Feminismo negro
corrente do feminismo que defende que sexismo, opressões de classe e identidade de gênero e racismo estão intrinsecamente relacionados Da Wikipédia, a enciclopédia livre
corrente do feminismo que defende que sexismo, opressões de classe e identidade de gênero e racismo estão intrinsecamente relacionados Da Wikipédia, a enciclopédia livre
O feminismo negro é a designação utilizada para nomear o movimento de mulheres atuantes tanto na esfera da discussão de gênero quanto na luta antirracista. Trata-se de um movimento político e teórico que visa a mudança social e compreende que sexismo, a opressão de classes, a identidade de gênero e o racismo estão ligados.[1] A forma como estes se relacionam entre si é chamada de intersecionalidade. O termo Intersecionalidade foi cunhado pela jurista Kimberle Crenshaw em 1989.[2] Em seu trabalho, Crenshaw define interseccionalidade como a interação entre diferentes formas de opressão. A autora analisa as consequências materiais e simbólicas que atingem os grupos que estão na encruzilhada de diferentes marcadores e o modo como ações e políticas específicas operam conjuntamente na criação de vulnerabilidades. Dessa forma, a experiência de ser uma mulher negra não pode ser entendida em termos de ser negro e de ser uma mulher, separadamente, mas deve incluir as interações, que frequentemente se reforçam mutuamente.[3] Sendo assim, o racismo é resultado de um conjunto de ações discriminatórias. O feminismo em seu núcleo é um movimento para abolir as desigualdades que as mulheres enfrentam. O Coletivo Combahee River argumentou em 1974 que a libertação das mulheres negras implica a liberdade de todas as pessoas, uma vez que exigiria o fim do racismo, do sexismo e da opressão de classe.[4]
O feminismo negro nos EUA se tornou popular na década de 1960, em resposta ao sexismo do Movimento dos Direitos Civis e do racismo do movimento feminista. A partir dos anos 1970 a 1980, as feministas negras norte-americanas formaram vários grupos que abordaram o papel das mulheres negras no nacionalismo negro, na libertação gay e na segunda onda do feminismo. Na década de 1990, a controvérsia Anita Hill colocou o feminismo negro em uma luz mainstream. Teorias feministas negras chegaram a um público mais amplo na década de 2010, como resultado da advocacia por mídia social.[5][6]
As feministas negras argumentam que as mulheres negras são posicionadas dentro das estruturas de poder de maneiras fundamentalmente diferentes das mulheres brancas. Resulta daí a centralidade no feminismo negro do conceito de intersecionalidade.[7] Os críticos do feminismo negro argumentam que as divisões raciais enfraquecem a força do movimento feminista em geral, mas também do movimento negro.[8]
Entre as teorias que se desenvolveram fora do movimento negro feminista estão o mulherismo de Alice Walker, o revisionismo histórico com um foco maior sobre as mulheres negras.[9][10]
Algumas das principais militantes e teóricas do feminismo negro internacional são: Angela Davis, Bell Hooks, Kimberlé Williams Crenshaw, Patricia Hill Collins, Audre Lorde. No Brasil temos como destaque: Sueli Carneiro, Nilma Lino Gomes, Jurema Werneck, Lélia Gonzalez, Luiza Bairros, Nilza Iraci, Luciana de Oliveira Dias, Beatriz Nascimento, Djamila Ribeiro, Grada Kilomba e Carla Akotirene. O feminismo negro se popularizou também motivado pela cantora Beyoncé e a escritora Chimamanda Ngozi Adichie questionam o papel da mulher negra no mundo.[11]
Embora feminismo negro e interseccionalidade guardem profundas relações, não são sinônimos ou nomes diferentes para o mesmo fenômeno. Interseccionalidade ou categorias de articulação é uma proposta teórica que tem por base a análise da realidade social a partir do entrelaçamento de diferenciações sociais. O feminismo negro propôs e assumiu a interseccionalidade como uma referência essencial devido às múltiplas categorias de opressão vivenciados por mulheres negras [12] [13]. De acordo com a feminista negra, Carla Akotirene, a interseccionalidade é uma forma metodológica de se pensar como as mulheres são atravessadas por múltiplas diferenciações. Já Luciana de Oliveira Dias ressalta que a interseccionalidade é uma perspectiva analítico-reflexiva que considera todos os eixos de opressão que podem incidir sobre um indivíduo a depender de seu pertentimento e posicionalidades. No que se trata das mulheres negras, a interseccionalidade revela sistemas de opressão que se entrecruzam, além do racismo revela o machismo, o sexismo, entre outras formas onde as opressões se encontram.
