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bairro do Rio de Janeiro Da Wikipédia, a enciclopédia livre
Laranjeiras é um tradicional bairro de classe média e classe alta[3] da Zona Sul do município do Rio de Janeiro, capital do estado homônimo. É celebrado por ser um dos pontos mais descontraídos e charmosos da Cidade Maravilhosa e conhecido por seus elegantes prédios antigos, como o Palácio Guanabara e o Palácio das Laranjeiras, este situado no Parque Guinle. A região também é conhecida pelas suas charmosas e boêmias praças, como a Praça São Salvador, que é cercada por bares descolados, e a Praça do Choro, na Rua General Glicério, coração de uma famosa feira popular; em ambas, há anos, tradicionais apresentações de Choro encantam moradores e visitantes semanalmente.
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Bairro do Brasil | ||
O bairro visto a partir do Palácio das Laranjeiras. | ||
Localização | ||
Coordenadas | ||
Unidade federativa | Rio de Janeiro | |
Distrito | Zona Sul | |
Município | Rio de Janeiro | |
História | ||
Criado em | 1567 | |
Características geográficas | ||
Área total | 249,35 ha (em 2003) | |
População total | 39,692 hab. | |
• IDH | 0,957[1](em 2000) | |
Outras informações | ||
Domicílios | 20 890 (em 2022) | |
Limites | Flamengo, Cosme Velho, Catete, Botafogo, Santa Teresa, Rio Comprido e Catumbi[2] | |
Subprefeitura | Zona Sul | |
Distância até o centro | 5km |
É também conhecido como o bairro onde se situa a sede do Fluminense Football Club, um dos quatro grandes clubes de futebol do Rio de Janeiro; daí vem a alcunha "Tricolor das Laranjeiras", frequentemente associada ao clube em questão[4].
"[E]m um documento de 1780, apareceu o nome Laranjeiras pela primeira vez em referência à região que ficava no interior do vale, e que passou a se distinguir das áreas da Glória e do Catete, também na bacia do rio Carioca, no entanto, mais próximas da baía".[5]
Ao contrário do que se pode intuir, o nome do bairro não vem da suposta existência de laranjais no local. A montanhosa região do atual bairro, coberta em toda sua extensão por extensas chácaras, lembrava a também acidentada região de Laranjeiras na região alta de Lisboa, o que levou à nomeação do bairro carioca[6].
Conquanto a via principal do bairro seja denominada "Rua das Laranjeiras", o uso correto do artigo na referência ao bairro é o abaixo:
Uso correto
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Uso Incorreto
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“Muito antes de existir o Rio de Janeiro, existia o rio Carioca”[7]
"Descendo do alto da serra da Carioca, no maciço da Tijuca perto do Corcovado (...) o rio Carioca ou das Caboclas formava um verde vale que se estendia desde o futuro Cosme Velho até a Guarda dos Marinheiros na praia do Sapateiro ou do Flamengo, ou melhor dois, porque dele outro menor saía do Campo das Pitangueiras (ou Largo do Machado) para a Glória, o riacho do Catete"[8].
Parafraseando Alceu Amoroso Lima, que lá também residiu, antes de existir Laranjeiras, existia o Rio Carioca, que deu à luz o bairro e a cidade como um todo. Com nascente na Floresta da Tijuca, o rio percorre os bairros de Cosme Velho, Laranjeiras, Catete e Flamengo e deságua na Baía de Guanabara, na altura da Praia do Flamengo.
Laranjeiras se expandiu ao longo do vale do Carioca — que chegou a ser conhecido como Vale das Laranjeiras[7] —-, crescendo nas áreas baixas em volta das margens e pelas encostas dos morros ao seu redor. Nos morros, de um lado, cresceu sobre os do Silvestre, Inglês, Dona Marta e Mundo Novo; de outro, se alastrou pelos morros da Formiga, São Judas Tadeu, do Chico e Nova Cintra[9].
