Cultura Gerzeana
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A cultura Gerzeana (Nacada II) desenvolveu-se de 3500-3 200 a.C. nas regiões antes dominadas pelos amratianos (a cultura amratiana prosperou por mais um tempo na Núbia[1]) em um momento em que a precipitação média regrediu no Egito o que influi em como o deserto foi incorporado à cultura.[2][3] Neste período o número de assentamentos é reduzido e a então dominante Nacada é superada e possivelmente conquistada pela cidade de Hieracômpolis (mais ao sul); os sítios (agora murados com paredes de tijolos[4]) e cemitérios assistiram um aumento considerável como resultado do comércio com o exterior, desenvolvimento urbano, cultural e social, expansão territorial, crescente poder das elites regionais (monopólio comercial, guerras, ideologia e controle de recursos estratégicos[5][6]) e formação de grandes reinos no Nilo (Nacada, Hieracômpolis e Abidos são os principais[7][8]) que conflitaram entre si por hegemonia e melhor acesso a terras férteis.[9][10][11]; centros urbanos como Guebeleim e Abadia são eclipsados.[12] A deterioração das condições climáticas possivelmente provocou migrações maciças das populações do deserto que, em meio a convergência com os habitantes do Nilo, provocaram a expansão da população e a necessidade de uma maior organização social para que houvesse adequada produção de alimentos.[13][14]
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Os túmulos nacadanos mais simples eram covas retangulares, ovais ou circulares com pouco espólio tumular; os mais elaborados eram retangulares e possuíam compartimentos construídos com tijolos para armazenamento do espólio.[15] Caixões feitos com madeira ou cesta forrada com barro foram utilizados em inumações adultas, além disso, os corpos eram forrados com esteiras ou panos de linho; crianças eram sepultadas em vasos de cerâmica.[15]
A economia foi baseada na agricultura (trigo, cevada, linho), pecuária (bovinos, caprinos, ovinos, suínos, burros, e cães), pesca, caça (perdeu muito de sua importância[16][17]), extração mineral (cobre e ouro[18]) e comércio (marfim, ébano, ouro, cobre, incenso, peles de gatos selvagens, óleos, pedras e conchas importados; alabastro, contas de ouro, faiança, lâminas, "cabeça bovídea" exportados).[15] Partindo do pressuposto de que a população do Nilo era insuficiente para a irrigação artificial das lavouras, tal processo ocorria por meio de diques e bacias naturais,[19][20] no entanto, há aqueles que imaginam que pequenos diques e canais foram erigidos para melhorar a distribuição da água.[21] Durante Naqada II houve um intenso comércio de contas de lápis-lazúli entre o Egito e a Mesopotâmia que pode ser dividido em duas fases: na primeira fase o contato comercial provinha de uma rota pelo norte através da Palestina e outra pelo sul através de Hama; na segunda fase há contatos comerciais com assentamentos comerciais (Habuba Kabira e Tell Brak) no norte da Mesopotâmia.[22] No momento da expansão gerzeana rumo ao Delta a influência do Alto Egito sobre o o norte do Sinai.[23]
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É evidente com base nos achados arqueológicos que no seio da sociedade gerzeana havia número ascendente de artesãos especializados que produziam produtos consumidos pela elite e também pelo comércio com o Oriente Próximo; estilos decorativos (bovinos, barcos) e artísticos (formas e tamanhos) característicos da civilização egípcia começam a ser aprimorados durante o período como evidenciado nos ornamentos da tumba 100 de Hieracômpolis (jazigo de um grande líder local); o sentimento religioso egípcio começa aflorar terminantemente (o primeiro templo egípcio é erigido em Hieracômpolis).[24]
À cerâmica é atribuída valores de D. S. 40 a 62, além disso, é evidente sua diferença em relação aos estilos anteriores.[25] Um nova textura, conhecida como "marl", é desenvolvida a base de carbonato de argila e cálcio; novos estilos (cerâmica D, L, R, e W) são criados: a cerâmica D é marrom-escuro sobre fundo creme com motivos decorativos abstratos (geométricos, barcos), animais e humanos pintados; a cerâmica R é marrom-avermelhada, temperada com palha, polida e decorada com motivos incisos; a cerâmica L é cinza-esverdeada ou rosa, temperada com areia e polida; a cerâmica W é produzida a partir de modelos maadianos tendo evoluído de formas globulares co alças distintas para formas cilíndricas com alças pequenas ou pintadas.[15]
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Durante o período a gama de matérias primas utilizadas expande-se vertiginosamente: pedras coloridas, granito, sílex, calcário, alabastro, mármore, serpentina, basalto, brecha, gnaisse, diorito, calcita e gabro; a indústria lítica é composta por buris, lascas retocadas, raspadores finais, perfuradores, ferramentas apoiadas, cabeças de machados, bifaciais e entalhes.[15] Paletas cosméticas (com relevo[26]), vasos não-cerâmicos (pedra, marfim, cobre), joias (lápis-lazúli, conchas, faiança, madeira, marfim) armas, cabeças de clava em forma de pera, alfinetes (osso), pentes (madeira, osso, marfim) e figuras antropomórficas e zoomórficas (terracota) são visíveis entre os achados; uso de cobre (adagas, facas, enxós, machados, pontas de lança, arpões, anzóis, agulhas, anéis, pequenas ferramentas e ornamentos), ouro e prata é acrescido;[27] esferas de ferro meteorítico são os mais antigos exemplos do uso de ferro no mundo.[28][29][30][31]
Referências
- Redford 1992, p. 16
- Redford 1992, p. 17
- Redford 1992, p. 271-283
- Trigger 1990, p. 119
- Wilkinson 2000, p. 376-94
- Kohler 1995, p. 79
- Carneiro 1981, p. 50
- «Naqada II» (em inglês). Consultado em 21 de fevereiro de 2012
- «The Dynasty 0» (em inglês). Consultado em 21 de fevereiro de 2012
- El-Baz 2000, p. 68
- Wilkinson 1999, p. 45
- «Naqada II /Gerzean» (em inglês). Consultado em 27 de fevereiro de 2012. Arquivado do original em 14 de maio de 2012
- Hoffman 1979, p. 153
- Reynes 2000, p. 57
- «Predynastic» (em inglês). Consultado em 15 de fevereiro de 2012
- Butzer 1976, p. 17
- Butzer 1976, p. 20
- Seidlmayer 1998, p. 18
- «Naqada II in Upper Egypt» (em inglês). Consultado em 9 de fevereiro de 2012. Arquivado do original em 17 de fevereiro de 2011
- Gardiner 1964, p. 390
- Gardiner 1964, p. 391
- «Naqada II in Lower Egypt - Replacement» (em inglês). Consultado em 27 de fevereiro de 2012. Arquivado do original em 17 de fevereiro de 2011
- Tylecote 1992, p. 3
- «Finds in Gerzeh tomb 67» (em inglês). Consultado em 21 de fevereiro de 2012
- «The use of meteorites by the Ancient Egyptians» (em inglês). Consultado em 21 de fevereiro de 2012
- «Metalwork: Early history» (em inglês). Consultado em 21 de fevereiro de 2012
Bibliografia
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