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terapia aplicada para tratar problemas psicológicos Da Wikipédia, a enciclopédia livre
A psicoterapia (do grego psykhē - mente, e therapeuein - curar; primeira referência ca. 1890) é um tipo de terapia cuja finalidade é tratar os problemas psicológicos, tais como depressão, ansiedade, dificuldades de relacionamento, entre outros problemas de saúde mental.[1] É um processo dialético efetuado entre um profissional e o paciente ou cliente.
Por ser uma área da saúde mental, a psicoterapia é a principal linha de tratamento para qualquer assunto referente ao psiquismo. Para isso, propõem intervenções psicológicas, cujos objetivos centrais são:
A psicoterapia:
Em linguagem técnica, o termo "psicologia" refere-se à ciência e "psicoterapia" ao uso clínico do conhecimento obtido por ela. Da mesma forma, costuma haver confusão entre os termos "psicoterapia" e "psicanálise": enquanto psicoterapia refere-se ao trabalho psicoterapêutico baseado no corpo teórico da ciência da psicologia como um todo, psicanálise refere-se exclusivamente ao trabalho baseado nas teorias oriundas do trabalho de Sigmund Freud; "psicoterapia" é, assim, um termo mais abrangente, englobando todas as linhas teóricas-científicas (com métodos e resultados) da psicologia moderna.
Os vários tipos de psicoterapia, em todas as suas diferentes formas e métodos, possuem uma série de características em comum. Somente tendo em mente tais características, se pode compreender o funcionamento da psicoterapia em geral e as qualidades que definem cada uma das diferentes escolas.
Orlinsky e Howard[3] procuraram descrever a interação dinâmica dos diferentes fatores que influenciam a psicoterapia, independentemente da linha específica. Primeiramente, as condições da terapia são organizadas por certas circunstâncias sociais que determinam, por um lado, a oferta de terapeutas, as instituições que oferecem terapia, o acesso (físico e financeiro) da população (estrutura do sistema de saúde), e, por outro, a formação dos psicoterapeutas e a aceitação de terapia por parte da população (fatores socioculturais). Sobre esse pano de fundo, filtrado pela presença de outras partes interessadas (pais, família, supervisores etc.), se desenrola, então, o processo terapêutico: entre o terapeuta e o paciente (em determinadas escolas, chamado cliente), cada um dos quais possuindo determinadas características profissionais e de personalidade, se fecha um contrato terapêutico, que define as regras do trabalho terapêutico para ambas as partes. Dois elementos, a técnica terapêutica e o relacionamento terapêutico, representam a base de trabalho e são ambas influenciadas por atributos tanto do terapeuta como do paciente. O trabalho técnico do terapeuta, por outro lado, só poderá dar frutos se o paciente mostrar abertura a esse trabalho. Os efeitos da terapia se apresentam em diferentes níveis, tanto em relação aos padrões de funcionamento do indivíduo quanto em relação a seus relacionamentos interpessoais.[2]
A disciplina que se dedica ao estudo - desenvolvimento, avaliação, melhoramento, explicação teórica - da psicoterapia é a pesquisa psicoterapêutica (Psychotherapieforschung). A pesquisa empírica (ou seja, usando métodos científicos) sobre a psicoterapia começou nos anos 1950, depois de o psicólogo britânico Hans Eysenck (1952) ter afirmado que psicoterapia não tinha efeito nenhum, ou seja, que era melhor ficar em casa do que buscar um terapeuta. Essa afirmação de Eysenck, de que ele próprio mais tarde (1993) se distanciou, foi o impulso necessário, para que a busca de uma compreensão mais aprofundada do processo terapêutico começasse.