O bairro fica em uma localização estratégica e faz limite com os seguintes bairros:
"Para o historiador e arquiteto Nireu Cavalcanti, de 69 anos, é impossível falar sobre a fundação do Rio sem mencionar Laranjeiras. Morador do bairro desde 1974, Cavalcanti lembra que era por esta região que escoava a melhor água da cidade.
— Era a área mais importante da cidade, pois é por onde corre o Rio Carioca. A bacia do rio era chamada de Região da Carioca. É dessa forma que os documentos antigos se referem quando alguma chácara instalada nessa região era citada — diz o historiador, destacando que, no fim do século XVIII e início do século XIX, a Região da Carioca começou a se dividir e passou a ter os bairros do Catete, do Flamengo e Cosme Velho"[10].
O Globo, 16 de abril de 2014
Laranjeiras, em virtude de sua localização, é um dos bairros mais antigos da cidade do Rio de Janeiro. Na análise da Brasiliana Iconográfica, "a região era, na época da chegada dos portugueses, habitada pelos Tamoios, depois foi encontrada pelos franceses, até ser tomada pelos portugueses ainda no século XVI"[5].
O acesso às águas puras do rio Carioca foi um dos grandes atrativos para a mobilização rumo à região. Assim, a partir de 1567[9], a ocupação formal aconteceu com a divisão da área em sesmarias entre aqueles que lutaram para expulsar os franceses[5]. Inicialmente, as terras foram divididas e doadas a Cristóvão Monteiro, primeiro ouvidor do Rio [9], que logo construiu uma torre e um moinho[11].
O início da ocupação do bairro e o nascimento de sua identidade são bem representados por Brasil Gerson no seu clássico História das Ruas do Rio:
"[C]omo o do Catete, o das Laranjeiras surgiu também como um bairro de chácaras, no começo rústicas, para o abastecimento da cidade, com verduras, laranjas, etc., e mais tarde aristocráticas, para a moradia de fidalgos e outros homens ricos. (...) Os carros de boi, costeando o rio, traziam os seus produtos até o Flamengo no começo do Seiscentismo, para que em canoas mais facilmente chegassem à praia (agora rua) de D. Manuel, lugar de abastecimento dos cariocas. (...) Uma dessas chácaras era "A Ilhota", do futuro ministro da Fazenda de Pedro I, José Antônio Lisboa, cujas cercas avançavam pela rua adentro para a proteção de um jequitibá de sua estimação. motivo, porém, de amargas pendências não só com a Ilustríssima Câmara, como também com seus vizinhos (...). Quase defronte da "Ilhota" era a chácara da duquesa de Cadaval, francesa e viúva de um primo de D. João VI (...). [8]
No Séc. XVII, o Carioca começou a ter suas águas captadas para o abastecimento da cidade. Tendo sido levado, inicialmente, até a atual Cinelândia, posteriormente foi conduzido ao Centro pelos icônicos Arcos da Lapa. [12]
No início do séc. XIX, Laranjeiras passou por grande mudanças, impulsionadas pela transferência das lavouras de café para o Vale do Paraíba e pela chegada da família real e toda a corte em 1808[11]. Assim, houve uma ocupação mais sistematizada do bairro, fazendo surgir, na região, chácaras rústicas e luxuosas ocupadas por fidalgos, homens ricos e movidas a trabalho escravo. Conquanto a maior parte há muito tenha desaparecido, duas construções que exemplificam o período perduram no bairro: a antiga residência do Conde Modesto Leal, à Rua das Laranjeiras, 304, e o antigo Palácio Isabel, residência da Princesa Isabel e do Conde D’Eu, rebatizado de Palácio Guanabara.
A circulação da nobreza e da fidalguia pela região é bem exemplificada pela conhecida Bica da Rainha, fonte construída no séc. XIX no vizinho Cosme Velho e celebrizada pelas visitas da rainha Carlota Joaquina de Bourbon e, mais notoriamente, de sua sogra, a rainha Maria I de Portugal. Brasil Gerson conta que "D. Maria, a Louca, a visitava sempre quando vivia no convento das Carmelitas, e sempre rodeada de damas de companhia, e que é de onde veio o ´Maria vai com as outras´ popularizado pelos cariocas do Oitocentismo"[8].
