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Várias tentativas fracassadas de assassinar Fidel Castro durante o seu mandato como presidente de Cuba foram feitas pela Agência Central de Inteligência (CIA), dos Estados Unidos.
Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos envolveram-se secretamente numa prática de assassinatos políticos internacionais e tentativas contra líderes estrangeiros. Durante um período considerável, os funcionários do Governo dos EUA negaram veementemente qualquer conhecimento deste programa, visto que ele seria contra a Carta das Nações Unidas. A 5 de março de 1972, Richard Helms, diretor da CIA, declarou que "nenhuma atividade ou operação desse tipo seria empreendida, assistida ou sugerida por qualquer dos nossos funcionários".[1] Em 1975, o Senado dos Estados Unidos convocou o Senate Select Committee on Intelligence (Comité de Seleção de Inteligência do Senado) para estudar as Operações Governamentais com Respeito às Atividades de Informações, presidida pelo Senador Frank Church [en] (D-Idaho). A Comissão Church descobriu que a CIA e outras agências governamentais empregavam uma tática dita de "negação plausível" durante a tomada de decisões relacionadas com assassinatos. Os subordinados da CIA estavam deliberadamente a proteger os funcionários superiores de qualquer responsabilidade ao reterem toda a quantidade de informação sobre os assassinatos planeados. Os funcionários governamentais obtinham a aprovação tácita dos seus atos, utilizando eufemismos e palavras manhosas nas suas comunicações.[2]
Segundo o diretor da CIA Richard Helms, os funcionários da Administração Kennedy exerceram uma forte pressão sobre a CIA para "se livrarem de Castro".[2]:148–150 Isto explica o número gigantesco de planos de assassinato, com o objetivo de criar uma impressão favorável sobre o Presidente John F. Kennedy.[3]:25 Houve cinco fases nas tentativas de assassinato, com planeamento envolvendo a CIA, o Departamento de Defesa, e o Departamento de Estado:[3]:24–25
Segundo o colunista Jack Anderson, a primeira tentativa da CIA para assassinar Castro fazia parte da operação de invasão da Baía dos Porcos, mas foram enviadas mais cinco equipas da CIA, a última capturada num telhado no campo de tiro de Castro, no final de fevereiro ou início de março de 1963.[4][5] O advogado Robert Maheu [en], que na altura trabalhava como cutout [en] da CIA, foi identificado como o líder da equipa, que recrutou Johnny Roselli [en], um jogador com contactos na Máfia italo-americana e no submundo cubano. A CIA designou dois oficiais de operações, William King Harvey [en] e James O'Connell, para acompanhar Roselli a Miami, de modo a recrutar as equipas efetivas.[6]
Segundo documentos da CIA — as chamadas Joias de Família (Family Jewels) — que foram desclassificados em 2007, uma tentativa de assassinato de Fidel Castro antes da invasão da Baía dos Porcos envolveu os mafiosos americanos Johnny Roselli, Salvatore Giancana e Santo Trafficante.[7]
Em setembro de 1960, Momo Salvatore Giancana, um sucessor de Al Capone no Chicago Outfit, e o líder do Miami Syndicate Santo Trafficante, que estavam ambos na lista dos Dez Mais Procurados do FBI nessa altura, foram indiretamente contactados pela CIA sobre a possibilidade do assassinato de Fidel Castro. Johnny Roselli, membro do Las Vegas Syndicate, foi utilizado para ter acesso aos patrões da Máfia. O intermediário da CIA foi Robert Maheu, que se apresentou como representante de várias empresas internacionais em Cuba que foram expropriadas por Castro. A 14 de setembro de 1960, Maheu encontrou-se com Roselli num hotel da cidade de Nova Iorque e ofereceu-lhe 150.000 dólares para a "eliminação" de Castro. James O'Connell, que se identificou como o associado de Maheu, mas que, na verdade, era o chefe da divisão de apoio operacional da CIA, esteve presente durante a reunião.[8] Os documentos desclassificados não revelaram se Roselli, Giancana ou Trafficante aceitaram o pagamento adiantado para a ação. De acordo com os arquivos da CIA, foi Giancana quem sugeriu comprimidos de veneno como meio de envenenar a comida ou bebidas de Castro. Tais comprimidos, fabricados pela Divisão de Serviços Técnicos da CIA, foram entregues ao indicado de Giancana chamado Juan Orta.[9] Giancana recomendou Orta como sendo um funcionário do governo cubano, que tinha acesso a Castro.[10][11][12]
