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igreja em Vila do Porto, Portugal Da Wikipédia, a enciclopédia livre
A Igreja do Recolhimento de Santo António localiza-se na freguesia de Vila do Porto, concelho de Vila do Porto, na ilha de Santa Maria, nos Açores.
Igreja do Recolhimento de Santo António | |
---|---|
Tipo | igreja |
Geografia | |
Localização | Açores - Portugal |
O pesquisador Manuel Monteiro Velho Arruda refere que o templo remonta a uma ermida erigida no século XVI, mas que, no entanto, não se encontra citada entre as registadas por Gaspar Frutuoso na povoação em fins daquele século. Prossegue, acrescentando que, no testamento do 4º capitão do donatário da ilha, Pedro Soares de Sousa, e de sua esposa, Beatriz de Morais, feito em Vila do Porto a 20 de fevereiro de 1579, se estipula que:
Em fins do século XVII Frei Agostinho de Monte Alverne, nas suas Crónicas da Província de S. João Evangelista das Ilhas dos Açores, refere-o:
VELHO ARRUDA refere ainda que a primitiva ermida teve "fábrica" (fundo patrimonial), embora, com o tempo, houvessem desaparecido os documentos que o comprovavam. Na visita do Licenciado Francisco ou Andrade Albuquerque, em setembro de 1662 se afirmava que a fábrica havia sido feita por Francisco Vaz, em terras abaixo de São Pedro - o Velho -, que a trazia o capitão António de Magalhães.[1]
O texto da escritura de dote de fábrica da ermida, datado de 9 de janeiro de 1686, firmada pelo Alferes André Fernandes de Almada e sua esposa, Leonor de Andrade, refere que a primitiva ermida, sob a invocação do santo, não tinha "padroeiro e nem fábrica", estava "falta de ornamentos" e ameaçando ruína. Dotavam-na assim perpétuamente de quinze alqueires de terra em Malbusca, que rendiam em cada ano quinze alqueires de trigo, com a condição de serem "dotadores administradores" da dita ermida, benefício extensível aos seus descendentes.[3]
MONTE ALVERNE prossegue, acrescentando que:
A petição ao Cabido da Sé de Angra, feita por Almada e sua esposa em 3 de junho de 1687 para fundar o Recolhimento, esclarece que a sua capacidade era para até vinte donzelas, entrando logo quatro filhas suas e mais três mulheres de boa vida para as educarem. A dotação referida, entretanto, era de apenas onze moios de trigo anuais "in perpetuum".[4]
Data desse momento a atual feição da ermida, assim como a pedra de armas sobre o portal, onde ainda se lê a data de 1689.
Sobre as recolhidas, o Alvará de Licença, passado naquele mesmo ano de 1689, informa que as três mulheres que acompanharam as quatro filhas dos instituidores eram oriundas do Recolhimento de Santa Maria Madalena,[5] e seus nomes:
As quatro filhas dos instituidores eram:
Ingressaram ainda, na mesma ocasião, outras jovens, a saber:
À época de MONTE ALVERNE (1986) em fins do século XVII, a instituição contava com 29 recolhidas.[2]
Por morte dos benfeitores, as suas disposições testamentárias previam, entre outras, as seguintes:[8]
O mesmo documento reiterava as obrigações dos padroeiros para com o templo:[9]
O Recolhimento de Santo António foi visitado quando das visitas pastorais dos seguintes Bispos da Diocese de Angra:[10]
De acordo com nota de VELHO ARRUDA, quando da visita pastoral do Bispo da Diocese de Angra, D. António Caetano da Rocha, à ilha de Santa Maria no ano de 1766, o Capitão Luiz António de Figueiredo de Lemos requereu licença para edificar um altar na Igreja do Recolhimento de Santo António, o que terá sido feito no coro de baixo da dita igreja, sob a invocação do Senhor da Paciência.[11]
FIGUEIREDO (1990) transcreve essa informação e complementa que o altar era em talha dourada.[12]
Sob o reinado de Maria I de Portugal, teve lugar uma devassa efetuada pelo Juiz Conservador dos Tabacos e Saboarias da Ilha de Santa Maria, em 1793, acerca do contrabando de tabaco que se praticava nos três Recolhimentos de Vila do Porto (Nossa Senhora da Conceição, Santo António e Santa Maria Madalena). A soberana ordenou aquele funcionário que admoestasse as regentes dos três Recolhimentos, advertindo-as que cada uma vigiasse e coibisse tal prática que classificava de "prejudicial" e "pecaminosa", sob pena de castigos.[13]
Para a correta compreensão deste episódio é necessário recordar que a cultura do tabaco, à época, era absolutamente proibida. Era feita, entretanto, de maneira clandestina já no século XVII, sobretudo por parte de eclesiásticos e nobres, devido à jurisdição própria dos primeiros e à imunidade de que gozavam os segundos.
O consumo de tabaco, inicialmente sob a forma de rapé, conquistou, para além dos homens, muitas mulheres, nomeadamente as religiosas, que o cultivavam à revelia dos governantes nos seus recolhimentos. Por vezes era recebido do Brasil, transportado de forma dissimulada nos porões das embarcações. Assim, e independentemente das repetidas queixas apresentadas pelos contratadores, o tabaco era pisado e vendido fora dos estancos autorizados pela Coroa.
