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Em astronomia, uma curva de fase descreve o brilho de um corpo refletor como uma função do seu ângulo de fase. O brilho normalmente é referido à magnitude absoluta do objeto, que, por sua vez, é a magnitude aparente à distância de uma unidade astronômica da Terra e do Sol. O ângulo de fase é igual ao arco subtendido pelo observador e o Sol, medido no objeto.
A curva de fase é útil para caracterizar o regolito (solo) e a atmosfera do objeto celeste. Ela também é a base para calcular o albedo geométrico e o albedo de Bond do objeto. Na geração de efeméride, a curva de fase é utilizada em conjunto com as distâncias do objeto para o Sol e a Terra para calcular a magnitude aparente.
A curva de fase de Mercúrio é muito íngreme, o que é característico de um corpo cujo regolito está exposto à visão. Em ângulos de fase maiores que 90° (fase crescente), o brilho decresce de forma especialmente brusca. A forma da curva de fase indica uma inclinação média na superfície de Mercúrio de aproximadamente 16°,[1] o que é ligeiramente mais suave do que a da Lua. Ao se aproximar do ângulo de fase 0° (fase totalmente iluminada), a curva sobe para um pico agudo. Este aumento repentino do brilho é chamado efeito da oposição,[2][3] porque para a maioria dos corpos (embora não para Mercúrio) ele ocorre na oposição astronômica, quando o corpo está oposto ao Sol no céu. A largura do crescimento de oposição para Mercúrio indica que tanto o estado de compactação do regolito quanto a distribuição de tamanhos de partículas no planeta são semelhantes aos da Lua.[1]
As primeiras observações visuais que contribuíram para a curva de fase de Mercúrio foram realizadas por G. Muller[4] nos anos 1800 e por André-Louis Danjon[5][6][7] na metade do século XX. W. Irvine e colegas[8] utilizaram fotometria fotoelétrica nos anos 1960. Alguns desses dados iniciais foram analisados por G. de Vaucouleurs,[9][10] sumarizados por D. Harris[11] e utilizados para predizer magnitudes aparentes no Almanaque Astronômico[12] por várias décadas. Novas observações altamente acuradas, cobrindo a mais ampla faixa de ângulos de fase até o momento (de 2° a 170°), foram realizadas por A. Mallama, D. Wang e R. Howard,[1] usando o instrumento Large Angle and Spectrometric Coronograph (LASCO) e o satélite Solar and Heliospheric Observatory (SOHO) da Agência Espacial Europeia e da NASA. Eles também fizeram novas observações com CCD a partir do solo. Esses dados são, atualmente, a mais importante fonte para a curva de fase usada no Almanaque Astronômico[13] para predizer magnitudes aparentes.
O brilho aparente de Mercúrio visto da Terra é maior no ângulo de fase 0° (conjunção superior com o Sol), quando ele pode atingir a magnitude -2,6.[14] Em ângulos de fase próximos a 180° (conjunção inferior), o planeta perde brilho até a magnitude +5,[14] sendo que o brilho exato depende do ângulo de fase naquela conjunção específica. Esta diferença de mais de 7 magnitudes corresponde a uma variação de mais de mil vezes no brilho aparente.
A curva de fase relativamente plana de Vênus é característica de um planeta enevoado.[14] Em contraste com Mercúrio, cuja curva apresenta um pico forte ao se aproximar do ângulo de fase 0° (fase cheia), a de Vênus é arredondada. O largo ângulo de espalhamento da iluminação pelas nuvens, em comparação com o espalhamento mais estreito pelo regolito, causa este achatamento da curva de fase. Vênus apresenta um aumento de brilho perto do ângulo de fase 170°, quando está num crescente fino, devido ao espalhamento da luz solar por gotículas de ácido sulfúrico que estão acima do topo das nuvens do planeta.[15] Mesmo além dos 170° o brilho não decresce muito bruscamente.
A história da observação e análise da curva de fase de Vênus é similar à de Mercúrio. O melhor conjunto de observações e interpretações modernas foi reportado por A. Mallama, D. Wang e R. Howard.[15] Eles utilizaram o instrumento LASCO na sonda SOHO e equipamentos de CCD em solo para observar a curva de fase de 2° até 179°. Como com Mercúrio, esses novos dados são a principal fonte da curva de fase usada no Almanaque Astronômico[13] para predizer magnitudes aparentes.
Em contraste com Mercúrio, o brilho aparente máximo de Vênus visto da Terra não ocorre no ângulo de fase 0°. Como a curva de fase de Vênus é relativamente plana, enquanto sua distância para a Terra varia bastante, o brilho máximo ocorre quando o planeta está em crescente, no ângulo de fase 125°, quando o brilho de Vênus pode chegar à magnitude -4,9.[14] Próximo da conjunção inferior, o planeta tipicamente perde brilho até a magnitude -3,[14] embora o valor exato dependa do ângulo de fase. A variação típica do brilho aparente de Vênus no curso de uma aparição é menos do que um fator de 10, ou apenas 1% da de Mercúrio.
