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Grego ático é o dialeto de prestígio do grego antigo que era falado na Ática, região onde se localiza Atenas. Dos dialetos do grego antigo é o mais semelhante ao grego posterior, e é a forma padrão do idioma, estudada na maior parte dos cursos de grego antigo.
O grego é um ramo independente da família de línguas indo-europeia, um grupo que inclui o português. Em tempos históricos o idioma já apresentava diversos dialetos, um dos quais era o ático.
Os primeiros registros do grego datam dos séculos XVI e XI a.C., e foram feitos num sistema de escrita arcaico, o Linear B, usado pelos gregos micênicos. A distinção entre o grego ocidental e oriental já teria surgido durante o período micênico, e mesmo antes. O grego micênico representa uma forma antiga do grego oriental, o ramo ao qual o ático também pertence. Devido à lacuna existente nos registros escritos entre o desaparecimento da Linear B, por volta de 1200 a.C. e as primeiras inscrições no alfabeto grego, por volta de 750 a.C.,[1] o desenvolvimento dos dialetos ainda permanece opaco. A literatura grega posterior fala de uma divisão em três dialetos principais: o eólico, o dórico e o jônico. O ático fazia parte do grupo dialetal jônico.
"Ático antigo" é um termo usado para se referir ao dialeto de Tucídides (460-440 a.C.) e os dramaturgos do célebre século V a.C. ateniense; "ático novo" é o termo usado para se referir ao idioma usado por escritores posteriores.[2]
O grego ático existiu até o século IV a.C., quando acabou sendo substituído pela sua cria mais "universal", o koiné ou "dialeto comum" (ἡ κοινὴ διάλεκτος). A hegemonia cultural do Império Ateniense e a adoção posterior do grego ático pelo rei Felipe II da Macedônia (382-336 a.C.), pai do conquistador Alexandre, o Grande, foram dois fatores chave para garantir a supremacia do ático sobre os outros dialetos gregos, e a expansão de seu descendente, o koiné, por todo o império helênico legado por Alexandre. A ascensão do koiné foi convencionalmente estabelecida na ascensão de Ptolomeu II, o rei grego que governou a partir de Alexandria, no Egito, e que iniciou o "período alexandrino", durante o qual esta cidade e os acadêmicos expatriados da Grécia que lá viviam floresceram.[2]
Em seu tempo, o dialeto ático era falado numa área que abrangia a Ática, a Eubeia, algumas das ilhas Cíclades centrais, além de áreas da costa norte do mar Egeu, na Trácia (por exemplo Calcídica, Χαλκιδική). O dialeto jônico, parente próximo do ático, era falado ao longo da costa noroeste e ocidental da Ásia Menor (na atual Turquia), no lado oriental do Egeu. Eventualmente, o ático literário (bem como os textos clássicos que foram escritos nele) acabou por ser estudado muito além de sua terra de origem, primeiro por todas as civilizações clássicas do Mediterrâneo, como Roma, e do mundo helenístico, e posteriormente no mundo islâmico, no resto da Europa e em todos os lugares do mundo para onde a civilização europeia o levou consigo.
Os primeiros exemplos registrados da literatura grega, atribuídos a Homero e datados dos séculos VII e VIII a.C., não foram escritos no dialeto ático, mas sim no 'antigo jônico'. Atenas e seu dialeto permaneceram relativamente obscuros até que as mudanças constitucionais ocorridas na pólis levaram à implementação da democracia em 594 a.C., marco do período clássico e da ascensão da influência ateniense sobre a Grécia Antiga.
As primeiras obras relevantes de literatura feitas na Ática são as peças dos dramaturgos Ésquilo, Sófocles, Eurípides e Aristófanes, no século V a.C.. As obras do filósofo ateniense Platão também remontam a este notável século para a literatura. Os feitos militares dos atenienses legaram alguns dos relatos históricos mais lidos e admirados universalmente, as obras de Tucídides e Xenofonte. Menos conhecidas, talvez por serem mais técnicas, são as orações de Antifonte, Demóstenes, Lísias, Isócrates, e tantos outros. O grego ático do filósofo Aristóteles (384-322 a.C.), cujo mentor foi Platão, já data do período no qual o ático clássico passou a se transformar no koiné.
Os estudantes que aprendem o grego antigo nos dias de hoje costumam começar o aprendizado com o dialeto ático, avançando gradualmente, de acordo com seu interesse, ao koiné do Novo Testamento e de outros escritos cristãos, ou ao grego homérico, para ler as obras de Homero e Hesíodo, ou mesmo do grego jônico, para ler as históricas de Heródoto ou os textos médicos de Hipócrates.
O alfabeto ático clássico é formado pelas 24 letras mais familiares do alfabeto grego (em maiúsculas):
Α, Β, Γ, Δ, Ε, Ζ, Η, Θ, Ι, Κ, Λ, Μ, Ν, Ξ, Ο, Π, Ρ, Σ, Τ, Υ, Φ, Χ, Ψ, Ω.