No contexto da extinção das ordens religiosas em Portugal em 1834, sob o padroado de Luiz de Figueiredo Velho de Melo Falcão o Recolhimento também foi extinto, permanecendo na família daquele o património do Recolhimento, da Igreja, e bens a eles pertencentes.[14] A partir de então cessam as informações sobre o destino do conjunto.
Na década de 1950, as instalações do antigo Recolhimento foram requalificadas e ocupadas pelo Cine Mariense (1953), que veio a encerrar as suas portas em 1976, após a chegada das emissões de televisão à ilha no ano anterior. Na década de 1980, as dependências do antigo cinema foram ocupadas pelo Supermercado J. C. Baptista, que, por sua vez, em 2008, deu lugar a uma filial do Hipermercado Sol*Mar (Grupo Marques).
O imóvel da antiga igreja encontrava-se ao final do século XX em ruínas, que foram adquiridas pela Câmara Municipal de Vila do Porto. Foi requalificada na década de 1980 como Biblioteca Pública Municipal, sendo inaugurada a 24 de junho de 1989 com o nome de "Biblioteca Pública Municipal Gulbenkian".[15] com a transferência da mesma para as novas instalações no antigo solar de João Falcão de Sousa, a partir de 2011 passa a sediar a "Casa da Juventude", da Associação de Jovens da Ilha de Santa Maria (AJISM),[16][17]
Ao longo da sua história, os padroeiros do Recolhimento foram:
Em alvenaria de pedra rebocada e caiada, é constituída por dois corpos de planta rectangular, formando um "L", e por um corpo torreado de planta quadrangular (correspondente à antiga capela-mor), adossado ao topo do corpo rectangular maior (correspondendo à antiga nave da igreja). Numa das faces do corpo torreado encontra-se um volume saliente que embora identificada na Ficha do Inventário do Património Imóvel dos Açores como correspondente ao nicho do retábulo da antiga capela-mor, na realidade corresponde ao antigo altar do Senhor da Paciência, por baixo do Coro Alto, e em lado oposto ao altar-mor.
No extremo esquerdo da fachada do corpo da nave encontra-se um campanário com dois vãos rematados em arco de volta perfeita sobre impostas, encimado por uma cornija. Sobre a cornija, ao eixo do campanário, apoia-se uma cruz. O portal, rasgado a meio da antiga nave, é encimado por um frontão com o vértice quebrado, em cujo tímpano se encontra uma pedra com um relevo muito deteriorado e a inscrição "ANNO D 1693".[18] De acordo com fotografia da época da restauração a primitiva inscrição rezava:
O frontão é ladeado por uma espécie de pináculos encastrados.
As coberturas são de duas e quatro águas, em telha de meia-cana tradicional, rematadas por beiral simples.
Através do exame às fotografias da década de 1980, feitas no contexto dos trabalhos de requalificação, é possível identificar no interior do antigo templo, as estruturas hoje desaparecidas, a saber:
O sacrário desta igreja encontra-se atualmente na Igreja de São Pedro.[24]
André Fernandes de Almada, comerciante de grosso trato, alferes de Milícia, filho de Manuel Fernandes Jorge e de Maria de Freitas, tinha por hábito realizar retiro espiritual durante a Quaresma, em uma casa que possuía na Fajã da Maia, levando consigo apenas dois criados. Um dia, tendo-os mandado à Vila para buscar provisões, ao entardecer avistou no horizonte quatro embarcações argelinas (piratas da Barbária) a aproximar-se da costa. Estando só, e receando o pior, escondeu-se numa furna da rocha, atrás de uns penedos. Os navios ancoraram na baía da Maia e arriaram dois batéis que vieram a terra, onde seus tripulantes desembarcaram um objeto bastante volumoso. Sem perceber do que se tratava, do seu esconderijo André Fernandes viu o objeto ser enterrado em uma cova bastante funda, que os argelinos estiveram a abrir, e cujo local dissimularam com terra e pedras. Após essa operação, os argelinos reembarcaram e seguiram o seu curso.
No dia seguinte, pela manhã, tendo os seus criados regressado, narrou-lhes o acontecido, e saiu com eles para desenterrar o misterioso objeto. Com grande espanto, da cova foi retirado uma pesada arca que, aberta, revelou - em sacos - grande quantidade de moedas de ouro, que André Fernandes arrecadou. Por ser pessoa de escrúpulos e piedosa, de nada quis se assenhorear, destinando aquele montante à construção de um recolhimento para donzelas junto à pequena ermida de Santo António de Vila do Porto, a qual aumentou.[25]
Uma outra versão da narrativa sustenta que o 4.º capitão do donatário, Pedro Soares de Sousa, em seu testamento deixou uma arca fechada, determinando aos seus criados verem o que era. Ao ser aberta, encontrava-se cheia de moedas de ouro, que André Fernandes arrecadou. Não querendo apoderar-se do dinheiro, terá com ele mandado construir o recolhimento.
MONTE ALVERNE, em sua crónica, refere o seguinte milagre, ocorrido nesta instituição.
Em 1686 veio da ilha de São Miguel um pequeno frasco com azeite da lâmpada de Nossa Senhora do Pilar a André Fernandes de Almada, pedido por devoção pela sua filha Maria de Santo António, uma das primeiras recolhidas. Este azeite "de sorte ferveu que encheu uma jarra, além do muito que levaram diferentes devotos; e hoje em dia ainda a tempos ferve na cela da devota que, ansiosa, o pediu, no recolhimento de Santo António."[26]
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