Santa Cruz da Graciosa
município e vila nos Açores, Portugal Da Wikipédia, a enciclopédia livre
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O Município de Santa Cruz da Graciosa[3] é um município açoriano sito na ilha Graciosa, no Grupo Central do arquipélago, na Região Autónoma dos Açores. Fundado em 1486, tem 60,89 km² (incuindo a área dos ilhéus)[4] de área e 4 095 habitantes (2021)[1]. Subdividido em 4 freguesias, o território do concelho ocupa a totalidade da ilha Graciosa e seus ilhéus, sendo assim rodeado pelo Oceano Atlântico.
Santa Cruz da Graciosa | |
Gentílico | graciosense |
Área | 60,89 km² |
População | 4 095 hab. (2021[1]) |
Densidade populacional | 67,3 hab./km² |
N.º de freguesias | 4 |
Presidente da câmara municipal |
António Reis (PSD, 2021-2025) |
Fundação do município (ou foral) |
1486 |
Região (NUTS II) | Região Autónoma dos Açores |
Ilha | Ilha Graciosa |
Antigo Distrito | Angra do Heroísmo |
Orago | Cruz cristã |
Feriado municipal | 2.ª feira após o 2.º domingo de agosto[2] |
Código postal | 9880 Santa Cruz da Graciosa |
Sítio oficial | http://www.cm-graciosa.pt/ |
Município de Portugal |
A sede do concelho é a vila de Santa Cruz da Graciosa, uma localidade com cerca de 967[5] habitantes situada na costa nordeste da ilha.
O concelho de Santa Cruz da Graciosa ocupa todo o território da ilha Graciosa e seus ilhéus (Ilhéu da Praia, ilhéu de Baixo, ilhéu da Baleia e ilhéu da Gaivota e outros ilhéus menores), perfazendo um total de 60,89 km² de área.
A ilha tem uma forma grosseiramente oval, com 12,5 km de comprimento e 8,5 km de largura máxima. É a menos montanhosa das ilhas açorianas, atingindo 405 m de altitude máxima no bordo sudeste da Caldeira. Esta baixa elevação confere à ilha um clima temperado oceânico, caracterizado pela menor pluviosidade do arquipélago.
O relevo do concelho é em geral aplainado, marcado por numerosos cones de escórias que lhe dão um carácter marcadamente vulcânico, com um relevo mais acentuado na parte meridional
O território da ilha pode ser dividida em quatro unidades geomorfológicas[6]:
Após o estabelecimento do primeiro núcleo populacional no Carapacho, zona de costa baixa e abrigada no extremo sudoeste da ilha, face à pouca fertilidade dos solos na zona e à sua vulnerabilidade em relação ao mar, os primeiros povoadores buscaram o interior da ilha, explorando os seus solos férteis e aplainados.
Em poucos anos os principais núcleos populacionais estavam estabelecidos na costa nordeste da ilha, aproveitando as facilidades de desembarque que Praia da Graciosa e as calhetas da Barra e de Santa Cruz ofereciam e a relativa abundância de água nas lagunas ali existentes, além dos poços de maré que podiam ser escavados naqueles locais. Nasciam assim os povoados que viriam a ser as actuais vilas de Santa Cruz da Graciosa e Praia.
Embora Vasco Gil Sodré tenha diligenciado no sentido de obter o cargo de capitão do donatário na ilha, e de ter mesmo construído uma alfândega, diligências em que foi sucedido por seu cunhado Duarte Barreto do Couto, apenas logrou, e mesmo isso não é seguro, governar a parte sul da ilha, estruturada em torno do que viria a ser a vila da Praia.
A capitania da parte norte da ilha, sita em terras bem mais férteis e amplas, foi entregue a Pedro Correia da Cunha, natural da ilha do Porto Santo e co-cunhado de Cristóvão Colombo que, a partir de 1485, logrou obter ao cargo de capitão do donatário em toda a ilha, unificando a administração. Fixando-se com a família em Santa Cruz, tal levou a que este povoado suplantasse a Praia como sede do poder administrativo na ilha. Logo no ano seguinte, Santa Cruz foi elevada a vila e sede de concelho, abrangendo todo o território da ilha e, com ele, as duas paróquias então existentes: Santa Cruz e São Mateus da Praia.
