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compositor e pianista brasileiro Da Wikipédia, a enciclopédia livre
Ernesto Júlio de Nazareth (Rio de Janeiro, 20 de março de 1863 — Rio de Janeiro, 1 de fevereiro de 1934) foi um pianista e compositor brasileiro, considerado um dos grandes nomes do maxixe, este apontado, desde os anos 1920, como um subgênero do choro.[1]
Ernesto Nazareth | |
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Ernesto Nazareth na velhice | |
Informação geral | |
Nome completo | Ernesto Julio de Nazareth |
Nascimento | 20 de março de 1863 |
Origem | Rio de Janeiro, Município Neutro, Império do Brasil |
Morte | 1 de fevereiro de 1934 (70 anos) |
Local de morte | Rio de Janeiro, Distrito Federal, Estados Unidos do Brasil |
Gênero(s) | Choro, Polka, Samba, Tango, Marcha, Erudito |
Instrumento(s) | piano |
Página oficial | Página oficial |
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É o patrono da cadeira de número 28 da Academia Brasileira de Música.[2]
Ernesto Nazareth nasceu no então Morro do Nheco, atual Morro do Pinto,[3] no bairro do Santo Cristo. Era filho do despachante aduaneiro Vasco Lourenço da Silva Nazareth (1838 - 1940) e de Carolina Augusta Pereira da Cunha. Sua mãe foi quem lhe apresentou ao piano e lhe ministrou as primeiras noções do instrumento. Sua mãe fazia questão ele ouvisse músicas do repertório clássico e Romântico, e, dentre todos os compositores, Frédéric Chopin foi o que mais despertou interesse de Nazareth. Ao ouvir sua mãe tocar, frequentemente dançava e criava sua própria coreografia.[4]
Após a precoce morte da mãe em 1874, Nazareth passou a receber lições de Eduardo Rodolfo de Andrade Madeira, amigo da família e, mais tarde, lições de Charles Lucien Lambert, um afamado professor de piano de Nova Orleans radicado no Rio de Janeiro e grande amigo de Louis Moreau Gottschalk.
Aos 14 anos, compôs sua primeira música, a polca-lundu "Você bem sabe", editada no ano seguinte pela famosa Casa Arthur Napoleão. A composição foi dedicada ao pai de Nazareth.
Com duas semanas para completar 17 anos, Nazareth fez sua primeira apresentação pública no Club Mozart, clube o qual era frequentado pelo imperador Pedro II e sua família.[5]
Em 1879, escreveu a polca "Cruz, perigo!!".. No ano seguinte, compôs a polca "Não caio noutra!!!", seu primeiro grande sucesso, com diversas reedições. Em 1885, apresentou-se em concertos em diferentes clubes da corte. Em 1893, a Casa Vieira Machado lançou uma nova composição sua, o tango "Brejeiro", com o qual alcançou sucesso nacional e até mesmo internacional, sendo publicada em Paris e nos Estados Unidos em 1914.
Em 14 de julho de 1886, casou-se com Teodora Amália Leal de Meireles, com quem teve quatro filhos: Eulina, Diniz, Maria de Lourdes e Ernestinho.
Seu primeiro concerto como pianista realizou-se em 1898. No ano seguinte, foi feita a primeira edição do tango "Turuna". Em 1902, teve sua primeira obra gravada, o tango brasileiro "Está Chumbado", pela Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro. Em 1904, sua composição "Brejeiro" foi gravada pelo cantor Mário Pinheiro com o título de "O sertanejo enamorado", com letra de Catulo da Paixão Cearense. Em 1908, começou a trabalhar como pianista na Casa Mozart. No ano seguinte, participou de recital realizado no Instituto Nacional de Música, interpretando a gavota "Corbeille de fleurs" e o tango característico "Batuque".
Em 1919, começou a trabalhar como pianista demonstrador da Casa Carlos Gomes à Rua Gonçalves Dias, de propriedade do também pianista e compositor Eduardo Souto, com a função de executar músicas para serem vendidas. Na época, a maneira mais comum de se tomar conhecimento das as novidades musicais era através das casas de música e seus pianistas demonstradores. Não havia rádio, os discos eram raros e o cinema, mudo[6].
Em 1919, a Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro gravou os tangos "Sarambeque" e "Menino de ouro" e a valsa "Henriette". E, em 1920, Heitor Villa-Lobos dedicou, a ele, a peça "Choro nº 1", para violão.