Já no Segundo Império, a presença da Princesa Isabel no palacete da Rua Guanabara, atual Rua Pinheiro Machado, contribuiu para o seu crescimento, haja vista que o principal caminho de acesso ao palacete imperial, era a Rua Paissandu, que fazia a conexão com a praia e foi ornamentada, a pedido da princesa, com belíssimas palmeiras-imperiais existentes até os dias de hoje. Na década de 1880, a região sofreu grande transformação com a implantação da Companhia de Fiações e Tecidos Aliança, instalada na Rua General Glicério. Com a fábrica, surgiram no bairro as primeiras vilas operárias, como a Vila Olga, até hoje existente[12].
"A Companhia Aliança foi uma das mais importantes fábricas de tecido da cidade e faz parte da história do desenvolvimento fabril do Rio de Janeiro. A fábrica, que chegou a ter cerca de 2 mil pessoas em seu quadro de funcionários, foi uma das responsáveis por atrair, para a então longínqua zona sul carioca, moradores que não faziam parte das elites econômicas da cidade – assim como as fábricas do Jardim Botânico, Gávea e Botafogo"[13].
Outro importante agente de transformação do bairro na década de 1880 foi a instalação de linhas de bonde, que trouxeram os primeiros comerciantes, bares, restaurantes, bailes e ranchos populares. Os bondes elétricos, criados pela Companhia Jardim Botânico, iam até ao local conhecido como a Bica da Rainha, no Cosme Velho, chegando depois até a Ladeira dos Guararapes[12]. Brasil Gerson aponta outros aspectos do desenvolvimento urbano do bairro no século XIX, notando que "com o decorrer do tempo [Laranjeiras] cresceu e o carioca deixou de correr ao seu lado a céu aberto. Deram-lhe, como novidade, uma praça de touros, de pedra e tijolos, com funções aos domingos nas temporadas tauromáquicas vistas no Rio a partir de 1895"[8].
"Nasci no Catete e depois fui morar em Laranjeiras. Vi o campo do Fluminense ser feito, lá de cima do Mundo Novo". Cartola[11]
No começo do século, a região próxima ao Palácio Guanabara se desenvolveu, com a abertura da passagem à Rua Farani e a fundação do Fluminense Football Club, cujo estádio fica ao lado da antiga morada da Princesa Isabel.
Na primeira metade do séc. XX, Laranjeiras viveu três grandes empreendimentos imobiliários, que até hoje marcam a arquitetura do bairro e conferem notável graça e charme à região.
Nos anos 20, a Companhia Sul América abriu a Rua Pires de Almeida para abrigar 23 edifícios e uma praça, hoje chamada Praça Múcio Leitão; o projeto é de 1927, e as obras foram concluídas três anos depois[14].
"O Jardim Sul América – atual Rua Pires de Almeida – é um conjunto de edifícios construído na década de 1920 pela empreiteira Monteiro Aranha para servir de vila dos funcionários da Cia. de Seguros Sul América, em terreno de quinze mil metros quadrados, no Bairro de Laranjeiras, Rio de Janeiro. Composto por 23 edifícios em estilo art déco, as 158 unidades de 1 a 4 quartos se destinavam a abrigar desde os diretores até os serventes da empresa"[15].
Em 1939, a Cia de Tecidos Aliança encerrou suas atividades, levando a mais uma transformação e ao segundo grande empreendimento imobiliário de Laranjeiras no séc. XX. Sem a fábrica, a maioria dos operários mudou-se para os bairros de subúrbio, alterando mais uma vez a composição da população de Laranjeiras, que firmou-se como área de classe média e classe alta. [16]
Em 1945, o espaço ocupado pela fábrica deu lugar a novas ruas e a um grande conjunto de edifícios de apartamentos. O empreendimento, lançado como "Jardim Laranjeiras"[17], se destaca pela beleza arquitetônica e pelo agradável aspecto urbanístico de suas vias. Até hoje, a região da Rua General Glicério (Rio de Janeiro) estão entre as mais charmosas da cidade.
