agiota portuguesa Da Wikipédia, a enciclopédia livre
Maria Branca dos Santos (Lisboa, 20 de setembro de 1902[2] — Lisboa, 3 de abril de 1992[2]), mais conhecida por Dona Branca, foi a famosa "Banqueira do Povo", uma agiota que causou um enorme escândalo financeiro nos anos 1980 em Portugal.[3][4][5][6][7][1]
Dona Branca | |
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Dona Branca, em fotografia do "Tal & Qual", 1984 | |
Nome | Maria Branca dos Santos |
Pseudônimo(s) | Dona Branca |
Data de nascimento | 20 de setembro de 1902[1] |
Data de morte | 3 de abril de 1992 (89 anos) |
Nacionalidade(s) | Portugal |
Crime(s) | Burla, Falsificação, Agiotagem |
Pena | 10 anos de prisão |
Devido aos acontecimentos políticos da sua época, prevendo-se o declínio da monarquia (e mais tarde o declínio do frágil e novo regime republicano), acrescida futuramente com a participação na Primeira Guerra Mundial, o nível de pobreza aumentava desmesuradamente.
Pouco se sabe acerca das origens de Maria Branca dos Santos. Apenas se conhece que terá nascido num bairro lisboeta da Mouraria[8] e que a sua família era extremamente pobre, pelo que, como tal, a futura "Banqueira do Povo" não chegou a completar a instrução primária.
Desde cedo, começou a sua prática "bancária": guardava o dinheiro da venda de varinas ao longo do dia recebendo ao anoitecer uma pequena compensação pelo "depósito". Destacou-se pela sua honestidade e carisma, e passou a ser solicitada também pelos vendedores ambulantes.
No decorrer dos anos 1950, com a política Salazarista, em que reinava a pobreza nacional, torna-se numa pseudo-bancária quando iniciou a sua atividade clandestina. Estrategicamente, começou a atribuir juros a quem lhe confiasse as suas economias, tanto maiores quanto mais elevadas fossem. Utilizava bastante bem o esquema em pirâmide.
Assumiu posição diferente à da Banca e da técnica bancária: recebia depósitos acrescidos de 10% de juros a quem aplicasse as suas poupanças e concedia empréstimos a juros elevados. Esta medida foi crucial para a expansão da sua atividade e renda.
Num ápice, fosse rico ou pobre, pescador a empresário, todos recorriam à "Banqueira do Povo" como passou a ser conhecida.[9][10][11]
A metodologia resultava com o aparecimento diário de novas pessoas e operava do seguinte modo:
Funcionava assim sucessivamente, uma vez que o cliente de ontem recebia os juros provenientes do investimento do(s) cliente(s) do dia seguinte.
Uma vez que tanto o cliente 'X' como o cliente 'Y' não procediam ao levantamento da totalidade do depósito, facilmente se gerava um fundo sustentável, que seria aumentado significativamente dado que, ao invés do levantamento, os clientes voltariam a depositar.
O empréstimo que concedia era rigorosamente estudado e concedido a juros elevados atingindo valores até metade do empréstimo.
Ao longo de décadas, o esquema funcionara, pois semanalmente apareciam dezenas de cliente novos vindos de todo o país.
Isto obrigou-a à criação de novos escritórios espalhados tanto por Lisboa quanto por todo o país, visto que começavam a ser notórias as extensas filas à porta do seu escritório de Alvalade.
Para isso contou com a colaboração de familiares e amigos íntimos que eram aliciados e estimulados pela entrada de quantias exorbitantes de dinheiro vivo.
No entanto as pessoas que contratara estavam ligadas a negócios ilícitos e, por isso, estes angariadores tinham a esperteza e conhecimentos técnicos, conseguindo assim obter valores de milhares de contos.
Esta sua atividade não passou despercebida às autoridades judiciais e bancárias, mas estas tornaram-se facilmente subornáveis.
Em Março de 1983, o semanário "Tal & Qual" divulgou a sua atividade e os seus métodos, tendo sido também notícia na imprensa internacional.[2][11][11][1]
Com essa publicidade, D. Branca conseguiu, em muito pouco tempo, quadruplicar o seu capital. Centenas de pessoas dirigiam-se aos seus escritórios para obter um juro mensal de 10% que fazia concorrência ao juro oficial da banca que era de 3% por ano.
O crescente levantamento das contas à Banca oficial e o depósito na atividade da "Banqueira do Povo" alarmaram o Banco de Portugal e o Governo, prevendo-se a muito curto prazo a bancarrota da banca.
O Ministro das Finanças, Ernâni Lopes, estrategicamente, foi à televisão advertir e acautelar os portugueses.
Resultado disso foi o deslocamento de centenas de pessoas querendo reaver o seu dinheiro depositado, o que imediatamente gerou uma confusão incontrolável e um pânico estrondoso.
Os seus escritórios estavam pejados com sacos com dinheiro e a falta de controle da situação levou a que, gananciosamente, alguns dos seus colaboradores sacassem o dinheiro que conseguissem ou passassem os bens imobiliários para o seu próprio nome.
Alguns dos colaboradores da "Banqueira" estavam envolvidos no mundo do crime, tanto que a um deles, Manuel Manso (suspeito de um assalto de uma ourivesaria, tendo furtado cerca de 3 quilos de ouro), durante uma busca à sua residência, fora encontrado um cofre contendo 60 mil contos em dinheiro vivo e dezenas de cheques no valor de 90 mil contos.
Dona Branca, de modo a devolver a quantia que havia sido depositada pelos seus clientes, passou milhares de cheques sendo centenas deles devolvidos por falta de provisão.
Envolvida com colaboradores corruptos e criminosos, um deles o seu advogado, que "legalizava" as suas ações financeiras, foi finalmente detida a 8 de Outubro de 1984 e colocada preventivamente na Cadeia das Mónicas, em Lisboa.[1]
Foi acusada pelo Ministério Público, juntamente com 68 arguidos, por associação de malfeitores (actualmente designado crime de associação criminosa)[8], múltipla prática da emissão de cheques sem cobertura, burla agravada, falsificação e abuso de confiança, tendo sido iniciado o julgamento em 1988 no Tribunal da Boa-Hora, que teve a duração de 1 ano.[2]
Resultado do julgamento: pena de prisão de 10 anos para a D. Branca por crime de burla agravada e 24 dos arguidos foram absolvidos.
Pouco tempo depois, e devido ao estado débil de saúde e à idade avançada, viu ser-lhe reduzida a pena e saiu em liberdade, vivendo até a data da morte num lar, cega e na miséria. Faleceu na madrugada de 3 de Abril de 1992, numa clínica de Lisboa.[8]
Foi enterrada no Cemitério do Alto de São João, encontrando-se presentes apenas 5 pessoas.
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