Incidente de Mayerling
Morte do príncipe austríaco Rodolfo e sua amante Maria von Vetsera em 1889 Da Wikipédia, a enciclopédia livre
Morte do príncipe austríaco Rodolfo e sua amante Maria von Vetsera em 1889 Da Wikipédia, a enciclopédia livre
O chamado Incidente de Mayerling refere-se a uma série de eventos que levaram à controversa morte do arquiduque Rodolfo da Áustria e de sua amante, a baronesa Maria Vetsera. Rodolfo era o único filho varão do imperador Francisco José I da Áustria e da imperatriz Isabel, e herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro. Sua amante era filha do falecido barão Albin Vetsera, diplomata na corte austríaca. Os corpos do arquiduque, de 30 anos, e da baronesa, de 17, foram descobertos no Imperial Pavilhão de Caça em Mayerling, nos Bosques de Viena, cerca de 25 km a sudoeste da capital, na manhã de 30 de janeiro de 1889.[1]
Incidente de Mayerling | |
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Foto do Imperial Pavilhão de Caça, em Mayerling, com a legenda: "Mayerling, antigo pavilhão de caça do príncipe herdeiro Rodolfo antes de 1889." | |
Local | Mayerling, Áustria |
Coordenadas | |
Data | 30 de janeiro de 1889 |
Tipo de ataque | Homicídio seguido de suicídio |
Arma(s) | Gewehr Förster |
Mortes | Maria Vetsera Rodolfo de Habsburgo |
Responsável(is) | Rodolfo de Habsburgo |
A morte do príncipe teve consequências no curso da história no século XIX e interrompeu a linha sucessória imediata ao trono austro-húngaro. Como Rodolfo não havia tido filhos varões, a sucessão recaiu sobre seu tio, o arquiduque Carlos Luís — irmão de Francisco José I que, no entanto, renunciou aos seus direitos em favor de seu filho, o arquiduque Francisco Fernando.[1] Esta desestabilização pôs em risco a reconciliação que vinha se esboçando entre a Áustria e facções húngaras do império, tornando-se um catalisador nos desenvolvimentos inexoráveis que levaram ao assassinato, em 28 de junho de 1914, do arquiduque e de sua esposa, a duquesa Sofia de Hohenberg, por um nacionalista sérvio em Sarajevo — fato que foi um dos estopins da Primeira Guerra Mundial.[2][3][4]
Em 1889, muitas pessoas da corte austríaca, incluindo os pais de Rodolfo e sua esposa Estefânia, sabiam de seu envolvimento amoroso com a jovem Maria. O casamento do arquiduque com a princesa da Bélgica não foi particularmente feliz e resultou no nascimento de apenas uma filha, Elisabeth, conhecida como "Erszi".
Em 29 de janeiro de 1889, Francisco José e Isabel ofereceram um jantar para a família antes de partirem para Buda, na Hungria, no dia 31; Rodolfo declinou do convite, alegando uma indisposição. Ele organizou uma caçada em Mayerling para a manhã do dia 30 mas, quando seu criado Loschek foi chamá-lo em seus aposentos, não houve resposta. O mesmo fez o conde José Hoyos, companheiro de caça do arquiduque, mas Rodolfo não atendeu ao seu chamado. Eles tentaram forçar a porta, mas ela estava trancada. Loschek, então, arrombou a porta com um machado e encontrou o quarto às escuras. Rodolfo encontrava-se sentado (alguns autores sugerem que ele estava deitado) imóvel ao lado da cama, inclinado para a frente e sangrando pela boca. Na mesa de cabeceira havia um copo, que levou Loschek a acreditar que o príncipe havia ingerido veneno, pois sabia que a estricnina provoca sangramentos. Na cama jazia o corpo de Maria Vetsera, pálida, fria e já bastante rígida.[5] A versão errônea de que havia ocorrido um envenenamento — e mesmo que a baronesa teria envenenado Rodolfo e se matado — persistiu por algum tempo.
