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Arthur Ramos de Araújo Pereira[nota 1] (Pilar, 7 de julho de 1903 — Paris, 31 de outubro de 1949) foi um médico psiquiatra, psicólogo social, etnólogo, folclorista e antropólogo brasileiro.
Arthur Ramos | |
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Em 1940. | |
Nascimento | 7 de julho de 1903 Pilar (Alagoas) |
Morte | 31 de outubro de 1949 (46 anos) Paris, França |
Nacionalidade | brasileira |
Ocupação | médico psiquiatra, antropólogo, psicólogo social, folclorista |
Escola/tradição | Escola da Bahia, Escola Nina Rodrigues |
Um dos principais intelectuais de sua época,[1] e importante no processo de institucionalização das Ciências Sociais no Brasil, é considerado o pai da antropologia brasileira. Teve grande destaque nos estudos sobre o negro e a identidade do Brasil. Desenvolveu e cunhou o termo "democracia racial", mais tarde divulgado por Gilberto Freyre.
Filho do médico Manuel Ramos de Araújo Pereira e Ana Ramos, teve sete irmãos: Luís, Evangelina, Raul, Nilo, Aluísio, Georgina e Julita. Aos quinze anos publicou o seu primeiro artigo no semanário "O Pilar" e no ano de 1921 ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia.
Em 1926 defendeu a tese de doutorado denominada "Primitivo e Loucura", ganha o reconhecimento de Sigmund Freud, Paul Eugen Bleuler e Lucien Lévy-Bruhl.[nota 2] No mesmo ano recebe o título de doutor em ciências médicas pela Faculdade de Medicina da Bahia. No ano seguinte começa a trabalhar em um hospital psiquiátrico de Salvador como médico legista - Serviço Médico Legal do Estado da Bahia - e realiza seu primeiro contato com questões da cultura negra por meio dos estudos recolhidos do médico Raimundo Nina Rodrigues: "um conjunto de dados etnográficos sobre a vida cotidiana nos terreiros", sobre a vida religiosa de origem africana na Bahia, pormenores dos ritos e seus personagens e as relações sociais entre os praticantes das religiões afro-brasileiras e a comunidade em que estavam inseridos. Longe de preconceitos, tratando-se de estudos científicos da década de 1930, Ramos insurgiu-se contra o que considerava equívocos dos homens de ciência da época, inclusive Nina Rodrigues, contrastando a herança das teorias racistas do século XIX com a ideia progressista da época, hoje equivocada, de "atraso cultural".[2]
O etnógrafo utilizou a psiquiatria, a psicanálise e a antropologia para investigar a mentalidade e a cultura dos brasileiros. De certa forma, pioneiro na aplicação da psicanálise para a pesquisa da religiosidade de origem negra no Brasil, Ramos também questionou o programa educacional de compromisso higienista, não em sua preocupação de levar ao povo negligenciado, uma "consciência sanitária", mas naquilo que fosse mera imposição de costumes e práticas de saúde[3].
Em 1933, muda-se para o Rio de Janeiro, onde publica O Negro Brasileiro, assume a cátedra de Psicologia Social e e é nomeado por Anísio Teixeira chefe do "Serviço de Ortofrenia e Higiene Mental"[5], onde ficou até 1939. Neste serviço, analisou mais de 2000 estudantes de escolas públicas do Rio de Janeiro. Buscou romper com algumas concepções que rotulavam crianças como "anormais" por apresentarem comportamentos tidos como inadequados, como por exemplo: desatenção, rebeldia, mentira, dentre outros. Arthur Ramos acreditava que os comportamentos não tinha uma origem meramente genética, mas, sobretudo, social. Assim, sustentou que a maior parte dos comportamentos tidos como indesejáveis advinham de questões do meio social (relações familiares e escolares). Em sua visão, a família e a escola assumem papel imprescindível para a formação da personalidade. Como resultado do SOHM, publicou os livros A Criança Problema e Saúde do Espírito, ambos de 1939.
Em 1935 casa-se com Luisa Gallet, viúva de Luciano Gallet, sua grande colaboradora, mas não tiveram filhos. Nos Estados Unidos ensinou, pesquisou e participou de vários simpósios nas Universidades de Louisiana, Califórnia, Harvard e Columbia, ao lado de grandes nomes das Ciências Sociais. No Brasil obteve reconhecimento e respeito de Jorge de Lima, Raquel de Queirós, Jorge Amado, Gilberto Freyre, Estácio de Lima, Théo Brandão, José Lins do Rego, Aurélio Buarque de Holanda, Graciliano Ramos, Nise da Silveira, Silvio de Macedo, Rita Palmares, Lily Lages e Gilberto de Macedo, dentre tantos outros, seus amigos e admiradores. Era um humanista e, através de suas idéias libertárias, lutou contra o imperialismo e o preconceito racial, sendo preso duas vezes pelo DOPS, na ditadura Vargas.
Nunca esqueceu sua terra. Percebe-se isso quando escreveu: "A minha recompensa maior será a de estar ouvindo aquelas vozes queridas que os ventos constantemente me trazem do Pilar distante para a música do meu coração.
Na capital francesa, em 1949, foi diretor do Departamento de Ciências Sociais da UNESCO, quando desenhou os primeiros contornos do Projeto UNESCO no Brasil, que ocorreu na década de 1950. Morreu ajudando a construir um Plano de Paz para o mundo, ao lado de Bertrand Russel, Jean Piaget, Maria Montessori e Julien Huxley.
A morte prematura interrompeu, em plena maturidade, a sua trajetória intelectual, sacrificando não apenas a continuidade da obra mas a sua divulgação, especialmente nas três últimas décadas. De toda a sua vasta contribuição à antropologia, só O Negro Brasileiro, publicado pela primeira vez em 1934, ganhou, em 2001, nova reedição, dentro da série Memória Brasileira, da editora Graphia.
Arthur Ramos deixou um legado de mais de seiscentas obras, entre livros e artigos, que até hoje são fontes de estudos para a psiquiatria, o negro, o índio e o folclore brasileiro.[nota 3]
Arthur Ramos publicou também muitos artigos em diversos periódicos que não foram aqui arrolados.
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