Fibrilação auricular, fibrilhação auricular ou fibrilação atrial é um ritmo cardíaco anormal caracterizado por batimentos rápidos e irregulares.[1] Os episódios têm muitas vezes início com breves períodos de batimentos anormais que com o passar do tempo se tornam estáveis e a intervalos maiores.[2] Muitos episódios são assintomáticos.[3] Em alguns podem-se manifestar sintomas como palpitações, desmaio, falta de ar ou dor no peito.[4] A doença está associada a um risco acrescido de insuficiência cardíaca, demência e acidente vascular cerebral (AVC).[3] É um tipo de taquicardia supraventricular.[5]

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Fibrilação auricular
Fibrilação auricular
Eletrocardiograma de um ritmo sinusal normal. Na fibrilação auricular, as ondas P, que representam a despolarização das aurículas, estão ausentes.
Especialidade cardiologia
Classificação e recursos externos
CID-10 I48
CID-9 427.31
CID-11 171698302
DiseasesDB 1065
MedlinePlus 000184
eMedicine med/184 emerg/46
MeSH D001281
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Os fatores de risco modificáveis mais comuns da fibrilação auricular são a hipertensão arterial e as valvulopatias.[6][7] Entre outros fatores de risco relacionados com o coração estão a insuficiência cardíaca, doença arterial coronária, miocardiopatia e cardiopatia congénita.[6] Em países desenvolvidos, a causa mais comum de valvulopatias é a febre reumática.[8] Entre os fatores de risco relacionados com os pulmões estão a doença pulmonar obstrutiva crónica, a obesidade e a apneia de sono.[3] Entre outros fatores de risco estão o consumo excessivo de álcool, diabetes e hipertiroidismo.[3][8] No entanto, metade dos casos não está associada a qualquer um destes riscos.[3] O diagnóstico é feito pela medição da pulsação arterial e pode ser confirmado com um eletrocardiograma (ECG).[9] Um ECG de fibrilação auricular revela não existirem ondas P e um ritmo ventricular irregular.[9]

A fibrilação auricular é geralmente tratada com medicamentos que diminuem a frequência cardíaca para valores normais ou que convertem o ritmo para o ritmo sinusal normal.[6] A conversão em ritmo sinusal normal pode ser também realizada com cardioversão, um procedimento que é muitas vezes usado em situações de emergências quando a pessoa se encontra instável.[10] Em algumas pessoas, a recorrência pode ser prevenida com ablação por radiofrequência.[11] No caso de haver risco acrescido de AVC, podem ser recomendadas aspirina ou anticoagulantes como a varfarina ou novos anticoagulantes orais.[3] Embora estes medicamentos diminuam o risco de AVC, aumentam o risco de hemorragias.[12]

A fibrilação auricular é a arritmia cardíaca grave mais comum.[3] Entre os países desenvolvidos, a condição afeta cerca de 0,6% dos homens e 0,4% das mulheres.[2] Na Europa e na América do Norte a prevalência da doença tem vindo a aumentar. Em 2005 afetava entre 0,4 e 1% da população,[13] enquanto que em 2014 afetava entre 2 a 3% da população.[2] A percentagem de pessoas com fibrilação auricular aumenta com a idade, sendo afetadas 0,14% das pessoas com menos de 50 anos, 4% das pessoas entre 60 e 70 anos e 14% das pessoas com mais de 80 anos.[2] Em 2013, a fibrilação auricular e o flutter auricular foram a causa de 112 000 mortes, um aumento em relação às 29 000 em 1990.[14] A primeira descrição conhecida de pulsação arterial irregular foi publicada por Jean-Baptiste de Sénac em 1749. O primeiro registo da fibrilação auricular em eletrocardiograma foi feita por Thomas Lewis em 1909.[3]

Sinais e sintomas

Quando surge subitamente um episódio de fibrilação auricular paroxística, o paciente sente dispneia e cansaço, podendo, dependente da patologia cardíaca associada, desencadear um pré-edema pulmonar. Isto deve-se à perda súbita de cerca de 20% do débito cardíaco. Pode haver uma diminuição da pressão arterial, mas não muito significativa, pois a diminuição do débito cardíaco leva de imediato a uma vasoconstrição periférica de modo a manter um equilíbrio entre o volume vascular (continente) e o seu enchimento (conteúdo). O paciente pode sentir palpitações ou um tremor sobre a região précordial. Muitas vezes é assintomático. Quando já existem sintomas por doença cardíaca preexistente, o aparecimento da fibrilação auricular vai agravar esses sintomas. A fibrilação auricular é frequente no pós operatório de algumas cirurgias cardíacas. É extremamente raro que a fibrilação auricular leve a um estado de choque cardiogénico.[15]