Hoyos não viu os corpos de perto, mas correu para a estação e tomou um trem especial para Viena. Ele procurou o conde Paar, ajudante de ordens do imperador, e pediu-lhe que transmitisse a terrível notícia ao soberano. O sufocante protocolo que regia cada passo dado em Hofburg prevaleceu neste momento; Paar protestou que somente a imperatriz poderia dar tão catastrófica notícia ao imperador. O barão Nopcsa, veador da imperatriz, foi encarregado da tarefa, mas este preferiu entender-se antes com a condessa Ida von Ferenczy, dama de companhia favorita de Isabel, para determinar como Sua Majestade deveria ser informada do ocorrido. Isabel estava tendo aulas de grego e ficou impaciente com a interrupção. Bastante pálida, Ferenczy anunciou que o barão Nopcsa tinha notícias urgentes a dar, ao que a imperatriz respondeu que ele deveria aguardar e voltar mais tarde. A condessa insistiu que o barão deveria ser recebido imediatamente e acrescentou que ele tinha graves notícias sobre o príncipe herdeiro. Este relato foi feito pela condessa Ferenczy e pela arquiduquesa Maria Valéria, a quem Sissi ditou as memórias do incidente, além do registro em seu diário.[6]
A condessa entrou novamente na sala, onde encontrou a imperatriz bastante abalada e chorando incontrolavelmente. Neste momento, o imperador veio até os aposentos, mas foi obrigado a aguardar do lado de fora junto com Nopcsa, que fazia um visível esforço para se controlar. Isabel deu a notícia a seu marido em particular e ele deixou o local completamente devastado.
O chefe de polícia foi convocado e os serviços de segurança nacional isolaram o pavilhão de caça e toda a área ao redor. O corpo de Maria Vetsera foi enterrado o mais rápido possível, sem inquérito e em segredo — nem mesmo sua mãe teve permissão de participar do enterro.
Em nome do imperador, o primeiro-ministro conde Eduard Taaffe emitiu um comunicado ao meio-dia informando que Rodolfo havia morrido "devido à rutura de um aneurisma no coração". A família imperial, a corte e, aparentemente, até mesmo a mãe de Maria, a baronesa Helena Vetsera, ainda acreditavam na versão do envenenamento. Somente quando a comissão médica da corte, chefiada pelo Dr. Widerhofer, chegou a Mayerling naquela tarde é que a causa precisa da morte foi estabelecida. Às 6 horas da manhã do dia 31, Widerhofer encaminhou um relatório ao imperador com a versão oficial dos fatos, que foi publicada naquele mesmo dia: "Sua Alteza Imperial e Real, o Príncipe Herdeiro Arquiduque Rodolfo, morreu ontem em sua residência de caça de Mayerling, próximo a Baden, pela ruptura de um aneurisma no coração".[7]
Correspondentes estrangeiros dirigiram-se a Mayerling e logo se soube que a amante de Rodolfo estava implicada em sua morte. A primeira versão oficial sobre um ataque cardíaco foi rapidamente abandonada e a versão da "insuficiência cardíaca" foi alterada. Foi anunciado que, num pacto de suicídio, o arquiduque havia atirado na baronesa, sentando-se depois ao lado de seu corpo durante várias horas antes de se matar. Surgiram relatos de que Rodolfo e o imperador haviam tido recentemente uma violenta discussão, onde Francisco José exigia que o filho terminasse seu relacionamento com a adolescente. Suas mortes teriam sido o resultado trágico de uma decisão desesperada tomada pelos amantes contrariados "enquanto o arquiduque encontrava-se mentalmente desequilibrado". A polícia encerrou as investigações com surpreendente rapidez, em aparente resposta aos desejos do imperador.
Francisco José fez tudo o que pôde para obter autorização da Igreja para que Rodolfo pudesse ser enterrado na Cripta Imperial, algo que seria impossível devido ao fato do arquiduque ter cometido assassinato e suicídio. A dispensa especial foi obtida a partir do Vaticano, que declarou que Rodolfo encontrava-se em estado de "desequilíbrio mental", permitindo que ele fosse sepultado na Igreja dos Capuchinhos, em Viena, junto a outros 137 Habsburgos. O dossiê sobre as investigações e as ações relacionadas não foram depositados nos arquivos do Estado, como normalmente acontecia.[8]
Acredita-se que a notícia de que Rodolfo havia se desentendido seriamente com o pai por causa da baronesa tenha sido espalhada por agentes do chanceler alemão Otto von Bismarck, que nutria pouca simpatia pelo politicamente liberal arquiduque. Tal acontecimento foi posto em dúvida por muitos parentes próximos de Rodolfo, que conheciam o chanceler pessoalmente.
