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linha ferroviária de ligação entre Angola e o Congo-Quinxassa Da Wikipédia, a enciclopédia livre
Caminho de Ferro de Benguela (CFB), também chamada de Caminho de Ferro Catanga-Benguela,[nota 1][1] é uma linha ferroviária que atravessa Angola de oeste a leste, sendo o maior e mais importante modal do tipo no país. Liga-se também até Tenque, no Congo-Quinxassa, à Ferrovia Cabo-Cairo (Quindu-RDC a Porto Elisabete-RAS).[2]
Caminho de Ferro de Benguela | |
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Informações principais | |
Sigla ou acrônimo | CFB |
Área de operação | Angola e Congo-Quinxassa |
Tempo de operação | 1905–Presente |
Operadora | ECFB-EP e SNCC |
Interconexão Ferroviária | Ferrovia Cabo-Cairo |
Portos Atendidos | Porto do Lobito |
Especificações da ferrovia | |
Extensão | 1 866 km (1 160 mi) |
Diagrama e/ou Mapa da ferrovia | |
Sua testa é o porto do Lobito, na costa atlântica, de onde exporta todo tipo de produtos, desde minérios, a alimentos, componentes industriais, cargas vivas, etc..
O trecho de Lobito ao Luau é explorado pela Empresa do Caminho de Ferro de Benguela-E.P. (ECFB-EP),[3] e de Dilolo ao Tenque é administrada pela Sociedade Nacional dos Caminhos de Ferro do Congo (SNCC).[4][5][6]
A história do CFB inciou-se de fato em 1899, quando o governo português retomou a construção da ferrovia para dar acesso ao interior e às riquezas minerais do Congo Belga. Sua construção foi levada a cabo pelo engenheiro britânico Robert Williams — que representava os interesses de Cecil Rhodes (morto em 1902) —, que completou a ligação com a região de Catanga, em 1931, para tal constituindo as empresas Companhia do Caminho de Ferro de Benguela SARL (CCFB) e Sociedade dos Caminhos de Ferro Léopoldville-Katanga-Dilolo (atual SNCC); a ambição de Williams era transportar as riquezas minerais do chamado "cinturão de cobre da África Central".[7][8]
O primeiro trecho da ferrovia, que tinha o nome de "Caminho de Ferro Benguela-Catumbela", viria ser aberto ainda no ano de 1883, numa extensão de 23 km, servindo de ligação entre Catumbela e Benguela, às expensas do próprio Estado português. A construção cairia em rápido declínio pela falta de composições e de manutenção, servindo, já em 1899, como caminho para carros de bois e carroças.
Em 1899 o governo real português abriu uma nova licitação-concurso público para a reforma do antigo caminho de ferro, bem como a extensão deste, ligando a baía de Lobito à região do monte Saôa, à época importante em termos agrícolas. O próprio governo português, durante a realização do concurso, iniciou uma breve reabilitação do trecho entre Benguela e Catumbela para incentivar possíveis interessados. A sessão licitatória de 1899 ficou vazia. Uma nova licitação foi aberta em 1901, sendo que Robert Williams (instruído por Cecil Rhodes), enviou Marquês de Soveral e o general Joaquim José Machado como procuradores diante do ministro António Teixeira de Sousa na nova sessão licitatória; Williams ganhou a licitação-concurso, mas teve que garantir um depósito-caução de £100 000 libras esterlinas. Em 28 de novembro de 1902 o ministro Teixeira de Sousa e Robert Williams celebram o chamado "Contrato Williams" (ou Concessão Williams), ato cercado de muitas polémicas, gerando até mesmo a demissão do primeiro-ministro Ernesto Rodolfo Hintze Ribeiro.[9]
O ato solene do início da construção do Caminho de Ferro de Benguela foi realizado no dia 1 de março de 1903, junto à ponte sobre o rio Cavaco (ponte D. Carlos), tendo sido presidido pelo governador-geral de Angola Cabral Moncada; a mesma cerimônia inaugurou o porto do Lobito.[9]
O primeiro trecho operacional do CFB iniciou-se em 1905, ligando o Lobito à Catumbela, graças a chegada ao porto do Lobito da primeira locomotiva, a nº 01, em novembro de 1904, vinda de uma metalúrgica de Leeds, no Reino Unido.[9]
Em 1912 a ferrovia já chegava a atual cidade do Huambo (que tem sua configuração justamente em virtude do CFB), alcançando Luau em 1929. Para o prolongamento depois de Luau, Williams fez acordo com o governo Belga criando a "Sociedade dos Caminhos de Ferro Léopoldville-Katanga-Dilolo" (criada em 1927), que entre junho de 1930 e abril de 1931 fez a ligação entre Luau, Dilolo e Tenque. No segundo semestre de 1931 o porto do Lobito recebeu, por via férrea, o primeiro carregamento de cobre proveniente de Catanga.
Entre a década de 1930 e 1970 a linha mostrou ser um sucesso, revelando-se muito rentável para as potências coloniais, especialmente por ser o caminho mais curto para transportar as riquezas minerais do sul do Congo para a Europa. Williams, morto em 1938, ainda pode ver em vida a ferrovia completamente em operação.
