Filadélfio (em latim: Philadelphium; em grego: Φιλαδέλφιον; romaniz.: Philadélphion; lit. "lugar do amor fraterno") foi uma praça pública quadrática que fora ornada com várias estátuas em pórfiro[1] que teria existido na capital imperial de Constantinopla (atual Istambul) próximo ao ponto onde a Mese, a principal avenida da cidade, divide-se em dois ramos.[2] Originalmente pensou-se que o sítio da praça estaria no local da Mesquita do Príncipe (Şehzade Camii), porém, segundo estimativas arqueológicas mais modernas e a interpolação com os dados textuais existentes, provavelmente estaria situada no sítio da Mesquita de Laleli.[3][4]
Segundo as Breves Notas Históricas, o Filadélfio era originalmente conhecido como Protiquisma (obra exterior) e o sítio de um portão no muro da cidade construído pelo imperador Caro (r. 283–284).[5] Raymond Janin sugere que este Protiquisma era um muro defensivo exterior protegendo os muros erigidos por Sétimo Severo (r. 193–211) durante a reconstrução de Bizâncio, possivelmente indicando que a cidade já tivesse se expandido para além da Muralha Severiana.[6] As Breves relatam que o sítio recebeu o nome Filadélfio de um grupo escultórico mostrando a reunião dos três filhos de Constantino após a morte do imperador em 337 e seu abraço como um sinal de devoção e suporte mútuos. Na verdade, o evento nunca ocorreu - os filhos de Constantino apenas encontraram-se brevemente na Panônia após sua morte - mas a estátua provavelmente existiu, similar a outra estátua de três cabeças de Constantino e dois de seus filhos, Constante e Constâncio, que as Breves relatam como tendo sido perdida no mar pelo tempo de Teodósio II (r. 408–450), simbolizando concórdia na família imperial.[7]
As Breves relatam a presença de estátuas de Constantino, o Grande (r. 306–337), sua mãe Helena, e seus filhos, todos sentados em tronos em torno de uma grande coluna quadrilateral de pórfiro, encimada por uma cruz dourada e marcada com o sinal de uma esponja na base, bem como estátuas de Juliano, o Apóstata (r. 361–363) e sua esposa, erroneamente registrada pelas Breves como Anastácia.[8] Talvez esta fosse uma estátua da irmã de Constantino, Anastácia.[9] Segundo as Bases, a coluna foi erigida por Constantino para celebrar uma visão celestial que ele recebera da cruz no local; estudioso modernos, contudo, consideram o complexo do monumento como originário em data posterior, comemorando a descoberta da Vera Cruz por Helena.[10] A Pátria de Constantinopla registra as estátuas de dois filhos de Constantino sentados em tronos situadas em lugares opostos na coluna. Estas estátuas aparentemente sobreviveram até o século XV, quando foram popularmente conhecido como "Juízes Verdadeiros".[11]
Em 1958, P. Verzone identificou[12] o grupo escultórico conhecido como Os Tetrarcas, que foi saqueado durante a Quarta Cruzada em 1204, levado à Veneza, e incorporado na Basílica de São Marcos,[13] com as estátuas sendo mencionadas nas Bases. Essa identificação foi reforçada pela descoberta de uma fragmento perdido do grupo próximo a Mesquita de Bodrum,[14] mas como os editores das Breves apontam, "há muitas discrepâncias entre aqueles grupos e as descrição das Bases aqui para permitir qualquer segurança".[15] Além disso, dada a imprecisão dos detalhes históricos nas Bases, é possível que a identificação com os filhos de Constantino esteja errada, enquanto é incerto através do texto determinar se este monumento haveria sobrevivido até o século VIII ou se teria sido destruído muito antes.[16]
Além de estátuas, sabe-se que o Filadélfio abrigava um complexo monumental chamado Capitólio, que fora edificado por Constantino à época da refundação de Bizâncio como Constantinopla.[17] Segundo as Breves, a procissão da cerimônia de dedicação da cidade teria iniciado no Filadélfio, e não na Magnaura.[15] No Sobre as Cerimônias do imperador Constantino VII Porfirogênito (r. 913–959) relata-se que nas procissões realizadas pela figura imperial à Igreja dos Santos Apóstolos no domingo de Páscoa, era necessário passar pelo Filadélfio.[18]
Referências
- Lavan 2011, p. 463.
- Maguire 2010, p. 64.
- Harrison 2014, p. 405.
- Necipoğlu 2001, p. 26; 58.
- Cameron 1984, p. 131.
- Janin 1964, p. 19–20.
- Cameron 1984, p. 151, 265–266.
- Cameron 1984, p. 135.
- Cameron 1984, p. 151, 153, 266.
- Cameron 1984, p. 135, 247.
- Cameron 1984, p. 247.
- Verzone 1958, p. 8–14.
- Honour 2009, p. 309.
- Striker 1981, p. 29.
- Cameron 1984, p. 265.
- Cameron 1984, p. 266.
- Byzantium 1200. «Capitolium». Consultado em 11 de setembro de 2015
- Necipoğlu 2001, p. 60.
Bibliografia
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