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Crenças errôneas mantidas com certeza absoluta pelo indivíduo. Da Wikipédia, a enciclopédia livre
Delírio (às vezes denominado delusão) é uma crença errada mantida com grande convicção. É um sintoma que ocorre com frequência em transtornos psicóticos como na esquizofrenia[1] no transtorno delirante persistente,[2] nos episódios maníacos do transtorno bipolar[3] ou na depressão psicótica.[4] Podem ser classificados como delírios persecutórios, delírios de grandeza, ciúme patológico, delírios somatoformes, delírios amorosos ou um misto desses.
Delírios ocorrem tipicamente no contexto de doenças mentais ou neurológicas, embora não estejam ligados a qualquer moléstia em particular e tenham sido encontradas no contexto de muitos estados patológicos (tanto físicos quanto mentais). Todavia, elas são de particular importância no diagnóstico de desordens psicóticas e particularmente na esquizofrenia.
Embora conceitos não-específicos de loucura estejam em circulação há vários milhares de anos, o psiquiatra e filósofo Karl Jaspers foi o primeiro a definir os três critérios principais para que uma crença seja considerada delirante, em seu livro General Psychopathology:
Estes critérios ainda sobrevivem no diagnóstico da psiquiatria moderna. Na edição mais atual do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, o delírio (juízo) é definido como:
A definição moderna e os critérios originais de Jaspers têm sido objeto de críticas, posto que contra-exemplos podem ser encontrados para cada característica definida.
Estudos em pacientes psiquiátricos tem mostrado que os delírios podem variar em intensidade e convicção através do tempo, o que sugere que certeza e incorrigibilidade não são componentes necessários de uma crença delirante.[5]
Delírios não têm necessariamente de ser falsos ou ter "inferência incorreta sobre a realidade externa".[6] Algumas crenças religiosas ou espirituais (tais como "eu acredito na existência de Deus"), incluindo aquelas diagnosticadas como delirantes, podem não ser falsificáveis por sua natureza, e portanto não podem ser descritas como falsas ou incorretas.[7]
Em outras situações, o delírio pode se revelar uma crença real.[8] Por exemplo, o ciúme delirante, onde uma pessoa acredita que seu parceiro está sendo infiel (e pode mesmo segui-lo até o banheiro, acreditando que ele vai ver a amante até nessas mínimas ausências), pode resultar no parceiro fiel ser levado à infidelidade pela tensão constante e sem motivo causada nele pelo parceiro delirante. Neste caso, o delírio não deixa de ser delírio pelo fato do conteúdo ter-se revelado posteriormente como verdadeiro.
Em outros casos, o delírio pode ser assumido como falso pelo médico ou psiquiatra que avalia a crença, porque ele parece ser improvável, bizarro ou mantido com convicção excessiva. Psiquiatras raramente têm tempo ou recursos para conferir a validade das afirmações de uma pessoa levando a que algumas crenças verdadeiras sejam classificadas erroneamente como delirantes.[9] Isto é conhecido como efeito Martha Mitchell, do nome da esposa do secretário de justiça dos EUA que afirmou que atividades ilegais estavam acontecendo na Casa Branca. Na época, suas afirmações foram recebidas como sinais de doença mental, e somente depois que o escândalo de Watergate estourou, comprovou-se que ela tinha razão (e estava sã).
Fatores similares têm levado a críticas sobre a definição de Jaspers de delírios verdadeiros, os quais seriam, finalmente, "incompreensíveis". Críticos (tais como R. D. Laing), têm argumentado que isto leva a que o diagnóstico de delírio seja baseado na compreensão subjetiva de um psiquiatra em particular, o qual pode não ter acesso a toda a informação que poderia tornar uma crença interpretável.
