Gabinete de curiosidades
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As expressões gabinete de curiosidades (Kunstkammer e Kunstkabinett, em alemão), quarto das maravilhas ou gabinetes das maravilhas (Wunderkammern, em alemão) designam os lugares onde, durante a época das grandes explorações e descobrimentos dos séculos XVI e XVII, se colecionava uma multiplicidade de objetos raros ou estranhos dos três ramos da biologia considerados na época: animal, vegetal e mineral; além de objetos relacionados à geologia, etnografia, arqueologia, relíquias religiosas ou históricas, obras de arte e antiguidades. Eram espaços montados por nobres curiosos, ricos comerciantes, artistas e estudiosos para juntar, interpretar e exibir os objetos coletados de outras culturas e continentes.
Tais gabinetes serviram não apenas como coleções predominantemente heterogêneas para o entretenimento e para refletir as curiosidades particulares de seus curadores, mas geralmente como símbolos socioeconômicos para estabelecimento e manutenção de uma certa posição na sociedade. De acordo com o historiador inglês Robert Evans, havia dois tipos principais de gabinetes: "o gabinete principesco, servindo a uma função amplamente representativa, e dominado por preocupações estéticas e uma clara predileção pelo exótico", e gabinetes com coleções mais modestas "erudito humanista ou virtuoso, que serviram a propósitos mais práticos e científicos".[1] Contudo, o autor ressalta que não havia uma distinção clara entre as duas categorias pois as coleções eram predominantemente marcadas pela curiosidade, credulidade e por algum tipo de desenho universal. Por outro lado, os gabinetes não eram só privilégio da nobreza, como é o exemplo do gabinete de um médico de Castres, Pierre Borel (1620-1671), que continha uma grande diversidade de objetos.[2]
Apareceram durante o Renascimento na Europa e tiveram um papel fundamental para o desenvolvimento da ciência moderna, embora refletissem a opinião popular do tempo (não era raro encontrar sangue de dragão seco ou esqueletos de animais míticos). A edição de catálogos, geralmente ilustrados, permitia acessar e difundir o conteúdo dos gabinetes de curiosidades para os cientistas da época. Em geral, eram uma exposição de curiosidades e achados procedentes de novas explorações ou instrumentos tecnicamente avançados, como foi o caso da coleção do Tsar Pedro, o Grande. Em outros casos, eram amostras de quadros e pinturas, sendo este o caso do arquiduque Leopoldo Guilherme. Alguns outros também conhecidos eram o Gabinete dos Médicis em Florença, as coleções do imperador Rodolpho (1576-1612), em Praga, a coleção do arquiduque Ferdinando, no castelo de Ambras, em Viena, e a Câmara de Curiosidades do duque Alberto V, da Baviera.[3] Os gabinetes de curiosidades podem ser considerados como os precursores dos atuais museus, sendo o primeiro uso do termo “museu” associado a um gabinete de curiosidades foi com o Wormian Museum de história natural, criado pelo dinamarquês Olaus Wormius (1588-1654) que fez pesquisas importantes a partir de sua coleção.[4]