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Febeapá - O Festival de Besteira que Assola o País[nota 1] é o título do primeiro livro de uma série de três do autor brasileiro Sérgio Porto, cujo primeiro volume foi publicado originalmente em 1966 e que reúne os textos que ele publicara com o heterônimo de Stanislaw Ponte Preta, criado justamente para escrever as crônicas que revelavam com humor as coisas que ocorriam após o Golpe Militar de 1964, e eram publicadas no jornal Última Hora.[1]
febeapá | |
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Capa da edição original do volume 1, 1966. | |
Livros | |
O Festival de Besteira que Assola o País (1966) O Festival de Besteira que Assola o País 2 (1967) O Festival de Besteira que Assola o País 3 (1968) | |
Informações | |
Autor(es) | Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto) |
Gênero | Crônicas |
Idioma original | português |
País de origem | Brasil |
Ilustração | Jaguar |
Editora | Editora do Autor |
Publicado entre | 1966-1968 |
Os três volumes de Febeapá foram, em 2015, reunidos em um só pela editora Companhia das Letras.[2]
Neles Porto/Stanislaw criou expressões que se tornaram gírias de uso por todos e integram o vocabulário corrente, como "cocoroca", "teatro rebolado" ou "redentora" (para designar o regime militar).[2]
As edições seguintes de Febeapá - 2 e 3 - surgiram respectivamente em 1967 e 1968 (ano da morte do autor).
O jornal Última Hora onde "Ponte Preta" publicava suas crônicas havia sido criado durante o segundo governo de Getúlio Vargas, por ideia deste, pelo jornalista Samuel Wainer: com isto o presidente esperava diminuir a forte oposição que os grandes veículos de comunicação vinham lhe dedicando.[3]
Mais tarde, o maior opositor de Getúlio naquele período, Carlos Lacerda, apoiara o golpe de 1º de abril, que levou os militares ao poder; vivia-se em plena guerra fria - a disputa que opunha os países alinhados com os Estados Unidos capitalista, de um lado, e a extinta União Soviética comunista de outro; os novos regimes ditatoriais proliferavam na América Latina, sob o pretexto de combate aos subversivos socialistas e com o patrocínio estadunidense.[3]
Num primeiro momento, o presidente escolhido de forma indireta pelo Congresso Nacional, general Humberto Castelo Branco, prometia fazer do país uma democracia mas, aos poucos, tomou medidas que mergulharam a nação em plena ditadura: perseguiu a pessoas por suas ideologias, extinguiu os partidos políticos e criou o Serviço Nacional de Informações para vigiar os cidadãos, entre outras medidas similares.[3]
Para conseguir estes objetivos, o novo regime colocou pessoas incompetentes em diversos cargos, todas procurando agradar o governo e, assim, cometendo aquilo que o jornalista Sérgio Porto viria a chamar de "festival de besteira". Nessa época, ele e outros tantos jornalistas contrários ao regime se reuniam na redação do Última Hora, no Rio de Janeiro, onde recebiam cartas e notícias que alimentaram as suas crônicas que, sob o heterônimo de Stanislaw Ponte Preta, demonstrava os erros do poder de forma irônica, especialmente contra Lacerda que era governador do então estado da Guanabara.[3]
No primeiro volume do Febeapá, Porto reuniu 51 de suas crônicas publicadas entre 1965 e 1966, numa coluna intitulada "Fofocalizando"; nelas criticava, de modo irônico, as ações de militares, políticos e socialites do país.[3]
Nesta obra ele criou personagens cheias de malícia, como a tia Zulmira, ela mesma participante do "festival de besteira".[3] E o próprio "festival" se compunha de notícias verdadeiras que chegavam ao repórter que, em seguida, as incorporava aos seus textos.[3]
Um exemplo foi o caso de uma turista russa que, indo para o Uruguai, fora detida no Aeroporto do Galeão porque tinha uma protuberância estranha sob o vestido; criou-se um incidente até que se descobriu que a mulher, na verdade, tinha um defeito físico nas nádegas, que se acentuava quando andava - sobre isso, Ponte Preta publicou a nota com o seguinte título: “Respeitem ao Menos a Região Glútea”.[3]