Complicações

O maior risco da FA são os quadros de embolia periférica, mais frequentemente cerebral. Ocorrem pela formação de trombos dentro das aurículas, mas sobretudo dentro dos apêndices auriculares ou aurículos. A agregação plaquetária é grande dentro dessas cavidades onde o sangue estagna devido à falta de contração das aurículas. Este risco existe sobretudo nos casos de fibrilação paroxítica e é quando o nódulo sinusal retoma o comando que os coágulos são ejectados para a aorta e desta seguem pelas carótidas em direção ao cérebro. É a uma das causas mais importantes de acidente vascular cerebral da pessoa idosa. Na meia idade, os pacientes de maior risco são os portadores de doenças da válvula mitral.[15]

Causas

Vídeo que descreve o mecanismo de fibrilação auricular. Inglês com legendas em português.

Na maioria das vezes, os pacientes diagnosticados com fibrilação apresentam arritmia cardíaca que pode ser causada por malformações presentes desde o nascimento, danos na estrutura do coração causados por infartos ou problemas em determinadas válvulas cardíacas.

No entanto, mesmo pessoas que não apresentam histórico de alteração no ritmo cardíaco ou malformações no órgão podem ser diagnosticadas com fibrilação atrial. Apesar de raros, existem casos de infecções virais que geram alteração no ritmo cardíaco.

Fisiopatologia

Trata-se uma atividade elétrica caótica, irregular e muito rápida de cerca de 350 a 600/min. Felizmente muitos destes estímulos não conseguem ser transmitidos aos ventrículos pois ao chegarem ao nódulo aurículo-ventricular encontram-no em período refratário e são bloqueados a este nível. Havendo uma anarquia eléctrica, não existe uma contração em massa do miocárdio auricular, há um enchimento ventricular deficiente e perde-se cerca de 20% do débito cardíaco.[16]

Condução
Ritmo sinusal
Thumb
Fibrilação auricular
Thumb

Em muitos casos (sobretudo no idoso) um episódio é desencadeado por uma extrassístole supraventricular principalmente se ela tiver origem na desembocadura das veias pulmonares.[17]

A fibrilação auricular pode ser

  • paroxística - episódios de arritmia que se resolvem espontaneamente -
  • persistente - que tem duração prolongada, mas também se resolve espontaneamente -
  • permanente, quando não há retorno ao ritmo normal.

Diagnóstico

Existem vários exames que podem ser feitos para obter o diagnóstico de FA. Geralmente, médicos solicitam esses testes quando há a presença de sintomas. Esses exames são: Eletrocardiograma, holter, ecocardiograma, monitor cardíaco móvel, monitor de eventos, eletrocardiograma transtorácico.

Tratamento

O tratamento depende da patologia co-existente e da idade do paciente.

  • o uso permanente de anticoagulantes nos pacientes com patologia da válvula mitral.
  • Administração de bloqueadores dos canais de cálcio do grupo das Fenilalquilaminas, "Verapamilo" (bloqueiam os focos ectópicos auriculares) na prevenção do aparecimento das extrassístoles que desencadeiam os episódios.
  • Os digitálicos ajudam a manter uma resposta ventricular menos irregular
  • Os antiagregantes plaquetares nas pessoas idosas com fibrilação auricular permanente
  • Em pacientes jovens, pode tentar-se a ablação, que consistem na aplicação, com o uso de cateteres, de ondas de rádio de alta frequência nas áreas próximas à junção da veia pulmonar com o átrio, bloqueando o focos que originam as extrassístoles que desencadeam a fibrilação.
  • Dado o risco de embolia, a desfibrilação só deve ser feita se a resposta for muito rápida e difícil de reverter, com edema pulmonar grave, o que não é muito frequente, e sempre após anticoagulação intra-venosa (heparina). Está reservada aos casos de colapso hemodinâmico (instabilidade tensional, choque). Cargas iniciais de 200 Joules geralmente revertem o ritmo desordenado ao normal. Após o episódio inicial, o risco de recorrências é alto, como ou sem controlo dos fatores que podem perpetuar a fibrilação como o hipertiroidismo ou a cafeína que aumentam as possibilidades de aparecimento das extrassístoles supraventriculares.

