do monte Aventino[2][7][29].
Anos finais e morte
Sura apoiou Adriano ainda no início do reinado de Trajano[30], chegando a aconselhar que o imperador o adotasse[31][32]. Plínio, o Jovem, de quem Sura era amigo[7], escreveu para contar-lhe sobre um fenômeno perto de um lago[33][34] ou para pedir sua opinião sobre a existência de fantasmas através de diversas anedotas[35][36]. Ele elogia a "prodigiosa erudição" de seu correspondente[33][34]. Sura também era também patrono de Marcial, que dedicou diversos de seus poemas a ele.
Quando Sura faleceu, em 108, Trajanou ordenou que lhe fosse conferido um funeral de estado e que uma estátua sua fosse colocada no Fórum[24]. Além disto, no local da villa de seu amigo, Trajano mandou construir as Termas de Sura ("Surianae")[29][7]. Sua aparência também foi imortalizada no mármore da Coluna de Trajano, esculpida entre 107 e 113, numa cena na qual ele aparece numa discussão com o imperador Trajano[1].
Ver também
Cônsul do Império Romano | ||
Precedido por: Trajano IV com Quinto Articuleio Peto II |
Lúcio Júlio Urso Serviano II 102 com Lúcio Licínio Sura II |
Sucedido por: Trajano V com Mânio Labério Máximo II |
Precedido por: Lúcio Ceiônio Cômodo com Sexto Vetuleno Cívica Cerial |
Lúcio Licínio Sura III 107 com Quinto Sósio Senécio II |
Sucedido por: Ápio Ânio Trebônio Galo com Marco Ápio Brádua |
Notas
- Os Fastos consulares para sufectos estão incompletos para os períodos de 85 a 86 e 93 a 97 e ele pode ter assumido o posto em quaisquer destas datas[12].
Referências
- Liliana Marinescu-Nicolajsen, Mélanges de l'Ecole française de Rome Antiquité, 1999, La Colonne Trajane : le triptyque de la victoire. Contribution à une nouvelle interprétation de la scène IX.
- F. Des Boscs-Plateaux, Un parti hispanique à Rome ?, p. 140.
- F. Des Boscs-Plateaux, Un parti hispanique à Rome ?, p. 301.
- Camille de La Berge, Essai sur le règne de Trajan, 1877, p. 19.
- F. Des Boscs-Plateaux, op. cit., biographie de L. Licinius Sura, p. 496-502.
- Ginette Di Vita-Évrard, Mélanges de l'Ecole française de Rome. Antiquité, 1987, Des Calvisii Rusoles à Licinius Sura, p. 320.
- PIR¹ L 174.
- F. Des Boscs-Plateaux, op. cit., p. 184.
- Marcial, Epigramas livre I, 49
- Marcial, Epigramas livre 6, 64.
- Ginette Di Vita-Évrard, op. cit., p. 321.
- F. Des Boscs-Plateaux, op. cit., p. 498 pour les différentes hypothèses.
- F. Des Boscs-Plateaux, Un parti hispanique à Rome ?, p. 262.
- Ginette Di Vita-Évrard, op. cit., p. 322-335.
- F. Des Boscs-Plateaux, Un parti hispanique à Rome ?, p. 281.
- Ginette Di Vita-Évrard, op. cit., p. 334.
- Marcial, Epigramas livre VII, 47
- F. Des Boscs-Plateaux, Un parti hispanique à Rome ?, p. 299.
- Ginette Di Vita-Évrard, op. cit., p. 326.
- Julian Bennett, Trajan, optimus princeps, Routledge, 1997, p. 47.
- F. Des Boscs-Plateaux, Un parti hispanique à Rome ?, p. 429.
- Julian Bennett, Trajan, Optimus Princeps, p. 88.
- F. Des Boscs-Plateau, Un parti hispanique à Rome ?, p. 304.
- Camille de La Berge, Essai sur le règne de Trajan, 1877, p. 290.
- F. Des Boscs-Plateaux, Un parti hispanique à Rome ?, p. 141.
- F. Des Boscs-Plateaux, Un parti hispanique à Rome ?, p. 187.
- Camille de La Berge, Essai sur le règne de Trajan, 1877, p. 92.
- História Augusta, Vida de Adriano II
- História Augusta, Vida de Adriano III
- F. Des Boscs-Plateaux, Un parti hispanique à Rome ?, p. 305.
- Annette Flobert, Lettres de Pline, Flammarion, 2002, p. 181-182, « Lettre IV, 20 - À Sura ».
- Plínio, o Jovem, Epístolas IV, 20.
- Annette Flobert, Lettres de Pline, Flammarion, 2002, p. 294-297, « Lettre VII, 27 - À Sura ».
- Plínio, o Jovem, Epístolas VII, 27.
Bibliografia
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