Esquizoanálise
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A esquizoanálise é um campo de práticas e saberes inaugurado pela obra conjunta do filósofo Gilles Deleuze com o psicanalista Félix Guattari e foi formulada pela primeira vez no livro O Anti-Édipo. Esta obra inaugural consiste em uma crítica contundente à concepção psicanalítica do desejo que, segundo os dois autores, estaria atrelada à falta e à castração, em vez de verificar a possibilidade de outras formas de existência, mais distantes do Complexo de Édipo em sua formulação clássica, como elementos criativos e positivos. A crítica da esquizoanálise, assim, emerge como um questionamento ativo de duas linhas gerais de reflexão que estariam por se esgotar, a primeira seria a vertente estruturalista que, fixando-se no âmbito do simbólico, estaria promovendo o despotismo do significante, e a segunda seria a forma de pensamento ancorada na representação e na identidade, da qual se deveria libertar estabelecendo a primazia ontológica da diferença.[1]
A esquizoanálise consiste, assim, em um campo pós-estrutural que articula diversos conhecimentos, como a Pragmática Universal, Filosofia da Diferença, Micropolítica, Estratoanálise, Nomadologia, Utopia Ativa e Pop Análise. A crítica esquizoanalítica à representação e à identidade possui íntima relação com a pragmática, de maneira que a preocupação do pensamento esquizoanalítico se desloca de uma ontologia dedicada a pensar uma suposta essência das coisas para os questionamentos sobre os seus processos de diferenciação, ou seja, grosso modo, dedica-se a pensar o funcionamento e os efeitos, mais do que a identidade e a classificação. Estes fluxos de diferenciação, por sua vez, podem ser de diversos tipos: semióticos, linguísticos, corpóreos, assignificantes, etc., de onde advém as frequentes articulações entre os diversos campos do saber.[2] A esquizoanálise, assim, apesar das suas diversas articulações, não deve ser erroneamente conceituada como um campo meramente poético ou mesmo ideológico, dado que o primado da sua teoria é a de, agenciada ao mundo, produzir efeitos.[2]
Uma outra forma de conceituação da esquizoanálise, é a de essa consiste em uma forma de conceber a realidade na qual os entes são compreendidos como processos, resultando em uma compreensão menos estática e mais inter-relacionada dos acontecimentos. Por exemplo, ao se propor o estudo de um currículo a partir da esquizoanálise, ele poderia ser compreendido em sua articulação com exigências familiares e profissionais, com o programa escolar e demais processos que dão sustentação para a sua existência como tal, e não de outra maneira[3]. Em contraste a isso, outra abordagem possível seria compreendê-lo a partir de uma área de conhecimento, como um estudo administrativo, histórico, pedagógico ou de design. Na esquizoanálise, portanto, o estudo assume caráter explorativo e flexível, e as áreas de saber são convocadas em função das conexões observadas a partir de uma cartografia, que é a percepção sensível do pesquisador em campo[4].
Ao afastar-se da priorização do significante, a esquizoanálise permite a compreensão de que elementos como a produção, o registro e o desejo sejam observados como imanentes e produtores de realidade. Assim, sua leitura da realidade é natural, social, subjetiva e industrial-tecnológica, não separando-as em identidades por princípio. Em função disso, o ser humano é visto como controlado e mesmo produzido todo o tempo por forças que disputam suas intensidades na imanência biopolítica, promovendo agenciamentos que o cristalizam em valores e enunciados a partir de processos de subjetivação[4].