Frágil Como o Mundo é um filme português de 2001, do género drama romântico, realizado e escrito por Rita Azevedo Gomes e produzido por Paulo Branco.[1][2] A longa-metragem é protagonizada por dois jovens apaixonados, Vera e João (interpretados respetivamente por Maria Gonçalves e Bruno Terra), que fogem de casa e se isolam numa floresta prometendo nunca se separar.[3] O filme foi estreado comercialmente em Portugal no dia 20 de julho de 2001.[4] No mês seguinte, Frágil Como o Mundo teve a sua apresentação internacional quando integrou a secção Novos Territórios do Festival de Cinema de Veneza.[5]

Factos rápidos Fragile as the World ...
Frágil Como o Mundo
Fragile as the World
Portugal Portugal
2001 cor / p&b •  90 min 
Género drama romântico
Direção Rita Azevedo Gomes
Produção Paulo Branco
Produção executiva Diana Coelho
Roteiro Rita Azevedo Gomes
Elenco Maria Gonçalves
Bruno Terra
Manuela de Freitas
Duarte de Almeida
Música Nicholas McNair
Cinematografia Acácio de Almeida
Direção de arte Paula Migalhada
Edição Rita Azevedo Gomes
Manuela Viegas
Distribuição Portugal Atalanta Filmes
França Gémini Films
Lançamento 20 de julho de 2001
Idioma português, francês
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Sinopse

Vera e João são dois adolescentes apaixonados. Aparentemente, a sua vida não lhes apresenta quaisquer problemas. Ambos têm família e amigos que os amam. Enquanto adolescentes que são, toda a sua vida fora definida por outros. O casal sente que não tem espaço, e principalmente, não tem tempo para viver a sua paixão.[6] Para além de se ocuparem com os estudos, as suas casas estão distantes. Mas o maior problema reside no facto de sentirem que o seu próprio tempo de vida não lhes permite amar-se.

Tentando definir o seu futuro, Vera e João iniciam um plano de fuga. Com a mesma inocência com que participam num jogo infantil, fogem de suas casas, e afastam-se das suas terras. O casal isola-se numa floresta. Aí chegados, fazem um pacto: nunca se separarão "por nada deste mundo".[7]

Vera conta a João um segredo que nunca havia revelado nem à família. Descreve uma experiência, memória ou imaginação, de quando era mais criança. Encontrou-se em perigo, presa num sítio sem saída. Com toda a sua fé, Vera pediu à Mãe Natureza para que se abrisse uma fenda que lhe permitisse sair dali. Uma rocha gigante move-se, libertando-a. Ao ouvir o relato, João acredita.

Um elo de cumplicidade entre o casal e de união com a Natureza da floresta torna-se gradualmente mais intenso. Mas Vera, pelo contrário, começa a sentir-se mais fraca e acaba por adoecer. João encontra-se num dilema: por um lado, não quer quebrar o pacto de não se separarem "por nada deste mundo", mas, por outro, quer deixá-la só para ir pedir ajuda.[8]

Elenco

  • Maria Gonçalves, como Vera;[9]
    • Maria Celestino da Costa (Vera, menina).
  • Bruno Terra, como João.
  • Sophie Balabanian, como Mãe de Vera.
  • Carlos Ferreira, como Pai de Vera.
  • Manuela de Freitas, como Avó.
  • Duarte de Almeida (João Bénard da Costa), como Avô.
  • Carolina Villaverde, como Luzinha.
  • Nuno Nunes, como Irmão de Vera.
  • Marta Costa, como Amiga de Vera.
  • Mário Barroso, como Narrador.
  • Francisco Grave, como Caçador.

Equipa técnica

  • Realização: Rita Azevedo Gomes.[10]
  • Argumento: Rita Azevedo Gomes.
  • Produção: Paulo Branco.[11]
  • Direção de fotografia: Acácio de Almeida.[2]
  • Direção de som: Joaquim Pinto, Philippe Morel, Antoine Bonfanti, Ricardo Leal, Pedro Melo.
  • Montagem: Rita Azevedo Gomes e Manuela Viegas.
  • Mistura de som: Xavier Bonneyrat e John Fewell.
  • Direção de arte: Paula Migalhada.
  • Assistentes de realização: Jorge Lopes, Carlos Braga e Cesário Monteiro.
  • Música: Nicholas McNair.

