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apóstolo de Jesus, filho de Zebedeu Da Wikipédia, a enciclopédia livre
João, o Apóstolo (em aramaico: ܝܘܚܢܢ ܫܠܝܚܐ; romaniz.: Yohanan Shliha; em hebraico: יוחנן בן זבדי; romaniz.: Yohanan Ben Zavdai; latim e grego koiné: Ioannes; c. 6 ─ c. 100[2]) foi um dos doze apóstolos de Jesus segundo o Novo Testamento, filho de Zebedeu e Salomé e irmão de Tiago, outro apóstolo. A tradição cristã acredita que ele teria sobrevivido aos demais apóstolos e teria sido o único a não sofrer o martírio. Os Padres da Igreja consideram que ele era a mesma pessoa que João Evangelista (autor do Evangelho de João), João de Patmos (autor do Apocalipse) e o "discípulo amado" citado por Jesus, uma crença seguida ainda hoje por diversas denominações cristãs, incluindo a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa.
João, o Apóstolo[1] | |
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Detalhe de uma peça-de-altar do século XVI com São João segurando um cálice envenenado (o veneno é simbolizado pelo dragão), uma das muitas tradições relacionadas a ele. | |
Apóstolo | |
Nascimento | c. 6 Betsaida, Judeia, Império Romano |
Morte | c. 100 (94 anos) Éfeso, Ásia, Império Romano |
Festa litúrgica | 27 de dezembro na Igreja Católica 26 de setembro na Igreja Ortodoxa |
Atribuições | Livro; serpente num cálice; caldeirão; águia |
Padroeiro | Amor; lealdade; amizade; autores; livreiros; queimados; envenenados; comerciantes de obras de arte; editores; fabricantes de papel; escribas; acadêmicos; teólogos |
Portal dos Santos |
A tradição católica afirma que João é o autor do Evangelho de João e de quatro outros livros do Novo Testamento — as três Epístolas de João e o Apocalipse. No Evangelho, a autoria é internamente creditada ao "discípulo amado" (em grego clássico: ὁ μαθητὴς ὃν ἠγάπα ὁ Ἰησοῦς; romaniz.: o mathētēs on ēgapa o Iēsous) em João 20:2[3] e João 21:24 afirma que o Evangelho de João é baseado no testemunho escrito do "discípulo amado". A autoria da literatura joanina tem sido debatida desde o ano 200[4][5] e sempre houve dúvidas se o houve de fato um indivíduo de nome "João" que escreveu todos estes livros. Seja como for, existe a noção de um "João Evangelista" e geralmente acredita-se que ele é o apóstolo João.
Em sua "História Eclesiástica", Eusébio afirma que a Primeira Epístola de João e o Evangelho de João são amplamente creditados a ele. Porém, ele menciona que o consenso é que a segunda e a terceira epístolas de João não seriam dele e sim de um outro João. Além disso, ele se esforça para firmar ao leitor de que não um consenso geral sobre as "revelações de João", uma obra que, atualmente, acredita-se que só possa ser o "Apocalipse" (também chamado de "Revelações").[6] O Evangelho de João é consideravelmente diferente dos evangelhos sinóticos, provavelmente escritos muito antes dele. Os bispos da Ásia Menor teriam supostamente pedido que João escrevesse seu evangelho para enfrentarem os ebionitas, que defendiam que Cristo não teria existido antes de Maria. João provavelmente conhecia e certamente aprovava os evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas, mas estes relatavam a vida de Jesus focando primordialmente nos eventos posteriores à prisão e morte de João Batista.[7] Por volta de 600, porém, Sofrônio de Jerusalém percebeu que "duas epístolas atribuídas a ele... são consideradas por alguns como sendo obra de um certo João, o Velho" e, depois de afirmar que o Apocalipse é obra de João de Patmos, ele teria sido "posteriormente traduzido por Justino Mártir e Ireneu",[8] supostamente numa tentativa de reconciliar a tradição com as óbvias diferenças estilísticas no grego.
