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A Bacia Sanfranciscana (Sgarbi, 1989[1]) é uma bacia sedimentar brasileira intracratônica localizada na porção centro-leste do Brasil, com uma área de 150.000 km2 e abrangendo os estados de Tocantins, Bahia, Goiás e Minas Gerais. Corresponde ao registro Fanerozóico da Bacia do São Francisco, com rochas de idade entre 300m.a e 70m.a, ou seja, do período Permo-carbonífero até o Cenozoico inferior (Éon Fanerozoico), representando o último megaciclo geodinâmico da Bacia São Francisco.
Limita-se a sul pelo Alto do Paranaíba, que a separa da Bacia do Paraná, e a norte pelo Alto do São Francisco, que a separa da Bacia do Parnaíba (Campos e Dardenne, 1997b[2]). As faixas Brasília e Araçuaí/Espinhaço Setentrional limitam, respectivamente, as bordas ocidental e oriental da bacia.
Devido à diferenças tectônicas, estratigráficas e ambientais a bacia pode ser dividida em duas sub-bacias: Sub-Bacia Abaeté, a sul, e Sub-Bacia Urucuia, a norte, separadas por um alto estrutural do embasamento denominado de Alto do Paracatu (Campos & Dardenne 1997a[3]).
A Bacia está em contato discordante, principalmente, com as rochas do Grupo Bambuí (considerado o topo da Bacia do São Francisco) em sua porção central, e, em porções mais restritas, com rochas metamórficas de baixo grau no extremo sul da bacia, com rochas granitóides do embasamento regional no meio norte e, em sua porção setentrional, com a seção Paleozóica da Bacia do Parnaíba.
Os estudos pioneiros do Cráton São Francisco, na qual está inserida a Bacia Sanfranciscana iniciaram ainda no século XIX, com o Barão de Eschwege, Gorceix e Derby .
A denominação Bacia Sanfranciscana, foi introduzida por Sgarbi, em 1991,[4] para denominar a cobertura fanerozóica que recobre o Cráton São Francisco. Outros nomes também foram dados, como Bacia do São Francisco (Sad et al, 1971[5]) e Bacia do Alto São Francisco (Hasui & Haralyi, 1991[6]). O primeiro termo não é indicado devido à frequente confusão com a denominação “Bacia do São Francisco” Campos & Dardenne (1997a[3]). Já o segundo termo perde seu sentido quando é associado aos limites da bacia hidrográfica do alto Rio São Francisco.
Os trabalhos que objetivam a compreensão da evolução tectônica da Bacia Sanfranciscana só se iniciaram com os artigos de Hasui & Haralyi (1991[6]) e Sawasato (1995[7]).
A unidade estratigráfica do Grupo Santa Fé foi proposto pelos trabalhos de Dardenne et al (1991[8]), Campos (1992[9]) e Campos & Dardenne (1994[10]), com esse trabalhos apresentando uma série de registros da glaciação neopaleozóica.
Os estudos dos sedimentos pertencentes ao Eocretáceo iniciaram com Arrojado Lisboa (1906[11]), descrevendo seixos facetados que posteriormente foram colocados como pertencentes ao conglomerado Abaeté, por Freyberg (1932[12]). Estes sedimentos foram tratados como Formação Areado, composta por três membros (Abaeté, Quiricó e Três Barras), por Barbosa (1965[13]), Braun (1970[14]), Cardoso (1971[15]), Barcelos & Suguio (1980[16]) e Sgarbi (1989[1]) e tratados como Grupo por Ladeira & Brito (1968[17]), Hasui & Penalva (1970[18]) e Kattah (1994[19]).
O Grupo Mata Da Corda foi descrito desde basanitos vesiculares, até rochas de origem explosivas, com granulação variando de cinza até blocos e bombas por Moraes et al (1986[20]). Moraes et al (1987[21]) classificou em termos composicionais, como kamafugitos. Leonardos & Ulbrich (1987[22]) designou como associações madupíticas/lamproíticas.
A evolução tectônica da Bacia Sanfranciscana é constituída por cinco ciclos tectossedimentares, de acordo com Sgarbi et al. (2001).[23] O primeiro ciclo relaciona-se ao início do preenchimento da bacia, com as glaciações no final do Paleozóico, isto é, no Permo-Carbonífero, que deram origem ao sistema glacial do Grupo Santa Fé.