Num outro caso, ele atacou um jornalista desafeto que tentava colaborar com o governo (conservou-se os erros propositais do autor e neologismos):
No prefácio Porto já citara Ibrahim Sued, ao lembrar que este começara seu programa de televisão anunciando que "Estarei aqui diariamente às terças e quintas" como exemplo dos absurdos que o país vivia em todos os setores - e citando casos como o do prefeito de Petrópolis, cidade serrana do Rio de Janeiro, que baixara normas para banhos de mar.[4]
Um delegado em Minas Gerais proibira mulheres com pernas de fora em bailes de carnaval para evitar "fantasias que ofendam as Forças Armadas”, Porto conclui: "como se perna de mulher alguma vez na vida tivesse ofendido as armas de alguém!"[4]
Os absurdos praticados beiravam o ridículo: “estreou no Teatro Municipal de São Paulo a peça clássica ‘Electra’, tendo comparecido ao local alguns agentes do DOPS para prender Sófocles, autor da peça e acusado de subversão”.[5]
No prefácio do volume 2, Porto assinalou o grande sucesso de venda que fora do primeiro - uma vendagem de 37 mil exemplares, que surpreendera o mercado editorial.[5]
O segundo volume traz 34 capítulos, enquanto o terceiro contém 79 das "besteiras" que compõem o "festival".[4]
Em 2001 Célia Siqueira Farjallat registrou que o livro é "repleto de piadas reais, inteligentes e divertidíssimas", e que os casos reunidos a partir das notícias "foram colecionados por Stanislaw com argúcia sem igual".[6]
Álvaro Costa e Silva da Folha de S.Paulo diz que "a diversidade de abordagens e sobretudo o estilo de Stanislaw Ponte Preta permitem que o leitor percorra suas páginas dando um sorriso discreto aqui, uma gargalhada estrondosa ali"; apesar de publicado originalmente em 1966 desde 1953 o personagem criado por Sérgio Porto publicava nos jornais e, mesmo havendo morrido em 1968 isto "não quer dizer que os obtusos de plantão não tenham existido antes nem continuado a existir depois."[7] O crítico nota que a obra, criada para ser um "anti-clássico", acabou por se tornar um clássico e seu ao autor foi, ao lado de Millôr Fernandes, Rubem Braga e Antônio Maria responsável pela mudança da linguagem jornalística do Brasil, pois no dizer de Raimundo Magalhães Júnior Sergio Porto "conseguia aquilo que Mário de Andrade desejou fazer mas não fez: aproximar-se de uma grande massa de leitores".[7]
O próprio termo "febeapá" se incorporou na linguagem; em texto que reproduz uma fala da filósofa Marilena Chauí sobre o ranqueamento das universidades, ela por várias vezes o repete, conclamando o meio acadêmico de sua área a lutar "em nome da Filosofia, contra o Febeapá que nos assola."[8] A autora, inicialmente, esclarecera: " Os mais jovens talvez não saibam o que seja o Febeapá... Durante a ditadura, Sérgio Porto, que se autodenominava Stanislaw Ponte Preta, escrevia uma coluna em jornais que, a seguir, foram reunidas em um livro que trazia como título Febeapá. Festival de Besteiras que Assola o País."[8]
Em dezembro de 2015 o jornalista Alberto Villas, da revista Carta Capital, ressuscitou o termo em nove páginas onde, após relembrar a obra de Sérgio Porto, relaciona casos que, para ele, exemplificam como o febeapá continua existindo no país: o fato de o deputado Eduardo Cunha ter adquirido, em nome de uma empresa chamada "Jesus.com", três automóveis de luxo levava a concluir que "os carrões de Cunha caíram do céu"; em plena crise hídrica o governador paulista Geraldo Alckmin recebeu um prêmio da Câmara dos Deputados por sua excelente gestão à frente das empresas hídricas do estado; no Pará saiu um anúncio em jornal dizendo: "Casal evangélico precisa adotar uma menina de 12 a 18 anos que resida, para cuidar de uma bebê de 1 ano..."; o deputado fluminense Gilmar Fernandes Quintanilha fez um projeto proibindo uso no país de sutiãs com bojo, por serem uma "propaganda enganosa" fazendo as pessoas pensarem erradamente que a mulher tenha seios firmes e avantajados - entre outras tantas "besteiras" que ocorreram naquele ano no Brasil.[9]
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