Intérprete constante de suas próprias composições, Nazareth apresentava-se como pianista em salas de cinema, bailes, reuniões e cerimônias sociais. De 1909 a 1913 e de 1917 a 1918, trabalhou na sala de espera do antigo Cinema Odeon (anterior ao prédio moderno da Cinelândia), onde muitas personalidades ilustres iam apenas para ouvi-lo. Foi em homenagem à famosa sala de exibições que Nazareth batizou sua composição mais famosa, o tango "Odeon". No mesmo Cine Odeon, travou conhecimento entre outros com o pianista Arthur Rubinstein e com o compositor Darius Milhaud, que viveu no Brasil entre 1917 e 1918 como secretário diplomático da missão francesa.
"Seu jogo fluido, desconcertante e triste ajudou-me a compreender melhor a alma brasileira", declarou Milhaud sobre Ernesto Nazareth. Trechos de canções de Nazareth foram citadas por Milhaud em seu balé Le Boeuf sur le Toit (O Boi no Telhado) e a suíte "Saudades do Brasil".
Em 1922, foi convidado pelo compositor Luciano Gallet a participar de um recital no Instituto Nacional de Música do Rio de Janeiro, onde executou seus tangos "Brejeiro", "Nenê", "Bambino" e "Turuna". Esta iniciativa encontrou resistência, tendo sido necessária a intervenção policial para garantir a realização do concerto.
Em 1926, Nazareth embarcou para uma turnê no estado de São Paulo, que foi planejada inicialmente para durar 3 meses mas que acabou se prolongando por 11 meses, com concertos na capital, Campinas, Sorocaba e Tatuí. Tinha, então, 63 anos, e foi a primeira vez que saiu do estado do Rio de Janeiro. Foi homenageado pela Sociedade de Cultura Artística de São Paulo e tocou no Conservatório Dramático e Musical de Campinas. Apresentou-se no Teatro Municipal de São Paulo, sendo precedido por uma conferência do escritor e musicólogo Mário de Andrade sobre sua obra, na qual afirmou[6]:
“ | Por todos esses caracteres e excelências, a riqueza rítmica, a falta de vocalidade, a celularidade, o pianístico muito feita de execução difícil, a obra de Ernesto Nazaré se distancia da produção geral congênere. É mais artística do que a gente imagina pelo destino que teve, e deveria estar no repertório dos nossos recitalistas. Posso lhes garantir que não estou fazendo nenhuma afirmativa sentimental não. É a convicção desassombrada de quem desde muito observa a obra dele. Se alguma vez a prolixidade encomprida certos tangos, muitas das composições deste mestre de dança brasileira são criações magistrais, em que a força concéptica, a boniteza da invenção melódica, a qualidade expressiva, estão dignificadas por uma perfeição de forma e equilíbrio surpreendentes. | ” |
Em 1927, Nazareth retornou ao Rio de Janeiro.
Foi um dos primeiros artistas a tocar na Rádio Sociedade (atual Rádio MEC do Rio de Janeiro). Em 1930, concluiu sua última composição, a valsa "Resignação". No mesmo ano, gravou, ao piano, a polca "Apanhei-te, cavaquinho" e os tangos brasileiros "Escovado", "Turuna" e "Nenê", de sua autoria. Em 1932, apresentou um recital só com músicas de sua autoria em um concerto precedido por uma conferência de Gastão Penalva. Neste mesmo ano, realizou uma turnê pelo sul do país.
Vivia em uma casa no bairro de Ipanema desde 1917. Nos final dos anos 1920, seu problema de audição, resultante de uma queda que sofrera na infância, é agravado[6]. Em 1932, foi diagnosticado como portador de sífilis e, em 1933, foi internado na Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá.
No dia 1 de fevereiro de 1934, Nazareth fugiu do manicômio. Seu corpo só foi encontrado três dias depois, flutuando nas águas da represa que abastecia a Colônia. A causa de sua morte foi registrada como asfixia por submersão. Foi sepultado no Cemitério de São Francisco Xavier, no Caju, mesma região da cidade onde nascera[6].
Deixou 211 peças completas para piano. Suas obras mais conhecidas são: "Apanhei-te, cavaquinho", "Ameno Resedá" (polcas), "Confidências", "Coração que sente", "Expansiva", "Turbilhão de beijos" (valsas), "Odeon", "Fon-fon", "Escorregando", "Brejeiro" "Bambino" (tangos brasileiros).