Durante o Cretáceo Inferior ocorreu um novo ciclo tectossedimentar. Esse novo ciclo relaciona-se à formação do Atlântico Sul, ou seja, na separação das Placa Sul-Americana e Africana. Esse evento acarretou na formação da Depressão do Abaeté (Hasui et al. 1975,[24] Hasui & Haralyi 1991[6]) ou Sub-Bacia Abaeté (Campos & Dardenne 1997b[2]) no qual recebeu a sedimentação Cretácea da Bacia Sanfranciscana. A sedimentação eocretácea de um sistema desértico instalado na região deu origem ao Grupo Areado.
No Cretáceo Superior houve um ciclo tectossedimentar relacionado à reativação tectônica, que através de descontinuidades pré-cambriana, que serviram de condutos, levou ao magmatismo alcalino kamafugítico. Esse magmatismo deu origem ao Grupo Mata da Corda, que assenta-se sobre o Grupo Areado como uma discordância erosiva.
Ainda no Cretáceo Superior, um novo ciclo sedimentar ocorreu, agora ao norte, na denominada Sub-bacia Urucuia (Campos & Dardenne 1997b[2]). A sub-bacia Urucuia é separada da Sub-bacia do Abaeté pelo Alto Estrutural do Paracatu. Essa sub-bacia recebeu sedimentação eólica, fluvial e lacustre que deu origem ao Grupo Urucuia.
Por fim, no Cenozóico, ocorreu o último ciclo tectossedimentar da Bacia Sanfranciscana. Esse ciclo é representado pela Formação Chapadão que recobre alguns litotipos da Bacia.
O Grupo Santa Fé representa o primeiro ciclo de preenchimento da Bacia Sanfranciscana. O grupo é o representante do sistema glacial instalado nas médias e altas latitudes do Gonduana durante o Permo-Carbonífero. Constitui-se de depósitos de zona pró-glacial, com fácies relacionadas à base de geleiras, fluvio-glaciais, glacio-lacustres e fácies pró-glaciais eólicas. As evidências do sistema deposicional glacial que originou esse grupo, consistem, principalmente, no pavimento estriado sobre a Formação Três Marias (Grupo Bambuí), na presença de clastos pingados, além de clastos estriados em diamictitos.
O Grupo Santa Fé é dividido em duas formações: Formação Floresta (basal) e Formação Tabuleiro (topo). Tais formações apresentam passagem gradual entre si.
O Membro Brocotó são diamictitos com matriz silto-argilosa-carbonatada, com clastos as vezes estriados. Os clastos, são, em sua maioria, de arcósios da Formação Três Marias (Grupo Bambuí), ocorrendo também clastos de granitos, quartzitos, rochas carbonáticas e gnaisses. Esse membro é interpretado como tiilitos depositados em áreas restritas e tiilitos ressedimentados, com ocorrência mais ampla.
O Membro Brejo do Arroz são folhelhos vermelhos, bem laminados, com ocorrência subordinada de arenitos e conglomerados estratificados. Nesses folhelhos ocorre clastos pingados. Tais clastos tem composição variada, como quartzitos, rochas carbonáticas, gnaisses, granitos, itabiritos, xistos. Os ritmitos com laminação regular de siltitos e argilitos são interpretados como varvitos, ou seja, produto de sedimentação sazonal. Os arenitos e conglomerados, por sua vez, são interpretados como depósitos de outwash glacial.
O Membro Lavado são um conjunto heterogêneo de arenitos, arcósios e grauvacas, tendo como estruturas sedimentares estratificações cruzadas acanaladas e planar-paralelas. São interpretados como produtos de um sistema de rios entrelaçados, fluvio-gacial, alimentados pela água de degelo.
O Grupo Areado representa o segundo ciclo de preenchimento da bacia, tendo sua sedimentação ocorrida no Cretáceo Inferior. O grupo é constituído por três formações, sendo elas: Formação Abaeté, Formação Quiricó e Formação Três Barras.
Membro Carmo constitui depósitos de paraconglomerados e arenitos de sistema de leque aluvial. Os conglomerados exibem predominância de seixos e calhaus angulosos e arredondados de metassiltitos, além de quartzo, calcário, quartzito, granitóides e jaspilito. A matriz é constituída de areia, metassiltito, quartzo e microclina. Os arenitos ocorrem normalmente sobre o substrato pré-cambriano, ou a jusante dos conglomerados. São arenitos de areia grossa a média, bem arredondados, constituídos de metapelitos, quartzo e microclina. Apresentam estratificação cruzada tabular de pequeno porte, além de estratificação planar-paralela.