Referências

  1. «Heart Disease Other Related Conditions». cdc.gov. 3 de Setembro de 2014. Consultado em 19 de fevereiro de 2015
  2. Zoni-Berisso, M; Lercari, F; Carazza, T; Domenicucci, S (2014). «Epidemiology of atrial fibrillation: European perspective.». Clinical epidemiology. 6: 213–20. PMID 24966695. doi:10.2147/CLEP.S47385
  3. Munger, TM; Wu, LQ; Shen, WK (janeiro de 2014). «Atrial fibrillation.». Journal of biomedical research. 28 (1): 1–17. PMID 24474959. doi:10.7555/JBR.28.20130191
  4. Gray, David (2010). Chamberlain's Symptoms and Signs in Clinical Medicine: An Introduction to Medical Diagnosis 13ª ed. London: Hodder Arnold. pp. 70–1. ISBN 9780340974254
  5. Urman, edited by Linda S. Aglio, Robert W. Lekowski, Richard D. (2015). Essential clinical anesthesia review : keywords, questions and answers for the boards. [S.l.: s.n.] p. 480. ISBN 9781107681309
  6. Anumonwo, JM; Kalifa, J (Novembro de 2014). «Risk Factors and Genetics of Atrial Fibrillation.». Cardiology clinics. 32 (4): 485–494. PMID 25443231. doi:10.1016/j.ccl.2014.07.007
  7. Nguyen, TN; Hilmer, SN; Cumming, RG (10 de setembro de 2013). «Review of epidemiology and management of atrial fibrillation in developing countries.». International Journal of Cardiology. 167 (6): 2412–20. PMID 23453870. doi:10.1016/j.ijcard.2013.01.184
  8. Mischke, K; Knackstedt, C; Marx, N; Vollmann, D (Abril de 2013). «Insights into atrial fibrillation.». Minerva medica. 104 (2): 119–30. PMID 23514988
  9. Ferguson C, Inglis SC, Newton PJ, Middleton S, Macdonald PS, Davidson PM (2013). «Atrial fibrillation: stroke prevention in focus». ACC. 00 (2): 92–8. PMID 24054541. doi:10.1016/j.aucc.2013.08.002
  10. Oishi, ML; Xing, S (Fevereiro de 2013). «Atrial fibrillation: management strategies in the emergency department.». Emergency medicine practice. 15 (2): 1–26; quiz 27. PMID 23369365
  11. Amerena, JV; Walters, TE; Mirzaee, S; Kalman, JM (4 Novembro de 2013). «Update on the management of atrial fibrillation.». The Medical journal of Australia. 199 (9): 592–7. PMID 24182224. doi:10.5694/mja13.10191
  12. Steinberg, BA; Piccini, JP (14 de abril de 2014). «Anticoagulation in atrial fibrillation.». BMJ (Clinical research ed.). 348: g2116. PMID 24733535. doi:10.1136/bmj.g2116
  13. Fuster, Valentin (2006). «ACC/AHA/ESC 2006 Guidelines for the Management of Patients with Atrial Fibrillation: a report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines and the European Society of Cardiology Committee for Practice Guidelines (Writing Committee to Revise the 2001 Guidelines for the Management of Patients With Atrial Fibrillation): developed in collaboration with the European Heart Rhythm Association and the Heart Rhythm Society». Circulation. 114 (7): e257–354. PMID 16908781. doi:10.1161/CIRCULATIONAHA.106.177292
  14. Braunwald, Tratado de Cardiologia 8e. edição espanhola, Elsevier, 2009 ISBN 978-8480863766
  15. H. Harold Friedman, Diagnostic Electrocardiography and Vectorcardiography, Mcgraw-Hill, 3rd edition (January 1985) ISBN 978-0070224278
  16. Shih-Ann Chen, http://circ.ahajournals.org/content/100/18/1879.full, acesso 04-Novembro-2012

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