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Laudato si' (em português: 'Louvado sejas'; subtítulo: "sobre o cuidado da casa comum") é uma encíclica do Papa Francisco, na qual o pontífice critica o consumismo e o desenvolvimento irresponsável e faz um apelo à mudança e à unificação global para combater a degradação ambiental e as alterações climáticas. A encíclica foi publicada oficialmente em 18 de junho de 2015[1] e é uma resposta às expectativas das comunidades religiosas, ambientais e científicas internacionais, bem como de lideranças políticas, econômicas e dos meios de comunicação social, acerca da crise representada pelas mudanças climáticas. Francisco deixou claro que espera que a encíclica influencie a política energética e econômica, e que estimule um movimento global por mudanças, para deter a "deterioração global do ambiente". O Papa dirigiu-se "a cada pessoa que habita neste planeta", apelando às pessoas comuns para que pressionem os políticos nesse sentido.[2][3]
Laudato si' Carta encíclica do papa Francisco | ||||
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Data | 18 de junho de 2015 | |||
Assunto | Ambiente e desenvolvimento sustentável | |||
Encíclica número | 2ª do pontífice |
Trata-se da segunda encíclica publicada pelo papa Francisco, após a publicação de Lumen fidei, em 2013. Mas, dado que esta última é, na sua maior parte, um trabalho de Bento XVI, Laudato Si' é vista como a primeira encíclica inteiramente da responsabilidade de Francisco.[4][5] As afirmações da encíclica sobre as alterações climáticas estão de acordo com consenso científico sobre as alterações climáticas.[6]
O título da encíclica corresponde às primeiras palavras do documento (incipit), Laudato si', mi’ Signore, que são uma citação do Cântico das Criaturas, de Francisco de Assis. O Cântico é uma oração em forma de poema, permeada por uma visão da natureza como reflexo da imagem do seu Criador, daí derivando um sentido de fraternidade entre o Homem e toda a criação divina - em oposição ao distanciamento e do desprezo pelo mundo terreno, típicos de outras tendências religiosas do Medievo. O poema foi escrito no século XIII (c. 1224), no dialeto úmbrico falado por Francisco de Assis - e não em latim -, mantendo-se, na encíclica, a citação na língua original.[4]
No Cântico, Francisco de Assis compara a Terra, "nossa casa comum", a uma irmã, com quem partilhamos a existência, e a uma boa mãe, que nos acolhe nos seus braços[7].
A encíclica tem 184 páginas, ao longo das quais o papa Francisco "condena a incessante exploração e destruição do ambiente, responsabilizando a apatia, a procura de lucro de forma irresponsável, a crença excessiva na tecnologia e a falta de visão política." O papa afirma que "as alterações climáticas são um problema global com implicações graves: ambientais, sociais, económicas, políticas e de distribuição de riqueza. Representam um dos principais desafios que a humanidade enfrenta nos nossos dias" e lança o alerta para "a destruição sem precedentes dos ecossistemas, que terá graves consequências para todos nós" se não forem realizados esforços de mitigação de forma imediata.[3][2]
A encíclica destaca o papel dos combustíveis fósseis na origem das alterações climáticas e afirma que os países desenvolvidos têm a obrigação moral de ajudar os países em desenvolvimento no combate à crise das alterações climáticas.[3] A encíclica tem 172 notas de rodapé,[2] muitas das quais alusivas aos antecessores imediatos de Francisco, os papas João Paulo II e Bento XVI.[3] Também faz referência a Bartolomeu I, patriarca de Constantinopla da Igreja Ortodoxa e aliado do papa,[3] e cita Tomás de Aquino, Teilhard de Chardin, Romano Guardini e Ali al-Khawas (en:Ali al-Khawas), místico islâmico do século IX.[3][8][9] A encíclica aborda vários tópicos, incluindo planeamento urbano, economia agrícola e biodiversidade.[3] No entanto, também reafirma a posição pró-vida da Igreja, afirmando que "uma vez que tudo está relacionado, a preocupação com a proteção da natureza é incompatível com a justificação do aborto.[10]
Uma importante chave de leitura da Encíclica é a questão: "Que tipo de mundo queremos deixar a quem vai suceder-nos, às crianças que estão a crescer?" (160). Trata-se de uma pergunta que não toca apenas o meio ambiente de maneira isolada, porque não se pode compreende a questão de modo fragmentado, e isso conduz a um questionamento sobre o sentido da existência e sobre os valores que estão na base da vida social, razão pela qual questão essenciais são abordadas, tais como: "Para que viemos a esta vida?", "Para que trabalhamos e lutamos?", "Que necessidade tem de nós esta terra?". O documento faz uma exortação favorável a uma conversão ecológica, que permita assumir o cuidado da "casa comum".
A Encíclica tem seis capítulos:
No final do texto, são apresentadas duas orações, uma oferecida à partilha com todos os que acreditam num "Deus Criador Omnipotente" (246), e outra proposta aos que professam a fé em Jesus Cristo, ritmada pelo refrão "Laudato Si", com o qual a Encíclica se abre e se conclui[7].