Até o século XIX, a autoria do Evangelho de João era universalmente atribuída ao apóstolo João. Porém, a maior parte dos biblistas modernos tem dúvidas.[9][10] Alguns concordam em datar a obra em algum momento entre 65 e 85.[11] John Robinson propõe uma primeira edição entre 50 e 55 e uma outra, final, em 65, com base em similaridades com os escritos de Paulo[12]:pp.284,307. Outros estudiosos afirmam que o Evangelho de João teria sido composto em dois ou até três estágios[13]:p.43. Há ainda os que defendem que ele não teria sido escrito até o terço final do século I, determinando a data mais antiga possível como algo entre 75 e 80.[14] Finalmente, há os que defendem uma data ainda mais tardia, talvez na última década do século I ou mesmo o início do século seguinte.[15]
Ainda assim, atualmente, muitos teólogos continuam a aceitar a autoria tradicional. Colin G. Kruse afirma que, como João Evangelista foi consistentemente citado nas obras dos primeiros Padres da Igreja, "é difícil ignorar esta conclusão, apesar da ampla relutância em aceitar [a autoria] por muitos, mas de forma alguma todos, os estudiosos modernos".[16]
A autoria anônima tem muitos defensores.[17][18][19][20][21][22][23][24][25] Segundo Paul N. Anderson, ele "contém mais reivindicações diretas de testemunho direto do que qualquer outra tradição evangélica".[26] F. F. Bruce argumenta que João 19:35 contém uma "enfática e explícita reivindicação de autoridade testemunhal direta".[27] Bart D. Ehrman, porém, não acredita que as reivindicações evangélicas tenham sido escritas por testemunhas diretas dos eventos relatados.[19][28][29]
Porém, João 21 termina (no versículo 24) com uma declaração explícita que unifica o autor ("João Evangelista") e a testemunha ("João, o Apóstolo"), na forma de um artifício literário de esconder ou adiar a descoberta do misterioso "outro discípulo", o "discípulo amado" e "este homem", as primeiras duas formas utilizadas múltiplas vezes durante o relato:
“ | «Este é o discípulo que dá testemunho destas coisas e que as escreveu, e sabemos que o seu testemunho é verdadeiro.» (João 21:24) | ” |
O autor do Apocalipse (chamado também de "Revelações") identifica-se como "João" em Apocalipse 1.[30] O escritor do início do século II, Justino Mártir, foi o primeiro a afirmar que ele seria a mesma pessoa que "João, o Apóstolo",[31] porém, alguns estudiosos atualmente afirmam que os dois seriam pessoas distintas.[9][32]
João, o Presbítero, uma figura obscura do cristianismo primitivo, tem sido identificado como sendo o receptor das visões do Apocalipse por autores como Eusébio[33] e São Jerônimo.[34][35]
Acredita-se que João teria sido exilado para a ilha grega de Patmos durante as perseguições do imperador Domiciano. O autor afirma ter escrito o livro ali: «Eu João, vosso irmão e companheiro na tribulação, no reino e na paciência em Jesus, estive na ilha que se chama Pátmos, por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho de Jesus.» (Apocalipse 1:9) Adela Yarbro Collins, uma biblista na Universidade de Teologia de Yale, afirma que:
“ | Tradições antigas afirmam que João foi banido para Patmos pelas autoridades romanas. Esta tradição é crível por que o banimento era uma punição comum durante o período imperial para diversas ofensas. Entre elas estavam a prática da magia e da astrologia. Profecias eram vistas pelos romanos como sendo todas de uma categoria só, pagãs, judaicas ou cristãs. Profecias com implicações políticas, como as de João no Apocalipse, teriam sido percebidas como ameaças à ordem e ao poderio romano. Três das ilhas nas Espórades eram destinos comuns de ofensores banidos[36][37] | ” |
Alguns críticos levantaram a possibilidade que João, o Apóstolo, João, o Evangelista, e João de Patmos sejam três pessoas diferentes.[38] Segundo eles, João de Patmos teria escrito o Apocalipse apenas e não as epístolas e nem o Evangelho. Em primeiro lugar, argumentam, o seu autor se identifica como sendo "João" diversas vezes, enquanto o autor do Evangelho jamais o faz. Alguns estudiosos católicos afirmam que "vocabulário, gramática e estilo fazem com que seja duvidoso que o livro tenha sido apresentado na forma atual pela mesma pessoa responsável pelo quarto evangelho".[39]
João, o Apóstolo, era filho de Zebedeu e irmão mais novo de Tiago, filho de Zebedeu (tradicionalmente chamado de São Tiago Maior). Segundo a tradição, sua mãe era Salomé, uma conclusão obtida ao se comparar Mateus 27:56 com Marcos 15:40. Zebedeu e seus filhos eram pescadores do mar da Galileia e os irmãos foram primeiro discípulos de João Batista. Jesus chamou então Pedro, André e os dois para segui-lo. Jesus os chamava de "boanerges" ("filhos do trovão")[10] uma referência ao fato que, apesar de ambos terem sido descritos como sendo calmos e gentis, os irmãos, quando levados ao limite, tornavam-se selvagens e barulhentos, o que os fazia se defender como uma tempestade: uma das histórias do evangelho conta como os irmãos queriam chamar o fogo dos céus contra uma cidade samaritana, mas Jesus os admoestou (Lucas 9:51–56).
