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sistema filosófico ou político Da Wikipédia, a enciclopédia livre
O tradicionalismo, muitas vezes conhecido como conservadorismo clássico, é uma filosofia política e social que enfatiza a importância dos princípios morais transcendentes, manifestados através de certas leis naturais postuladas às quais se afirma que a sociedade deveria aderir.[1] O conservadorismo tradicionalista, tal como o conhecemos hoje, baseia-se principalmente nas opiniões políticas de Edmund Burke, embora o conservadorismo representasse uma forma ainda mais antiga e mais primitiva de conservadorismo tradicionalista.[1] Os tradicionalistas valorizam os laços sociais e a preservação das instituições ancestrais acima do que consideram individualismo excessivo.[1]
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Os conceitos de nação, cultura, costume, convenção e tradição são fortemente enfatizados no conservadorismo tradicionalista.[2] A razão teórica é considerada de importância secundária em relação à razão prática.[2] O Estado também é visto como um empreendimento social com características espirituais e orgânicas. Os tradicionalistas pensam que qualquer mudança surge espontaneamente das tradições da comunidade e não como consequência de um pensamento deliberado e fundamentado. Liderança, autoridade e hierarquia são vistas como naturais aos humanos.[2] O tradicionalismo surgiu na Europa ao longo do século XVIII, principalmente como uma reação aos acontecimentos das Revoluções Inglesa e Francesa. O conservadorismo tradicionalista começou a se estabelecer como uma força intelectual e política em meados do século XX.[3]
Os literários tradicionalistas são frequentemente associados aos conservadores políticos e à direita, enquanto as obras experimentais e a vanguarda são frequentemente associadas aos progressistas e à esquerda. John Barth, um escritor pós-moderno e teórico literário, disse: "Confesso que perdi, em seminários para aprendizes no final dos anos 1970 e 1980, aquele espírito animado do Make-It-New dos anos 60 de Buffalo. Uma sala cheia de jovens tradicionalistas pode ser tão deprimente como uma sala cheia de jovens republicanos."[4]
James Fenimore Cooper, Nathaniel Hawthorne, James Russell Lowell, W. H. Mallock, Robert Frost e T. S. Eliot estão entre as figuras literárias abordadas em A Mente Conservadora (1953) de Russell Kirk. Os escritos de Rudyard Kipling e Phyllis McGinley são apresentados como exemplos de tradicionalismo literário em O Leitor Conservador (1982). Kirk também foi um conhecido autor de ficção assustadora e de suspense com sabor gótico. Ray Bradbury e Madeleine L'Engle elogiaram romances como Antiga Casa do Medo, Uma Criatura do Crepúsculo e Senhor da Escuridão Oca, bem como contos como "Lex Talionis", "Lago Perdido", "Além dos Tocos", "Ex Tenebris" e "Bolsa do Destino". Kirk também era amigo íntimo de vários pesos pesados da literatura do século XX, incluindo T. S. Eliot, Roy Campbell, Wyndham Lewis, Ray Bradbury, Madeleine L'Engle, e Flannery O'Connor, todos os quais escreveram poesia conservadora ou ficção.
Evelyn Waugh e G. K. Chesterton – dois romancistas britânicos e católicos tradicionalistas – e Fernando Sánchez Dragó são frequentemente considerados conservadores tradicionalistas.[5]
A gênese do tradicionalismo português está na obra contra-revolução de Pascoal de Meio Freire.[6] Rejeitando os ideais da Revolução Francesa, do movimento das rebeliões liberais do Porto e separatista do Brasil, os tradicionalistas se identificaram com o tradicionalismo de D. Miguel I.
Obras panfletárias do naipe de Dissertação a favor da monarquia (1799) do marquês de Penalva; os escritos antifranceses de José Acúrcio das Neves (1808 – 1817) e de José Agostinho de Macedo (1809 – 1812); a Refutação metódica das chamadas bases da Constituição política da monarquia portuguesa (1824); Os povos e os reis (1825), de Faustino da Madre de Deus; enquanto no Brasil, a obra propagou tais ideais o Visconde de Cairu.
Após a derrota do miguelismo, José da Gama e Castro (1795 – 1873) continua viva a chama tradicionalista lusitana com a sua obra magna O Novo Príncipe ou o espírito dos governos monárquicos (Rio, 1841). Além da influência patente de Maquiavel, inspirou-se em Burke, Vico e Montesquieu para justificar a monarquia absolutista com base na história e na experiência dos povos, rejeitando qualquer especulação aprioristamente dedutivista.