No fim do século XIX e começo do XX, a palavra "choro" designava não um gênero, mas certos conjuntos musicais (compostos de flauta, cavaquinho e violões) que animavam festas (forrobodós) tocando polcas, lundus, habaneras e mazurcas e outros gêneros estrangeiros de uma maneira sincopada.
O tango brasileiro foi criado pelos chorões como uma variante altamente sincopada da habanera, gênero cubano que também era chamado tango-habanera e que, na sua variante brasileira, passou a ser chamado tango brasileiro. Na sua forma de música de dança, passou a ser designado de maxixe, dança proibida ou malvista na época de Nazareth. Dava-se-lhe o nome de "Tango Brasileiro" para se esconder a relação com o maxixe dessas composições. Alguns relatos afirmam também uma diferença com relação à harmonia, sendo, a do tango brasileiro, um pouco mais complexa do que a de seu "irmão", o maxixe.[7]
Suas composições, apesar de extremamente pianísticas, por muitas vezes retrataram o ambiente musical das serestas e choros, expressando através do instrumento a musicalidade típica do violão, da flauta, do cavaquinho, instrumental característico do choro, fazendo-o revelador da alma brasileira, ou, mais especificamente, carioca.
A esse respeito, diz o musicólogo Mozart de Araújo: "As características da música nacional foram de tal forma fixadas por ele e de tal modo ele se identificou com o jeito brasileiro de sentir a música, que a sua obra, perdendo embora a sua funcionalidade coreográfica imediata, se revalorizou, transformando-se hoje no mais rico repositório de fórmulas e constâncias rítmico-melódicas, jamais devidas, em qualquer tempo, a qualquer compositor de sua categoria".
Na produção musical do compositor, destacam-se numericamente os tangos (em torno de 90 peças), as valsas (cerca de 40) e as polcas (cerca de 20), destinando-se o restante a gêneros variados como mazurcas, schottisches, marchas carnavalescas etc. É sabido que o compositor rejeitava a denominação de maxixe a seus tangos, distinguindo-se daquele fundamentalmente pelo caráter pouco coreográfico e predominantemente instrumental de sua obra.
Deve-se ainda ressaltar em sua produção a influência de compositores europeus, notadamente de Chopin,[8] compositor cuja obra se dedicou a estudar meticulosamente e cuja inspiração se reflete, sobretudo, na elaboração melódica de suas valsas.
Ernesto Nazareth ouviu os sons que vinham da rua, tocados por nossos músicos populares, e os levou para o piano, dando-lhes roupagem requintada. Sua obra se situa, assim, na fronteira do popular com o erudito, transitando à vontade pelas duas áreas. Em nada destoa se interpretada por um concertista, como Arthur Moreira Lima, ou um chorão como Jacob do Bandolim. O espírito do choro estará sempre presente, estilizado nas teclas do primeiro ou voltando às origens nas cordas do segundo. E é esse espírito, essa síntese da própria música de choro, que marca a série de seus quase cem tangos-brasileiros, à qual pertence "Odeon".
Mário de Andrade assim definiu Nazareth: "compositor brasileiro dotado de uma extraordinária originalidade, porque transita com fôlego entre a música popular e erudita, fazendo-lhe a ponte, a união, o enlace".
Em 2004, por ocasião dos 70 anos da morte do compositor, a STV em parceria com a produtora paulistana We Do Comunicação apresentou o documentário "Ernesto Nazareth", com direção de Dimas de Oliveira Junior e Felipe Harazim, refazendo a trajetória artística do compositor desde seu primeiro sucesso, "Você bem sabe", de 1877, quando tinha 14 anos. Estão presentes no documentário declarações das pianistas Eudóxia de Barros e Maria Teresa Madeira, do compositor Osvaldo Lacerda, e do biógrafo Luiz Antonio de Almeida, entre outros.
Em 2016 seu nome foi escolhido em votação popular para batizar uma nova rua na região portuária do Rio de Janeiro, o Passeio Ernesto Nazareth, inaugurado em 3 de dezembro daquele ano.
Brejeiro é uma das músicas de ambiente no jogo eletrônico Civilization VI de 2016, quando se joga com o Brasil. A versão usada no jogo foi composta e dirigida por Geoff Knorr.[9]
Ernesto Nazareth (piano), Pedro de Alcântara (flautim)
Ernesto Nazareth (piano solo)
O Diploma Ernesto Nazareth é uma uma honraria concedida pelo Instituto Cultural Cravo Albin (ICCA) a artistas com representatividade na história da música popular brasileira.
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