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Imanência (em latim: immanēns; de im-, em, e manēre, habitar, permanecer = "permanecer dentro") é um conceito filosófico e ontológico que significa a presença interior de algo ou uma qualidade como parte de um ser,[1] ou do ser como parte dela, sendo antitético ao conceito de transcendência (significa "ir além", caráter daquilo que transcende, é exterior e superior em relação a essência de algo). Na teologia e metafísica, sustenta que o divino ou Absoluto abrange ou se manifesta no mundo material, e imanentismo é o termo usado para se referir à noção de que Deus ou uma mente ou espírito abstrato pervade o mundo.[2] É sustentado por algumas teorias filosóficas e metafísicas da presença divina e providência. A imanência é geralmente aplicada nas crenças religiosas, seja politeístas ou monoteístas, panteístas, pandeístas ou panenteístas para sugerir que o mundo espiritual permeia o mundano, sendo frequentemente contrastada com as teorias da transcendência divina, nas quais o divino é visto como estando fora do mundo material.
Uma das primeiras distinções filosóficas entre algo cujo ser transcende e aquilo que aparece imanente foi feita por Platão em sua teoria das ideias, na qual separa o Mundo Inteligível das Ideias transcendentes, eternas e imutáveis, e um mundo sensível dos fenômenos transitórios, que são manifestações imanentes das formas transcendentes e delas participam; também está presente no seu conceito de demiurgo e Alma do Mundo, em relação com a Ideia do Bem e do Um.[3] No mundo oriental, os fundamentos de transcendência e imanência foram fortemente marcantes também nas filosofias do hinduísmo, budismo, taoismo e neoconfucionismo - ver Transcendência (religião).
O problema da imanência ou da transcendência de Deus dividiu os filósofos medievais — neoplatônicos, como Agostinho de Hipona, ou aristotélicos, como Alberto Magno e Tomás de Aquino.
Na encíclica Pascendi Dominici Gregis, o papa Pio X criticou o abuso da noção de imanência na filosofia de Baruch Espinoza e Immanuel Kant. Retomando o conceito escolástico de imanência, entendida como a presença do resultado de uma ação na própria ação, Espinoza afirmou que "Deus é causa imanente e não transitiva de todas as coisas", isto é, Deus é causa de todas as coisas que estão nele e nada existe fora dele (Deus sive Natura). Um exemplo notório de imanência sem anular a transcendência divina, em possível panenteísmo,[4] é a frase atribuída a Epimênides de Creta, citada por Paulo de Tarso (Atos 17:28): "Nele vivemos, nos movemos e temos nosso ser".
O termo imanência compõe-se dos termos latinos in e manere, que, juntos, têm o significado original de "existir ou permanecer no interior".
No panteísmo, panenteísmo e no panpsiquismo, o termo "imanência" é entendido como uma força divina ou o ser divino que permeia todas as coisas — ou seja, a divindade estaria inseparavelmente presente em todas as coisas. Nesse sentido, imanência se opõe a transcendência, entendida como a divindade sendo separada ou transcendente ao mundo. As filosofias de Giordano Bruno, Baruch Espinoza e, possivelmente, Hegel foram filosofias de imanência, assim como o estoicismo. Filosofias transcendentes são, por exemplo, tomismo ou a tradição aristotélica. Gilles Deleuze qualifica Espinoza como o "príncipe dos filósofos" por sua teoria de imanência, expressa na Ética e resumida na famosa locução "Deus sive Natura" ("Deus, ou seja a Natureza"): Deus é Natureza, Natureza é Deus. Tal teoria considera que não há transcendência, ou seja, um princípio ou uma causa externa do mundo; o processo da produção da vida está contido na própria vida.[5] Quando combinada com idealismo, a teoria da imanência qualifica-se como "o mundo" que não tem nenhuma causa externa além da mente.
No contexto da teoria de Kant, o conhecimento da imanência significa manter-se nos limites da experiência possível.
O filósofo contemporâneo Gilles Deleuze usou o termo "imanência" para se referir a sua "filosofia empirista", na qual foi obrigado a criar ação, o que resultou algo além do que a transcendência estabelecia. Seu texto final, intitulado Imanência: uma vida...,[6]fala de um plano de imanência. Giorgio Agamben escreve em A comunidade que vem (1993): "Há, de fato, algo que o homem é e tem de ser, mas este algo não é uma essência, não é propriamente uma coisa: é o simples fato da sua própria existência como possibilidade ou potência.[7]
Ao prestar culto, um pesquisador pela imanência se pode achar Deus dentro de si procurando-o. Este conceito é usado frequentemente no hinduísmo para descrever o relacionamento de Brâman, ou Ser Cósmico, no mundo material. (como demonstrado em teísmo monístico). O hinduísmo define Brâman como ambos transcendente e imanente - variando a ênfase destas qualidades de acordo com cada ramo filosóficas dentro desta religião. A imanência é um dos 'cinco conceitos' para os drusos, e é representada pela cor branca. Muitos estudiosos, como Henry David Thoreau, que popularizaram o conceito de imanência, foram influenciados pelo ponto de vista hindu.
No cristianismo o Deus transcendente, (que transcende - ultrapassa - as eras do mundo), santo e onipotente, que não pode ser alcançado ou visto, pode ser atingido pela primariedade imanente no Homem-Deus Jesus o Cristo, que é o filho de Deus.
Isto foi expresso na famosa carta de São Paulo aos filipenses, onde ele escreve:
No misticismo judeu,Tzimtzum (צמצום Hebreu: "contração" ou "constrição") refere-se à teoria Cabalística que na criação Deus "contrai" sua essência infinita para permitir um "espaço conceitual" no qual um mundo finito e independente existiria. O conceito de Tzimtzum contém um paradoxo embutido, pois ele exige que Deus seja simultaneamente transcendente e imanente:
O budismo tântrico e o Dzogchen pressupõem uma base não dual, tanto para a experiência quanto para a realidade, que poderia ser considerada como uma filosofia da imanência cuja história no subcontinente indiano data do início da Era Cristã. Diz-se que uma paradoxal consciência não dual (rigpa em Tibetano; vidya em sânscrito) é o 'estado de autoperfeição' de todos os seres. Estudiosos diferenciam estas tradições do monismo. O não dual não é imanente, nem transcendente, nem ambos. Uma exposição clássica é a Madhyamaka, a refutação dos extremos, proposta por Nagarjuna.
Expoentes dessa tradição não dual enfatizam a importância de uma experiência direta de não dualidade, tanto através da prática de meditação como da investigação filosófica. Em uma versão, o indivíduo mantém-se consciente - enquanto os pensamentos surgem e se dissolvem dentro do 'campo' da mente, sem que sejam aceitos nem rejeitados - e deixa a mente vagar livremente até que uma sutil sensação de imanência aparece. Vipassana ou insight é a integração da 'presença da consciência' com aquilo que surge na mente. A não dualidade ou rigpa é o reconhecimento de que tanto a quietude, o estado de calma permanente, que é encontrado em samatha, como o movimento ou surgimento do fenômeno, encontrado em vipassana, não são separados. Desse modo, pode-se dizer que Dzogchen é um método para o reconhecimento da 'pura imanência' análogo àquele teorizado por Deleuze.
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