Heteria (em grego: ἑταιρεία; romaniz.: Hetaireia; em latim: Hetaeria) foi um corpo de guarda-costas do Império Bizantino. O seu nome significa "a Companhia", reminiscente da antiga companhia de cavalaria macedónica (Heteros). A Heteria imperial, composta principalmente de estrangeiros, fazia parte da guarda imperial bizantina juntamente com as tagmas nos séculos IX a XII. O termo designava também os corpos mais pequenos de guarda-costas dos generais das províncias (stratēgoi, estrategos), os quais eram comandados por um conde (em grego: κόμης τῆς ἑταιρείας; romaniz.: komēs tēs hetaireias).[1] A partir do século XIII, Heteria passou a designar genericamente os séquitos armados dos magnatas, ligados por juramento solene aos seus amos.[2]
Heteria | |
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País | Império Bizantino |
Criação | século IX |
Extinção | século XII |
Comando | |
Comandante | Heteriarca |
História e papel da Heteria imperial
A origem, funções e estrutura da Heteria imperial não são claras. O termo é mencionado pela primeira vez no início do século IX: fontes narrativas registam a sua existência em 813 como um corpo de guarda-costas do imperador bizantino em campanha.[3] John B. Bury teorizou que seria a evolução dos antigos federados,[4] mas esta suposição foi rejeitada por John Haldon.[5] A Heteria do período médio bizantino estava dividida em várias unidades: três ou quatro de acordo com as fontes, distinguidas pelos seus epítetos e cada uma delas, pelo menos originalmente, subordinadas à sua respetiva "heteriarca" (em grego: ἑταιρειάρχης; hetaireiarchēs).[2]
A unidade sénior era a "Grande Heteria" (em grego: μεγάλη ἑταιρεία;megalē hetaireia), comandada pelo "grande heteriarca" (megas hetaireiarchēs), o posto mais alto entre os oficiais conhecidos como estratarcas (stratarchai; termo muitas vezes traduzido como "marechal de campo"), que frequentemente era referido simplesmente como "o heteriarca" (ὁ ἑταιρειάρχης).[6] Foi um posto de grande importância no final do século IX e primeira metade do século X, pois tinha a seu cargo a segurança do imperador e eram-lhe confiadas missões delicadas. Antes de ser imperador, Romano I Lecapeno (r. 920–944) foi "grande heteriarca", um posto no qual foi sucedido pelo seu filho Cristóvão Lecapeno.[2] Na obra Sobre as Cerimônias, de meados do século X, da autoria do imperador Constantino VII Porfirogênito (r. 913–959), o "grande heteriarca" e a sua unidade é descrita como encarregada da proteção da tenda do imperador em campanha e da segurança do palácio imperial, juntamente com o papias do palácio.[7]
A "Heteria Média" (em grego: μέση ἑταιρεία; mesē hetaireia) é referida em fontes e a possível existência de uma ""Heteria Inferior" (μικρὰ ἑταιρεία; mikra hetaireia) é sugerida pela referência a Estiliano Zautzes como micro heteriarca (mikros hetaireiarchēs) durante o reinado de Miguel III, o Ébrio (r. 842–867).[8] Outra hipótese é que a unidade do micro heteriarca ter sido idêntica ao regimento de bárbaros composto pelas duas companhias dos Cazaros ( (Χαζάροι;Chazaroi, Cazares) e dos Farganos (Φαργάνοι; Pharganoi), mencionada como a "Terceira Heteria" (em grego: τρίτη ἑταιρεία; tritē hetaireia) no Escorial Taktikon de c. 975.[9][10][11] O historiador Warren Treadgold estima que a Heteria imperial teria 1 200 homens no início do século X.[9]
A maior parte da Heteria era composta por estrangeiros (ethnikoi): relatos contemporâneos mencionam Cazares, Farganos, Turcos (Tourkoi; Magiares), Francos e Árabes.[12] O significado do termo Farganos tem sido tema de debate: pode denotar a sua origem da área de Fergana, na Ásia Central, ou pode ser uma ortografia errada de Farangos (Pharangoi; Varegues).[2] Apesar disso, os postos honorários na Heteria eram nomeações de prestígio, ligados a um estipêndio anual (roga), que podia ser comprado por oficiais nados bizantinos. Um posto na "Grande Heteria" custava, no mínimo, 16 litras (litrai)[a] de ouro,[13] um posto na "Média Heteria" pelo menos dez e em cada uma das companhias de Cazaros ou Farganos pelo menos sete.[7][14]
Ao longo do século X, verificou-se uma tendência gradual para a mistura de várias unidades para um comando único, o que é evidenciado pelo facto da "Média Heteria" ter sido colocada sob o comando do "grande heteriarca".[8] Depois disso, a importância da Heteria como corpo de guarda-costas declinou, mas a unidade foi uma das poucas que sobreviveu no exército comneno, sendo a sua existência atestada até ao reinado de Manuel I Comneno (r. 1143–1180).[15] No entanto a sua composição foi alterada: no final do século XI, Nicéforo Briénio, o Novo relata que a Heteria era "habitualmente" composta por membros de famílias nobres proeminentes.[2]
O posto de [grande] heteriarca também sobreviveu, desligado das suas funções militares, e continuou importante. Foi ocupado por vários eunucos do palácio influentes no século XI e por nobres de segundo nível e familiares jovens da família imperial bizantina, como Jorge Paleólogo, durante a era dos Comnenos. No período dos paleólogos, foi ocupado por membros de famílias nobres proeminentes.[2]
Notas e referências
- Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Hetaireia».
- [a] ^ Uma litra (em latim: libra), especificamente a do tipo logárica (logarikē) ou crisáfica (chrysaphikē), correspondia a 324 gramas.
- Treadgold 1995, p. 100–105.
- Kazhdan 1991, p. 925.
- Oikonomides 2001, p. 12.
- Haldon 1984, p. 246.
- Treadgold 1995, p. 110.
- Oikonomides 2001, p. 12, 27.
- Oikonomides 2001, p. 20–21.
- Kazhdan 1991, p. 1238.
- Oikonomides 2001, p. 17–18.
- Magdalino 2002, p. 321.
Bibliografia
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