O Capítulo 1 apresenta o conhecimento científico atual sobre as questões ambientais, trata-se de "ouvir o grito da criação" para transformar em sofrimento pessoal aquilo que acontece ao mundo e, assim, reconhecer a contribuição que cada um lhe pode dar (19). Algumas ideias chave são:
John Allen Jr, proeminente especialista em assuntos do Vaticano, afirmou que a encíclica Laudato Si' representa um ponto de viragem muito significativo, em que o ambientalismo passa a ocupar um lugar de destaque na doutrina Social da Igreja a par da dignidade da vida humana e da justiça económica. Torna também a Igreja Católica um dos principais porta-vozes da moralidade no combate ao aquecimento global e às consequências das alterações climáticas.[11] Hans Joachim Schellnhuber, fundador e diretor do Potsdam-Institut für Klimafolgenforschung e do Conselho Científico para as Alterações Climáticas alemão, que aconselhou o Vaticano na redação da encíclica, afirmou que a encíclica é irrefutável e deu os parabéns ao pontífice pela gestão do questão.[12] O jornal New York Times afirmou que, nos Estados Unidos, a encíclica exerce pressão sobre os candidatos republicanos às eleições presidenciais de 2016, os quais têm vindo a "questionar ou negar as conclusões científicas sobre as alterações climáticas de origem humana, e que têm criticado as leis destinadas a taxar ou regular a queima de combustíveis fósseis". [13]
Nicholas Stern, presidente do Grantham Research Institute on Climate Change and the Environment e autor de um influente relatório sobre as alterações climáticas, afirmou que "a publicação da encíclica papal é de enorme significado. Demonstra grande sabedoria e liderança. O papa Francisco está absolutamente correto ao afirmar que as alterações climáticas têm implicações morais e éticas de importância vital. A liderança moral do papa nas alterações climáticas é de particular importância devido à incapacidade em demonstrar liderança política de muitos governos e chefes de estado em todo o mundo".[14]
Segundo Leonardo Boff, a Encíclica assume o novo paradigma contemporâneo segundo o qual tudo forma um grande todo com todas as realidades interconectadas, influenciando-se umas às outras, o que permite superar a fragmentação dos saberes e confere grande coerência e unidade ao texto[15].
Edgar Morin qualificou a Encíclica como providencial, pois sustenta a noção de ecologia integral, que nos convida a ter em conta todas as lições desta crise ecológica, sem deixar de lado a defesa de um humanismo não antropocêntrico[16].
A Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos, nas palavras do presidente Joseph Edward Kurtz, arcebispo de Louisville, descreveu a encíclica como uma ordem de ação para a sensibilização para esta questão,[14] tendo planeado encontros sobre o documento com o Congresso dos Estados Unidos e a Casa Branca.[17]
Três dias antes da publicação da encíclica, o XIV Dalai Lama divulgou uma mensagem em que afirma que "uma vez que as alterações climáticas e a economia global nos afetam a todos, devemos criar a união na humanidade.[4]
Dois dias antes da publicação, Justin Welby, arcebispo da Cantuária e líder da Comunhão Anglicana, emitiu uma "declaração verde", também assinada pela Conferência Metodista britânica e por representantes da Igreja Católica em Inglaterra e País de Gales e das comunidades judaica e sikh. Nesta declaração, salientava a necessidade da transição para uma economia de baixo carbono e o apelo à oração pelo sucesso da Conferência para as Alterações Climáticas das Nações Unidas em 2015 em Paris.[4][18]
No mesmo dia, o Movimento de Lausana dos cristãos evangélicos globais afirmou que antecipava a encíclica e se sentia grato por ela.[4] A encíclica foi também bem recebida pelo Conselho Mundial de Igrejas e pela Igreja Reformada Cristã da América do Norte.[14]
O Secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, deu as boas vindas à declaração no mesmo dia em que foi publicada.[14][19] Kofi Annan, antigo secretário geral e atual membro do Africa Progress Panel, emitiu também um comunicado de apoio à encíclica, afirmando que "tal como reafirma o papa Francisco, as alterações climáticas são uma ameaça que nos atinge a todos ... aplaudo o papa pela sua forte moral e liderança ética. Precisamos de mais líderes inspirados como este."[20] Christiana Figueres, secretária executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima afirmou que o "papa Francisco está pessoalmente empenhado neste tema de uma forma em que nenhum dos seus antecessores o fez. Penso que a encíclica terá um impacto profundo. Alega o imperativo moral de lidar com as alterações climáticas de forma atempada de modo a proteger os mais vulneráveis."[21] No mesmo dia, Jim Yong Kim, presidente do World Bank Group, também elogiou a encíclica.[14]
Por outro lado, um lobista norte-americano da empresa de mineração Arch Coal afirmou que o papa "não aparenta ter mencionado a tragédia da pobreza energética global", argumentando que "a igreja deveria promover a queima de combustíveis fósseis se estivesse interessada nos pobres". Jeb Bush, que em junho do mesmo ano participou num retiro de pesca e golfe patrocinado por empresas de carvão, entre as quais a Arch, comentou "espero não ser castigado pelo meu padre por dizer isto, mas não recebo conselhos económicos dos meus bispos, do meu cardeal ou do meu papa."[22]
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