Um brasilianista é um acadêmico, professor, autor ou pesquisador especializado em temas referentes ao Brasil. O termo é em geral usado em relação a pesquisadores estrangeiros (não brasileiros), ou residentes fora do Brasil.
Surgido no século XX, os brasilianistas eram pesquisadores estrangeiros, em sua maioria americanos, instalados no Brasil devidamente financiados e academicamente mais bem preparados. Estes levantaram questões diversas e precisas a respeito do Brasil, o que os tornavam gradualmente passíveis de críticas. Naquele período, pesquisadores americanos detinham um amplo acesso a documentos e dados arquivados, ao contrário dos intelectuais brasileiros, o que os colocava em uma situação de superioridade em relação aos pesquisadores natos.[1]
Se o interesse pelo Brasil como objeto de estudo pôde ser visto como motivo de orgulho nacional, progressivamente a noção de “Brasilianista”, que até 1960 era utilizada para indicar uma especialidade, transformava-se em um rótulo pejorativo. Isso porque em certos campos os americanos que aqui se espalhavam obtinham informações minuciosas sobre aspectos específicos do país – que nem o governo brasileiro tivera conhecimento – e a apresentação desta realidade apresentava características negativas e gerava medo.[1]
É inegável a importância das pesquisas estrangeiras realizadas por estrangeiros aos brasileiros, pois estas disponibilizaram novos levantamentos históricos, acesso a arquivos políticos privados e uma “vivificação da memória” do país. Os brasilianistas demonstravam uma importante conexão entre estudos arquivados e estudos da sociedade atual. Dessa forma, os centros de pesquisa e documentação que foram criados ao longo dos anos 70 tinham primordialmente a função de resguardar documentações contemporâneas e privadas e levantar novas documentações do país, visto que até então, os arquivos históricos além de serem pouco acessíveis, eram remetidos praticamente apenas ao período Republicano. A maior contribuição considerada deste processo de “desarteriosclerização” da memória nacional é o início da participação do governo na preservação da memória documental do país, bem como o apoio às ciências sociais, o que se deu primeiramente pela pressão da comunidade acadêmica e, posteriormente, a sociedade em geral.[1]
Não há datação correta sobre o surgimento do movimento brasilianista, porém correntes teóricas demarcam seu surgimento a partir de seus interesses específicos. Os argumentos mais corriqueiros são:[2][3]
- O fenômeno “brasilianismo” tem seu surgimento datado nos anos 60 e seu contexto histórico embebido na Revolução Cubana, que influenciou no aumento significativo de recursos norte-americanos às pesquisas destinadas ao estudo da América Latina. Assim, o interesse pela preservação de documentos e patrimônios brasileiros teria aflorado e culminaria no estudo do perfil da nação brasileira.[2][3]
- O brasilianismo surgiu a partir dos anos 30, visto que este período foi o marco inicial no cenário brasileiro da produção das ciências sociais. Ainda, neste mesmo período, datam-se as leituras recorrentes de descobertas e redescobertas do Brasil, chamado de “eterno retorno". Encontra-se, também, o aparecimento de inúmeros retratos do Brasil que irão, por fim, ser empregados em grande parte das obras estrangeiras e de autoria brasileira que descreviam o Brasil.[4]
Esta é uma lista parcial das pessoas que estudaram o Brasil de forma multi-disciplinar.[5]
BRASILIANISMO, ‘BRAZILIANISTS’ E DISCURSOS BRASILEIROS. Revista de História e Ciências Sociais, 1991
MASSI, Fernanda P. 1989. "Franceses e norte-americanos nas ciências sociais brasileiras(1930-1960)". em MICELI, S. (org.), op. cit p.410-59.
BRASILIANISTAS,HISTORIOGRAFIA E CENTROS DE DOCUMENTAÇÃO
PONTES, Heloisa. 1990. "Brasil com z", Estudos Históricos, Rio de Janeiro, Associação de Pesquisa e Documentação Histórica. Vol. 3, n. 5.
Massi, Fernanda e Heloisa Pontes. 1992. Guia Bibliográfico dos Brasilianistas. Editora Sumaré.
- Livros e artigos acadêmicos
- BEIGUELMAN, Paula. 1987. "Cultura acadêmica nacional e brazilianismo, em BOSI, Alfredo, Cultura brasileira, temas e situações. São Paulo, Ática. p.199-207.
