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Os frentanos (em grego antigo Φρεντανοί —Estrabão, Ptolemeu— ou Φερεντανοί —Políbio, Dionísio—) foram um antigo povo do centro da península Itálica que ocupou o trecho da costa oriental, dos Apeninos ao Adriático, e das fronteiras da Apúlia às dos marrucinos.
O seu território limitava a oeste com o dos samnitas, dos quais descendiam originalmente. De aqui que Cílax atribuísse completa toda esta costa aos samnitas, das fronteiras da Apúlia até as do Piceno.[1]
Os limites exatos do seu país não são claramente definidos, e há bastantes discrepâncias nas afirmações dos geógrafos antigos: Larino, com o seu território (estendendo-se desde Tiferno —atual Biferno— até Frento), era considerada por alguns autores uma cidade dos frentanos,[2] se bem que a opinião mais geral era que pertenceu à Apúlia e, portanto, era o rio Tiferno (Biferno) a fronteira entre ambos.[3][4]
A fronteira norte da região dos frentanos é igualmente incerta: tanto Estrabão[5] quanto Ptolemeu[6] situam-na no rio Sagro, enquanto Plínio estende-a até longe, o Aterno e, segundo Mela, possuíam as desembocaduras tanto deste rio como do Matrino. Esta última afirmação é certamente inexata, e Estrabão diz expressamente que os marrucinos dominavam a ribeira direita do Averto até a sua desembocadura, enquanto os vestinos possuíam a ribeira esquerda,[7] pelo qual os primeiros deveram ficar entre os frentanos e a desembocadura do Aterno. Contudo, a versão de Plínio parece ser mais correta do que a de Estrabão e Ptolemeu, pois é sabido que Ortona e Anxano, situada ambas bem a norte do Sagro, foram cidades frentanas. A última é, de fato, atribuída por Ptolemeu a este povo,[2] enquanto Estrabão também considera Ortona o porto ou estação naval dos frentanos ("ἐπίνειον Φρεντανῶν"),[5] mas situa-a erroneamente a sul do rio Sagro. Portanto, as suas fronteiras deveram ficar a poucos quilômetros do Aterno, embora sem chegar a ultrapassar o rio.
A oeste provavelmente não estivessem separados dos samnitas por nenhuma fronteira natural clara, ocupando as fraldas mais baixas dos Apeninos, bem como a acidentada região que se estende de estas até o mar, enquanto o centro da cadeia montanhosa pertenceu ao Sâmnio.
Os frentanos são expressamente considerados por Estrabão um povo samnita, e parece distingui-los como tais das tribos vizinhas dos marrucinos, pelignos e vestinos, com quem tinham muito em comum.[7] Contudo, os frentanos aparecem na história como um povo separado, com um organização própria, e embora pode que em algum momento (como sugiriu Niebuhr) constituíssem uma das quatro nações da confederação samnita, parece que não era já assim quando este poder colidiu contra Roma. A sua conduta durante o longo conflito entre os samnitas e os romanos corrobora isto.
De fato, em 319 a.C., quando o seu nome aparece pela primeira vez nos registros históricos,[8] aparecem em guerra contra Roma, mas foram depressa derrotados e submetidos,[9] e poucos anos depois (304 a.C.), no final da Segunda Guerra Samnita, os frentanos são mencionados, junto aos marsos, marrucinos e pelignos, indo pedir uma aliança com Roma,[10] ao que parece que se aderissem subsequentemente com firmeza. Desta forma, encontra-se mais de uma menção expressa à ajuda frentana na guerra contra Pirro, e um dos seus oficiais, chamado Oblaco Volsínio, distinguiu-se na batalha de Heracleia.[11] Deram uma prova ainda mais surpreendente de fidelidade durante a Segunda Guerra Púnica, ao somarem-se à causa romana após a batalha de Canas, quando muitos dos aliados italianos, incluindo a maior parte dos samnitas, apoiaram Aníbal.[12]
Durante este período parecem ter mantido relações políticas muito mais estreitas com os seus vizinhos marrucinos, pelignos e vestinos, do que com os seus parentes os samnitas. Provavelmente seja por isto que Políbio, ao enumerar as forças dos seus aliados italianos, classificasse os frentanos com os marsos, marrucinos e vestinos, enquanto conta separadamente os samnitas.[13] Apesar da sua demonstrada fidelidade, os frentanos uniram-se à revolta geral dos aliados italianos na grande Guerra Social em 90 a.C.,[7][14] na que porém não parece que tomassem parte proeminentemente, e somente pode ser inferido que receberam a franquia romana ao mesmo tempo em que as tribos vizinhas. Assim pois, aparecem mencionados por Cícero um poucos anos depois, enviando alguns dos seus melhores homens ("Frentani homins nobilissimi")[15] para apoiar a causa de Cluêncio, um nativo de Larino. O seu território foi atravessado sem resistência por Júlio César na revolta da Segunda Guerra Civil em 49 a.C.,[16] sendo esta a última ocasião na que o seu nome aparece nos registros históricos.
