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Arte naïf é um conceito que designa a produção de artistas autodidatas que desenvolvem uma linguagem pessoal e original de expressão. Começou a chamar a atenção do mercado de arte desde que Henri Rousseau expôs no Salão dos Independentes em 1866, e desde então vem recebendo atenção crítica e ganhando novos apreciadores. Geralmente a arte naïf é descrita como espontânea, informal, poética, popular e criativa, e geralmente mantém algum contato com fontes eruditas e folclóricas. Suas características gerais são encontráveis em vários períodos históricos.
Arte naïf é um conceito da crítica e história da arte desenvolvido a partir do reconhecimento da obra de Henri Rousseau (1844-1910), um pintor autodidata que expôs suas pinturas no Salão dos Independentes de Paris, em 1886. Suas pinturas despertaram a ironia de críticos acadêmicos, que o chamaram de naïf (ingênuo ou inocente, em francês), mas foram valorizadas por figuras da vanguarda como o poeta Guillaume Apollinaire, o dramaturgo Alfred Jarry, e os pintores Robert Delaunay, Paul Signac, Picasso, Matisse, Paul Gauguin e Kandinsky. Elas não guardavam nenhuma das convenções da arte acadêmica, a corrente dominante, contra a qual os Independentes lutavam, e tampouco se assemelhavam com eles, em geral alinhados às correntes impressionista e pré-modernista.[1][2] Segundo Maria Helena Freitas, "quando o artista Henry Rousseau foi rotulado com o termo naïf, com o objetivo de menosprezar a sua obra, ocorreu o inverso; as inúmeras críticas desfavoráveis, que no início levou o público às risadas, com o passar do tempo, acabaram por despertar a atenção e curiosidade para conhecer o seu trabalho, com a posterior aceitação do seu estilo".[3]
A partir deste modelo as características do seu estilo foram projetadas sobre a obra de inúmeros outros artistas, do passado e do presente, identificando padrões gerais recorrentes. A aceitação desta forma de arte cresceu constantemente ao longo do século XX, foi mesmo uma influência importante para algumas correntes da vanguarda, e nas últimas décadas vem ganhando um público mais amplo de especialistas e leigos.[1][2] Muitas exposições são programadas pelo mundo todos os anos, muitos museus se dedicam exclusivamente a esta forma de manifestação, e em muitos outros ela tem algum espaço.[4] Mesmo assim, ainda permanece como uma expressão marginal no grande mercado, e para muitas pessoas essa arte sequer é arte verdadeiramente.[2] Para o historiador Robson da Costa,
O conceito está hoje consagrado na crítica de arte, mas sua definição ainda é imprecisa e sua aplicação não é muito consistente. Geralmente são citados como critérios principais de identificação:[1][6][2][4]
Na definição do pesquisador Jacivaldo Machado,
A arte naïf muitas vezes é estudada em relação ao campo da psicologia, encontrando-se semelhanças entre suas representações com variados arquétipos simbólicos encontrados em antigas tradições. Se associa à arte infantil pela característica espontaneidade e liberdade criativa, mas se distingue dela por não ser o resultado de um estágio específico de maturação cognitiva e motora. Geralmente os artistas naïfs não têm modelos formais, mas é evidente a influência de alguns traços das escolas dominantes da arte erudita na obra de muitos deles.[1][2] A produção de Edward Hicks, um prestigiado naïf norte-americano do século XIX, por exemplo, pode facilmente ser identificada com o estilo da escola romântica.[7]
A arte naïf tem muitas características em comum com a arte rupestre da Pré-História, e com a arte popular em geral, que sempre tem sido uma rica fonte de inspiração para a arte chamada erudita. De fato, por muitos séculos os limites entre a arte do povo e a arte para os príncipes foram borrados, e a diferença estava mais na sutileza da técnica do que no estilo das formas. A linguagem visual por muito tempo foi a mesma, embora a materialização variasse conforme a habilidade técnica.[1][8] Há muito de naïf nas figuras fortemente estilizadas das iluminuras românicas, por exemplo, ou nas carrancas retorcidas das catedrais góticas, que eram a mais refinada arte da sua época, e em muito da arte que não segue os princípios do Classicismo.[4] Para a pesquisadora Maria Helena Freitas,
A arte naïf dificilmente pode ser caracterizada como um estilo, embora na multiplicidade de estilos individuais que engloba haja uma maneira de expressão comum a todos que é aquilo que se tipifica como naïf. Cada pintor naïf, de fato, inaugura o seu próprio estilo — alguns são extremamente detalhistas e têm uma técnica sutil, outros são sintéticos e rústicos na representação e na realização material; uns geometrizam e estilizam, outros são naturalistas; uns se preocupam com efeitos de sombreado, outros usam cores chapadas, com todas as formas intermediárias possíveis.[1][2]
Entre os primeiros a ganhar fama estão: Henri Rousseau, Alfred Wallis (1855-1942), Camille Bombois (1883-1970), Ivan Generalic (1914-1992), John Kane (1860-1934), Théophilos Hadzimichael (c.1870–1934), Aristide Caillaud (1902-1990), Joseph E. Yoakum (1890-1972), Mario Urteaga (1875-1957), Louis Vivin (1861-1936), Séraphine Louis (1861-1936), Miguel García Vivancos (1895-1972), Morris Hirshfield (1876-1946), Anna Mary Robertson (1860- 1961) conhecida como Vovó Moses, Edward Hicks (1780-1849), Rigaud Benoit (1911-1986), Hector Hippolyte (1894-1948), Philome Obin (1891-1986), Castera Bazile (1923-1966), Djiguemde H. Roger, Adele Bantjes, Hudry Hayat, Naina Kanodia (1950), Erica Hestu Wahyuni, Mario Gonzalez Chavajay, Angelina Quic.[2]
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