Alegadamente, após várias tentativas fracassadas de introduzir o veneno na comida de Castro, Orta exigiu abruptamente ser dispensado da missão, entregando o trabalho a outro participante anónimo. Mais tarde, uma segunda tentativa foi montada através de Giancana e Trafficante usando o Dr. Anthony Verona, o líder da Junta do Exílio Cubano, que, segundo Trafficante, se tornara "descontente com o aparente progresso ineficaz da Junta". Verona solicitou US$10.000 em despesas e US$1.000 em equipamento de comunicações. No entanto, desconhece-se até onde foi a segunda tentativa, dado que a tentativa de assassinato foi cancelada devido ao arranque da Invasão da Baía dos Porcos.[11]
Em 26 de outubro de 2017, documentos desclassificados revelaram que o Procurador-Geral dos EUA Robert Kennedy hesitou em recrutar a máfia nas tentativas de assassinato de Castro devido ao combate de Fidel contra o crime organizado.[13]
A comissão Church declarou que substanciou oito tentativas da CIA para assassinar Fidel Castro em 1960-1965.[14]:71 Fabián Escalante [es] um chefe de contraespionagem reformado cubano, que fora encarregado de proteger Castro, estimou o número de planos de assassinato ou tentativas reais da CIA ser 638, num projeto com o nome de Ação Executiva, e dividiu-os entre as administrações dos EUA da seguinte forma.[15][16]
Algumas delas faziam parte do programa secreto da CIA apelidado de Operação Mangusto, com o objetivo de derrubar o governo cubano. As tentativas de assassinato incluíam charutos envenenados com toxina botulínica, um fato de mergulho infetado com tuberculose, juntamente com um búzio armadilhado colocado no fundo do mar,[17] um charuto explosivo [en] (Castro adorava charutos e mergulhar, mas deixou de fumar em 1985),[17][18] uma caneta esferográfica contendo uma seringa hipodérmica pré-carregada com a mistura letal Blackleaf 40,[17] tentativas de execução ao estilo mafioso e simples, entre outras.[19] Havia planos para assassinar Castro numa explosão durante a sua visita ao museu de Ernest Hemingway em Cuba.[20]
Alguns dos enredos foram retratados num filme documentário intitulado 638 Ways to Kill Castro [en] (2006) exibido no Canal 4 da televisão de serviço público britânica.[21] Uma destas tentativas foi da sua ex-amante Marita Lorenz, que conheceu em 1959. Ela concordou em ajudar a CIA e tentou contrabandear para o seu quarto um frasco de creme frio contendo comprimidos de veneno. Quando Castro soube das suas intenções, deu-lhe uma arma e disse-lhe para o matar — mas não conseguiu.[22][17] Algumas conspirações que visavam não assassinato, mas sim assassinato de caráter [en]; envolveram, por exemplo, o uso de sais de tálio para destruir a famosa barba de Castro,[23]:30 ou a laceração do seu estúdio de rádio com LSD para lhe causar desorientação durante a emissão e prejudicar a sua imagem pública. Quando Castro viajou para o estrangeiro, a CIA cooperou com exilados cubanos para algumas das mais graves tentativas de assassinato. A última tentativa de assassinato de Castro, documentada, foi em 2000, e envolveu a colocação de 90 kg de explosivos debaixo de um pódio no Panamá, onde ele daria uma palestra. A equipa de segurança pessoal de Castro descobriu os explosivos antes de chegar.[24][18][17]
Castro disse uma vez, em relação às inúmeras tentativas de assassinato feitas, que "[s]e houvesse um evento Olímpico de sobreviver a tentativas de assassinato, ganharia a medalha de ouro".[17][25]
A CIA em 1962 considerou um plano chamado "Operação Bounty", que teria implicado largar panfletos sobre Cuba oferecendo recompensas financeiras à população cubana pelo assassinato de vários indivíduos, incluindo $5.000 a $20.000 para informantes, $57.000 para chefes de departamento, $97.000 para comunistas estrangeiros a operar em Cuba, até $1 milhão para membros do governo cubano, e apenas $0,02 para o próprio Castro, o que significava "denegri-lo" aos olhos do povo cubano. O documento ultrassecreto que revelou o plano, que nunca foi posto em prática, era um dos 2.800 relacionados com a investigação federal do assassinato de Kennedy, que foram libertados, como previsto, em outubro de 2017.[26][27]
Além das tentativas contra Fidel Castro, a CIA foi acusada de envolvimento no assassinato de líderes estrangeiros como Rafael Trujillo, Patrice Lumumba e Ngo Dinh Diem.[28] A Comissão Church rejeitou o assassinato político como instrumento de política externa e declarou ser "incompatível com os princípios americanos, a ordem internacional e a moralidade".[29]:1 Recomendou ao Congresso que considerasse a elaboração de um estatuto para erradicar tais ou similares práticas, que nunca foi introduzido. Em vez disso, o Presidente Gerald Ford assinou em 1976 o Decreto Executivo 11905 [en], que declarava que "[n]enhum funcionário do governo dos Estados Unidos se envolverá ou conspirará no assassinato político".[30]
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