Esta fase em que o concelho de Santa Cruz da Graciosa abrangia toda a ilha terminou quando a cabeça da outra primitiva capitania, o lugar de São Mateus da Praia, foi também elevado a vila por foral concedido por Carta Régia do rei D. João III, datado de 1 de Abril de 1546. Ficou assim a ilha dividida em dois concelhos: a sul o eixo Praia e Luz (tornada freguesia autónoma em 1601); a norte o eixo Santa Cruz e Guadalupe (freguesia autónoma desde 1644).
A estrutura administrativa bicéfala da ilha sobreviveu até ao século XIX, quando por força da reestruturação administrativa que se seguiu à aprovação do segundo código administrativo do liberalismo, o concelho da Praia foi extinto em 1855, sendo o seu território integrado no concelho de Santa Cruz da Graciosa. Embora o decreto de extinção tenha apenas sido executado em 1867, com o fim do concelho, a Praia perdeu a categoria de vila, estatuto que só recuperaria em 2003, por força do Decreto Legislativo Regional n.º 29/2003/A, de 24 de Junho, aprovado pelo parlamento açoriano.
Pode-se assim dividir a história do concelho de Santa Cruz nas seguintes fases:
Em 1791 Santa Cruz foi visitada pelo escritor francês François-René de Chateaubriand, que ali aportou aquando da sua passagem em direcção à América do Norte e esteve hospedado no convento franciscano de Santa Cruz, e que depois descreveu a ilha com mestria na sua obra.
Outro visitante célebre foi Almeida Garrett, que esteve em Santa Cruz em 1814, quando com apenas 15 anos visitou um seu tio que era juiz de fora em Santa Cruz. Reza a tradição que terá pregado um sermão na ilha, em óbvia contravenção da lei, e que ali terá escrito versos já reveladores do seu talento de poeta.
Também em 1879 a ilha foi visitada pelo príncipe Alberto I do Mónaco, que no decurso dos seus trabalhos de hidrografia e estudo da vida marinha, aportou à Graciosa no seu iate Hirondelle. Durante a sua permanência na ilha, desceu à Furna do Enxofre, no interior da Caldeira, tendo sido uma das primeiras vozes que se levantaram na defesa da criação de um acesso adequado que permitisse potenciar aquele local como atracção turística.
Ao longo da sua história a ilha foi por diversas vezes assolada por secas avassaladores, que provocaram grande sofrimento, incluindo, segundo alguns historiadores a morte de muitos habitantes. Já no século XIX, e por iniciativa de José Silvestre Ribeiro, então administrador geral do distrito de Angra do Heroísmo, procedeu-se ao envio por navio de água a partir da Terceira para combater a sede que ali grassava. De facto, no Verão de 1844 ocorreu uma seca que para além de afectar gravemente as produções agrícolas pôs em risco a sobrevivência de pessoas e animais. José Silvestre Ribeiro proveu a ilha prontamente com 90 pipas de água e mandou abrir poços e valas. Na noite de 20 de Agosto uma forte chuvada veio aliviar a crise.
Devido à emigração para os Estados Unidos durante as décadas de 1950, 1960 e 1970, e à migração interna que ainda afecta a ilha, o concelho de Santa Cruz da Graciosa entrou num rápido processo de recessão demográfica que na actualidade condiciona em muito a sustentabilidade sócio-económica da sociedade graciosense.
