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cidadãos ou residentes de Nauru Da Wikipédia, a enciclopédia livre
Os nauruanos são um grupo étnico originário de Nauru, uma ilha do Oceano Pacífico, a noroeste da Papua-Nova Guiné. Actualmente, os Nauruanos vivem quase todos nesta ilha, com a excepção de uma pequena diáspora presente na Austrália.
O termo «Nauruanos» constitui um etnónimo mas é simultaneamente o gentílico da população de Nauru. As pessoas com a nacionalidade de Nauru também são chamadas «Nauruanos» mas nem todas fazem parte deste grupo étnico (o país tem mais de 12 000 habitantes). A Constituição local, na sua parte VIII[3] define a cidadania do país através de uma artigo que se refere à "comunidade nauruana". Segundo a sua secção 4, os membros desta última serão "aborígenes nativos da ilha de Nauru em virtude das instituições, costumes e usos da ilha", além de pessoas originárias de outras ilhas do Pacífico casados com nauruanos, ou residentes em Nauru e que mantenham um estilo de vida tipicamente nauruano, e respectiva descendência"[4].
Embora não exista nenhuma prova arqueológica, crê-se que os primeiros povoamentos de Nauru terão acontecido na Antiguidade e serão de navegantes micronésios e melanésios[5]. Cerca de 1200 a.C., uma nova vaga de imigração terá chegada a esta ilha vinda do litoral da China através das Filipinas. Cruzamentos interétnicos entre estes e provavelmente também com as populações polinésias de arquipélagos circundantes terão homogeneizado a população[5]. Os Nauruanos, organizados em doze tribos, partilham uma mitologia comum, vivem da agricultura de subsistência (cultura de coqueiro, de bananeira, do pandanus e do takamaka, embora também da pesca e da piscicultura)[6], [7].
A partir de 1830, populações alóctones chegam à ilha descoberta para o mundo ocidental em 1798 pelos britânicos[8]. Alguns Europeus desembarcam e introduzem conceitos desconhecidos para os Nauruanos como as transacções com dinheiro, e a solução de conflitos recorrendo à violência[8]. Estes contactos com a civilização ocidental tiveram influências nefastas na sociedade nauruana, desembocando numa guerra civil que fez centenas de vítimas entre 1878 e 1888[9]. Ao mesmo tempo, grassaram doenças como a gripe, a disenteria e a tuberculose contra as quais as defesas imunitárias dos Nauruanos são deficitárias dizimaram a população[8]. O número de Nauruanos passou de cerca de 1400 indivíduos em 1843 a apenas 900 em 1888[9].
A partir de 1888, a Alemanha colonizou a ilha e trouxe estrangeiros como mão-de-obra: Chineses, Gilbertinos e Carolinianos. Ao mesmo tempo, os Alemães evangelizaram, educaram e ocidentalizaram os Nauruanos que perderam assim progressivamente as referências à sua própria cultura, abandonando a sua religião, os seus costumes, a sua estrutura social e de modo parcial a sua língua[8]. Em 1906, com o início da extracção de fosfato no planalto central da ilha, o número de aldeias reduz-se, passando de 169 em 1900 a 110 em 1920.
No final da Primeira Guerra Mundial, Nauru passou para o controlo do Reino Unido. Foi a partir deste período que nasceu a percepção de que os Nauruanos poderiam desaparecer enquanto grupo étnico[10]. De facto, as autoridades da época constataram que o número de Nauruanos tinha diminuído até chegar a apenas 1 068 indivíduos, por causa da epidemia de gripe. Criaram então o conceito de Dia de Angam para relançar a natalidade: o 1500.º Nauruano receberia presentes e todas as honras da ilha quando nascesse e o dia seria festejado como feriado todos os anos[10]. Em 26 de Outubro de 1932, o Dia de Angam é festejado pela primeira vez com o nascimento de Eidegenegen Eidagaruwo, o primeiro Bebê de Angam[10].