O terceiro grande empreendimento foi a transformação da área do Parque Guinle, com o desenvolvimento do entorno da área verde e a construção de marcantes conjuntos de edifícios, o primeiro dos quais conhecido como Conjunto Residencial do Parque Guinle, projetado pelo arquiteto Lúcio Costa e famoso internacionalmente como marco da arquitetura modernista.
"São três exemplos de intervenções modernas em Laranjeiras que, embora tenham alterado sua ambiência, não provocaram a sua degradação. A qualidade arquitetônica e urbanística desses três empreendimentos assegurou-lhes posteriormente o seu tombamento. O mesmo não se pode dizer das obras realizadas pelo poder público, como o túnel Santa Bárbara (1963), 0 viaduto Noronha Santos (1965), o túnel Rebouças (1965) e, recentemente, a obra da "via paralela", que destruiu parte da rua Moura Brasil, derrubou vilas e acresceu mais um viaduto ao bairro. São obras rodoviárias que descaracterizaram os bairros de Laranjeiras e Cosme Velho, tormando-os de passagem, barulhentos e poluídos. Não menos danosas foram as sucessivas legislações urbanísticas que, desrespeitando as características ambientais e o patrimônio arquitetônico de Laranjeiras e Cosme Velho, incentivaram a verticalização das edificações e a ganância dos especuladores imobiliários.
As casas foram derrubadas e seus jardins destruídos para, em seu lugar, se erguerem altos edifícios sem qualidade arquitetônica, formando verdadeiras muralhas de concreto, prejudicando a circulação dos ventos e tapando a vista dos morros e de suas matas".
Nireu Cavalcanti, comparando as intervenções executadas na primeira metade do século XX com as mudanças observadas na sua segunda metade.[18]
Na segunda metade do séc. XX, o bairro passou por transformações aceleradas, com a substituições de casas e palacetes por edifícios de apartamentos e o notável aumento do tráfego de veículos automotores, que alteraram, mais uma vez, as características da região.
Na década de 60, os bondes pararam de trafegar no bairro e foram abertos dois grande túneis conectando a Zona Sul à Zona Norte --- o Túnel Santa Bárbara (1963) e o Túnel Rebouças (1965) --- além de novas vias para facilitar o trânsito de automóveis, com a construção de viadutos e a abertura de novas ruas.
Sobre as mudanças sofridas pela bairro na segunda metade do séc. XX, o historiador Nireu Cavalcanti comentou à imprensa:
"[A]pesar de sua riqueza histórica, morar em Laranjeiras já não é mais a mesma coisa. A região, segundo Cavalcanti, sofre com as péssimas intervenções do poder público e com problemas como a especulação imobiliária e a falta de segurança. — Laranjeiras, para mim, é uma grande casa. Quando saio e entro no bairro, estou entrando na minha residência, que está perdendo sua tranquilidade, pois nos sentimos acuados com essa violência. Sem falar no boom de novos empreendimentos, com prédios e mais prédios, o que é lamentável — argumenta o morador, destacando que, em tempos áureos, a região era comparada à Urca por sua tranquilidade".[10]
Renato Rezende, abordando o mesmo fenômeno, pontua que “foi mesmo a partir da década de 1970 que um verdadeiro bombardeio parece ter caído sobre o vale, com a expansão imobiliária construindo de forma indiscriminada, com alturas livres ou ficadas em muitos pavimentos.”[11]
Ao longo do século XX, também se desenvolveram importante comunidades nos morros que circundam a região, como a Favela do Pereirão, na rua Pereira da Silva, e a Vila Alice, na rua Alice.
No séc. XXI, Laranjeiras segue como uma eloquente síntese do Rio e do Brasil, equilibrando nos pratos de suas contradições uma história riquíssima e desafios modernos. Ao mesmo tempo em que convive com um intenso trânsito de automóveis, especialmente na sua via principal, a Rua das Laranjeiras, é casa tradicional de artistas e intelectuais, que constantemente repensam a cidade, além de pulsar com uma intensa vida boêmia e um comércio vibrante.
