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O "Caso dos Venenos" é um episódio ocorrido em Paris entre 1670 e 1682, e que sacudiu a capital francesa e a Corte.
Em 1672, com a morte do oficial de cavalaria, Godin de Sainte-Croix, descobrem-se em seu papéis peças acusando sua amante, Marquesa de Brinvilliers, de ter envenenado o próprio pai, seus dois irmãos e sua irmã, para apropriar-se de suas partes na herança. A Marquesa de Brinvilliers foi julgada e executada em 1676.
Em 1677, a investigação revelou que uma certa Marie Bosse fornecera venenos a esposas de membros do Parlamento que queriam envenenar seus maridos. Presa, Marie Bosse denunciou uma mulher, Montvoisin, dita "La Voisin", outros comparsas e um certo Adam Lesage. Como as revelações dos acusados recaíam sobre pessoas notáveis, foi criada uma comissão especial para julgar, sem apelação, os acusados: a chamada câmara ardente. Personalidades importantes, principalmente mulheres, foram então citadas: Madame de Vivonne (cunhada de Madame de Montespan), Madame de La Mothe, Mademoiselle des Œillets e Cato (criadas de quarto de Madame de Montespan), a Condessa de Soissons, a Condessa du Roure, a Viscondessa de Polignac, a Marechala de Luxembourg e muitas outras.
O tenente de polícia La Reynie comandou uma investigação minuciosa, e juntou à acusação de envenenamento outros delitos: assassinato ritual de crianças em missas negras rezadas por padres depravados (entre eles, Étienne Guibourg), profanações de hóstias e até mesmo fabricação de dinheiro falso.
Porém este zelo por parte de La Reynie escondia a luta que se travava entre Louvois, Ministro da Guerra, e Colbert, Ministro das Finanças da época. Louvois comandava uma investigação paralela e secreta por ordem do Rei, enquanto que os acusados mais ilustres eram pessoas próximas a Colbert.
Após a execução de sua mãe, a filha de "La Voisin" pôs em cheque a posição de Madame de Montespan : esta mantivera relações com "La Voisin". Com efeito, Madame de Montespan, além de haver participado de cerimônias de conjuração, havia dado poções mágicas ao rei Luís XIV a fim de preservar sua posição de favorita visto que ele começara a namorar com a Madame de Maintenon.
A "câmara ardente" pronunciou, no Caso dos Venenos, 36 condenações à morte e outras tantas às galés. As personalidades destacadas foram poupadas. A "câmara ardente" foi dissolvida em 1682, por ordem de Luís XIV, sem que fossem julgados os acusadores de Madame de Montespan, os quais foram encerrados em fortalezas reais, como a Fortaleza de Saint-André, em Salins-les-Bains.
La Voisin foi julgada com 36 cúmplices, condenada à morte e queimada na Praça de Grève, em 2 de Fevereiro de 1680. Vários condenados foram presos na cidadela de Vauban du Palais, em Belle-Île-en-Mer. Quanto a Madame de Montespan, estando sob a proteção do rei, não foi molestada. Era mãe de vários filhos ilegítimos de Luís XIV e permaneceu na Corte. Bani-la seria evidenciar sua culpa, e o rei não queria que essa culpa (como a de Racine) se tornasse pública. Madame de Montespan, relegada a um modesto apartamento no Palácio de Versailles, caiu em desgraça, assim permanecendo por dez anos. O rei só passava em frente a seus aposentos quando se dirigia aos de Madame de Maintenon.
Na época do caso dos venenos, “Paris contava com 400 consultórios de astrólogos e adivinhos, para uma população de 450 mil almas"; dizem Arkan Simaan e Joëlle Fontaine. [1] "O entusiasmo pelas consultas -continuam os autores - não era privilégio dos meios populares: as carruagens causavam engarrafamentos frente ao consultório de Primi Venturini, um charlatão italiano, que descreveu em suas memórias as astúcias com que lograva os crédulos. [...] O caso dos venenos tem sua raiz nesse contexto. Boa parte da nobreza estava diretamente implicada nesse caso criminoso, notadamente madame de Montespan, a favorita de Luís XIV. Descobriu-se que aquela gente toda se reunia em sabás, missas negras consagradas a Satã, e que esses sabás derivavam de “inocentes” consultas astrológicas. Pessoas inquietas consultavam os astrólogos e adivinhos buscando reconforto ou tentando se preparar para um futuro temido. Parte significativa da clientela constituía-se de moças casadas com maridos idosos, junto aos quais se entediavam: os “adivinhos” costumavam dar uma mãozinha às previsões de falecimento iminente do esposo, fornecendo a suas clientes... um frasco de veneno! O caso se encerrou em 1680 com numerosas condenações capitais, em particular a de La Voisin, que confessou ter enterrado mais de 2500 corpos de recém-nascidos no seu próprio jardim. Luís XIV publicou, dois anos mais tarde, um decreto banindo do reino os bruxos, astrólogos e adivinhos.”
Eis porque, em 1682, a astrologia foi completamente banida da Académie des Sciences da França, contrariamente à Royal Society da Inglaterra.
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