Anzitena
província extinta na Armênia Da Wikipédia, a enciclopédia livre
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Anzitena ou Anzitene (em latim: Anzitena; em grego: Ἀνζιτηνή; romaniz.: Anzitené; em armênio: Անձիտ; romaniz.: Anjit) foi uma antiga província do Reino da Armênia de grande importância durante a Antiguidade e Idade Média. Em decorrência de sua posição privilegiada, foi anexada pelo imperador romano Diocleciano (r. 284–305) em 297 como forma de assegurar a defesa de Melitene e da principal rota militar local. Durante o reinado de Valente (r. 364–378), os nobres locais desertadas o rei armênio Ársaces II (r. 350–368) em prol de Sapor II (r. 309–379). Durante o reinado do imperador bizantino Justiniano (r. 527–565), a fronteira bizantina na Armênia foi estendida para o vale do Arsânias, com Anzitena passando a fazer parte da província da Armênia IV.
Pelo século VII, com a expansão islâmica pelo Oriente Médio, Anzitena e suas regiões vizinhas tornar-se-iam uma importante base para ataques à Anatólia. No século IX, o imperador Teófilo (r. 829–842) foi capaz de atacar as principais cidades de Anzitena e pelo século X, o general João Curcuas reconquistou Melitene, Arsamosata e Teodosiópolis. Apesar disso, pela mesma época, o hamadânida emir de Alepo Ceife Adaulá (r. 945–968) lançou uma série de expedições nos domínios recém conquistados, ameaçando a posição bizantina. Em 1058, os turcos seljúcidas invadiram a região e saquearam Melitene. No período entre 1071-1081, em decorrência do desastre bizantino na Batalha de Manziquerta, os seljúcidas expandiram-se por todo o planalto armênio e a Anatólia Oriental para leste rumo a Bitínia.
Durante a Primeira Cruzada, a região foi dominada por Boemundo I de Antioquia (r. 1099–1111), porém o controle cruzado perdurou poucos anos, pois em 1100, após a Batalha de Melitene, ela passaria para os danismendidas. No final do século XII, Melitene voltou a pertencer os domínios seljúcidas, porem poucas décadas depois seria conquistada pelo Império Mongol e então pelo Ilcanato. Depois foi sucessivamente dominada pelos vários poderes que expandiram-se pela região nos dois séculos seguintes até ser tomada em definitivo pelo Império Otomano em 1516.
Anzitena localizava-se na extremidade sudoeste da Armênia e era limitada pelo Eufrates a oeste, pelo curso inferior do rio Arsânias (atual Murate) a norte e pelos Montes Tauro a leste e sudeste. Devido sua localização, ela controlou várias das principais rotas que atravessavam a Armênia, notadamente duas de eixo oeste-leste que percorriam a planície de Melitene, cruzavam o Eufrates em Tomisa (atual Kömür Hu), atravessavam Anzitena e por fim seguiam pelo vale do Arsânias para a região em torno dos afluentes ao norte do lago de Vã.[1]
Anzitena também controlou o passo Ergani, a mais ocidental das duas rotas que atravessavam o Tauro armênio, que ligava o planalto armênio com a rica bacia do Tigre Superior, e algumas rotas menores, notadamente uma que percorreu o eixo norte-oeste em direção ao norte da Anatólia, cruzando o Arsânias no vau de Aşvan e o Eufrates próximo a Ağın, e outra que cruzou o Arsânias no vau de Pertek e percorreu para norte para a cordilheira de Muzuro e o vale do Eufrates Superior.[1]
Em decorrência de sua posição privilegiada, Anzitena permaneceu como uma zona constantemente cobiçada pelos grandes poderes em conflito na região. Originalmente era uma província do Reino da Armênia. A medida que o Império Romano expandiu-se para leste, Anzitena atuou como um dos limites orientais do império, permaneceu abaixo da fronteira no Eufrates. Em 297, foi conquistada pelo imperador Diocleciano (r. 284–305) e passou a atuar como um escudo para Melitene a principal rota militar da região, que atravessavam o passo Ergani.[1]
Em 368, durante o reinado de Valente (r. 364–378), o xá sassânida Sapor II (r. 309–379) valeu-se de suborno para convencer os nacarares (senhores hereditários) armênios de Anzitena, Ingilena e Sofena a desertar Ársaces II (r. 350–368), o rei armênio pró-romano, numa tentativa de enfraquecer os partidários lealistas e ocupar todo o país,[2] que a séculos era uma zona de litígio entre o Império Romano e os Estados iranianos.[3][4] Sapor II, ao adquirir o apoio desejado, encarcerou Ársaces II e sitiou seu sucessor Papa e sua esposa Farranzém na fortaleza de Artogerassa. Papa conseguiu escapar para a corte de Valente em Constantinopla e em 370, sob proteção de um grande exército, foi recolocado no trono.[5]