Membro Canabrava exibe fácies de conglomerado e de arenitos quartzosos. As fácies conglomerado são clasto-suportados, mostrando clastos de quartzito bem arredondados, sendo um conjunto de alta maturidade textural e mineralógica, em comparação ao Membro Carmo. A deposição desses conglomerados foram controlados pelo maior afluxo de água no sistema. Representam um regime fluvial entrelaçado de alta energia do tipo Scott (Miall 1977[26]). Apresentam subordinadamente arenitos e folhelhos vermelhos. As fácies de arenitos quartzosos são formados por areias médias e finas subangulosas, películas de óxido-hidróxido de ferro são comumente observado envolvendo grãos arenosos. Apresentam estratificações cruzadas de base tangencial. Essas fácies de arenitos são resultantes da formação de barras longitudinais em áreas marginais aos canais principais de alta energia.
O estudo paleontológico da Formação, composto por ostracodes (Sgarbi 1989), conchostáceos (Cardoso 1971[27]), além do conteúdo polinístico (Arai et.al 1995[28]), remetem os sedimentos ao pós-Barremiano. Esse estudo também sugere um ambiente de sedimentação continental de clima tropical árido.
O topo da sequência lacustre da Formação Quiricó apresenta intensa deformação mecânicas nos lamitos, devido ao recalque diferencial, destruindo e ou deformando, dessa forma, estruturas sedimentares presentes. Falhas de gravidade também são comuns, aparecendo tanto e escala métrica, quanto em amostras de mão.
O Membro Quitinhos resulta da deposição em um ambiente flúvio-deltáico. Nele ocorre fácies de arenitos finos sigmoidais e arenitos finos tabulares (Ladeira e Brito, 1968; Cardoso, 1971; Grossi Sad et al. 1971;[29] Ladeira et al. 1971;[30] Moraes et al. 1986;[20] Sgarbi, 1989), além de fácies de fluvial meandrante, com arenitos médios conglomeráticos. As fácies de arenitos sigmoidais ocorre na forma de pequenos deltas de Gilbert, são rosados e feldspáticos, finos a médios e angulosos.
O Membro Olegário é o membro dominante em relação a área de ocorrência e volume dentro da Formação Três Barras. É constituído por arenitos eólicos de ambientes de dunas eólicas e outro de arenitos de interdunas.
O Grupo Mata da Corda exibe rochas máfica-ultramáficas que registram a atividade vulcânica no Neocretáceo. Nesse grupo também são encontradas rochas epiclásticas. Como é observada uma forte interdigitação entre os litotipos vulcânicos e sedimentares interpreta-se que o magmatismo ocorreu como pulsos. O grupo é dividido nas Formações Patos e Capacete.
O Grupo Urucuia se desenvolveu no Cretáceo Superior. Sua deposição se deu após a amplificação da subsidência flexural causada pela abertura do Atlântico, que gerou uma calha rasa no qual foi preenchida por sedimentos que deu origem ao Grupo, representando, dessa forma, o quarto ciclo tectonossedimentar da Bacia. O Grupo constitui a unidade de mais amplo espalhamento geográfico da Bacia Sanfranciscana. É formado da base para o topo pela: Formação Posse e Formação Serra das Araras.
A Formação Chapadão corresponde ao último ciclo tectossedimentar da Bacia Sanfranciscana, que ocorreu no Cenozóico. A unidade é descontínua, apresentando pequenas espessuras e refere-se aos sedimentos arenosos que encobrem os planaltos e chapadas da bacia. Podem ser classificados como coberturas cenozóicas inconsolidadas aluvionares, coluvionares e eluvionares.
O Sistema Aqüífero Urucuia (SAU) corresponde a uma das mais importantes reservas de água subterrânea brasileira e representa uma associação de aqüíferos que ocorrem em arenitos flúvio-eólicos do Grupo Urucuia (Gaspar & Campos, 2007[35]). O aquífero possui uma área de ocorrência de cerca de 76.000 km², abrangendo os estados de Minas Gerais, Goiás, Bahia, Tocantins, Piauí e Maranhão. Enquadra-se na província hidrogeológica São Francisco e é do tipo intergranular.
A Bacia Sanfranciscana destacou-se como uma grande produtora de diamantes no país, com ocorrências nos terraços aluvionares e em aluviões recentes da bacia, além de ocorrências locais nos conglomerados basais do Grupo Areado. Os sedimentos vulcanoclásticos da Formação Capacete do Grupo Mata da Corda também apresentam potencial para depósitos de diamantes. E ainda na bacia, foram noticiadas, no final da década de 90, ocorrências de kimberlitos economicamente viáveis.
A bacia apresenta também relevância econômica para o setor da construção civil, correspondente aos depósitos rudíticos da Formação Abaeté, que representam materiais de alta qualidade visual e elevada resistência mecânica.
Antigos dados do Serviço Mineralógico do Brasil relatam ainda a ocorrência de platina na Formação Capacete, e a presença de óxido de titânio nessa mesma formação.
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