Durante a Segunda Guerra Mundial, Nauru foi relativamente poupada pelos combates mas foi ocupada entre 1942 e 1945 pelo Japão[11]. Os 1 850 Nauruanos foram deixados em liberdade de circulação mas submetidos a racionamento[11]. Em Setembro de 1943, os Japoneses deportaram 1 200 Nauruanos nas ilhas Truk, para os utilizar como mão-de-obra mas também para limitar o estado de fome que se abateu sobre Nauru nas condições difíceis do Pacífico, com os bombardeamentos e combates a dificultar o contacto entre ilhas[8],[12]. Só 737 Nauruanos sobreviveram. Estes seriam repatriados para a sua ilha em 31 de Janeiro de 1946. Os outros não sobreviveram às duras condições de vida (incluindo o Bebê de Angam Eidegenegen Eidagaruwo)[10],[13]. O número de Nauruanos caiu de novo para apenas 1 369 indivíduos mas em 31 de Março de 1949, o Dia de Angam foi promovido pela segunda vez na história de Nauru com o nascimento de Bethel Enproe Adam[10]. O número de Nauruanos não cessou de aumentar desde essa época.
Em 1 de Novembro de 1947, a ONU confia o mandato de Nauru à Austrália e a extracção do fosfato é retomada[14]. Os Nauruanos retiram daí poucos benefícios, e reivindicam o estabelecimento de um «Conselho de governo local». Este foi criado em 18 de Dezembro de 1951[11]. No entanto, o Conselho não tem nenhum poder concreto, enquanto os Nauruanos tomam consciência que as reservas de fosfato diminuem e são literalmente pilhadas[11]. A Austrália concebe então um projecto de deslocação da totalidade dos Nauruanos na ilha Fraser e depois na ilha Curtis mas estes últimos recusam-no porque a Austrália não concorda com a independência [11], [13]. Reforçados por esta recusa por parte da Austrália, os Nauruanos reclamam a independência para Nauru, que é finalmente concedida em 31 de Janeiro de 1968, no termo de um período de transição política e económica[11].
A maioria dos Nauruanos vivem na ilha de Nauru, principalmente agrupados numa aglomeração situada no sudoeste da ilha, ao longo do litoral, e os outros habitantes formam uma pequena comunidade em volta da lagoa Buada, o único lugar habitado do planalto central. Para além de Nauru, uma pequena diáspora vive maioritariamente na Austrália. Esta pequena parte é constituída por Nauruanos financeiramente estáveis e por estudantes inscritos nas universidades australianas[13].
Antes da colonização da ilha no final do século XIX, os Nauruanos estavam organizados em doze tribos (simbolizadas hoje pela estrela branca de doze pontas da bandeira de Nauru) e distribuídos por aldeias : Deiboe, Eamwidamit, Eamwidara, Eamwit, Eamgum, Eano, Emeo, Eoraru, Irutsi, Iruwa, Iwi e Ranibok[15],[9]. Cada tribo tinha um chefe que era o representante do conjunto de elementos do seu clã. Estes chefes encontravam-se em grandes reuniões para decidir sobre assuntos importantes para a sociedade no seu conjunto. A sociedade matriarcal[9] permitia às mulheres ocupar o posto de chefe de tribo embora se saiba que o mais comum era um homem tomar esse lugar[16]. Os homens são responsáveis por fornecer uma casa à sua família enquanto as mulheres se ocupam das crianças e das decisões familiares[16].
Como cada tribo tem a sua própria história e o seu próprio dialecto da língua nauruana[1], cada Nauruano reclama-se como membro de uma tribo. A tribo Iruwa era composta por imigrantes Gilbertinos recentemente chegados a Nauru. As tribos Irutsi e Iwi não tiveram descendentes: os seus últimos representantes terão aparentemente desaparecido, desconhecendo-se as razões, aquando da invasão e ocupação japonesa durante a Segunda Guerra Mundial. Estas tribos não existem mais na actualidade, e os habitantes de Nauru identificam-se em primeiro lugar com o distrito onde vivem.
A sociedade, totémica e pacífica (como testemunha o primeiro nome de Nauru : Pleasant Island, « Ilha Agradável »), vive da cultura de coqueiros, bananeiras, pandanus e takamakas usando o método da queimada e da criação de suínos[6],[8]. Para enfrentar a seca provocada por La Niña, foram feitas reservas de coco na forma de copra[8]. O leite de coco é fermentado para produzir uma bebida alcoólica de sabor amargo[8]. Os Nauruanos praticam também a piscicultura desde há centenas de anos, capturando peixes-leite em torno da ilha e colocando-os na laguna Buada, um lago no centro da ilha, e numa lagoa de Anabar[7]. A piscicultura serve agora como modo de organização social entre as diferentes tribos: as exploirações são divididas entre as tribos com muretes, o cuidado dos peixes é confiado aos homens que renovam regularmente o oxigénio da água para a carregar de nutrientes, as crianças estão proibidas de perturbar os peixes quando se banham nas suas águas[7].