A imperatriz Vitória da Alemanha registrou em 9 de abril de 1889:
Em carta datada de 20 de abril de 1889 e dirigida à sua mãe, a rainha Vitória, a imperatriz alemã declarou:
Os historiadores descartam a ideia de que havia algo mais que um assassinato seguido de suicídio no Incidente Mayerling. No entanto, ao longo dos anos, surgiram diversas teorias tentando comprovar que a história oficial está incorreta.
A misteriosa morte do arquiduque Rodolfo provocou de imediato uma crise dinástica. Sendo o único filho varão de Francisco José I (numa monarquia que, desde Maria Teresa, voltara a adotar a Lei Sálica), o herdeiro presuntivo da coroa do Império Austro-Húngaro passou a ser o arquiduque Carlos Luís, irmão do imperador. Este, por sua vez, renunciou aos seus direitos em favor de seu filho mais velho, o arquiduque Francisco Fernando,[16] cujo assassinato em Sarajevo iria precipitar a eclosão da Primeira Guerra Mundial.[17] Com a morte de Francisco Fernando, a sucessão recaiu sobre seu sobrinho, Carlos (futuro Carlos I da Áustria e IV da Hungria), filho do arquiduque Oto Francisco.[18]
Corpo de Maria Vetsera foi retirado de Mayerling e enterrado no cemitério de Heiligenkreuz.
A história oficial do assassinato-suicídio foi inquestionável até o término da Segunda Guerra Mundial. Em 1946 as tropas soviéticas de ocupação retiraram a placa de granito que cobria o túmulo da baronesa e seu caixão foi aberto com uma bomba, aparentemente para a pilhagem de suas jóias. Este fato só tornou-se conhecido em 1955, quando o Exército Vermelho retirou-se da Áustria. Em 1959, um jovem médico chamado Gerd Holler, acompanhado por um membro da família Vetsera e especialistas em preservação funerária, inspecionaram seus restos mortais. Holler examinou cuidadosamente o crânio e outros ossos em busca de vestígios de buracos de bala, mas declarou não ter encontrado nenhuma evidência. Intrigado, ele afirmou que pediu ao Vaticano autorização para inspecionar seus arquivos de 1889 sobre o caso, onde a investigação do Núncio Apostólico, constatou que apenas uma bala havia sido disparada. Na falta de evidências forenses de uma segunda bala, Holler levantou a teoria de que Vetsera teria morrido acidentalmente, provavelmente como resultado de um aborto, e que Rodolfo, em consequência, teria se suicidado.[19]
Em 1991, os restos de Maria Vetsera foram novamente exumados, desta vez por Helmut Flatzelsteiner, um comerciante de móveis Linz, que era obcecado pelo caso Mayerling. Ele removeu os ossos clandestinamente e pagou por uma perícia particular em fevereiro de 1993.[20] Flatzelsteiner disse aos peritos que os restos mortais eram de um familiar morto cerca de cem anos antes, provavelmente morto com um tiro na cabeça ou esfaqueado. Um dos especialistas verificou que a calota craniana mostrava uma grande área de trauma, indicando que a baronesa poderia ter morrido por um golpe, o que sustentaria a versão de que ela não havia sido baleada por Rodolfo. Flatzelsteiner procurou um jornalista do Kronen Zeitung a fim de vender tanto a história quanto o esqueleto de Vetsera. Após um exame pericial, que comprovou que os restos mortais eram da jovem, estes foram novamente enterrados em seu túmulo original, em outubro de 1993.[21] Flatzelsteiner foi processado e condenado a pagar 2 000 euros à abadia de Heiligenkreuz, a título de danos.[22]
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