Instituição total
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Uma instituição total é um local de trabalho e residência onde um grande número de pessoas similarmente situadas, isoladas da comunidade mais ampla por um tempo considerável, levam juntas uma vida fechada e formalmente administrada.[1][2][3] A privacidade é limitada nas instituições totais, pois todos os aspectos da vida incluindo o sono, brincadeira e trabalho são conduzidos no mesmo lugar.[4] O conceito é associado principalmente ao trabalho do sociólogo Erving Goffman.[5]
Pelo conceito de Goffman, as instituições totais têm missões formais diversas, mas um projeto e estrutura em comum.[6][7] Ele dividiu-as em cinco tipos:[3][8]
- instituições estabelecidas para cuidar de pessoas consideradas inofensivas e incapazes, como asilos.
- locais estabelecidos para cuidar de pessoas consideradas incapazes de tratar de si mesmas e um perigo para a comunidade, mesmo que não-intencionado: leprosários, hospitais psiquiátricos e sanatórios de tuberculosos.
- instituições organizadas para proteger a comunidade contra o que se considera perigos intencionais contra ela, e assim, com o bem-estar das pessoas institucionalizadas considerado de importância menor: campos de concentração, campos de prisioneiros de guerra e prisões.
- instituições teoricamente estabelecidas para conduzir melhor tarefas equivalentes ao trabalho, justificando a si mesmas somente por esses motivos instrumentais: complexos coloniais, campos de trabalho, internatos, navios, casernas e grandes mansões do ponto de vista dos que vivem nos quartos dos empregados.
- estabelecimentos designados como retiros do mundo mesmo quando frequentemente servindo como estações de treinamento para religiosos, como conventos, abadias, mosteiros e outros claustros.
Instituições militares como o oficialato do Exército Brasileiro possuem semelhanças e diferenças ao conceito. Desde o início, como cadetes, os oficiais passam por uma ruptura brusca, perdendo sua identidade do “mundo de fora”, e ao longo da carreira a coletividade prevalece sobre os indivíduos e a fronteira simbólica e cotidiana entre os mundos militar e “paisano” é mantida. A vida como militar não se restringe ao trabalho, pois a disciplina e hierarquia se aplicam a todas as interações entre oficiais da ativa, reserva e reformados. Os locais de moradia, lazer e estudo dos oficiais, esposas e filhos, são em sua maioria compartilhados, e a interação social endógena, entre as famílias militares, é estimulada. As mulheres têm grande importância na vida social dos oficiais, e informalmente reproduzem entre si a hierarquia dos maridos. Círculos hierárquicos restringem a interação social entre patentes diferentes. Por outro lado, não há, como definiu Goffman, uma divisão rígida entre a “equipe dirigente” e os “internos”; todo oficial nos altos postos já foi um dia cadete. Afora a barreira entre oficiais e praças, há fortes mecanismos de ascensão social meritocrática. A internação compulsória, típica das instituições totais, não se aplica no oficialato, onde a participação é puramente voluntária. O antropólogo Celso Castro define esse oficialato como uma instituição “totalizante” e não total.[9]