- DA MATTA, Roberto. 1982. "As raízes da violência no Brasil: reflexões de um antropólogosocial", em - et alii, A violência brasileira. São Paulo, Brasiliense. p. 11-44.
- FAUSTO, Boris. 1988. "Organizando a história geral da civilização brasileira", Estudos Históricos, Rio de Janeiro, Vértice/n.1, p. 71.
- MASSI, Femanda Peixoto. 1989. "Franceses e norte-americanos nas ciências sociais brasileiras(1930-1960)". em MICELI, Sérgio. História das ciências sociais no Brasil. São Paulo,Vértice/FINEP/IDESP. vol.1.
- MICELI, Sérgio. 1989. A desilusão americana - relações acadêmicas e intelectuais entre o Brasil e os Estados Unidos, São Paulo, IDESP.
- NOVAIS, Fernando & CARDOSO, Fernando Henrique. 1982. "Anotações para um preâmbulo a quatro mãos", em LOVE, J. A locomotiva - São Paulo na federação brasileira, Rio de Janeiro,Paz e Terra.
- PONTES, Heloisa. 1990. "Brasil com z", Estudos Históricos, Rio de Janeiro, Associação de Pesquisa e Documentação Histórica. Vol. 3, n. 5.
- RODRIGUES, José Honório. 1976. "Os estudos brasileiros e os brazilianists”, Revista de História, São Paulo, USP, vol.54. n. 107, p. 189-219.
- SEBE, José Carlos. 1984. Introdução ao nacionalismo acadêmico – os brasilianistas, São Paulo, Brasiliense.
- SEBE, José Carlos.1988. Os brasilianismos, s.ed.mimeo.
- SOARES, Gláucio A. D. 1988. Entrevista concedida à equipe do projeto "História das Ciências Sociais no Brasil", São Paulo, IDESP
- Artigos de jornais e revistas
Folha de S.Paulo
- 1977. "Os porquês do Brasil, entrevista com Michel Shoyans", Folhetim, rn. 43.
- 1984. AUGUSTO, Sérgio. "Os brasilianistas estão descobrindo nosso cinema". 16 jul.
- 1987. "Expressão e pensamento na América Latina". Ilustrada, 11 jul., p.A-26.
Jornal do Brasil
- 1978. SCHILD, Susan. "Kenneth Maxwell um brasilianista nas eleições". 15 nov. s.d. VILLAS-BOAS, Luciana. "É tempo de vasculhar nossos arquivos e nossa cultura".
Jornal da Tarde'
- 1978. SCHIEL, Berta. "Missão especial para o brasilianista: as eleições brasileiras". 18 nov.Entrevista com Kenneth Maxwell.
- 1979. "Uma 'brazilianist'. Mas um pouco além do rótulo". 19 mar.
O Estado de S. Paulo
- 1974. "Cai o interesse por nossa história". 1 set P.5.
- 1980. MEDINA. Cremilda. “Regionalismo em debate por três 'brazilianists.” 17 out.
- 1981. "Próximo assunto do 'brazilianist' Robert Levine: a história do futebol brasileiro". 20 abr.
Pasquim
- 1977. Entrevista com Ralph Della Cava. 17 nov.
Veja
- 1973. "Últimas novidades", 16 maio.
- 1975. "História esquecida", 11 jun., p. 42.
- 1975a. 'Preste atenção em Campinas", 4 jun., p. 60-4.
- 1975b. "Uma cultura de ideologias - entrevista com Carlos Guilherme Mota". 2 jul.
- 1975c. GAJARDONI, Almyr. "Conjunto completo", 8 out.
- 1976. "No tempo de padre Cícero - entrevista com Ralph Della Cava". 24 nov.
- 1976a. "Uma paixão pelo trópico - entrevista com Charles Wagley". 10 mar.
- 1977. "Brasil para estrangeiros". 11 maio, p. 91.
Movimento
- 1975. NOGUEIRA, Marco Aurélio. "As lutas do poder civil". N. 8.
- 1975a. SODRÉ, Nelson W. "A invasão do conhecimento". n. 3, 21 jul.
- 1977. MENDES Jr. Antônio; MARANHÃO, Ricardo & MAAR, W. Leo. "Os livros de março".n. 94.
- 1977a. DÓRIA, Carlos A. "Um brazilianista no planalto". n. 79, 3 jan.
- 1981. Nosso programa. 23-30 nov.
Opinião
- 1976. RODRIGUES, José Honório. "Os brasilianistas europeus". n. 174, 5 mar