Durante o reinado do imperador bizantino Justiniano (r. 527–565) os domínios imperiais foram estendidos para o vale do Arsânias, assegurando uma nova rota militar bem a leste de Anzitena. Administrativamente, desde 536, como parte das inúmeras reformas promulgadas por Justiniano, Anzitena faria parta da província da Armênia IV.[6] No século VII, mais precisamente desde a conquista do sudoeste da Armênia com a tomada de Melitene em 638, o território da cidade e o vale inferior do Arsânias, incluindo Anzitena, tornar-se-iam uma região fortemente militarizada, servindo como uma sólida base para operações militares em direção a Anatólia no transcurso da expansão islâmica, bem como para o controle dos planaltos armênios.[1]
No século IX, após dois séculos de revezes militares perante as hordas árabes, os bizantinos sob os imperadores Teófilo (r. 829–842) e Miguel III, o Ébrio (r. 842–867) tomaram a dianteira da ofensiva e conseguiram reaver alguns de seus antigos domínios na região da Armênia e regiões vizinhas. Tarso, na Cilícia, foi reconquistada em 831, um feito que seria seguido pela reconquista temporária de Melitene e Arsamosata (também em Anzitena) em 837, a destruição de Sozópetra, na Capadócia, no mesmo ano[7][8] e a derrota das forças do emir Ambros (r. anos 830–863) na Batalha de Lalacão em 863.[9]
Pelo século X, os bizantinos intensificaram suas expedições contra os árabes, conseguindo assim mais sucessos no campo de batalha. Sob o comando do general João Curcuas, Melitene foi definitivamente capturada em 934, com sua população árabe sendo substituída por colonos gregos e armênios. Após a consolidação da posição bizantina no distrito recém-conquistado, o exército imperial avançou mais a leste, o que resultou na anexação de porção oriental de Anzitena em 937, na estrangulação e captura de Arsamosata entre 937-939, a tomada dos planaltos de Corzana entre 937-942, a abertura do principal passo oriental para o exército entre 942-944 e a conquista de Teodosiópolis[10] e Calícala em 949.[11][12]
Tais vitórias deixaram estável a situação em Anzitena. Ela foi incorporada ao Tema da Mesopotâmia, permanecendo subordinada a ele até seu desmembramento em 971/975, e a Diocese de Camacho, subordinada ao Patriarcado de Constantinopla,[13] que fora fundada logo após a conquista bizantina de Sofena entre 938-939 e se estendia sobre o país conquistado em direção à planície do Arsânias, onde provavelmente juntou-se a uma diocese do Patriarcado de Antioquia.[14] Em decorrência de sua posição, ela não podia ser ameaçada por ataques estrangeiros, exceto se viessem pelo sul, através do Tauro armênio.[10]
Apesar disso, as vitórias bizantinas foram ameaçadas pelas campanhas realizadas pelo hamadânida Ceife Adaulá que, em 938, atacou as cercanias de Melitene[15][16][17] e depois em 953,[10] como emir de Alepo (r. 945–967), devastou novamente as cercanias da cidade e derrotou o general Bardas Focas, o Velho na Batalha de Marache.[18] Depois disso, em 956, Adaulá atacou novamente o região, em antecipação a um inevitável cerco a Amida,[19] mas foi derrotado em 958, quando retornava para Alepo, na Batalha de Raban.[20][21] Em 978, o emi hamadânida de Moçul Abu Taglibe (r. 967–978) fugiu para Anzitena na esperança de conseguir assistência do general rebelde Bardas Focas, o Jovem contra o emir buída de Xiraz Adude Adaulá (r. 949–983) que estava sitiando Maiafarquim, um dos domínios de Abu Taglibe.[22][23][24]
Em 1058, Anzitena foi invadida pelos turcos seljúcidas, que saquearam Melitene.[25] Em 1071, o imperador Romano IV Diógenes (r. 1068–1071) avançou com um exército bizantino de grandes proporções para confrontar os invasores e acabou sendo derrotado na Batalha de Manziquerta por Alparslano (r. 1063–1072). Até 1081, os seljúcidas expandiram seu domínio sobre quase todo o planalto da Anatólia e Armênia até o leste da Bitínia, e no ocidente fundaram, em 1077, o Sultanato de Rum, com capital em Niceia.[26] A região permaneceu em controle seljúcida até a Primeira Cruzada, quando foi conquistada por Boemundo I de Antioquia (r. 1099–1111). Em 1100, contudo, após a Batalha de Melitene, Anzitena permaneceu sob controle dos danismendidas.[27]
Em 1178, Melitene novamente esteve sob controle dos seljúcidas[28] e permaneceu sob suserania deles até ser conquistada no século XIII pelo Império Mongol e então pelo Ilcanato.[29] Pelos séculos século XIV e XV, a região foi subsequentemente controlada pela Confederação do Cordeiro Negro, pelo Sultanato Mameluco (1315) de Anácer Maomé (r. 1299–1341), pelo Sultanato Otomano (1391/1392) de Bajazeto I (r. 1389–1402), pelo Império Timúrida (1400/1401) de Tamerlão (r. 1370–1405), pelo Império Safávida (1507) de Ismail I (r. 1501–1524)[30] e por fim pelo Império Otomano (1516) de Selim I (r. 1515–1520).[31]
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