Cars (Turquia)
Da Wikipédia, a enciclopédia livre
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Cars[5] ou Carse[6] (em turco: Kars) é uma cidade e distrito (em turco: ilçe) do extremo nordeste da Turquia. É a capital da província homónima e faz parte da Região da Anatólia Oriental. O distrito tem 1 805 km² de área e em 2012 a sua população era de 111 597 habitantes (densidade: 61,8 hab./km²), dos quais 78 100 moravam na cidade.[4]
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Distrito (ilçe) | ||||
Vista da cidade desde a fortaleza | ||||
Localização | ||||
Mapa dos distritos da província de Kars | ||||
Localização de Cars na Turquia | ||||
Coordenadas | 40° 36′ N, 43° 06′ L | |||
País | Turquia | |||
Região | Anatólia Oriental | |||
Província | Cars | |||
Administração | ||||
Governador (kaymakam) | Eyüp Tepe [1] | |||
Prefeito (belediye başkanı) | Nevzat Bozkuş (2009, AKP) [2] | |||
Características geográficas | ||||
Área total [3] | 1 805 km² | |||
População total (2012) [4] | 111 597 hab. | |||
• População urbana | 78 100 | |||
Densidade | 61,8 hab./km² | |||
Altitude | 1 768 m | |||
Código postal | 36000 | |||
Prefixo telefónico | 474 | |||
Sítio | Governo distrital: www.kars.gov.tr Prefeitura: www.kars.bel.tr |
A região é referida na historiografia romana, nomeadamente por Estrabão, com o nome de Corzena (em grego clássico: Χορζηνη; romaniz.: Chorzene), e como Corsa por Ptolemeu, como fazendo parte da antiga Armênia. Os historiadores armênios da Idade Média referem-se à cidade por vários nomes armênios, nomeadamente Karuts' K'ałak (cidade de Cars), Karuts' Berd, Amrots'n Karuts' (ambos significando "fortaleza de Cars") e Amurn Karuts' ("Cars inexpugnável").
O nome atual em armênio é Kars (Կարս) ou Łars (Ղարս), em georgiano Karsi (ყარსი) ou Kari (კარი) na forma antiga; em azeri é chamada Qars. A grafia em turco otomano era (قارص).
Poucas regiões do mundo foram objeto de tantas mudanças de domínio nacional quanto o extremo nordeste da Turquia, onde fica Cars. Essa região ao sul do Cáucaso teve sucessivos e múltiplos senhores desde a Idade Média. Ali se alternaram principalmente russos e turcos. A cidade também ficou foi disputada pelos persas, mais tarde pelos georgianos e pelos armênios. Ali houve ainda intervenções dos britânicos.
Pouco se sabe sobre a antiga história de Cars além do fato de que a cidade teve sua própria dinastia de governantes armênios e que foi capital de uma região conhecida então com Vananda. Durante o século IX (por volta de 888) se tornou parte dos territórios dos armênios bagrátidas. Cars foi capital desse reino pelo curto período de 928 a 961, quando foi construída a catedral da cidade, mais tarde denominada Igreja dos Santos Apóstolos.[7]
Em 963, pouco depois que a capital bagrátida foi transferida para Ani (Turquia), Cars passou a ser capital de outro reino independente, também de nome Vananda. A real extensão dessa independência em relação a "Ani" era incerto e relativo, pois os soberanos eram sempre parentes dos senhores de Ani. Depois da Ani ser tomada pelo Império Bizantino em 1045, o título de "Rei dos Reis" bagrátida, que era do rei de Ani, passou para o senhor de Cars.
Em 1064, logo depois da tomada de Ani pelo Turcos seljúcidas, o Rei Armênio de Cars, Cacício II, teve que pagar homenagem aos vitoriosos para evitar que esses sitiassem sua cidade. Em 1065, Cacício cedeu o controle de Cars ao Império Bizantino, mas logo os Seljúcidas tomaram a cidade novamente. Em 1206/1207 Cars foi anexada pelos georgianos e da família zacárida que já governara sobre Ani. Esse controle foi mantido até a década de 1230, tendo, mais uma vez, Cars sido dominada pelos turcos.
Em 1387 a cidade se rendeu a Tamerlão , tendo sido frágeis suas fortificações. Mais governantes Turcos se seguiram até 1534, quando o exército otomano capturou a cidade. As fortificações da cidade foram reconstruídas pelo sultão otomano Murade III, tendo sido fortes o suficiente para resistir ao cerco por Nadir Shah do Império Afexárida em 1731. Cars se tornou sede de um sanjaco do Vilaiete Turco de Erzurum, no Império Otomano.
