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Bruno Tolentino

escritor brasileiro Da Wikipédia, a enciclopédia livre

Bruno Tolentino
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Bruno Lúcio de Carvalho Tolentino Sobrinho (Rio de Janeiro, 12 de novembro de 1940São Paulo, 27 de junho de 2007) foi um poeta e crítico literário brasileiro. Considerado um expoente da nova direita[1], sua produção poética, marcada pelo lirismo filosófico e classicizante, foi agraciada três vezes com o Prêmio Jabuti, além de outras condecorações. A maioria dos seus admiradores alegam que sua obra é ignorada pela academia devido às suas críticas ácidas a nomes consagrados da poesia contemporânea brasileira, como o poeta Augusto de Campos, com quem travou uma polêmica notória, em 1994, por conta de uma tradução de Hart Crane[2].

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Biografia

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A sua biografia é de difícil reconstrução, tendo em vista que o autor, ao longa da sua trajetória, disseminou muitos fatos mentirosos ou exagerados sobre a sua vida[3][4]. Nasceu em 1940, filho de Heitor Jorge de Carvalho Tolentino e de Odila de Souza Lima, e primo do crítico literário Antonio Candido e da crítica teatral Bárbara Heliodora[5]. Ele alega ter convivido desde criança com escritores próximos à família, como Cecília Meireles, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto[6].

Em 1963, publicou Anulação e Outros Reparos, dedicado à irmã de Glauber Rocha, a atriz Anecy Rocha, com quem teve um breve caso amoroso. O livro rendeu-lhe o Prêmio Revelação de Autor, que, à época, tinha júri composto por Manuel Bandeira e Lêdo Ivo[7].

Com o golpe militar de 1964, mudou-se para a Europa a convite do poeta Giuseppe Ungaretti, onde viveu por trinta anos. Lá, ministrou aulas de Literatura em Essex e Oxford[7], envolveu-se num caso amoroso com o inglês Simon Pringle[8] (Tolentino era bissexual[9]), e, em 1987, foi preso em flagrante no aeroporto de Heathrow, em Londres, portando uma maleta cheia de cocaína, denunciado pela astróloga que havia consultado antes de viajar[8][10]. Condenado a onze anos de prisão, cumpriu ao todo metade da pena, sobretudo na penitenciária de Dartmoor, e foi deportado para o Brasil em 1993[11].

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Tolentino, à esquerda, e Simon Pringle, à direita, mantiveram um relacionamento amoroso enquanto o poeta esteve na Europa.

Aos companheiros de prisão, organizou aulas de alfabetização e de literatura, "em cujas sessões avançadas", segundo Tolentino, "chegaram a comparecer psicanalistas de renome, ao lado de personalidades do mundo das letras tais como Humphrey Carpenter, o estudioso e biógrafo de Ezra Pound e Auden, o dramaturgo Harold Pinter e Antonia Fraser"[12]. Em entrevista, Tolentino disse que amou a experiência[13].

Em 1993, retornou ao Brasil, publicando, em 1994, o livro As Horas de Katharina, que rendeu-lhe o Prêmio Jabuti de melhor livro de poesia no ano seguinte[14]. A obra relançou Tolentino no cenário cultural brasileiro, que foi comentado por diversos nomes proeminentes, dentre os quais Arnaldo Jabor, que escreveu uma crônica sobre o seu retorno, intitulada Tolentino traz de volta a peste clássica[15].

Em 1995, participou de uma polêmica literária com Augusto de Campos por conta de uma tradução deste de um poema de Hart Crane[16]. Tolentino alegou erros grotescos de tradução e recriação poética e dirigiu diversos insultos contra Campos, chamando-o de "vaidoso prepotente", "delirante totalitário", dentre outras coisas, afirmando que "já está na hora de acabar com a admiração dos irmãos Campos no mundo da tradução brasileira". Em resposta, Campos redigiu uma carta insultando Tolentino, chamando-o de "tolo, doente e cretino", e organizou contra ele um abaixo-assinado pedindo a sua demissão da revista Estadão, reunindo mais de setenta assinaturas de figuras proeminentes, como Marilena Chaui, Caetano Veloso e Gilberto Gil[2]. Em resposta, Tolentino compôs uma série de poemas satirizando cada um dos signatários, reunidos no livro Os sapos de Ontem, e recebeu o apoio de Olavo de Carvalho, com quem manteve amizade até o fim da vida[17]. Em 1996, publicou A Balada do Cárcere, e concedeu uma polêmica entrevista à revista Veja, onde criticou a educação brasileira, o sistema universitário, o concretismo e a aceitação de letras de música enquanto poesia.