Tendo uma concentração de acadêmicos, intelectuais, artistas e funcionários públicos, Laranjeiras igualmente se firmou nas primeiras décadas do séc. XXI como um importante reduto da parcela mais progressista da população do Rio de Janeiro[19][20], apesar de continuar contando com habitantes de todas as linhas de pensamento.
"Laranjeiras é um bairro que fica na zona sul do Rio de Janeiro, bem pertinho dos pontos turísticos mais famosos. É um daqueles bairros queridinhos dos cariocas por conta do seu clima descontraído, com barzinhos, feiras, áreas verdes e muita vida ao ar livre. Lá o legal é curtir na rua, jogar conversa fora, caminhar e apreciar as belas construções do Rio antigo".[21]
O bairro de Laranjeiras abrigou e abriga construções de grande importância, tanto histórica como arquitetônica, para o Rio de Janeiro e o Brasil. Exemplos a serem mencionados:
Além deles, Laranjeiras abrigou inúmeras embaixadas, no período em que foi capital federal do Brasil. As embaixadas do Japão, da Itália e da Alemanha, por exemplo, estavam localizadas ali.
Laranjeiras é ainda servido de belos parques e boêmias praças, entre os quais se destacam:
Outros pontos de interesse no bairro são o Fluminense Football Club, a sede do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, o BOPE, e a Sede Administrativa na cidade da Força Nacional de Segurança.
"Há muitos artistas e pessoas de nível superior que se encontram no espaço público, sobretudo na engarrafada Rua das Laranjeiras e no comércio efervescente do Largo do Machado."[29] Patrícia Monteiro, JB, 04/11/2018
Laranjeiras, com as transformações urbanas levadas a cabo no séc. XX, tornou-se um importante ponto de ligação entre as zonas Sul e Norte do Rio de Janeiro. De todo modo, o bairro manteve uma forte identidade cultural, representada pelas suas ruas internas. Ocupando, como visto, o vale do rio Carioca, o bairro se desenvolve ao redor da Rua das Laranjeiras, que segue em grande parte o trajeto do rio e corta o bairro de ponta a ponta.
Além dela, as principais ruas e praças do bairro são:
Laranjeiras concentra importantes colégios e instituições de ensino, com destaque para os seguintes.
Durante muito tempo, Laranjeiras foi um dos grandes berçários do Rio de Janeiro, em virtude da presença da importante Maternidade Perinatal, na Praça Ben Gurion, fechada em 2023. Mesmo assim, o bairro ainda se destaca no fornecimento de serviços médicos e das seguintes clínicas e hospitais.
O bairro ainda conta com importantes instituições esportivas, como academias, escolas de artes marciais e dança. Dessas, duas merecem especial atenção:
Laranjeiras é casa de importantes e tradicionais blocos de carnaval, como:
O bairro ainda conta com tradicionais rodas de choro, semanalmente nas feiras da Rua General Glicério, aos Sábados, e da Praça São Salvador, aos Domingos. As duas feiras, inclusive, se firmam como pontos turísticos do bairro, atraindo visitantes todo fim de semana[32].
Ainda, o bairro conta com estabelecimentos para música ao vivo, como o Severyna de Laranjeiras, na rua Ipiranga. O palco do restaurante --- especializado na cozinha nordestina e decorado com o folclore da região ---, há anos recebe eventos de música ao vivo. A boa música pode ser ainda encontrada em diferentes bares, como o Fino Tattoo Bar, onde semanalmente apresentações de samba e jazz.
Por fim, manifestações musicais variadas são constantemente observadas pelo bairro, com destaque para a rua General Glicério e Praça São Salvador, onde, há décadas, pode-se ver uma não rara geração espontânea de rodas de samba e músicas de toda sorte nas noites de fim de semana.
O bairro de Laranjeiras, sendo cenário histórico do encontro de personalidades, artistas e intelectuais, acabou retratado em inúmeras obras artísticas.