Ainda segundo a tradição, João teria vivido mais de meio século depois da morte de Tiago, que teria sido o primeiro apóstolo a ser martirizado.
Pedro, Tiago e João foram as únicas testemunhas da ressurreição da filha de Jairo.[40] O três foram também as testemunhas da Transfiguração e da Agonia no Horto.[41] João foi o discípulo que relatou a Jesus que eles haviam proibido um não-discípulo de expulsar demônios em nome de Jesus, o que resultou numa de suas mais famosas frases: «[...]:Não lho proibais; pois quem não é contra vós, é por vós.» (João 9:50)
Jesus enviou apenas João e Pedro a Jerusalém para os preparativos finais para a ceia pascal (a Última Ceia). Durante a ceia, o "discípulo amado" sentou-se perto de Jesus e, como era o costume que as pessoas se deitassem em sofás durante as refeições, este discípulo se apoiou em Jesus.[41] A tradição identifica-o como sendo São João (João 13:23–25). Depois da prisão de Jesus, Pedro e "o outro discípulo" (segundo a Santa Tradição) seguiram-no até a casa de Caifás, o sumo-sacerdote.[41]
Apenas João, entre todos os apóstolos, ficou aos pés de Jesus no Calvário, juntamente com várias mulheres; seguindo uma instrução do próprio Jesus na cruz, João tomou Maria, sua mãe, sob seus cuidados (João 19:25–27). Depois da Ascensão e da vinda do Espírito Santo no Pentecostes, João, juntamente com Pedro, teve um papel fundamental na fundação e no direcionamento da nascente igreja cristã. Ele estava com Pedro na cura do aleijado no Pórtico de Salomão do Templo (Atos 3) e foi preso com ele (Atos 4). Em Atos 8:14, ambos foram visitar convertidos na Samaria.
Apesar de permanecer na Judeia e imediações, os outros apóstolos retornaram a Jerusalém para o Concílio Apostólico (c. 51). Paulo, opondo-se explicitamente aos seus inimigos na Galácia, relembrou que João, explicitamente, juntamente com Pedro e Tiago, o Justo, eram chamados de "Pilares da Igreja" e fez referência ao reconhecimento de que sua pregação apostólica de um evangelho livre da lei judaica foi recebida dos três, os mais proeminentes membros da comunidade messiânica em Jerusalém.[40]
A frase "discípulo que Jesus amava" (em grego: ὁ μαθητὴς ὃν ἠγάπα ὁ Ἰησοῦς; romaniz.: ho mathētēs hon ēgapā ho Iēsous) ou, em João 2:, o "discípulo amado" (em grego: ὃν ἐφίλει ὁ Ἰησοῦς; romaniz.: hon ephilei ho Iēsous) foi utilizada cinco vezes no Evangelho de João,[42] mas nenhuma outra vez em nenhum dos demais evangelhos do Novo Testamento. Em Lucas 24:12, por exemplo, Pedro corre sozinho até o túmulo. Marcos, Mateus e Lucas não mencionam nenhum apóstolo testemunhando a crucificação.
A Bíblia não informa sobre a duração das atividades de João na Judeia. Segundo a tradição, ele e outros apóstolos permaneceram por cerca de doze anos na região, até que a perseguição de Herodes Agripa I levou à dispersão dos apóstolos por todas as províncias romanas (Atos 12:1–17).