“A monarquia origina-se diretamente das famílias, tendo se verificado o mesmo por toda a parte. As famílias --que tiveram originariamente o chefe, os filhos e os fâmulos-- fizeram nascer os estados, onde as denominações passam a ser rei ou monarca, nobres e plebe. Examinando-se o curso histórico dos povos verifica-se que a particular organização política que chegaram a adotar dependia das circunstâncias concretas. Uma nação comerciante organiza-se de muito diferente maneira que uma nação agrícola; o mesmo podendo-se dizer da posição geográfica, se marítima ou continental. Assim, quando se diz fazer a constituição, trata-se de declarar direitos preexistentes ou relações anteriormente formadas. A constituição de uma nação não faz a posição política dessa nação, explica-a. Examinada a experiência europeia verifica-se que a estabilidade e felicidade das nações não depende da forma da sua constituição, mas das qualidades do príncipe.”[7]
Em Portugal, no século XIX, distinguiram-se nesse campo autores como Camilo Castelo Branco e a generalidade dos integralistas como Luís de Almeida Braga, António Sardinha ou Hipólito Raposo, em que a tradição transformou-se na palavra-chave congregadora do Integralismo Lusitano.
Segundo Sardinha, tradição não é somente o passado; é antes a permanência no desenvolvimento. Assim como Almeida Braga que salienta que a tradição não é contrária ao progresso: o passado é força que nos arrasta, não é cadeia que nos prende. Toda a exata noção de Progresso está numa sã interpretação da Tradição, pois o verdadeiro tradicionalismo é, antes de tudo, uma interpretação crítica do Passado, quer dizer, uma atitude de razão. Nega-se assim a identificação da tradição com a inércia, o passadismo e a rotina.[8]
A mudança, porém, deve realizar-se sem romper com os antecedentes morais que são o fundamento de uma dada sociedade.[9] O tradicionalismo reage, normalmente, de forma negativa às revoluções, em especial aquelas que pretendem fazer tábua rasa do passado e do fundamento moral que constituiu uma dada sociedade. Opta antes pela contra-revolução. Para o tradicionalista, deve ser a História, e não as nossas predilecções doutrinárias, o melhor guia na determinação dos regimes políticos. Se uma dada instituição, como a Instituição Real, por exemplo, foi derrubada, é decerto contraproducente tentar voltar e reerguê-la tal como existia, mas deverá ser observado se a função que essa instituição desempenhava encontrou um substituto capaz.
Enquanto carácter filosófico-teológico católico, que se pode confundir com o ultramontanhismo, representa uma oposição do racionalismo extremado, característica principal do século XVIII. Os critérios para encontrar a sua verdade consiste, basicamente, na sua antiguidade, perpetuidade e universalidade. Deste modo, o tradicionalismo defende a submissão de toda ordem moral e social ao poder da Igreja, e a reinstauração da antiga monarquia (não constitucional) como o sistema de governo mais verdadeiro, partindo da aceitação do seu princípio divino.[10]
Obviamente os partidários das ideias consideradas de esquerda são os adversários imediatos, pois defendem ser preciso superar a desigualdade social, o domínio de classes e opressões causadas por estruturas que permanecem imutáveis por muitos séculos. Ou seja, argumentam que manter as tradições é uma forma de perpetuar a exploração e antigas formas de preconceito.[9]
No início do século XX, o tradicionalismo recebeu um contributo insuspeito da ciência nas descobertas de René Quinton, com a «lei da constância do meio vital dos seres». Nessa lei, Quinton não negou a Evolução, mas concretizou-lhe as possibilidades: “os organismos vivos, para se manterem, procuram sempre restabelecer a pureza do seu meio vital, isto é, procuram manter a inviolabilidade das circunstâncias especiais que os geraram e de cuja guarda e duração depende a sua existência”. Os tradicionalistas viram aí uma estrondosa confirmação do princípio tradicionalista: “res eodem modo conservatur quo generantur” (“as coisas existem pelas mesmas razões porque se geram”).
A renovação da biologia seguiu o seu próprio caminho, mas ajudando a destronar o rudimentar ideário do progresso indefinido. Situado na órbita dos fenómenos sociais, o tradicionalismo continua a entender a política como uma realidade, ou uma experiência, garantida e comprovada pelo decurso da história. “As instituições do passado não são boas por serem antigas, mas são antigas por serem boas” — é uma famosa máxima tradicionalista.
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