Um dos exemplos modernos mais famosos é a música All Star, composta por Nando Reis, cuja letra aborda a amizade do autor com a cantora Cássia Eller ressaltando o bairro no refrão:
“Estranho é gostar tanto do seu All Star azul
Estranho é pensar que o bairro das Laranjeiras
Satisfeito sorri quando chego ali
E entro no elevador
Aperto o 12 que é o seu andar
Não vejo a hora de te encontrar
E continuar aquela conversa
Que não terminamos ontem
Ficou pra hoje”
Outra canção que faz referência ao bairro destaca sua faceta de berço de grandes personalidades brasileiras. O samba bem-humorado “Catete Laranjeiras” de Luiz da Pedra aponta em seu refrão que ˜Se você correr o Rio e procurar vai dar canseira / Terra fértil como essa só Catete e Laranjeiras / Grande parte do Brasil nasceu dentro das fronteiras / Do bairro do Catete e das Laranjeiras”. Nos versos de abertura do samba, se ouve:
"Não foi em Santa Cruz, Ipanema ou Madureira
O Cartola nasceu no Catete, Villa-Lobos nas Laranjeiras
Eles são desse meu chão, estão na minha bandeira
O Cartola é do Catete, Villa-Lobos, das Laranjeiras
Não foi em Realengo, Barra, Mangueira
Chico Buarque nasceu no Catete, Lima Barreto nas Laranjeiras
Eles são desse meu chão, estão na minha bandeira
Chico Buarque é do Catete, Lima Barreto, das Laranjeiras".
Outra homenagem recente ao bairro foi publicada por Fernando Astrada na música "Laranjeiras", em que narra cenas idílicas do cotidiano do bairro. Entre os versos, o artista narra: "Eu saio do trabalho andando pela rua, eu vou pegar o metrô / Desço no Largo do Machado, dou de cara com a Lua, que vem do Aterro / No chafariz da Praça, pessoas relaxadas vendo o tempo passar / Passeando pela Gago no caminho de casa, estou em Laranjeiras." Em outro trecho, menciona duas áreas consagradas da boemia local, falando que "Para a São Salvador eu vou atrás / Desencontrou, então a gente se encontra no Mercadinho São José". Finalizando sua singela ode ao bairro, diz: "Eu te desejo o parque, eu te desejo as praças e todo seu pomar. / O sol de manhã cedo, a magia e a graça de Laranjeiras".
Ainda no campo do música, vale destacar a memorável obra “Saudades do Brasil”, de Darius Milhaud. Composta em 1920, é formada por 12 danças, cada qual nomeada em homenagem a uma cidade do Brasil ou bairro do Rio de Janeiro. Laranjeiras dá o nome à 11a dança da obra.
Na literatura, Sérgio Sant’Anna celebra o bairro em sua obra, já tendo declarado que “Laranjeiras está presente em muitos dos meus livros. Em ‘Senhorita Simpson’ o pai da personagem mora em Laranjeiras, uma namorada dele estuda na CAL”[11].
Nelson Rodrigues também teve uma relação emocional com o bairro, onde viveu e faleceu um de seus irmãos, o jornalista e escritor Paulo Rodrigues. Em 1967, devido a um trágico deslizamento de terra, um palacete em final de construção tombou sobre o prédio em que residia, na Rua General Cristóvão Barcelos, tirando-lhe a vida, junto com as de dezenas de vizinhos. O relato do episódio encontra-se primorosamente descrito em uma das crônicas de Nelson, posteriormente reunida com outras no livro A Menina sem Estrela [33]:
"[...] Na rua Cristóvão Barcelos, Paulo Roberto preferia Jonhny Halliday (o cantor era a morte), preferia Johnny Halliday ao cinema. E, então, a pedra se desprende. Ia levar, de roldão, uma casa, o edifício seguinte e, por fim, o de Paulinho. [...] Eu, Lúcia, meus filhos Joffre e Nelsinho, meus irmãos Augusto, Helena, Stella varamos a noite, de hospital em hispital. No Souza Aguiar, nada. De O Globo vieram Carlos Tavares, Menezes, Ricardo Serran, Carlos Alberto. Meu primo Augusto Rodrigues e meu cunhado Francisco Torturra foram para a General Glicério; e, lá, fizeram uma vigília de lama, pedra e vento. Eu só pensava em Paulinho, eis a verdade, só pensava em Paulinho. Ao meu lado, Mário Júlio Rodrigues só pensava em Paulinho (e os primeiros corpos vinham esculpidos em lama) [...]"