Uma comunidade messiânica existia em Éfeso antes das primeiras obras de Paulo na região (Atos 18:27) junto com Priscila e Áquila. Esta comunidade era liderada por Apolo (citado em I Coríntios 1:12), todos discípulos de João Batista convertidos por Áquila e Priscila.[43] Segundo a tradição, depois da Assunção de Maria, João seguiu para Éfeso, de onde escreveu as três epístolas atribuídas a si. Foi depois banido pelas autoridades romanas para a ilha grega de Patmos, onde, segundo a tradição, escreveu o Apocalipse. Segundo Tertuliano, João foi banido (supostamente para Patmos) depois de ter sido lançado em óleo quente em Roma e ter escapado ileso (vide San Giovanni in Oleo), um milagre que teria convertido todos os presentes no Coliseu.
Já em idade avançada, João treinou Policarpo, que depois tornar-se-ia bispo de Esmirna, um evento muito importante pois ele levaria a mensagem de João para as gerações futuras. Policarpo, por sua vez, ensinou Ireneu, passando para ele as histórias sobre João. Em "Contra Heresias", Ireneu relata que Policarpo teria lhe contado o seguinte evento:[44]
“ | João, o discípulo do Senhor, foi banhar-se em Éfeso e, tendo percebido Cerinto no local, correu para fora das termas sem se banhar gritando "Fujamos antes que as termas desmoronem pois Cerinto, o inimigo da verdade, está lá". | ” |
Tradicionalmente também, acredita-se que João era o mais jovem dos apóstolos e teria sobrevivido a todos eles, vivendo muitos anos até morrer em Éfeso por volta do ano 100 d.C., depois da ascensão do imperador romano Trajano ao trono em 98 d.C.[2][45]
Um relato alternativo da morte de João, atribuído por escritores cristãos posteriores ao bispo do início do século II, Papias de Hierápolis, afirma que ele teria sido assassinado pelos judeus.[lower-alpha 1][lower-alpha 2] A maior parte dos estudiosos de João duvidam da credibilidade desta atribuição a Papias, mas uma minoria, incluindo B.W. Bacon, Martin Hengel e Henry Barclay Swete, defende que estas referências são verdadeiras.[48][49] Zahn argumenta que esta referência seria, na verdade, a João Batista.[45]
Acredita-se, também tradicionalmente, que o túmulo de João esteja localizado em Selçuk, uma pequena cidade vizinha de Éfeso.[50]
Na arte, João, o autor presumido do Evangelho, é geralmente representado com uma águia, que simboliza a altura que ele atingiu com seu Evangelho.[10] Em ícones ortodoxos, ele geralmente aparece olhando para o céu e ditando seu Evangelho (ou o Apocalipse) para seu discípulo, tradicionalmente chamado de Prócoro.
A festa litúrgica de São João na Igreja Católica, que o chama de de "São João, Apóstolo e Evangelista", na Comunhão Anglicana e nos calendários luteranos, que o chamam de "João, Apóstolo e Evangelista", é em 27 de dezembro. No Calendário Tridentino, ele era comemorado também nos dias seguintes até (e incluindo) 3 de janeiro, a oitava da festa de 27 de dezembro, que foi abolida pelo papa Pio XII em 1955. Sua cor litúrgica tradicional é branca.
Até 1960, outra festa aparecia no Calendário Geral Romano, a de "São João na Porta Latina", em 6 de maio, celebrando uma tradição recontada por São Jerônimo segundo a qual São João teria sido levado a Roma durante o reinado de Domiciano e atirado num caldeirão de óleo fervente, do qual emergiu milagrosamente ileso. Uma igreja (San Giovanni a Porta Latina e o oratório de San Giovanni in Oleo) foram construídos perto da Porta Latina, o local tradicional deste evento.[51]
A Igreja Ortodoxa e as Igrejas Católicas Orientais de rito bizantino comemoram o "Repouso do Santo Apóstolo e Evangelista João, o Teólogo" em 26 de setembro. Em 8 de maio, celebra-se a festa do Santo Apóstolo e Evangelista João, o Teólogo".
O Corão também cita os discípulos de Jesus, mas não menciona seus nomes, chamando-os de "ajudantes na obra de Deus".[52] A exegese muçulmana e o comentário corânico, porém, os nomeia e inclui João entre os discípulos.[53] Uma antiga tradição, que envolve a lenda de Habib, o Carpinteiro, menciona que João teria sido um dos três discípulos enviados para pregar em Antioquia.[54]
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