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Bruno Tolentino e Olavo de Carvalho mantiveram uma amizade e mútua consideração até o final de suas vidas, desde que se conheceram na década de 1990.

Entre os anos de 2000 e 2002, morou no Santuário Estadual de Nossa Senhora da Piedade em Caeté, onde viveu e contribuiu com o Movimento Eclesial de Comunhão e Libertação. Nesta época, em 2002, terminou a revisão do seu livro O Mundo como Ideia, que rendeu-lhe um segundo Jabuti em 2003[18], além do Prêmio Senador José Ermírio de Morais, em sessão solene da Academia Brasileira de Letras, com saudação proferida pelo filósofo Miguel Reale[19].

Em 2006, publicou seu último livro, A imitação do Amanhecer, considerada uma das mais ambiciosas e consistentes obras de temática abertamente homoerótica jamais publicadas no Brasil[20], que rendeu-lhe, postumamente, um terceiro Jabuti[21].

Tolentino era portador de AIDS[22] e já havia superado um câncer. Esteve internado durante um mês na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, na cidade de São Paulo, onde veio a falecer, aos 66 anos de idade, por falência múltipla de órgãos, em 27 de junho de 2007[23].

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Obra

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A obra poética de Tolentino inovou a poesia brasileira contemporânea ao resgatar a linguagem clássica e o lirismo filosófico num momento onde as produções líricas prezavam, em geral, pela objetividade e pela facilidade de leitura. Em contraste com o concretismo e a poesia marginal, produziu uma poesia de reflexões metafísicas, acreditando que a poesia é um convite para a elevação de espírito[24], e "mostrou", nas palavras de Érico Nogueira, "que era possível atualizar as formas do passado para fertilizar o presente"[2].

Em matéria de poesia e poética, os anos noventa do século XX talvez possam descrever-se, no Brasil, como a década de João Cabral de Melo Neto, ou, mais exatamente, como o período culminante de sua canonização [...] Num clima poético como esse, dominado por palavras de ordem como “antilirismo”, “concretude”, “objetividade” e “concentração”, a poesia filosófica e classicamente lírica de Tolentino soou como música nova aos ouvidos mais atentos. — Érico Nogueira[25].

Sua obra contém nove livros, a saber:

  • Anulação e Outros Reparos (São Paulo: Massao Ohno, 1963)[26]
  • Le vrai le vain (Paris: Actuels, 1971)
  • About the Hunt (Oxford: OPN, 1979)
  • As Horas de Katharina (São Paulo: Companhia das Letras, 1994)[27]
  • Os Deuses de Hoje (Rio de Janeiro: Record, 1995)[28]
  • Os Sapos de Ontem (Rio de Janeiro: Diadorim, 1995)
  • A Balada do Cárcere (Rio de Janeiro: Topbooks, 1996)[29]
  • O Mundo como Ideia (São Paulo: Globo, 2002)[30]
  • A Imitação do Amanhecer (São Paulo: Globo, 2006)[31]
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Referências