Após a Guerra de Independência, e a posterior Guerra Civil Angolana, a CCFB SARL foi obrigada a suspender o funcionamento do CFB, dado que boa parte da sua infraestrutura acabou por ser destruída ou danificada, além do trânsito de máquinas tornar-se inseguro.
Em 1987, numa fase de abrandamento da guerrilha, foi acordado um plano de reconstrução entre as autoridades de Angola e do Zaire, que acabou por não ser levado a cabo por causa de um reacender da guerrilha. Os Acordos de Bicesse, motivadores do armistício de 1991, permitiram a Angola solicitar um estudo para a reconstrução com a ajuda do Banco Mundial, com vista a retomar o tráfego ferroviário e a potenciar a capacidade do porto do Lobito.[10]
Durante o breve período de armistício de 1991-1992, a ferrovia transportou num ano apenas 157.000 toneladas de materiais, mas conseguiu voltar a funcionar, ainda que apenas em distâncias médias.
O tráfego era então assegurado por 8 locomotivas da General Electric, modelo U20C, 2 Paxman 8RPHXL, 6 de dois motores acoplados Cummins NT855L4, com um total de 22 locomotivas a diesel e mais 19 locomotivas dedicadas a serviços menos importantes.
Em 1995, contava com 53 locomotivas (das quais 24 foram adquiridas em segunda mão à África do Sul), 4 vagões restaurantes, 4 vagões com camas e 1761 carruagens.
Em novembro de 2001, a concessão de 99 anos da CCFB SARL terminou, passando o caminho-de-ferro a pertencer ao Estado angolano, assim como todas as infraestruturas móveis associadas. Em 2003 o Estado angolano recapitaliza a CCFB SARL, transformando-a totalmente em capital estatal, recriando-a com o nome de "Empresa do Caminho de Ferro de Benguela-E.P."[3]
Em 2005, foram encetadas conversações entre os governos de Angola e da Zâmbia para retomar o funcionamento. A China forneceu cerca de 500 milhões de dólares de ajuda financeira para ajudar a reconstrução da linha danificada pela guerra.[11] Em 6 de janeiro de 2006 as obras se iniciaram.[3]
Em 2009, foi concluída a remoção de engenhos explosivos nesta linha, num esforço conjunto das Forças Armadas Angolanas, Instituto Nacional de Desminagem, Gabinete de Reconstrução Nacional e Polícia de Guarda Fronteira.[12]
Em agosto de 2011 a exploração comercial do trecho compreendido entre Benguela e o Huambo reiniciou-se.[13] Para tal foram construídas as estações ferroviárias para embarque de cargas e pessoas em Benguela e no Huambo.[3]
Em 2012 a operação comercial junto ao porto do Lobito reiniciou-se, bem como a linha se estendeu novamente até Luena; em 2015 a linha finalmente cobriu todo o território angolano, chegando novamente até a cidade do Luau.[3]
Em 5 de março de 2018 foi reiniciado o transporte de minérios a partir da Mina de Tenque Fungurume, no Congo-Quinxassa, de onde se extrai cobre e cobalto, sendo as cargas levadas até o porto do Lobito. A partir dessa data a ferrovia passou à plena operação.[3]
O caminho de ferro de Benguela tem uma extensão de 1866 km, sendo que 1344 km somente em Angola, dando acesso acesso à parte mais interior de Angola e do Congo-Quinxassa.[2] Em Tenque, encontra-se ligado aos sistemas ferroviários do Congo-Quinxassa e da Zâmbia.[2] Através da ligação à Zâmbia, é possível chegar à cidade de Beira, em Moçambique, e a Dar es Salã, na Tanzânia, junto ao oceano Índico. Também se encontra ligada indirectamente ao sistema ferroviário da África do Sul. Desta forma, o CFB faz parte de uma rede ferroviária transcontinental.[4]
Em Julho de 2022, o governo angolano concessionou, por 30 anos, aquilo que denomina como Corredor de Lobito (linha de Lobito ao Luau) ao consórcio Trafigura Group Pte Ltd, Vecturis SA e Mota-Engil Engenharia e Construção África SA. A concessão inclui a operação, a exploração e a manutenção do transporte ferroviário de mercadorias e de toda a infra-estrutura ao longo do corredor.[14]
Em 1962 foi construído o Ramal do Cuima, com 65 km, que, saindo da estação de Robert Willians (Caála), ligava às minas de ferro situadas naquela localidade. Atualmente, porém, este ramal encontra-se inoperante.[9]
O outro ramal do CFB é o Ramal do Kisenge (aberto em 1931), com 30 km de extensão, saindo da estação de Divuma, no Congo-Quinxassa. Sua importância também é para o carregamento de minérios.[16]
Em 27 de Março de 2023, o presidente angolano entregou, à construtora brasileira Odebrecht, a obra da construção de um ramal dos Caminhos de-Ferro de Benguela entre a cidade do Luena (Moxico) e Saurimo (Lunda Sul).[17]
Entre muitos acidentes desde a entrada em operação do CFB, o mais grave ocorreu em 22 de setembro de 1994, em Tolunda, quando travões em mau estado provocaram a queda de um comboio numa ravina, matando 300 pessoas.[18]
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