A curva de fase da Terra não foi determinada tão precisamente quanto as de Mercúrio e Vênus, porque o seu brilho integrado é difícil de medir a partir da superfície. Em lugar da observação direta, o brilho da Terra refletido na porção da Lua não iluminada pelo Sol serviu como substituto. Algumas medições diretas da luminosidade da Terra foram obtidas com a sonda EPOXI. Apesar de elas não cobrirem muito da curva de fase, elas revelam uma curva de luz rotacional causada pelo trânsito de oceanos escuros e massas de terra brilhantes através do hemisfério. P Goode e colegas no Observatório Solar Big Bear, na Califórnia, mediram o brilho da Terra[16] e T. Livengood da NASA analisou os dados da EPOXI.[17]
A Terra vista de Vênus, próxima da oposição do Sol, é extremamente brilhante, com magnitude -6. Para um observador em Marte nosso planeta apareceria mais luminoso perto do momento de máxima elongação do Sol, com magnitude aproximada de -1,5.
Apenas aproximadamente 50° da curva de fase de Marte podem ser observados da Terra, porque sua órbita é mais distante do Sol que a do nosso planeta. Há um efeito da oposição, mas ele é menos pronunciado que o de Mercúrio. A rotação de pontos da superfície brilhantes e escuros ao longo do seu disco e variações do estado de sua atmosfera (inclusive suas tempestades de poeira) provocam variações na curva de fase. R. Schmude[19][20] obteve muitas das medições de brilho usadas em uma abrangente análise da curva de fase realizada por A. Mallama.[18]
Como a órbita de Marte é consideravelmente excêntrica, seu brilho na oposição pode variar entre as magnitudes -3,0 e -1,4.[14] O brilho mínimo é aproximadamente magnitude +1,6,[14] quando Marte está no lado oposto do Sol em relação à Terra. Variações rotacionais podem aumentar ou reduzir o brilho de Marte em 5%, e tempestades de poeira globais podem aumentar sua luminosidade em 25%.[14][18]
Os planetas mais externos (Júpiter (planeta)|Júpiter]], Saturno, Urano e Netuno) estão tão distantes que apenas pequenas porções de suas curvas de fase próximas a 0° (fase cheia) podem ser avaliadas da Terra. Esta parte da curva para esses planetas enevoados é, geralmente, razoavelmente plana, como a de Vênus.
A magnitude aparente de Júpiter varia de -2,9 a -1,4, a de Saturno de -0,5 a +1,4, a de Urano de +5,3 a +6,0 e a de Netuno de +7,8 a +8,0. Muitas dessas variações se devem à distância. Entretanto, a variação de magnitude de Saturno também depende do seu sistema de anéis, conforme explicado abaixo.
O brilho do sistema Saturno depende da orientação do seu sistema de anéis. Os anéis contribuem mais para o brilho global do sistema quando eles estão mais inclinados para a direção da iluminação do Sol e para a visão do observador. Anéis bem abertos contribuem com 1 magnitude em comparação ao brilho somente do disco.[14] As partículas geladas que compõem os anéis também produzem um forte aumento de oposição. Imagens do Telescópio Espacial Hubble e da nave Cassini foram analisadas numa tentativa de caracterizar as partículas do anel com base em suas curvas de fase.[22][23][24][25]
A curva de fase da Lua se parece com a de Mercúrio devido às similaridades das superfícies e à falta de uma atmosfera em ambos os corpos.[27] Os dados da sonda Clementine, analisados por J. Hillier, B. Buratti e K. Hill,[28] indicam um aumento de oposição. A magnitude aparente da Lua na fase cheia é -12,7,[29] enquanto na fase quarto tem menos de 10% deste brilho.[26]
As curvas de fase de muitos satélites naturais de outros planetas[30][31] foram observadas e interpretadas. Os satélites gelados frequentemente exibem aumentos de brilho na oposição. Este comportamento foi usado para modelar suas superfícies.
As curvas de fase de muitos asteroides[32] foram observadas e eles também exibem aumentos da oposição. Os asteroides podem ser classificados fisicamente desta forma.[33] Os efeitos da rotação podem ser muito grandes e têm que ser segregados antes de a curva de fase ser calculada. Um exemplo de tal estudo foi reportado por R. Baker e colegas.[34]
Programas para caracterizar planetas fora do Sistema Solar dependem fortemente da espectroscopia para identificar constituintes e estados da atmosfera, especialmente aqueles que apontam para a presença de formas de vida ou que poderiam suportar a vida. Entretanto, o brilho pode ser medido para objetos do tamanho da Terra muito distantes, que são muito tênues para análise espectroscópica. A. Mallama[35] demonstrou que a análise da curva de fase pode ser uma ferramenta útil para identificar planetas que são similares à Terra. Além disso, J. Bailey[36] indicou que anomalias da curva de fase, como o excesso de brilho de Vênus, podem ser indicadores úteis de constituintes atmosféricos como a água, que podem ser essenciais para a vida no universo.
Inferências sobre regolitos a partir de curvas de fase são frequentemente baseadas na parametrização Hapke. Entretanto, num teste cego, M. Shepard e P. Helfestein[37] não encontraram forte evidência de que um conjunto particular de parâmetros Hapke derivados de dados fotométricos poderiam revelar singularmente o estado físico de amostras de laboratório. Esses testes incluíram a modelagem das funções de fase de três termos de Henyey-Greenstein e o efeito da oposição de retroespalhamento coerente. Este achado negativo sugere que o modelo de transferência de radiação desenvolvido por B. Hapke pode ser inadequado para a modelagem física baseada em fotometria.
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