Produção

Desenvolvimento

Rita Azevedo Gomes começou a interessar-se no projeto que seria Frágil Como o Mundo depois de ler uma notícia de jornal em 1993,[12] acerca de um suicídio de um casal de adolescentes. Nas suas palavras, "um rapaz e uma rapariga, encontrados mortos muito compostinhos, deitados, sem sinais de violência, à sombra de uma azinheira num campo do Alentejo. Era uma daquelas histórias que ninguém percebia, dois miúdos que se matam: como é que morreram – porque, aparentemente, nas vidas deles estava tudo bem e nada sugeria que o pudessem fazer".[13] Ao desenvolver a história num argumento, Azevedo Gomes integrou fragmentos de textos literários de poetas como Agustina Bessa-Luís, Cecília Meireles, Luís Vaz de Camões, Rainer Maria Rilke e ainda Sophia de Mello Breyner Andresen,[14] cujo verso "Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo", do poema Terror de Te Amar, dá título ao filme.[15] Para além destas citações literárias, em particular para a figura do Avô da protagonista, a cineasta usou referências do cinema de Carl Theodor Dreyer.[13]

Com reduzidos meios de produção, a Azevedo Gomes iniciou autonomamente a preparação de Frágil Como o Mundo. Quando Paulo Branco integrou o projeto, a maior parte da pré-produção (como castings, réperages e adereços) já haviam sido definidos pela realizadora. Acerca da definição dos locais de gravação, a cineasta recorda que "eu falava com diretores de serviços florestais – e aquilo em Sintra é tudo pago ao preço de ouro e eu não paguei um tostão, o Paulo não pagou um tostão, porque eu fiz tudo sozinha, (...) lá consegui todos os décors à borla".[13]

Rodagem

As gravações decorreram na Área Metropolitana de Lisboa, por exemplo, em locais de Sintra e Vila Franca de Xira. Ao longo do processo de rodagem decorreram vários constrangimentos, nomeadamente entre a realizadora e membros da produção. A direção de som encontrava-se dependente da disponibilidade dos técnicos.[13] Tal forçou a que várias cenas tivessem sido gravadas sem som direto ou até sons de referência.[16]

Pós-produção

O intenso envolvimento da cineasta prolongou-se na fase de pós-produção. Para além da passagem para preto e branco, a falta de som direto forçou a dobragem dos personagens pelos atores e a posterior composição de sons ambientais.[16] "Cheguei a fazer música para o Frágil como o Mundo, fui com umas bolhas, vidros e cataplanas para fazer uns sons de que precisava, misturados com violinos, e foi muito engraçado porque estava sozinha a gravar, ia para Sintra às três da manhã e levava um DAT" (Rita Azevedo Gomes).[13] Os problemas de som despoletaram também novas reescritas de diálogos, para além da inclusão de um poema, Menina e Moça, de Bernardim Ribeiro, que motivou o convite ao cineasta Mário Barroso para o interpretar como narrador.[16]

Temas e estética

Para a cineasta, o cinema é o território de comunhão da poesia, da realidade ou memória, da natureza e do sonho: "o cinema é o sítio certo para representar a coexistência das pedras e dos fantasmas".[17] Deste modo, Frágil Como o Mundo parte de uma premissa de fábula infantil e tragédia Shakespeariana, mas assume uma abordagem moderna da imagem e do som.[18] De facto, algo característico do cinema de Rita Azevedo Gomes, o filme resulta de uma fusão de imaginários de lendas e referências literárias que, neste caso, enaltecem os elementos românticos da obra, acerca do amor impossível, a perecibilidade do corpo, a comunhão com a natureza e a percepção da fragilidade humana.[19] Além da poesia em evidência, a música e a pintura são elementos incluídos em Frágil Como o Mundo que reforçam toda esta simbologia. A obra faz também uso da voz literária como uma camada adicional: "a narração funciona um pouco como se fosse música. Mas a música é uma coisa abstrata e a voz, pelo contrário, é capaz de tornar a imagem subjetiva. Por outras palavras, enquanto a câmara torna a imagem objetiva, ao aproximar (...) uma imagem da realidade, a narração torna-as subjetivas".[16]