"A interseccionalidade visa dar instrumentalidade teórico-metodológica à inseparabilidade estrutural do estrutural do racismo, capitalismo, e cisheteropatriarcado- produtores de avenidas identitárias em que mulheres negras são repetidas vezes atingidas pelo cruzamento e sobreposição de gênero, raça e classe, modernos aparatos coloniais" (AKOTIRENE, 2018, p.19).
"A interseccionalidade é uma conceituação do problema que busca capturar as consequências estruturais e dinâmicas da interação entre dois ou mais eixos da subordinação. Ela trata especificamente da forma pela qual o racismo, o patriarcalismo, a opressão de classe e outros sistemas discriminatórios criam desigualdades básicas que estruturam as posições relativas de mulheres, raças, etnias, classes e outras" (CRENSHAW, 2002. p. 177).
"Enegrecendo o feminismo é a expressão que vimos utilizando para designar a trajetória das mulheres negras no interior do movimento feminista brasileiro. Buscamos assinalar, com ela, a identidade branca e ocidental da formulação clássica feminista, de um lado; e, de outro, revelar a insuficiência teórica e prática política para integrar as diferentes expressões do feminismo construídas em sociedades multirraciais e pluriculturais” (CARNEIRO, 2003: 118).
A história da organização das mulheres negras em defesa de seus interesses começa no século XIX com a criação de associações e irmandades e durante o século XX com a criação de organizações desde 1950, o ano em que o Conselho Nacional de Mulheres Negras foi fundado no Rio de Janeiro.[14][15]
O feminismo negro surgiu no Brasil no final da década de 1970, a partir do processo de abertura política que permitiu a reorganização de movimentos sociais como o sindicalista, o estudantil e o movimento negro. Nas primeiras décadas do século XX as associações negras compreendiam a discriminação como um fenômeno que afetava a homens e mulheres na mesma medida. Nesse aspecto o feminismo negro foi fundamental ao trazer para o centro das discussões raciais a discriminação de gênero. Gradativamente as mulheres ampliaram sua participação dentro das associações negras, passando a ocupar cargos de liderança e protagonizando discussões que entrecruzam as questões raciais e de gênero, conquistando dessa forma, o reconhecimento das especificidades da condição feminina negra.[carece de fontes]
No interior das organizações feministas, as mulheres negras também enfrentaram dificuldades no entendimento de que a questão racial marca a experiência social de mulheres negras de forma diferente de mulheres brancas. Compreendo as limitações de mobilização dentro das organizações feministas e negras tradicionais, as mulheres negras decidiram criar grupos independentes, nos quais poderiam protagonizar a luta anti-racista associada a de gênero dando origem aos primeiros Coletivos de Mulheres Negras na década de 1980. Desde então, os coletivos se multiplicaram e ampliaram suas frentes de ação.[carece de fontes]
A internet tem sido a principal ferramenta de discussão utilizada pelas ativistas no mundo. Isso se deve a facilidade de acesso a ela. Algo, que facilitou a criação e consolidação de redes entre coletivos e organizações feministas. Blogs como Blogueiras Feministas, Blogueiras Negras, Transfeminismo, Que nega é essa?, Não me Khalo e Escreva Lola Escreva, juntamente com as redes sociais e a descentralização da produção de conteúdos pelo fácil produção de conteúdo abriram caminho para que as feministas negras criassem uma ruptura com o racismo e a ausência de representações positivas de pessoas negras na mídia. Multiplicam-se na rede textos, imagens e tutoriais que valorizam a estética negra através, por exemplo, da técnica de transição capilar em que é incentivado as mulheres a assumirem seu cabelo de forma natural, bem como dicas de produtos de maquiagem para peles negras, vestuário que tem inspiração na cultura africana e afro-brasileira e o surgimento e ampliação de espaços de lazer e cultura voltados especificamente para a juventude negra. Timidamente, as ciberativistas negras vem também conseguindo, por meio das plataformas digitais, que a grande mídia dê maior atenção às questões raciais e de gênero.[carece de fontes]