Reações ao julgamento de O. J. Simpson
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Na terça-feira, 3 de outubro de 1995, o veredito do caso criminal de O. J. Simpson foi anunciado e Simpson foi absolvido das duas acusações de homicídio.[1] O julgamento tornou-se historicamente significante devido as reações sobre o resultado do julgamento.[2] Apesar de toda a nação ter presenciado as mesmas evidências apresentadas em juízo, uma divisão por questões raciais emergiu nas opiniões dos telespectadores sobre o veredito, o que a mídia apelidou como "lacuna racial".[3] Pesquisas mostraram que a maioria dos afro-americanos acreditavam que Simpson era inocente[4] e que a justiça foi feita, enquanto que a maioria dos americanos brancos achavam que ele era culpado e que o veredito foi um caso de nulificação,[5][6] por ter sido racialmente influenciado por um júri composto majoritariamente de afro-americanos.[7] Pesquisas recentes mostram que a "lacuna" diminuiu desde o julgamento, com a maioria dos entrevistados negros em 2016 acreditando que Simpson era culpado.[8][9][10] A diminuição da lacuna racial é atribuída a diversos fatores: Daniel Petrocelli desmentindo todas as alegações de provas plantadas (em especial, as sangue) no julgamento da ação civil proposta pelos sucessores dos falecidos,[11] da testemunha de defesa Henry Lee que publicou um artigo cientifico em 1996 que efetivamente refutou a tese de contaminação que contestava a validade das amostras de DNA coletadas, bem como a queda da popularidade de Simpson desde o julgamento.[12]
A maioria dos afro-americanos acreditava que Simpson era inocente[13] mas isso mudou um ano depois do julgamento da ação civil quando as alegações Barry Scheck sobre contaminação e provas de sangue plantados foram desmentidas.[14] Sem nenhuma das duas teses, defender a inocência de Simpson tornou-se cada vez mais contestável, pois não haviam justificativas para duvidar das provas de DNA contra ele. A série CSI: Crime Scene Investigation popularizou a confiabilidade da impressão genética perante o público também. O status de celebridade de Simpson perante os afro-americanos esvaiu-se após ele ter se mudado para a Flórida e sumido da mídia. Sua prisão e condenação 2008 por assalto armado o trouxe de volta às notícias especialmente depois dele ter recebido uma pena desproporcionalmente mais alta do que os seus comparsas, o que gerou controvérsias até mesmo entre seus acusadores.[15][16][17][18] mas a resposta dos afro-americanos foi relativamente baixa[19] e estudiosos opinaram que isso demonstra o quanto a consciência dos negros estadunidenses se desenvolveu desde a época em que o veredito foi anunciado.[20][21]
O julgamento e o veredito tiveram um impacto histórico na Cultura Americana.[22][23] O caso leva o crédito por transformar a opinião pública sobre violência doméstica, de um assunto considerado privado e particular da família para um crime seríssimo.[24][25] O julgamento também levou o crédito por levantar o aumento da conscientização sobre o estigma que casais birraciais ainda enfrentam tanto de brancos quanto de afro-americanos.[26] A promulgação da Proposição 209 da Califórnia em 1996, que encerrou as ações afirmativas no estado, também era atribuída ao resultado do veredicto, porque resultou no declínio da empatia em relação a questões de discriminação racial e direitos civis entre os americanos brancos.[27] Uma queda histórica na diversidade do sistema educacional da Universidade da Califórnia e da Universidade do Estado da Califórnia, o que mais tarde levou a uma falta similar de diversidade em empregos de colarinho-branco, particularmente na área de tecnologia do Vale do Silício, já que a maioria dos pioneiros do desenvolvimento repentino que foi a Bolha da Internet (em inglês: "Dot.com") no final dos anos 90 eram graduados daquelas universidades.[28]
No livro "In The Race Card: How Bluffing About Bias Makes Race Relations Worse" (Tradução não oficial: "Vitimização: Como o blefe sobre preconceito faz as relações entre raças piorarem"), o professor afro-americano de Direito de Stanford Richard Thompson Ford escreveu que os dois julgamentos mais importantes sobre raças do século XX foram os de Emmett Till e o de O.J. Simpson. Esses julgamentos nacionais são comumente vistos como testes da conscientização nacional sobre estes assuntos. O resultado é na maioria das vezes decepcionante e é isso que motiva as mudanças positivas. O assassinato de Till chocou a nação devido a sua brutalidade, o que depois se tornou um ultraje depois que os réus foram rapidamente absolvidos por um júri majoritariamente composto de brancos, apesar das fortes evidências de culpa. A afronta foi canalizada para o surgimento dos Movimento de Direitos Civis dos Negros dos anos 60 depois da confissão descarada de um dos réus um ano depois. O evento foi um momento de clareza para os americanos brancos na medida em que foram forçados a confrontar as realidades da injustiça racial nos Estados Unidos, já que os assassinos confessos de Till estavam protegidos pelo princípio do "ne bis in idem", resultando na liberdade dos assassinos pelo resto de suas vidas. Richard Thompson Ford acreditava que o caso Simpson teve um legado similar para os afro-americanos, pois estes tiveram acesso as mesmas evidências apresentadas aos americanos brancos, e ainda assim, acreditavam sua na inocência. O fato de acreditar na inocência ou culpa de Simpson depender da cor do individuo ora analisado e não nas evidências contra ele demonstrava que o sistema judiciário ainda era ser comprometido pela raça do indivíduo, porém, com a redução das diferenças raciais, também demonstra o contrário, pois agora ambos os lados estão vendo as mesmas evidências e chegando à mesma conclusão sobre a culpa de Simpson, independentemente de sua cor.[29] Simpson, também protegido pelo bis in idem, sugere diversas vezes mais tarde que ele era culpado pelos assassinatos, como participar da publicação do livro If I Did It e participar de uma entrevista com Judith Regan na TV em que ele descrevia a sua versão dos eventos, que incluíam um suposto cúmplice chamado Charlie, tendo também admitido que ele estava presente na cena do crime segurando uma faca, mas não conseguia se lembrar dos detalhes mais cruciais. Estes elementos contradiziam diretamente todas as teses de conspiração do advogado Johnnie Cochran no processo criminal, e também gerou indignação e alimentaram a crença popular de que Simpson era de fato culpado pelos assassinatos a partir do momento em que tais falas foram vistas como a confissão de Simpson.
Os jornalistas opinaram que a empatia foi recuperada entre os americanos brancos em questões de injustiça racial desde o julgamento de Simpson pela resposta dos americanos brancos ao assassinato de Trayvon Martin em 2012 e pesquisas que mostram um forte apoio ao movimento Black Lives Matter e a tentativa, embora sem sucesso, de revogar a proposta 209 em 2020.[30]