Com uma reconhecida tradição artística, Laranjeiras exibe em seus muros e fachadas a colorida expressão da inspiração de múltiplos artistas. Dentre os exemplos mais notáveis, destacam-se a belíssima obra na fachada do edifício do Instituto Nacional de Cardiologia e o mural dedicado a Cássia Eller, uma homenagem à cantora e à canção de Nando Reis, feito pelos artistas Ricardo Galhardo, Jorge Machado e Gustavo Peres[34].
Explorando os bairros de Laranjeiras e Cosme Velho , é possível observar uma série de obras do muralista Odylo Falcão. Caracterizadas por sua presença em locais variados como muros, postes, portões e fachadas, estas obras são facilmente reconhecíveis pelo estilo distintivo do artista. A presença marcante de suas pinturas, bem como sua beleza, contribuem para a identidade dinâmica e artística da Laranjeiras contemporânea, refletindo a natureza vibrante do bairro.
A relação de Odylo com a arte urbana, que ocupa os espaços da cidade para melhorá-los, pode ser vista em entrevista na qual comentou que "[a arte urbana] é uma manifestação necessária, e por vezes a única galeria de arte para muitos, por vários motivos. Minha mensagem é estética e tanto nas cores como no preto e branco, vou criando um mundo de formas simples, como uma grande ilustração a céu aberto. Se está na rua, um território livre, está exposto a todo tipo de crítica, e também é um agente transformador da paisagem e que leva reflexão além da melhora visual do local[35]”
No bairro atuam ainda diferentes coletivos artísticos, que adornam muros, postes e calçadas. Desses, merece destaque o Laranjeiras Coletivo Arte, "um movimento de artistas, capitaneado pelo artista e muralista Odylo Falcão, que há anos vem deixando os caminhos de Laranjeiras mais coloridos", inclusive pintando os postes do bairro com as mais variadas obras de diversos artistas[36]. Na galaria abaixo, pode-se ver um pequeno recorte das obras do coletivo que estão espalhadas por Laranjeiras, transformando qualquer passeio pelo bairro numa verdadeira caça ao tesouro para qualquer um que aprecie arte de rua.
Outro coletivo que marca a paisagem do bairro é o Movimento Artístico Tricolor - MArT[37], que usa de inspiração a história do Fluminense Football Club para ilustrar as cercanias do clube e outros pontos do bairro. Exemplos do trabalho do MArT podem ser vistos na galaria abaixo.
"Em Laranjeiras e Cosme Velho também nasceram ou viveram intelectuais e artistas importantes da cultura brasileira como Lima Barreto e Villa-Lobos (que nasceram na rua Ipiranga), Machado de Assis, Coelho Neto, Max Fleiuss, Marco Carneiro de Mendonça, Marcos Rebelo, João Manuel Pereira da Silva, José Antonio Lisboa, Alceu Amoroso Lima, Gustavo Corção, Sobral Pinto, Múcio Leão, Lúcio Albuquerque, Lysia e Nilo Bernardes, Paulina D'Ambrósio, Augusto Rodrigues, Noel Netels, Silva Melo, Barão Homem de Melo, Cecília Meireles, Eugênio Gudin, Andrade Murici, Henrique Nienberg, Osvaldo Aranha, Dr. Fernando Magalhães e muitos outros"[38].
Laranjeiras ainda guarda o charme dos bairros marcados pelo passado e foi o endereço de nobres, escritores, compositores e pessoas ilustres de diversas matizes. Hoje é casa de artistas e intelectuais, insistindo, com isso, em deixar novas marcas na cultura e na história do Brasil.
Algumas das personalidades que moram e/ou passaram pelo bairro são[18]:
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