A pesquisa dos efeitos da psicoterapia, baseada nos padrões da pesquisa farmacêutica, busca diferenciar o efeito da terapia em si, por um lado, e o efeito placebo (ou seja, a melhora nos sintomas devido à expectativa do paciente, e não à terapia em si) e a remissão espontânea (ou seja, a cura dos sintomas por si sós), por outro lado. Uma resposta à questão do efeito da psicoterapia não se dá no entanto, com apenas meia dúzia de estudos; pelo contrário, são necessários muitos deles, que são então reunidos em uma meta-análise, ou seja, um estudo que reúne e resume um grande número de estudos. Com base em várias meta-análises, pode-se afirmar, hoje, que a psicoterapia, pelo menos em suas formas tradicionais, é realmente efetiva - ou seja, tem efeitos mais fortes sobre a saúde psíquica do que o efeito placebo e a remissão espontânea.[4][5] Cabe, no entanto, observar, com Klaus Grawe (1998),[6] que a questão do efeito placebo se apresenta de maneira diferente em psicoterapia e em farmácia, pois, enquanto nesta se trata de um efeito indesejável (se quer de fato que o medicamento funcione por si mesmo), em psicoterapia trata-se de um forte efeito psicológico, que deve ser compreendido e que pode ser utilizado como parte da própria terapia.
Uma vez confirmado o efeito positivo da psicoterapia sobre a saúde mental dos pacientes, a pesquisa empírica começou a voltar a sua atenção a uma pergunta muito mais difícil de ser respondida: como, com que mecanismos, é que ela funciona?
O processo terapêutico começa, para o paciente, antes da terapia em si e termina somente muito depois de sua conclusão formal. Prochaska, DiClemente e Norcross (1992)[7] propuseram um modelo em seis fases que descreve esse processo:
De acordo com o desenvolvimento do paciente através das diferentes fases, se classificam quatro tipos de progressão: (1) o transcurso estável, em que o paciente se estagna em uma fase; (2) o transcurso progressivo, em que o paciente se movimenta de uma fase para a próxima; (3) o transcurso regressivo, em que o paciente se movimenta para uma fase em que já esteve, e (4) o transcurso circular (recycling), em que o paciente muda a direção do movimento pelo menos duas vezes.
A terapia em si pode se desenvolver em fases, cada qual com objetivos próprios:[2]
As decisões tomadas na fase 1 não devem necessariamente permanecer imutáveis até o fim da terapia. Pelo contrário, o terapeuta deve estar atento a mudanças no paciente, a fim de adaptar seu métodos e suas decisões de trabalho à situação do paciente, que nem sempre é clara no começo da terapia. A isso, se dá o nome de indicação adaptável.
Lembrando que quando se trata de psicoterapia em sua expressão mais genérica não há que se falar em definição de diagnóstico na fase inicial, ou até em nenhuma fase, uma vez que muitas vezes o foco do tratamento pode ser simplesmente mitigar um sofrimento ou um sentimento, auto conhecimento, desenvolver habilidades para se superar um problema, ou outros, de modo que não se fala em diagnóstico, muito menos em cura.
Vários autores se dedicaram à questão do funcionamento da psicoterapia: o que é que leva à mudança no paciente.
K. Grawe (2005)[8] descreve cinco mecanismos básicos de mudança (Grundmechanismen der Veränderung) comuns a todas as escolas psicoterapêuticas:
Uma outra abordagem do problema oferecem Prochaska et al. (1992),[7] ao descreverem dez processos de mudança diferentes. Tais processos são definidos como atividades e experiências pessoais que o paciente, de maneira direta ou indireta, realiza na tentativa de modificar seu comportamento problemático. Esses processos são: (1) Autoexploração ou autorreflexão (conscious raising), ou seja, o paciente procura se conhecer melhor, o que leva a uma (2) autorreavaliação, (3) autolibertação da convicção de que uma mudança não é possível, (4) contracondicionamento, ou seja, a substituição do comportamento problemático por outro, mais adequado, (5) controle dos estímulos, ou seja, o evitar ou combater estímulos que levam ao comportamento problemático, (6) Administração de reforços, ou seja, o paciente se dá uma recompensa cada vez em que se comporta da maneira desejada (ver condicionamento operante), (7) relacionamentos auxiliadores, ou seja, o paciente se abre à possibilidade de falar sobre seus problemas com uma pessoa de confiança (de maneira especial, o terapeuta), (8) alívio emocional através da expressão de sentimentos em relação ao problema e às suas soluções, (9) reavaliação ambiental, ou seja, o paciente percebe como o seu problema provoca estresse não apenas para si mas também para as pessoas à sua volta, e (10) libertação social, ou seja, o paciente realiza gestos construtivos para seu ambiente social (família, amigos, sociedade em geral).