Em 1807 Cars resistiu com sucesso a ataques do Império Russo, mas foi dominada depois de um cerco em 23 de junho de 1828, pelo Conde e General Ivan Paskevich tendo 11 mil Pouco depois, Cars retornou ao domínio Otomano e o limite entre os impérios otomano e russo ficou muito próximo à cidade. Durante a Guerra da Criméia, uma guarnição turca comandada por oficiais britânicos, dentre eles o General William Fenwick Williams, mantiveram os russos fora da cidade durante o cerco de Cars. Porém, depois que a guarnição britânica foi devastada pela cólera e faltaram alimentos, a cidade se rendeu ao General russo Muraviev em novembro de 1855.
A fortaleza mais uma vez foi atacada pelos russos na Batalha de Cars, durante a Guerra russo-turca de 1877–1878, sob o comando dos Generais Mikhail Tarielovich Loris-Melikov e Lazarev Ivan Davidovich. Ao fim dessa guerra Cars foi transferida para o Império Russo pelo Tratado de Santo Estêvão e a cidade se tornou capital do Oblast de Cars, incluído os distritos da própria Cars, Ardaã, Kağızman e Oltu. De 1878 a 1881 mais de 82 mil Muçulmanos dos territórios antes controlados pelos otomanos emigraram do Império Otomano, dos quais cerca de 11 mil saíram de Cars. Ao mesmo tempo muitos gregos e armênios imigraram para região de Cars, vindo do Império Otomano e outras regiões Transcaucasianas.
De acordo com o Censo Russo de 1892, os russos eram 7%, os Gregos eram 13,5%, os curdos 15%, os Armênios 21,5%, turcos 24%, carapapaques 14%, e os turcomenos eram 5% da população do oblast de Cars.[8]
Durante a Primeira Grande Guerra, Cars foi um dos principais objetivos do Exército Otomano durante Batalha de Sarıkamış na Campanha do Cáucaso. A Rússia cedeu Cars, Ardaã e Batumi ao Império Otomano pelo Tratado de Brest-Litovsk em 3 de Março de 1918. Porém, nesse época Cars estava sob o comando efetivo das forças Armênias e Russas não Bolchevistas. O "Império Otomano" capturou Cars em 25 de Abril de 1918, mas no Armistício de Mudros (outubro de 1918) foi forçada recuar até sua antiga fronteira.
Os "Otomanos" se recusaram a sair de Cars, com seu governador militar constituiu um governo provisório, o Governo do Sudoeste do Cáucaso, liderado por Fahrettin Pirioglu, que reclamou a soberania Turca sobre Cars e sobre as cidades falantes de Turco e islâmicas, tais como Batumi e Gyumri. Muito da área próxima a Cars foi ocupada (Gyumri). pela República Democrática da Armênia (DRA) em Janeiro de 1919, mas o governo pró-Turco permaneceu na cidade até a chegada das tropas britânicas, que dissolveram esse governo em 19 de Abril de 1919, predendo suas lideranças e mandando-as como exilados para Malta.
Em Maio de 1919, Cars ficou sob domínio da "República Armênia" e se tornou capital da província de Vananda. Rusgas entre revolucionários do Movimento Nacional Turco e tropas fronteiriças da Armênia em Oltu levaram a uma invasão da República Armênia por quatro batalhões Turcos sob o comando do General Kazım Karabekir, iniciando a Guerra Turco-Armênia. Nessa guerra, em 30 de outubro de 1920, foi novamente tomada pelos Turcos. De acordo com os termos do Tratado de Alexandropol (hoje Gyumri, Armênia), assinado por representantes da Armênia e da Turquia em 2 de Dezembro de 1920, a República Democrática da Armênia cedeu mais de 50% do seu território pré-guerra e abriu mão de todos territórios garantidos pelo Tratado de Sèvres.
