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Aquecimento global de 1,5 ºC (no original em inglês, Global Warming of 1.5 ºC — An IPCC Special Report on the impacts of global warming of 1.5°C above pre-industrial levels and related global greenhouse gas emission pathways, in the context of strengthening the global response to the threat of climate change, sustainable development, and efforts to eradicate poverty) é um relatório especial do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) publicado em 2018 para estudar os impactos de um aquecimento global de 1,5 ºC, meta estabelecida pelas nações durante a 21ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (CQNUMC), e formalizada no Acordo de Paris de 2015. O relatório analisou milhares de trabalhos relevantes produzidos nos anos recentes e confirmou as conclusões gerais dos relatórios anteriores, mas colocou em maior evidência a urgência e a vasta amplitude das mudanças necessárias para que a meta seja alcançada e as piores consequências previstas sejam evitadas.
Durante muitos anos vigorou a ideia de que o aquecimento global deveria ser contido no limite de 2 ºC, pois considerava-se que era o nível de aquecimento máximo que o sistema da Terra poderia suportar sem desencadear consequências catastróficas. Com o aprofundamento do conhecimento sobre o problema, especialmente após estudos de 2014 revelando que o gelo polar estava se mostrando muito mais instável do que o previsto, as preocupações da comunidade científica aumentaram rapidamente. Isso levou a CQNUMC a designar um grupo de 70 destacados climatologistas para realizarem uma reavaliação das metas globais até então em vigor, chegando à conclusão de que seria mais prudente manter o aquecimento "bem abaixo de 2 ºC".[1]
A recomendação foi acatada oficialmente pela comunidade internacional e o nível de 1,5 ºC foi definido na 21ª Conferência das Partes, sendo consagrado no Acordo de Paris de 2015.[2] A partir do Acordo, o IPCC decidiu fazer uma avaliação dos impactos de um aquecimento de 1,5 ºC, para subsidiar legisladores e futuras ações de mitigação e adaptação ao aquecimento global, resultando no presente relatório, elaborado por 91 especialistas e revisores de 40 países, que analisaram uma bibliografia de mais de 6 mil títulos com as mais recentes e relevantes pesquisas no campo.[3]
Embora o IPCC afirme que não existem "níveis seguros" de aquecimento, e enfatize que qualquer elevação adicional ao já observado é indesejável, reconhece que é impossível uma transição instantânea para a sustentabilidade, e que algum aquecimento adicional é inevitável. Porém, o relatório deixou bastante claro que existem muitas vantagens e são menores os riscos em um nível de 1,5 ºC, e que as nações deveriam envidar todos os esforços para que ele seja mantido.[6] Segundo Hans-Otto Pörtner, co-presidente do Grupo de Trabalho II do IPCC, "cada fração adicional de aquecimento importa, especialmente porque o aquecimento superior a 1,5 ºC aumenta os riscos associados a mudanças irreversíveis ou de longa duração".[7]
O relatório recebeu ampla divulgação internacional e foi recebido de maneira geral como um marco importante, e como um claro alerta de que é preciso mudanças profundas e rápidas nos sistemas de produção e consumo, bem como nos modos de pensamento e relação com a natureza, para que o mundo não enfrente um desafio do qual não poderá sair sem traumas catastróficos em múltiplos níveis.[6][3][8][9][10][11]
Matt McGrath, correspondente especial da BBC, declarou que "não há dúvidas de que este sumário é o mais significativo alerta dos últimos vinte anos sobre os impactos da mudança climática".[12] O editorial da edição de 9 de outubro de 2018 do influente jornal The New York Times enfocou a publicação e colocou como manchete a frase "Acordem, líderes do mundo. O alerta é ensurdecedor", e introduzindo a matéria, disse: "Quando um grupo cauteloso, científico e largamente apolítico como o IPCC diz que o mundo deve transformar completamente seus sistemas de energia dentro da próxima década ou arriscar-se a um desastre ecológico e social, deve-se prestar atenção".[13]
Nas palavras de António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, "este relatório, produzido pelos principais climatologistas em atividade, é um sonoro chamado para o mundo. Ele confirma que a mudança climática está andando mais rápido que nós, e que nosso tempo está acabando".[8] O editorial da prestigiada revista Nature de 9 de outubro de 2018 afirmou: "O cenário é sombrio. Os legisladores e as outras pessoas devem tirar deste relatório um sentido de urgência, o entendimento de que a mudança climática é um problema de agora, e a convicção de que podem fazer a diferença. [...] Como o sumário publicado em 8 de outubro deixa claro, 1,5 ºC já é problemático o bastante, mas há um mundo de diferença entre 1,5 e 2 ºC".[6] Julia Steinberger, professora e pesquisadora da Universidade de Leeds, disse que "este relatório mostra claramente que devemos agir juntos para reduzir as emissões a zero nos próximos vinte anos. Uma redução rápida nesta escala só será possível se falarmos em voz alta, e pressionarmos juntos as indústrias e legisladores".[3] Na opinião de Nathan Hultman, diretor do Center for Global Sustainability da Universidade de Maryland,
Apesar da gravidade da questão como foi colocada, o relatório recebeu várias críticas por ser alegadamente cauteloso e conservador demais. Essas críticas o IPCC tem recebido desde sua fundação, e para um significativo grupo de especialistas a situação é ainda mais grave e urgente do que o IPCC apresenta.[15][16][17][18] Para Michael Mann, diretor do Centro de Ciência do Sistema Terrestre da Universidade Estadual da Pensilvânia e antigo autor principal dos relatórios do IPCC, este documento não é alarmista, como os negacionistas do clima têm afirmado, e "se é alguma coisa, é o oposto. Mais uma vez, neste último relatório, o IPCC foi excessivamente conservador". James Hansen, um dos principais climatologistas do mundo, disse que "1,5 ºC não apenas irá transformar a Terra além do reconhecimento, mas pode também desencadear ciclos de autorreforço que em última análise deixarão o planeta inabitável".[15] Bob Ward, diretor do Centro para Economia e Política da Mudança Climática da Escola de Economia e Ciência Política de Londres, disse que o relatório é falho especialmente no Sumário para os Legisladores, um resumo e guia prático escrito em linguagem acessível direcionado aos leigos, omitindo ou minimizando alguns riscos graves trabalhados em detalhe nos capítulos integrais, como os riscos de mudanças abruptas e radicais no clima, a possibilidade de aumento dos conflitos armados e de migrações em massa.[16] Também expressaram preocupação com a omissão ou rebaixamento de riscos Mario Molina, ganhador do Prêmio Nobel de Química,[15] Durwood Zaelke, fundador do Instituto para Governança e Desenvolvimento Sustentável,[19] e Veerabhadran Ramanathan, professor da Universidade da Califórnia, entre outros.[18]
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