Para efeitos administrativos, o município encontra-se dividido nas seguintes 4 freguesias:
Número de habitantes [7] | |||||||||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
1864 | 1878 | 1890 | 1900 | 1911 | 1920 | 1930 | 1940 | 1950 | 1960 | 1970 | 1981 | 1991 | 2001 | 2011 | 2021 |
8718 | 8445 | 8440 | 8359 | 7603 | 7477 | 8470 | 9193 | 9517 | 8669 | 7180 | 5377 | 5189 | 4780 | 4391 | 4090 |
Número de habitantes por Grupo Etário [8] [9] | |||||||||||||||
1900 | 1911 | 1920 | 1930 | 1940 | 1950 | 1960 | 1970 | 1981 | 1991 | 2001 | 2011 | 2021 | |||
0-14 Anos | 2778 | 2652 | 2287 | 2484 | 2911 | 2562 | 2370 | 1730 | s/ dados | 1066 | 816 | 650 | 591 | ||
15-24 Anos | 1172 | 1023 | 1305 | 1541 | 1462 | 1753 | 1247 | 1130 | s/ dados | 667 | 676 | 539 | 424 | ||
25-64 Anos | 3365 | 3050 | 2938 | 3481 | 3828 | 4372 | 4271 | 3365 | s/ dados | 2409 | 2274 | 2324 | 2185 | ||
= ou > 65 Anos | 1054 | 1027 | 863 | 781 | 753 | 835 | 781 | 955 | s/ dados | 1047 | 1014 | 878 | 890 |
De 1900 a 1950 os dados referem-se à população "de facto", ou seja, que estava presente no concelho à data em que os censosrseealizaram. Daí que se registem algumas diferenças relativamente à designada população residente
O concelho de Santa Cruz, tal como acontece com a generalidade do território açoriano, tem uma estrutura de povoamento que, apesar da sua dispersão aparente, é fortemente condicionada pela rede viária. Este povoamento disperso orientado[10], típico da zonas de colonização recente, como são as ilhas, levou a que a estruturação urbana da Graciosa se tenha produzido ao longo de grandes eixos, correspondentes aos vales da ilha, e, por consequência, às estradas que ao seu longo afluem às duas vilas da ilha. Assim surgiram os seguintes eixos: (1) ao longo da vale que separa o maciço da Caldeira do resto da ilha, entre a vila da Praia e o Carapacho, a Fonte do Mato, as Pedras Brancas e a Luz; (2) em torno da Serra das Fontes, o eixo que saindo de Santa Cruz por Santo Amaro, inclui as Fontes e Guadalupe, dividindo-se aí num ramo que pelo Pontal via até às Pedras Brancas e noutro que inclui as Almas, Manuel Gaspar, Ribeirinha e Brasileira; (3) um eixo que saindo de Santa Cruz pelo Rebentão, contorna o Pico da Hortelã, indo até à Vitória no noroeste da ilha; e (4), finalmente, um eixo que pelas Dores vai até ao Bom Jesus e ao litoral da Vitória, numa paisagem muito aplanada e de povoamento muito disperso, bastante diferente do resto da ilha. Estes quatro grandes eixos incluem mais de 80% da população da ilha, deixando de fora apenas alguns povoados marginais, em geral satélites das vilas.
A evolução demográfica do concelho, e por consequência da ilha Graciosa, foi a seguinte:
Evolução da população do concelho de Santa Cruz da Graciosa | |||||||||||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
1844 | 1864 | 1878 | 1890 | 1900 | 1911 | 1920 | 1930 | 1940 | 1950 | 1960 | 1970 | 1981 | 1991 | 2001 | 2011 | 2021[1] | |
Guadalupe | 3 032 | 2 690 | 2 616 | 2 676 | 2 718 | 2 485 | 2 479 | 2 732 | 3 087 | 3 223 | 3 013 | 2 562 | 1 736 | 1 554 | 1 306 | 1 096 | 989 |
Luz | 1 797 | 1 746 | 1 812 | 1 803 | 1 905 | 1 819 | 1 830 | 2 052 | 2 248 | 2 277 | 2 005 | 1 535 | 1 000 | 887 | 735 | 683 | 632 |
São Mateus | 2 020 | 1 849 | 1 709 | 1 732 | 1 588 | 1 374 | 1 301 | 1 448 | 1 580 | 1 634 | 1 547 | 1 320 | 1 034 | 965 | 901 | 836 | 734 |
Santa Cruz | 2 808 | 2 433 | 2 308 | 2 229 | 2 148 | 1 925 | 1 867 | 2 238 | 2 278 | 2 383 | 2 104 | 1 955 | 1 607 | 1 783 | 1 838 | 1 776 | 1 740 |
Total | 9 657 | 8 718 | 8 445 | 8 440 | 8 359 | 7 603 | 7 477 | 8 470 | 9 191 | 9 617 | 8 669 | 7 420 | 5 377 | 5 189 | 4 780 | 4 391 | 4 095 |
Fonte: DREPA (Aspectos demográficos - Açores 1978) e Serviço Regional de Estatística dos Açores (SREA).
Ao longo dos últimos dois séculos a população da Graciosa, e por consequência do actual concelho de Santa Cruz, apresenta períodos distintos:
Santa Cruz da Graciosa é famosa pelas Aguardentes (Pedras Brancas), Vinhos (Vinho Verdelho e Arinto Pedras Brancas) e pela sua requintada Pastelaria: Queijadas da Graciosa, Pasteis de Arroz da Graciosa, Queijadas Ilha Branca, Queijadas de Feijão, Queijadas de Coco, Rochedos, Madalenas, Suspiros e Rosquilhas de Aguardente.[14]
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