Em seu modelo transteórico da psicoterapia, Prochaska et al. (1992) unem os processos acima descritos a seu modelo das fases de mudança (ver acima): os diferentes processos estão intimamente relacionados às diferentes fases e determinados processos são completamente inócuos se realizados em uma fase inadequada.
Ainda sob um ponto de vista geral, ou seja, comum a todas as escolas psicoterapêuticas, os efeitos da psicoterapia podem ser analisados sob dois aspectos:[2]
Tanto os micro como os macroefeitos se podem dar em três níveis: (1) melhora do bem-estar, (2) modificação dos sintomas e (3) modificação da estrutura da personalidade. Mudanças na estrutura da personalidade só são possíveis depois de uma melhora do bem-estar e dos sintomas.[9]
Apesar de terem tanto em comum, os diferentes tipos de psicoterapia se diferenciam na ênfase que dão em cada um desses aspectos comuns. Antes de serem concorrentes, os diferentes tipos de psicoterapia possibilitam uma maior adaptabilidade do tratamento às características individuais do paciente e podem ser classificados sob diversos pontos de vista:[2]
M. Perrez e U. Baumann (2004),[2] baseados em trabalhos anteriores, classificam quatro grande famílias psicoterapêuticas:
Ver também psicanálise e psicologia analítica; ou, ainda, Sigmund Freud, Anna Freud, Melanie Klein, Lacan, Bion, Winnicott, Carl G. Jung, Alfred Adler, Erik Erikson
Ver também: Terapia cognitivo-comportamental; neurofeedback, ou ainda Aaron Beck.
Ver terapia centrada no cliente, gestaltoterapia, logoterapia ou ainda Carl Rogers, Fritz Perls, Viktor Frankl, Maslow, Rollo May
Ver psicoterapia sistêmica ou ainda Paul Watzlawick, escola de Milão (psicoterapia)
Essa classificação, apesar de possibilitar uma visão geral da área da psicoterapia, é no entanto muito genérica para englobar todas as formas existentes, sobretudo porque muitas são formas híbridas, que juntam em si elementos de diferentes tendências.
A página anexa Lista de psicoterapias oferece uma lista de diferentes tipos de psicoterapia e conduz aos respectivos artigos,
Apesar de toda a complementariedade das diferentes escolas e linhas da psicoterapia - e apesar de muitos psicoterapeutas fazerem usos de ideias e técnicas de diferentes linhas - a relação entre elas está longe de ser amigável. As escolas psicodinâmicas e existencial-humanistas são muitas vezes atacadas por não serem suficientemente empiricamente fundamentadas[10][11] enquanto as cognitivo-comportamentais são acusadas de serem mecânicas, cansativas e superficiais.[12] A tentativa de proporcionar à prática psicoterapêutica uma base comum é feita por diferentes autores de diferentes maneiras:
Ainda não existe uma teoria geral que abarque todas as formas de psicoterapia. A moderna psicoterapia é um sistema aberto que tem ainda muito a se desenvolver por meio da pesquisa científica. Um importante papel na pesquisa atual desempenham os tratamentos voltados para transtornos específicos e não terapias genéricas.[2] Exemplos de trabalhos transteóricos podem ser encontrados em diferentes novas abordagens de terceira geração da terapia comportamental bem como em grupos de pesquisa em diferentes países europeus, entre eles a Suíça.[15]
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