Os primeiros contactos com o mundo ocidental através de navios-mercantes e dos raros Europeus que viviam na ilha deram lugar a uma guerra civil tribal que fez centenas de vítimas. Para repôr a paz e unidade entre os Nauruanos, o Império alemão tomou posse da ilha e proclamou o chefe Auweyida e a sua mulher Eigamoiya rei e rainha de Nauru, títulos honoríficos que mantiveram até 1920[15]. Com a colonização, a sociedade nauruana perdeu a sua estrutura original e os seus usos e costumes: o cristianismo substituiu o totemismo, o nauruano perdeu os seus dialectos para se tornar uma língua única e alterou-se com palavras provenientes da língua alemã, o matrimónio cristão suplantou a poligamia, as danças tradicionais tidas por demasiado sexuais foram interditas, os panos que tapavam o sexo são substituídos por vestes e as fricções corporais com óleo de coco são abandonadas[8]. Os colonizadores alemães e depois os britânicos preocuparam-se pouco com os Nauruanos não lhes entregando senão uma pequena parte do rendimento gerado pela extracção do fosfato[8].
Esta situação perdurou até à década de 1960, quando o processo de independência permitiu aos Nauruanos melhorar o seu nível de vida[8]. A partir da independência, vivendo da totalidade dos benefícios da exportação do fosfato, converteram-se a uma sociedade de consumo[13], [9] (alimentos industriais, tabaco, álcool, automóveis, televisores, electrodomésticos, etc) e equiparam-se com todas as infrastruturas necessárias à vida de um estado e de uma população numa ilha isolada (centro de congressos, companhia aérea, estruturas de comunicação, etc)[17]. Este período de opulência termina na década de 1990 quando as reservas de fosfato começam a esvanecer-se e os investimentos financeiros e imobiliários fora do país se revelam infrutíferos[13],[18]. Empobrecidos, os Nauruanos sentem o perigar do seu modo de vida ocidentalizado com um aumento da incidência de certas doenças ligadas a uma má higiene[19],[17]. Os Nauruanos apresentam de facto uma das mais altas taxas no mundo de diabetes (quase 66% dos indivíduos que atingem a idade de 55 anos) e uma altíssima incidência de obesidade e de hipertensão[19],[17].
Os Nauruanos, antes da evangelização cristã, praticavam uma religião totémica baseada numa mitologia centrada em torno de uma cosmogonia e de duas divindades principais: Eijebong, a deusa da feminilidade, e Buitani, a ilha dos espíritos. Diversos rituais eram associados a essa religião como o de os hommes deverem beber uma bebida amarga à base de kava todas as noites[20] ou ainda a oferenda diária sob a forma de farinha feita para o espírito do lar. Segundo a cosmogonia nauruana, uma aranha chamada "Areop-Enap" criou o mundo a partir de um mexilhão, de dois caracóis e de um verme e os homens a partir de pedras[21].
Desde a evangelização dos Nauruanos a partir do fim do século XIX, são muito poucos os que seguem ainda esta mitologia que se encontra mais como folclore. Cerca de dois terços dos Nauruanos declaram-se protestantes, os outros católicos[11].
A língua des Nauruanos pertence ao grupo malaio-polinésio oriental da família das línguas austronésias. No início da colonização da ilha pelo Império Alemão, o nauruano foi objecto de estudos linguísticos[22]. Contendo originalmente vários dialectos que tornavam a intercompreensão difícil entre os falantes de zonas linguísticas diferentes, pouco a pouco foram-se fundindo numa língua comum com empréstimos da língua alemã[8].
Em 1938 foi posta em marcha uma reforma da língua com vista a simplificar para que fossem mais fáceis as comunicações com os Europeus e os Norte-Americanos. Esta reforma não foi senão parcialmente aplicada na realidade, pois certos e antigos usos ainda hoje se encontram em vigora.
Com a colonização britânica e depois com a australiana, os Nauruanos passaram a aprender e a utilizar maioritariamente a língua inglesa[1]. A sua língua constitui ainda um testemunho da colonização da ilha porque muitos Nauruanos são bilingues[1]. O inglês é assim utilizado preferencialmente nos domínios da administração, da justiça, do ensino superior e do comércio enquanto que o nauruano só é usado entre a população, nos primeiros anos do ensino e na televisão e rádio[1].
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