  1. ARAÚJO, Daniel (9 de abril de 2023). «Quem foi Bruno Tolentino, o poeta cancelado amigo de Olavo de Carvalho». Gazeta do Povo. Consultado em 15 de maio de 2025
  2. According to an obituary written by literary scholar Chris Miller, Tolentino was a character "stranger than fiction", and his claims about literary friendships were at least partially true (e.g. his friendship to Yves Bonnefroy); however, according to the same scholar, Tolentino's exaggerations made it very difficult to tell truth from fiction.Chris Miller, "Bruno Tolentino", PN Review 180, Volume 34 Number 4, March - April 2008, available on line at
  3. «Tolentino, interview in Jornal de Poesia». Consultado em 5 de dezembro de 2009. Arquivado do original em 22 de dezembro de 2009
  4. «Morre o poeta carioca Bruno Tolentino, 66» (HTM). São Paulo: Folhapress. Folha de S.Paulo. 28 de junho de 2007. Consultado em 2 de setembro de 2016
  5. Chris Miller, "Bruno Tolentino", PN Review 180, Volume 34 Number 4, March - April 2008, available on line at
  6. «Bruno Tolentino (poeta)». TV Câmara - Portal da Câmara dos Deputados. 19 de agosto de 2006. Consultado em 15 de maio de 2025
  7. TRIGO, Luciano (24 de janeiro de 2016). «A aventura marítima de Bruno Tolentino, poeta e traficante». G1. Consultado em 15 de maio de 2025
  8. MILLER, Chris. «Bruno Tolentino (Obituary)». "PN Review 180, Volume 34 Number 4, March -- April 2008": 8
  9. «Drug Smuggling Poet had £200,000 for Cocaine: Brazilian asked Medium about his Prospects». "Oxford Mail": 3. 4 de maio de 1988
  10. NOGUEIRA, Érico (2016). "Escrito nas Estrelas" (Prefácio), in A Balada do Cárcere. Rio de Janeiro: Record. pp. 11–26
  11. Prefácio de seu livro "A balada do cárcere", lançado em 2006 pela editora Topbooks.
  12. Entrevista registrada em vídeo acessível gratuitamente no site do programa. «Entrevista com Bruno Tolentino». Consultado em 9 de Abril de 2016
  13. «Jornalistas da Folha ganham prêmio Jabuti». Folha de S. Paulo. 27 de junho de 1995. Consultado em 15 de maio de 2025
  14. JABOR, Arnaldo (19 de julho de 1994). «Tolentino traz de volta a peste clássica». Folha de S. Paulo. Consultado em 15 de maio de 2025
  15. Cláudia Cordeiro Reis. «Bruno Tolentino - A sagração do poeta maldito». Entrevista concedida publicada na revista Continente Multicultural e disponibilizada integralmente no site. Plataforma.paraapoesia.nom.br
  16. SETTE-CÂMARA, Pedro (3 de julho de 2017). «O Brasil excelente de Bruno Tolentino». Estado da Arte. Consultado em 15 de maio de 2025
  17. MACHADO, Cassiano Elek (19 de maio de 2003). «Literatura infantil leva maior prêmio do Jabuti». Folha de São Paulo. Consultado em 15 de maio de 2025
  18. O texto integral da saudação de Miguel Reale, em conjunto com o subsequente discurso de Bruno Tolentino. «Nessa página» (PDF). Academia Brasileira de Letras. Academia.org.br
  19. AZEVEDO, Reinaldo (21 de agosto de 2007). «Bruno Tolentino 1 – A Imitação do Amanhecer vence Jabuti na categoria "Poesia». Veja. Consultado em 15 de maio de 2025
  20. Martim Vasques da Cunhal (28 de junho de 2011). «A Travessia Final». Medium. Consultado em 7 de março de 2021
  21. «Morre o poeta Bruno Tolentino». OGlobo. Consultado em 9 de Abril de 2016
  22. Em uma palestra de 8 de agosto de 2006, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=bdyNofx1d68, Tolentino afirmou que a poesia "não serve pra nada [...] ela é uma provocação, uma oportunidade que o espírito tem pra se manter a um nível sempre mais elevado e procurar uma expressão mais justa pra aquilo que não lhe ocorreria normalmente".
  23. NOGUEIRA, Érico. «Bruno Tolentino e a poética classicizante: o caso de A balada do cárcere». Revista do CESP. 34 (51): 91-92. Consultado em 15 de maio de 2025
  24. Tolentino, Bruno (1998). Anulação & outros reparos Ed. definitiva ed. Rio de Janeiro, RJ: Topbooks. OCLC 39936750
  25. Tolentino, Bruno (2010). As horas de Katharina com a peça inédita A andorinha, ou A cilada de Deus. Juliana P. Perez, Jessé de Almeida Primo, Guilherme Malzoni Rabello, Martim Vasques da Cunha Edição comentada ed. Rio de Janeiro: Editora Record. OCLC 767260946
  26. Tolentino, Bruno (1995). Os deuses de hoje. Rio de Janeiro: Editora Record. OCLC 34934016
  27. Tolentino, Bruno (2016). A balada do cárcere. Juliana P. Perez Edição comentada ed. Rio de Janeiro: [s.n.] OCLC 1013998243
  28. Tolentino, Bruno (2001). O mundo como idéia : 1959-1999. São Paulo, SP: Editora Globo. OCLC 51534958
  29. Tolentino, Bruno (2006). A imitação do amanhecer : 1979-2004. São Paulo, SP: Editora Globo. OCLC 76416787
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Bibliografia

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Ligações externas

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