O seu território esteve compreendido na quarta região de Augusto, junto aos marrucinos, pelignos, marsos, et cétera,[3] mas numa época posterior parece que se havia volto a unir ao Sámnio, e foi posto sob a autoridade do governador dessa província.[17]
O território dos frentanos é na sua maior parte montanhoso mas fértil. Numerosos rios que nascem nas montanhas do Sámnio fluem cruzando a terra frentana até o Adriático. Os principais destes, além do Tiferno que (como já se mencionou) constituía o limite sul do seu país, são o Trínio (atual Trigno), que segundo Plínio tinha um bom porto na sua desembocadura (Flumen Trinium portuosum),[3] e o Sagro, um curso muito importante, que desemboca aproximadamente a meio caminho entre Histônio e Ortona. A Tabula Peutingeriana também dá o nome de um rio que situa entre Ortona e Anxano, ao qual chama Clotóris. O nome provavelmente seja uma corrupção linguística, mas o curso assinalado (se confiarmos na sua posição) não pode ser outro que o rio Moro, que atinge o Adriático uns poucos quilômetros a sul de Ortona. A costa desta parte do Adriático apresenta poucos acidentes destacáveis, e nenhuma boa baía natural. As desembocaduras dos rios e os dois salientes de Termoli (Buca) e a Ponta della Penna são os únicos lugares de amarre.
As cidades dos frentanos mencionadas pelos autores antigos são poucas em número, mas a topografia da região chegara a ser muito confusa. A Antichità Frentane do abade Domenico Romanelli,[18] que era nativo desta parte da Itália, é um trabalho muito acrítico, pois o autor deixou-se extraviar nomeadamente pelas inscrições e outros documentos recopilados por Polidoro, um antiquário italiano do século XVIII, que parece não ter tido reparos em falsificar os seus achados, ou ao menos corrompê-los e alterá-los de modo que se adequaram aos seus fins.[19] Romanelli, na sua posterior e extensa obra,[20] limitou-se a resumir os resultados do seu livro anterior, e Cramer seguiu-o cegamente.
Ao longo da costa (de norte a sul) estiveram situadas Ortona, Histônio e Buca. As duas primeiras podem ser situadas claramente, conservando Ortona o seu nome antigo, e as ruínas de Histônio seguem-se conservando em Vasto, mas há dificuldades para localizar Buca, mas poderia identificar-se com Termoli. Os argumentos que levaram muitos autores a situá-la em Santa Maria della Penna estão baseados nomeadamente nas mencionadas inscrições espúrias. A existência de uma cidade chamada Interâmna, da qual Romanelli e Cramer supõem que ocupou o lugar de Termoli, procede unicamente da mesma fonte apócrifa e, embora a inscrição fosse autêntica, a Interâmna nela mencionada alude provavelmente à famosa cidade de Terni.[19][21]
A única cidade interior importante entre os frentanos foi Anxano. À parte desta, Plínio menciona, no interior do país, os "Carentini supernates infernates" e os lanonses, sendo o primeiro aparentemente uma corrupção de caretinos e os segundos quanto ao demais desconhecidos, resultando impossível situar as suas cidades. Por outro lado, a Tabula menciona um lugar chamado Palano, do qual não se tem outra menção, mas cuja situação, segundo Romanelli, estaria em Monte di Pallano, cerca de 5 km a sudoeste de Atessa. A estação anterior dada pela mesma fonte chama-se Ano, nome provavelmente corrupto cuja autêntica leitura é desconhecida.[22] Uscósio, um lugar dado no Itinerário de Antonino, que o calcula a cerca de 24 km de Histônio, no caminho para a Apúlia,[23] é localizado por esta distância num ponto próximo da ribeira direita do rio Sinarca, cerca de 9 km a sudoeste de Termoli, mas no território de Guglionisi, onde se dizia que existiam consideráveis vestígios de uma antiga cidade.[24]
Há incerteza a respeito das estradas romanas que cruzavam o território dos frentanos. O nome da Via Trajana Frentana é apoiado somente pela autoridade de uma inscrição duvidosa. Porém, sim é verdade que uma antiga estrada cruzava o território dos frentanos em toda a sua extensão, desde Aterno a Larino, passando a maior parte perto da costa, mas separando-se com o fim de passar por Anxano. As estações desta estrada aparecem no Itinerário de Antonino:
Destas, Ângulo está certamente mal situada, devendo ter aparecido entre Hadria (atual Atri) e Aterno. A distância das desembocaduras do Aterno em Pescara e Ortona é consideravelmente subestimada, e a de Ortona a Anxano igualmente exagerada, mas apesar disso a linha da estrada pode ser decifrada, e uma antiga ponte romana sobre o Sangro, entre Lanciano e o Vasto, proporciona um ponto seguro de confirmação. O traçado dado na Tabula, pelo contrário, discorre pelo interior, da desembocadura do Aterno até Teate (atual Chieti), e daqui a Ortona, e de novo entre Anxano e Histônio faz uma curva para o interior por Ano e Palano. As distâncias dadas são muito confusas, e em muitos momentos provavelmente corruptas. Aparecem assim:
Existem moedas de cobre com a lenda osca Frentrei, que podem provavelmente aludir aos frentanos mais do que à cidade de Ferento, na Apúlia, como foi indicado por alguns autores. Outros acreditam que indicariam a existência de uma cidade chamada Frentro como capital dos frentanos, que seria supostamente uma das aludidas por Lívio[9] quando diz "Frentanos vicit urbemque ipsam - in deditionem accepit" sem nomear a cidade, mas esta inferência é muito duvidosa.[25]
A cidade de Larino cunhou moedas no século III a.C. que levam a lenda latina "LARINOR(VM)".
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