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Etiópia (em grego: Αἰθιοπία, transl. Aíthiopía) é um termo geográfico que aparece pela primeira vez nas fontes arcaicas e clássicas da Grécia Antiga referindo-se à região do Alto Nilo, bem como a todas as regiões situadas ao sul do deserto do Saara. Sua primeira menção ocorre nas obras de Homero: duas vezes na Ilíada,[1] e três vezes na Odisseia[2] O historiador grego Heródoto também a usa para descrever especificamente toda a região da África Subsaariana.[3] O nome também ocorre com frequência na mitologia grega, onde está associado com um reino que estaria localizado em Jopa, ou em algum lugar da Ásia.[carece de fontes]
Homero (por volta de 800 a.C.) é o primeiro autor a mencionar os "etíopes" (Αἰθίοπας, Aíthíopas); ele afirma que eles se encontravam nas extremidades meridionais do mundo, divididos pelo mar em "ocidentais" (onde o sol nascia) e "orientais" (onde o sol se punha). Os poetas gregos Hesíodo (c. 700 a.C.) e Píndaro (c. 450 a.C.) falam de Mêmnon como "rei da Etiópia", e acrescentam que ele teria fundado a cidade de Susa, no Elão.
Em 515 a.C., Cílax de Carianda, sob ordens de Dario, o Grande, da Pérsia, navegou ao longo do rio Indo, avançando pelo oceano Índico e pelo mar Vermelho, circunavegando a península Arábica. Cílar mencionou os etíopes, porém seus escritos a respeito do assunto não sobreviveram até os dias de hoje. Hecateu de Mileto (c. 500 a.C.) também teria escrito um livro a respeito da Etiópia, porém seus escritos só são conhecidos a partir de citações feitas por autores posteriores; ele teria afirmado que a região localizava-se a leste do rio Nilo, e se estendia até o mar Vermelho e o oceano Índico, além de mencionar um mito que os Ciápodes (Skiapodes, "que fazem sombra com os pés"), homens cujos pés eram supostamente tão grandes que serviam como sombra, viviam ali. O filósofo Xenófanes, que viveu aproximadamente no mesmo período, comentou que "os trácios descrevem seus deuses com o seu aspecto, de olhos azuis e cabelos claros (ou vermelhos), enquanto os etíopes descrevem seus deuses com a sua aparência, negros".
Em suas Histórias (c. 440 a.C.), Heródoto apresenta algumas das informações mais antigas e detalhadas sobre a Etiópia. Ele relata que viajou pessoalmente pelo Nilo até a fronteira egípcia com a região, chegando até a ilha Elefantina (atual Assuã); em sua descrição, a Etiópia consiste de todas as terras habitadas encontradas a sul do Egito, a partir de Elefantina. Sua capital seria Meroé, e as únicas divindades cultuadas ali eram Zeus e Dioniso. Heródoto acrescenta ainda que durante o reinado do faraó Psamético I (c. 650 a.C.), diversos soldados egípcios desertaram do serviço ao seu país e passaram a viver entre os etíopes. Ainda segundo Heródoto, 18 dos 330 faraós do Egito teriam sido "etíopes" (ou seja, a chamada "dinastia cuxita"). Segundo ele, a Etiópia era um dos países onde se praticava a circuncisão.
Heródoto conta ainda que o rei Cambises II, da Pérsia (c. 570 a.C.), teria enviado espiões até os etíopes "que viviam naquela parte da Líbia (África) que faz fronteira com o mar do sul". Lá, teriam encontrado pessoas fortes e saudáveis. Embora Cambises II tenha empreendido uma campanha militar contra aquela nação, por não ter preparado provisões suficientes para a longa marcha, seu exército foi totalmente malsucedido na empreitada e retornou rapidamente.
No livro III, Heródoto define "Etiópia" como a região mais distante da "Líbia" (ou seja, a África conhecida à época): "onde o sul desce rumo ao sol que se põe se encontra o país chamado de Etiópia, a última terra habitada naquela direção. Lá o ouro pode ser obtido em grande quantidade, e vivem enormes elefantes, em meio a árvores selvagens de todos os tipos, e marfim; e os homens são mais altos, mais belos, e vivem mais do que em qualquer outro lugar.[4]
O sacerdote egípcio Manetão (c. 300 a.C.) lista a XXV dinastia egípcia, a dinastia dita "cuxita", como a "dinastia etíope]]. Quando a Bíblia Hebraica foi traduzida para o grego, os termos hebraicos "Cuxe" e "cuxita" foram adaptados para o grego "Etiópia" e "etíopes".
Os historiadores gregos e romanos posteriores, como Diodoro Sículo e Estrabão, confirmaram boa parte dos relatos de Heródoto a respeito de diversas nações distintas que habitavam a vasta região da "Etiópia", a sul do deserto do Saara, tais como os trogloditas e os ictiófagos, que habitariam o litoral africano do mar Vermelho, no atual Sudão, Eritreia, Djibuti e Somalilândia, bem como diversos outros povos que viviam mais a oeste. Estes autores também contaram relatos a respeito da região montanhosa da Etiópia, onde dizia-se que o Nilo subia corrente acima. Estrabão também afirmou que alguns autores anteriores a si consideravam que a fronteira setentrional da Etiópia se localizava no monte Amano, o que faria a região abranger também toda a Síria, Israel e Arábia.
Plínio, o Velho descreveu Adúlis, porto que segundo ele era o principal centro comercial dos etíopes. Segundo ele, o termo "Etiópia" seria derivado de um indivíduo chamado Étiops, que seria filho de Hefesto (o Vulcano dos romanos).[5] Esta etimologia foi adotada com unanimidade até por volta de 1600, quando Jacob Salianus, no primeiro tomo de seus Annales, propôs pela primeira vez uma hipótese alternativa, que derivava a designação das palavras gregas aithein, "queimar", e ops, "rosto"; o fato é mencionado a um padre espanhol chamado Francisco Colin (1592–1660), que o menciona em seu livro Sacra India, que contém um longo capítulo sobre a Etiópia. Colin menciona a opinião de Saliano como uma possível nova hipótese para a origem do nome.[6] O significado de 'rosto queimado' aparece em seguida nas obras dos autores alemães Christopher von Waldenfels (1677) e Johannes Minellius (1683), e logo foi adotada como padrão pela maior parte dos estudiosos europeus.
Alguns autores gregos também se referiam à Núbia como 'Etiópia', e até mesmo a partes da 'Líbia Interior'.[7]
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