Jornada de oito horas
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A jornada de oito horas faz referência a reivindicação do movimento operário pela redução da jornada de trabalho e o estabelecimento das oito horas de trabalho diárias ou 48 horas semanais, que teve origem nas condições penosas de trabalho da Revolução Industrial na Grã Bretanha em meados do século XIX.
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Robert Owen difundiu a ideia que a qualidade do trabalho de um trabalhador tem uma relação diretamente proporcional com a qualidade de vida do mesmo e para qualificar a produção de cada trabalhador, é indispensável fornecer melhorias nas áreas de salários, habitação, higiene e educação, proibir o trabalho infantil e determinar uma quantidade máxima de horas de trabalho de dez horas e meia. Para 1817 ele formulou o objetivo do dia de oito horas e cunhou o lema de oito horas de trabalho, oito horas para viver e oito horas de descanso (8 hours labour, 8 hours recreation, 8 hours rest).[1]
A Associação Internacional dos Trabalhadores definiu a jornada de oito horas diárias como uma demanda central, a partir do Congresso de Genebra em agosto de 1866, declarando que a limitação legal do dia útil era uma condição prévia sem a qual todas as outras tentativas de melhoria e a emancipação da classe trabalhadora falhariam.[2] Foi estimado como uma "grande contenda entre o domínio cego das leis da oferta e da procura que formam a economia política da classe média e a produção social controlada por previsão social, que forma a economia política da classe operária".[3]
A Organização Internacional do Trabalho, em 1919, adotou a primeira convenção, definindo que a jornada de trabalho não deve ultrapassar 8 horas por dia e 48 horas por semana. Em 1935, adotou uma nova convenção definindo o limite de horas semanais em quarenta. Quinze países assinaram a convenção[4] A constituição mexicana (1917) foi a primeira constituição a limitar a jornada diária em oito horas, seguida pela constituição de Weimar (1919).[5]
No Brasil
Resumir
Perspectiva
Desde o Brasil Império os trabalhadores reivindicavam uma jornada de trabalho de oito horas. Com a Proclamação da República do Brasil as demandas ganharam um engajamento social por todo o território nacional.
Em 1889 a Segunda Internacional havia definido o 1 de maio como Dia do Trabalhador para exatamente pleitear a jornada de oito horas. Um ano depois, em maio de 1890, os estatutos da Liga Operária de Pernambuco tinham dentre as metas a jornada de trabalho de oito horas diárias. Grupos organizados de trabalhadores em outros estados como Bahia, Ceará, Rio de Janeiro também apresentaram suas demandas em congressos e na celebração de primeiro de maio.
O Governo Deodoro da Fonseca, pelo decreto nº 313, de 1891, impedia que menores de idade trabalhassem por mais de nove horas, mas tinha incidência somente no Distrito Federal - à época, o Rio de Janeiro.
Foi só depois de mais de 40 anos que as demandas da classe trabalhadora foram contempladas. A jornada de trabalho de oito horas diárias para o comércio foi instituída no Brasil pelo Decreto 21.186, em 22 de março de 1932 e para a indústria em 4 de maio de 1932 por Getúlio Vargas.[6]
O processo de proteção à jornada de trabalho seria reforçado em 1943, a partir da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), criando o teto de duas horas-extras diárias e os 30 dias de férias. A Lei 605/1949 traria outro avanço, com o descanso semanal remunerado. A Constituição de 1988, por seu turno, estabeleceu o limite semanal de 44 horas de trabalho. Recentemente, a reforma trabalhista de 2017 trouxe modificações significativas ao modo como é contado o tempo de trabalhadores e trabalhadoras, abrindo margem para que convenções e acordos coletivos modifiquem a jornada de trabalho e estabelecendo critérios para a chamada jornada parcial.[7]
Em Portugal
Em Portugal, a jornada de trabalho de oito horas (observando o mínimo de um dia semanal para descanso) para "trabalhadores e empregados do Estado, das corporações administrativas e do comércio e indústria, com excepção dos rurais e domésticos" foi aprovada pelo Decreto n.º 5 516 a 7 de Maio de 1919.
No entanto, foi apenas em 1962, 43 anos mais tarde, que os trabalhadores rurais alcançaram a mesma redução da jornada do trabalho (que era ainda de "sol a sol") após uma sequência de greves às quais se juntaram mais de cem mil trabalhadores do Alentejo e Ribatejo.[8]
Referências
- Owen, Robert (1816) New View of Society, Essay Three.
- Marx, Karl (1867) O Capital I: 240.
- Karl Marx. «Mensagem Inaugural da Associação Internacional dos Trabalhadores». Marxists.org. Consultado em 24 de fevereiro de 2018
- «80 horas semanais? OIT recomenda trabalhar no máximo 40 horas por semana». UOL. Consultado em 24 de fevereiro de 2018
- Amauri Mascaro Nascimento (2011). Curso de Direito do Trabalho. [S.l.]: Saraiva. pp. 401–402
- Canais Rocha, Francisco (2012). «Estudo Histórico sobre a Conquista das 8 Horas de Trabalho». CGTP. Consultado em 28 de dezembro de 2020
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