Com a invasão Bolchevique na Armênia, o Tratado de Alexandropol foi anulado pelo Tratado de Cars (23 de Outubro de 1921), assinado entre a Turquia e União Soviética. Por esse tratado os Soviéticos dominaram a Ajária (hoje na Geórgia) e a Turquia ficou com a províncias de Cars, Iğdır, Ardaã. Esse tratado estabelecia relações pacíficas entre ambas nações, mas já no início de 1939, diplomatas britânicos perceberam intenções da União Soviética no sentido de alterar mais uma vez as fronteiras. Em mais de uma ocasião, os soviéticos quiseram negociar com os turcos a permissão para que armênios tivessem ao menos um acesso às sagradas e históricas ruínas de Ani. A Turquia não aceitou essas pretensões.
Depois da Segunda Grande Guerra, a União Soviética buscou anular o Tratado de Cars e ganhar novamente o território cedido aos turcos. Em 7 de Junho de 1945, o Ministro da Relações Exteriores Soviético Vyacheslav Molotov declarou aos turcos que as regiões deveriam retornar à União Soviética como posse das repúblicas, tanto da Geórgia, como da Armênia. A Turquia ficou em situação difícil, queria manter boas relações com o poderoso vizinho soviético, mas também não queria perder os territórios. Os turcos não tinha nenhuma intenção de sustentar uma guerra com a emergente super potência, mas, no outono de 1945, tropas soviéticas se posicionaram na fronteira turca, visando uma invasão iminente.
Era o início da longa Guerra Fria. Houve uma firme posição do líder britânico Winston Churchill contra essas pretensões territoriais nas áreas onde os soviéticos queriam exercer sua influência. Enquanto isso, o presidente dos Estados Unidos, Harry S. Truman optou por uma posição mais neutra, não intervencionista. A situação manteve a área num conflito latente, porém, não efetivado.
Em 4 de abril, os turcos fecharam a fronteira em Cars, no ponto de passagem para a Armênia (já independente da extinta URSS). Essa ação marcava o protesto da Turquia contra a captura de territórios do Azerbaijão por tropas armênias e do Alto Carabaque, na chamada Guerra do Alto Carabaque. Desde então a fronteira se mantém fechada de forma hostil.
Há hoje intenções crescentes no sentido de reabrir a fronteira, mesmo com os líderes de ambas nações sem intenções de mudar o clima de desentendimento e com o Azerbaijão, junto com grupos nacionalistas turcos, também forçar no sentido de manter o isolamento na fronteira. Naif Alibeyoğlu, prefeito de Cars declarou em 2006 que a abertura da fronteira seria vantajosa para a economia da região e para um renascimento da cidade.[9]
População de Cars [carece de fontes] (1878 – 2012) | |||||||||||
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1878 | 1897 | 1913 | 1922 | 1970 | 1990 | 2000 | 2007 | 2012 | |||
8 672 | 20 891 | 12 175 | 129 789 | 54 000 | 78 455 | 78 473 | 76 992 | 78 100 | |||
140,9% | 41,7% | 966% | 58,4% | 45,3% | 0% | 1,9% | 1,4% |
Em função da junção das culturas armênia, curda, caucasiana, russa e turca, os prédios de Cars apresentam uma notável variedade de estilos de arquitetura.
O Castelo de Cars (Kars Kalesi), também chamado de Cidadela, está no topo de uma colina rochosa que domina a paisagem da cidade. Seus muros datam do período Armênio Bagrátida (há trecho originais sobreviventes no lado norte), mas sua atual forma data provavelmente do século XIII, quando o domínio sobre cidade era da Dinastia Zacárida.
A cidadela ostenta cruzes em diversos locais, incluindo uma "khachkar" (pedra memorial esculpida, típica da Armênia) com inscrições em armênio na torre mais oriental. Isso demonstra que o que se dizia repetidamente, que esse castelo fora construído no final do século XVI por Murade III, sultão otomano durante a guerra com o Império Safávida, não é correto. Murade pode tê-lo reconstruído parcialmente, pois muitas das paredes são similares a diversas construções "Otomanas" (como em Ardaã).
Durante o século XIX a cidadela perdeu as funções defensivas, tendo sido construídas diversas fortalezas externas para proteção em volta de Cars. Essas novas torres de defesa se mostraram eficazes em 1855, durante o Sítio de Cars.
São relacionados à cidade:
Cars é servida por estação ferroviária da TCDD (Ferrovias Estatais da Turquia). Essa ferrovia continua em território da Armênia até Gyumri, porém esse trecho não é usado desde 1993. Há proposta para construção de um ramal para conectar Cars com Akhalkalaki na Geórgia, e daí para a capital Tiblisi, indo até Bacu no Azerbaijão.[10]
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