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A Chouannerie[nota 1] foi uma guerra civil que opôs os revolucionários republicanos e os realistas ocidentais da França, na Bretanha (Maine, Anjou e da Normandia). Fez parte da Guerra da Vendeia, em conflitos que compuseram as chamadas Guerras do Oeste.
Chouannerie | |||
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Defesa de Rochefort-en-Terre, por Alexandre Bloch, 1885 | |||
Data | 1792–1804, 1815 | ||
Local | Bretanha, Maine, Normandia | ||
Desfecho | Vitória republicana | ||
Beligerantes | |||
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Comandantes | |||
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Forças | |||
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Parte da Revolução Francesa |
Uma primeira tentativa de insurreição ocorreu em 1791 por parte da Association bretonne, em defesa da Monarquia e para restabelecer as leis e costumes bretões, suprimidos em 1789. Contando com a sublevação de grande parte da população ocidental de França, combatia em especial a constituição civil do clero, o Levée en masse pela Convenção.
Os primeiros enfrentamentos ocorrem em 1792 por meio dos jacquerie paysanne, em ações de guerrilha e batalhas, e que terminou com a vitória final dos Republicanos, em 1800.
Num artigo de 1897 Euclides da Cunha comparou os revoltosos da Vendeia com os jagunços de Canudos: "O chouan fervorosamente crente ou o tabaréu fanático, precipitando-se impávido à boca dos canhões que tomam a pulso, patenteiam o mesmo heroísmo mórbido difundido numa agitação desordenada e impulsiva de hipnotizados."[2]
Em 1791 as regiões ocidentais francesas da Vendeia e da Bretanha tornaram-se uma zona de resistência à constituição civil do clero e o juramento a que os padres deviam fazer, por meio de um corpo religioso bastante refratário às mudanças. Aliado às motivações religiosas, a resistência também estava arraigada na sociedade local e na mentalidade coletiva da população, onde sua tradicional solidariedade foi afetada pela Revolução.[3].
Assim, o recrutamento feito em 15 de agosto de 1792 revelou-se problemático: a Revolução Francesa precisava de soldados, então ordena que estes sejam reunidos e organizados pelas autoridades municipais. Esta imposição será usada nos discursos oposicionistas de Jean Cottereau e Michel Morière em Saint-Ouën-des-Toits. De forma mais discreta, contudo, agiram os adeptos da Coalizão Bretã, que se recusavam a ir para as cidades centrais de seus cantões, a fim de participarem dos sorteios. Essa operação revelou-se um revés para as autoridades republicanas.
O levante ocorrido na primavera de 1793, que abrangeu toda a região ocidental (Bretanha e Vendeia), deveu-se sobretudo à rejeição ao sorteio de pessoas para o serviço militar, particularmente porque os "patriotas notáveis" estariam isentos ou poderiam pagar a alguém para substituí-los. Essa rejeição era comum em todo os lugares.[4]
Além da questão religiosa e da hostilidade face ao recrutamento, havia uma tensão latente nas comunidades aldeãs, que revelava uma hostilidade entre os camponeses e a elite, nobre ou burguesa, que no final do século XVIII poderia ser traduzido, mais ou menos, como tensão entre o meio urbano e o rural. Esta situação já era perceptível desde os tempos da Liga católica, com o surgimento de facções favoráveis aos Blancs (realistas) e os Bleux (republicanos) e que continuaram relevantes no mapa eleitoral da região até o final do século XX. Deve-se ainda adicionar o estado de permanente turbulência institucional da Bretanha, que fica patente na rejeição ao lema provincial: a divisa dos chouans bretões era "Doue ha mem bro" (Deus e o meu país) e não "Dieu et mon roy" (Deus e o meu rei), como na Vendeia.[5][6]
Antes dos levantes simultâneos e em semelhança ao comportamento dos habitantes do oeste, os contemporâneos acreditavam que, como prova de uma conspiração, acreditavam que havia uma tentativa de aproximação entre o marquês de la Rouërie e a Associação Bretã. Entretanto, o sincronismo dos eventos pode ser explicada pela decisão da Convenção de impor uma precipitação das operações do chamado levée en masse.[7].
Na Bretanha os primeiros movimentos contrários à Revolução eclodiram na Noite de 4 de agosto que suprime, entre outros, os parlamentos provinciais e em particular na Bretanha o Tratado de União da Bretanha à França e as leis particulares da província, assimilados como privilégios.
Em 1791 o Marquês de La Rouërie, que se distinguira na guerra de independência dos EUA, criou, com aprovação do Conde d'Artois, uma organização clandestina, a Associação Bretã, que atuava junto à diocese com o objetivo principal de defender a monarquia contra o progresso do republicanismo, conservação das propriedades e recuperação das leis e costumes particulares da Bretanha. Sua meta era a conquista das guarnições, regimentos, maréchaussées, guardas nacionais das principais cidades bretãs.[8].
Muitos dos futuros líderes chouans aderiram à Associação Bretã, incluindo: o conde Louis de Rosmorduc, Vincent de Tinténiac, Amateur-Jérôme Le Bras des Forges de Boishardy, Aimé Picquet du Boisguy, Sébastien de La Haye de Silz, Antoine-Philippe de La Trémoïlle, príncipe de Talmont e Pierre Guillemot. Malgrado a vontade de La Rouërie de tratar os nobres e plebeus de forma igual, a maioria dos associados eram oriundos da aristocracia.
Entretanto, as reuniões dos nobres no castelo de La Rouërie e a falta de discrição dos recrutadores alertaram as autoridades. A 31 de maio de 1792 o diretório do departamento de Ille-et-Vilaine enviou um destacamento de dragões para uma busca no castelo e seus arredores e, a 6 de julho, é expedido contra o marquês e seus cúmplice um mandado de prisão. La Rouërie escapa e refugia-se em Launay-Villiers. A Associação contava, então, com dez mil homens e faz uma convocação geral às armas para o 10 de outubro, data prevista para a tomada de Châlons-en-Champagne pelas tropas da coalizão. Mas a vitória dos revolucionários em 20 de setembro, na batalha de Valmy arruína os planos dos associados. Dois dias depois a monarquia foi derrubada e proclamada a República.
A 2 de setembro de 1792 Valentin Chevetel (dito Latouche) foi a Paris, onde denunciou o complô a Danton. Procurado pelas autoridades, La Rouërie é forçado a se esconder. Entretanto, já doente, vem a morrer no château de La Guyomarais, em Saint-Denoual, a 30 de janeiro de 1793.
Lalligand-Morillon prendeu 27 conjurados, mas a lista de membros da Associação foi queimada por Thérèse de Moëlien. Os 27 prisioneiros são julgados em Paris e 12 deles, inclusive Thérèse, são condenados à morte pela guilhotina a 18 de junho de 1793. No seu relatório de 4 de outubro à Convenção, Basire atribui a eclosão da conspiração ocidental em março de 1793. De fato, a Associação Bretã não contou com a participação camponesa, e sim era integrada por membros das guarnições das vilas e membros da guarda nacional. Por essa razão, tais movimentos não podem ser considerados como criadores da Chouannerie, embora sejam precursores dela.
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