Possui sete vogais: Α, Ε, Η (e longo), Ι, Ο, Υ, Ω (o longo).
As primeiras formas do grego escrito não foram feitas no alfabeto grego, mas sim no silabário conhecido atualmente como Linear B, onde cada símbolo significava uma combinação de consoante e vogal. A origem do uso daquele que se tornou o alfabeto grego clássico permanece envolta em mistério. Quando seu uso já é evidenciado como corrente, por volta do século VIII a.C.,[3] ele já estava dividido em duas variantes, ocidental e oriental, dos quais descendem respectivamente os alfabetos etrusco/latino e grego. A origem de todos está no alfabeto fenício, que foi utilizado para grafar as palavras gregas, mesmo sendo uma boa parte para representar unicamente as letras consonantais semíticas; muitas, foram adaptadas para representar vogais, como o alef[4] que se transformou no alfa (A) grego, o he, que virou o epsilon (E) grego, e o 'ayin, que virou o omicron (O) grego. A criação de letras que representavam de fato as vogais foi a contribuição linguística mais revolucionária dos gregos no desenvolvimento do alfabeto.
À medida que a utilidade do alfabeto se tornou evidente, as variedades locais (por vezes chamadas de "epicóricas"[5]) começaram a surgir. O alfabeto ático primitivo ainda não fazia distinção entre vogais longas e curtas (como o posterior faria entre ε e η, ο e ω). Também ainda não tinha as letras Ψ (psi) e Ξ (xi), e usava os dígrafos ΦΣ e ΧΣ para representar estes sons. As letras minúsculas (α, β, γ, etc.) e o iota subscrito (uma invenção medieval) ainda faziam parte dum futuro distante. O digama, que deixou de ser usado no período clássico, tinha o valor de /w/.
Enquanto isso, do outro lado do Egeu, na Jônia, uma nova forma jônica do alfabeto ático começou a surgir. Ela fazia distinção entre o o longo e o curto (Ω e Ο) e deixou de usar o Η (eta) para indicar a aspiração forte (como o som do h inglês), e passou a usá-lo para representar o e longo, mantendo o Ε para representar o e curto. O digama foi abandonado, e surgiram o Ψ e o Ξ, trazendo o alfabeto ático para sua forma clássica, com 24 letras. Em 403 a.C. a cidade-Estado de Atenas, já com poder e influência internacional, percebeu a necessidade de uma padronização do alfabeto, e adotou oficialmente o alfabeto jônico.
Quando o cidadão comum da Grécia Antiga lia inscrições, ou o grego educado lia literatura, utilizavam-se unicamente do alfabeto jônico maiúsculo: Α, Β, Γ, Δ, etc. Na época letras minúsculas, acentos e quaisquer outro tipo de marcações sobre ou sob as letras, e mesmo a pontuação, eram completamente desconhecidos e só apareceram no grego escrito na Idade Média. A antiga literatura ática, portanto, quando é publicada hoje em dia, usa diversos recursos que não estavam presentes nos seus originais antigos, muitos deles acrescentados posteriormente pelos escribas bizantinos.
A gramática ática é em grande parte idêntica à gramática do grego antigo; esta seção apresenta apenas as suas peculiaridades.
No que diz respeito à declinação, há alteração na raiz, isto é, a parte da palavra que é declinada à qual as terminações de caso são sufixadas; assim, na primeira declinação feminina (-a ou -alfa), em que a raiz tradicionalmente terminaria num a longo, de maneira paralela à primeira declinação do latim, o ático-jônico utiliza um e longo (eta) no singular - exceto, apenas no ático, depois de e, i ou r: gnome, gnomes, gnome(i), gnomen, etc., "opinião", mas thea, theas, thea(i), thean, etc., "deusa".
O plural é o mesmo em ambos os casos: gnomai e theai, porém outras alterações sonoras foram mais significantes na formação do ático; por exemplo, o -as original do nominativo plural foi substituído pelo ditongo -ai, que não sofreu a mudança de a para e. Nas poucas palavras masculinas com raiz -a, o singular genitivo segue a declinação -o: stratiotēs, stratiotou, stratiotēi, etc.
Na segunda declinação (declinação -o ou ômicron), formada especialmente por palavras masculinas (embora algumas sejam femininas), a raiz termina em o ou e, e é composta, por sua vez, de uma raiz mais uma vogal temática, um o ou e numa série de ablauts indo-europeus paralelos à formações semelhantes do verbo. É equivalente à segunda declinação. A alternância entre o -os do grego e o -us do latim no singular nominativo é familiar a todos os leitores dos dois idiomas.
No grego ático a terminação original do genitivo singular, *-osyo, após perder o s (como em todos os dialetos) acaba por prolongar a raiz o até formar o ditongo espúrio -ou: logos, "a palavra", logou (de *logosyo), "da palavra". O plural dativo do ático-jônico era -oisi, que também aparece no ático primitivo mas que é simplificado para -ois posteriormente: anthropois, "para ou pelos homens".
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