Outra dificuldade com o diagnóstico de delírios é que quase todas estas características podem ser encontradas em crenças "normais". Muitas crenças religiosas contêm exatamente as mesmas características, embora não sejam universalmente consideradas delirantes. De modo semelhante, como Thomas Kuhn demonstrou em The Structure of Scientific Revolutions (seu livro pioneiro sobre a história e sociologia da ciência), cientistas podem manter fortes crenças fixas em teorias científicas apesar de consideráveis evidências em contrário quanto a sua validade.[10]
Estes fatores levaram o psiquiatra Anthony David a notar que "não há uma definição aceitável (em vez de aceita) do que seja delírio".[11] Na prática, psiquiatras tendem a diagnosticar uma crença como delirante se ela é ou patentemente bizarra, causando sofrimento significativo, ou preocupa excessivamente o paciente, especialmente se a pessoa não se deixa influenciar subsequentemente por contraevidências ou argumentos razoáveis.
O pensamento constitui a função da nossa atividade psicológica capaz de orientar e integrar as representações (imagens), bem como os demais dados elaborados pelo conhecimento (ideias) em juízos e em conceitos (concretos ou abstratos). No delírio, os mecanismos associativos do indivíduo desviam-se da realidade ou da lógica, podendo conduzir a juízos e raciocínios anormais e à produção de alucinações, percepções e ideias delirantes - ou seja, conteúdos irreais que se impõem a este indivíduo com uma convicção inabalável.
Emil Kraepelin definia no seu tratado de psiquiatria que "a ideia delirante é uma representação morbidamente falseada, cuja demonstração não se pode comprovar". Esta ideia, ou conjunto de ideias, não é acessível ao raciocínio e argumentação lógica nem é modificada pelo confronto com a realidade.
Podem ser classificados como primários (que aparecem de forma espontânea) ou secundários (compreende-se o conteúdo do delírio a partir da história pessoal do doente). Por exemplo, uma mulher que não aceita que seu marido a abandonou pode desenvolver a ideia delirante de que ele morreu. Também podem ser classificados pelo tema. Os mais comuns são[12]:
Outros: reformador, invenção, filiação...
As ideia delirantes isoladas, fragmentárias, surgem em grande número de situações, por exemplo, nas patologias demenciais, em estados confusionais de origem orgânica e em situações de uso de substâncias psicotrópicas.
O delírio, ou conjunto de ideias delirantes, obriga com frequência ao recurso a meios especializados e mesmo ao internamento psiquiátrico.
Apesar de ainda não ser bem conhecida a etiologia bioquímica do delírio existem medicamentos que controlam eficazmente e na maioria dos casos este sintoma.
Especificação para possíveis subtipos: Os tipos seguintes podem ser especificados, caso se deseje: tipo persecutório; tipo litigioso; tipo autoreferencial; tipo megalomaníaco; tipo hipocondríaco (somático); tipo ciumento; tipo erotomaníaco.
Esta é uma categoria residual para distúrbios delirantes persistentes que não preenchem os critérios para distúrbios delirantes (F22.0). Distúrbios, nos quais delírios são acompanhados por vozes alucinatórias persistentes ou por sintomas esquizofrênicos insuficientes para satisfazer critérios para esquizofrenia, deveriam ser codificados aqui. Distúrbios delirantes com duração inferior a três meses deveriam, no entanto, ser codificados, pelo menos temporariamente, em F23.
Inclui transtorno delirantes com duração inferior a três meses.
Também conhecido como Folie à deux ("loucura a dois" em francês):
Geralmente são pessoas da mesma família com um vínculo de dependência entre eles. Apenas um deles é realmente psicótico e as ideias delirantes induzidas da vítima desaparecem em poucos dias quando são separados.[15] Por exemplo: Um filho que vive isolado com seu pai paranoico só percebe que eles não estão sendo perseguidos por uma conspiração quando ambos são internados em quatros diferentes do hospital. As ideias delirantes do pai podem desaparecer com antipsicóticos enquanto as do filho desaparecem mesmo sem remédios.
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