O filme destaca-se igualmente pela composição cuidada dos planos, por uma letargia na representação e ação, mas também pela simplicidade onírica dos cenários.[13] De facto, o nevoeiro assume preponderância ao longo da obram tomando conta da imagem, num presságio que antecipa o destino dos protagonistas. Toda esta carga imagética do filme o coloca num universo atemporal, que não se insere puramente no cinema clássico nem contemporâneo.

A cineasta justificou a opção pela imagem a preto e branco suavizada como tentativa de unir todas as realidades, memórias e fantasias evocadas ao longo da narrativa.[12] Ainda assim, como contraste, surgem alguns planos a cores, como a panorâmica inicial numa casa em ruínas que remete para uma memória esquecida. Na segunda metade do filme, um flashback numa floresta introduz de novo as cores à obra, atribuindo ao local uma componente encantada e sugere que a cena pode não resultar só da memória, mas também da imaginação. Apesar de a sequência ser interrompida pelo preto e branco, a imagem retoma a coloração quando a câmera revela os tons irreais da floresta e dos espectros em redor do casal.[20]

Distribuição

Lançamento

Frágil como o Mundo foi distribuído comercialmente em Portugal pela Atalanta Filmes, tendo estreado a 20 de julho de 2001 nos cinemas King (Lisboa) e Charlot (Porto).[4] A Atalanta Filmes viria também a editar Frágil como o Mundo em VHS. Em França, o filme chegou às salas de cinema a 25 de agosto de 2002, pela distribuidora Gémini Films.[21]

Festivais

Após a sua estreia em Portugal, o filme integrou a secção Novos Territórios da edição de agosto de 2001 do Festival Internacional de Cinema de Veneza[5] e foi exibido a 28 de maio de 2002 no Zlín Film Festival (Chéquia). Desde então, a obra tem integrados outros festivais internacionais de cinema, no âmbito de sessões de retrospetiva das obras de Rita Azevedo Gomes. De entre esses eventos, destacam-se os seguintes:

Receção

Audiência

Frágil Como o Mundo foi visto nas salas de cinema portuguesas, no ano da sua estreia, por cerca de 1.600 espectadores.[25]

Crítica

Aquando o seu lançamento em Portugal, tal como com a primeira longa-metragem de Azevedo Gomes, também Frágil Como o Mundo suscitou reações extremadas e contraditórias. Desde então, ao rever a obra da cineasta, vários críticos de cinema consideraram Frágil Como o Mundo o seu melhor filme. Entre eles estão Hugo Gomes (C7nema)[26] e Filipe Furtado (Revista Cinética).[27] Iván Zgaib (La Fuga) revelou-se impressionado com a obra, considerando-a "difícil de classificar, como uma espécie de OVNI cinematográfico que aparecia na tela: misterioso, hipnotizante, cativante".[18] Luís Miguel Oliveira, na Ípsilon, concorda que se nota uma maior ousadia da cineasta neste filme, de modo a "entrar nos terrenos mais delirantes, optar pelas soluções mais arriscadas, sem nunca perder o pé e sem que nunca se esvaia a sensação de uniformidade e de justeza".[12] Carla Oliveira, num texto no Zinematógrafo, defende que Rita Azevedo Gomes usa Frágil Como o Mundo para mesclar vários elementos românticos "à perfeição, criando um filme visualmente impressionante, original e poético".[28]

Outros críticos da Ípsilon, Mário Jorge Torres e Kathleen Gomes, revelaram-se nos seus textos pouco impressionados com o filme, acima de tudo por considerarem que a sua abordagem repleta de literatura surge fora de tempo no cinema português.[29] Gomes acrescenta até que Frágil Como o Mundo está "tão repleta de citações (literárias e cinematográfias) que se torna difícil asseverar da originalidade do seu universo."[30]

Ver também

Referências

Ligações externas

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